sábado, 7 de agosto de 2010

Com Chávez, Lula agradece a empresários

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Presidente diz que brasileiros "confiaram" em seu convite para negociar com a Venezuela, que vive grave crise

Líderes assinam 27 acordos bilaterais envolvendo uma petroquímica e três construtoras brasileiras

Flávia Marreiro

DE CARACAS - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva agradeceu aos empresários brasileiros ontem em Caracas por "confiarem" em suas propostas para fazer negócios com a Venezuela de Hugo Chávez, que acelera a agenda parlamentar de "transição ao socialismo" e atravessa o segundo ano consecutivo de recessão.

"Quero agradecer aos empresários brasileiros porque, apesar da preocupação com algumas notícias de que a Venezuela vai estatizar as empresas brasileiras, de que não paga as empresas brasileiras, quero dizer da confiança [deles] cada vez que os convido [ao país]", disse.

Lula assinou com o colega venezuelano 27 acordos bilaterais envolvendo as grandes construtoras brasileiras (OAS, Andrade Gutiérrez, Queiroz Galvão), concentrados nas áreas de infraestrutura e energia, e com a petroquímica Braskem, para importação de nafta.

Quando mencionou "preocupação" empresarial, o presidente brasileiro fazia referência a reportagem de ontem de "O Estado de S. Paulo" que afirmara que a petroquímica Braskem reduziu planos de investimento no país, entre outros motivos, pelo não cumprimento por parte da Venezuela de aporte de fundos conjunto em outro projeto.

Na plateia, Sérgio Thiesen, superintendente da Braskem no país, disse que a crise venezuelana -o risco-país alcançou o da Grécia- é um fator considerado, mas que a empresa seguirá no país de quem comprará, com um acordo assinado ontem, ainda mais nafta.

A crise afeta empresas, construtoras e exportadores brasileiros. As vendas de alimentos -maior parte do US$ 1,7 bilhão vendido ao país no primeiro semestre- não sofrem com a rigidez do controle cambial, intensificado neste ano, porque têm tratamento preferencial.

Mas importações como as de cosméticos e produtos naturais sofrem com o sumiço do mercado permuta -único acesso livre ao dólar, ainda que bem mais alto que o oficial. "Esse setor, que deve compor US$ 40 milhões da pauta, está em "stand-by"", diz Fernando Portela, da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Venezuela.

Diz que investimentos em agricultura e energia também estão em "stand-by". A Assembleia Nacional da Venezuela, chavista, passou há pouco uma nova lei de terras que abre mais brechas para expropriações.

MISSÃO PARA LULA

Num clima descontraído de programa de auditório, com piadas dos dois mandatários e direito a link ao vivo de um bairro pobre, Lula e Chávez trocaram elogios.
Ele voltou a dizer que confia que a candidata governista Dilma Rousseff ganhará as eleições brasileiras. Mandou um beijo a ela.

Disse ainda ter dado uma "missão" a Lula, que participa hoje da posse do novo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos. Considera-se "otimista" quanto ao futuro das relações com Bogotá, hoje rompidas. A primeira parte da missão, disse o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, é "atenuar a tensão" e gerar "confiança".

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