quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Oposição critica carta do Brasil à ONU

DEU EM O GLOBO

Documento pede que entidade evite censura a países que violam direitos humanos

BRASÍLIA.Parlamentares criticaram ontem a iniciativa do governo brasileiro de enviar uma carta a países da ONU pedindo que a entidade evite censura pública a nações que violam direitos humanos.

A existência do documento foi divulgada pelo jornal O Estado de S. Paulo. No documento, o Brasil defende o diálogo com esses países.

O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) afirmou que o Itamaraty tem uma linha de diálogo geral, mas disse que essa iniciativa do governo brasileiro é inócua. Para o parlamentar, a posição do Brasil é incoerente. Ele citou como exemplo Honduras, onde o governo brasileiro, corretamente, segundo o deputado, recebeu Manoel Zelaya, presidente deposto, em sua embaixada e condenou o golpe de Estado no país.

Na comunidade internacional é natural que os governos possam, em nome da defesa dos direitos humanos, questionar quem quer que seja. Não tem cabimento considerar que uma crítica da ONU a esses países seja intervencionista disse Alencar.

O deputado Raul Jungmann (PPS-PE) divulgou nota na qual afirma que o Brasil está dando uma grande mão aos ditadores e aos violadores de direitos humanos de todo o mundo. O Brasil está propondo que quem mata, tortura, violenta, sequestra e mutila não seja censurado. É um retrocesso que não tem paralelo. A minha pergunta é: há diálogo com quem comete o mais vil dos crimes, que é torturar outro ser humano? Pode haver diálogo com que estupra crianças e jovens? Pode haver outro tipo de comportamento que não seja a censura?, diz Jungmann.

O Itamaraty, que produziu o texto, nega que se trata de uma posição para desconsiderar ações de ditadores. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a intenção é criar uma instância de diálogo e convencer, aos poucos, esses países a abandonarem práticas totalitárias.

Na sua política externa, Lula tem se relacionado com países acusados de violarem direitos humanos.

No início de julho, o presidente esteve com o ditador Obian Nguema, da Guiné Equatorial.

O chanceler Celso Amorim justificou o encontro assim: negócios são negócios.

Lula é um dos líderes mundiais mais próximos ao presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad e mantém estreito laço com Cuba, evitando condenar a existência de presos políticos.

O Itamaraty disse que não se trata de uma carta, mas de um documento para apreciação de 15 países, no âmbito da Comissão de Direitos Humanos da ONU. Segundo o ministério, trata-se de uma contribuição do Brasil para ser avaliada por esse grupo.

O coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos, Gilson Cardoso, afirmou que toda violação deve ser denunciada.

Qualquer violação de direitos humanos precisa ser denunciada disse Cardoso.

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