terça-feira, 3 de agosto de 2010

Família de iraniana minimiza apelo de Lula

DEU EM O GLOBO

Representante da condenada ao apedrejamento afirma que campanha mundial influi em decisão de rever o caso

Christine Lages e Rossana Maurell

O apelo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao iraniano Mahmoud Ahmadinejad contra a pena de morte e o apedrejamento de Sakineh Mohammadi Ashtiani não é o único responsável pela abertura de diálogo de Teerã a respeito da condenação, afirmou ontem ao GLOBO a representante da iraniana presa, Mina Ahadi. A afirmação foi feita depois que o filho de Sakineh, Sajjad Ghaderzadeh, de 22 anos, disse ao jornal britânico "Guardian" que recebeu um telefonema do governo de seu país informando que o caso de sua mãe seria analisado ainda esta semana. O rapaz disse que o contato foi feito com ele momentos após Lula oferecer, em comício no sábado, asilo político à Sakineh.

O caso da iraniana, que está no corredor da morte após ter confessado - obrigada pela polícia, segundo sua defesa - um adultério, vem mobilizando milhares de pessoas no mundo. Segundo Mina Ahadi, chefe da Comissão Internacional Contra Apedrejamento e Pena de Morte, sua ONG já conseguiu mais de 700 mil assinaturas contra a condenação da mulher. Mina, no entanto, não acredita que Lula seja totalmente responsável pela mudança de comportamento do governo iraniano.

- Não é responsabilidade exclusiva do presidente do Brasil a reabertura do diálogo com o governo iraniano a respeito da condenação de Sakineh. Mais de 700 mil pessoas estão apoiando nossa campanha, e a pressão internacional teve um grande peso também - afirmou ao GLOBO.

A notícia sobre a possibilidade da tão esperada reviravolta no caso foi dada pelo próprio filho da iraniana ao "Guardian". Momentos após um apelo de Lula e a oferta de asilo político à mulher, Sajjad teria recebido uma ligação de Teerã, informando que o caso seria revisto.

"O tom deles foi mais educado. Depois do comentário do presidente Lula, pela primeira vez as agências iranianas noticiaram o caso da minha mãe, o que mostra o quão importante o Brasil é para o Irã", afirmou Sajjad, e completou: "Não acho que o Irã possa ignorar o Brasil com a facilidade que tem ignorado outros países".

Na semana passada, Lula afirmou que não deveria interferir na legislação de outro país. Apesar de dizer que é contra a pena, o presidente sugeriu que se manteria afastado do assunto. As declarações provocaram protestos. Mas a iniciativa de Lula também gerou desconfiança entre alguns iranianos.

- Nós aqui, que estamos envolvidos na luta pela sobrevivência da iraniana, vemos a relação entre o Lula e o Irã com certa desconfiança. Estávamos céticos de que o presidente brasileiro tomaria alguma posição mais enfática em relação ao caso, apesar da boa relação entre os dois países. Finalmente, Lula se manifestou - disse Mina.

Atualmente, a ativista é o contato mais próximo com a família de Sakineh. Desde que concedeu uma entrevista à emissora americana CNN, Sajjad vem evitando se pronunciar. Segundo Mina, ela é a única autorizada a falar por Sajjad sobre o caso.

- Sajjad está orientado a não ter contato direto com a imprensa internacional. O filho de Sakineh sofreu pressão no Irã e foi advertido a não dar mais informações a jornalistas estrangeiros. Tudo o que ele precisa declarar agora passa por nossa ONG, até para podermos garantir sua integridade física. Por uma questão de segurança, estamos autorizados a falar por ele e representá-lo na mídia - explicou ela.

Ahmadinejad quer debate com Obama na TV

Os EUA declararam ontem que apoiam a iniciativa do Brasil de oferecer asilo à iraniana. Já a agência de notícias ultraconservadora de Teerã Jahan News disse que as declarações de Lula foram uma "clara interferência nas questões nacionais" do Irã.
Ontem, Ahmadinejad propôs a Barack Obama um debate na TV a fim de discutir as melhores soluções para os problemas mundiais. A proposta foi feita um dia após os EUA admitirem que têm um plano pronto para atacar o Irã. O iraniano disse que George W. Bush rejeitou o mesmo convite, pois teria ficado com medo.

- No fim do verão (no Hemisfério Norte), nós estaremos lá para a Assembleia Geral, e eu estarei pronto para conversar cara a cara com Obama, diante da mídia, é claro - disse.
Com agências internacionais

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