sábado, 7 de agosto de 2010

A primeira pedra ::Roberto Freire

DEU NO BRASIL ECONÔMICO

Ameaçada de uma morte brutal, a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani conta apenas com a solidariedade internacional e a pressão das sociedades democráticas para continuar viva.

A dificuldade é que o Irã, hoje, está cada vez mais isolado no cenário internacional. É um país que não tem amigos, apenas cúmplices.

A diplomacia brasileira, no atual governo, tem-se revelado destituída de quaisquer princípios que historicamente nortearam nossas relações com outros países, aderindo - de maneira prazerosa, o que é indecoroso - à lógica pura e simples do business.

O presidente e o Ministério das Relações Exteriores exibem desenvoltura no trânsito com governos que contrariam não apenas os princípios democráticos, mas também os mais comezinhos direitos humanos na África, América Latina, Oriente Médio, onde quer que seja...

No caso de Sakineh, uma prática punitiva, oriunda de tempos remotos e primitivos, foi atualizada pelo regime teocrático do Irã. É um inadmissível atentado às conquistas da dignidade humana nos últimos três séculos.

Desde que foi instalado o novo regime no Irã, a perseguição política tornou-se regra. Os primeiros alvos, como sempre, foram os comunistas e socialistas; depois, o Estado teocrático voltou-se contra opositores, todas as espécies de minorias (religiosas, sexuais etc.), culminando com uma implacável sanha para cassar as conquistas das mulheres, tanto nos centros urbanos quanto nas zonas rurais.

A covarde violência que sofre Sakineh Ashtiani, coberta com o manto de uma tradição cultural, conforme justificam os próceres dessa teocracia medieval, na verdade é uma agressão a todas as mulheres. E a todos os seres humanos.

Nossa chancelaria já patrocinou espetacular escárnio, ao apoiar o Irã nos fóruns internacionais na controversa questão de sua política de desenvolvimento de um arsenal nuclear longe do controle da agência internacional responsável para garantir que não surjam novas armas nucleares.

Não bastasse esse absurdo, o governo do Brasil está agora a defender, junto à ONU, que a organização evite censurar os países que violam os direitos humanos!

Foram justamente os órgãos que compõem a ONU que, ao longo de décadas, contribuíram para que os países adotassem a carta de princípios que reconhece e garante os direitos humanos como elemento distintivo das democracias.

Por exemplo: foi por conta do trabalho de apoio a entidades humanitárias que o Brasil, no período da ditadura militar, teve que prestar contas de presos políticos, de mortos e desaparecidos pelo regime.

Nesses organismos, também, as forças de oposição conseguiram apoio para conseguir a democratização do país.

É justamente o apoio internacional que garante, aos que lutam por direitos humanos e democracia em seus países, um mínimo de segurança e visibilidade nas lutas que travam.

Para os que sofrem perseguição, tortura e ameaça de morte, a omissão das pessoas e dos governos é a primeira pedra que se atira no rosto da dignidade humana.

Liberdade e respeito a Sakineh Mohammadi Ashtiani!


Roberto Freire é presidente do PPS

Um comentário:

Anônimo disse...

Em contraponto ao que diz o Sr. Roberto Freire, recomendo a todos a leitura da entrevista do Lula à Isto É desta semana. Antes de continuar acusando o Irã incondicionalmente, vale dar uma espiada em outros pontos de vista que não os da política externa tradicional dos americanos e aliados. Escrevo como calicsilva