segunda-feira, 12 de julho de 2010

'Ninguém escapa ao controle do PMDB'

DEU EM O GLOBO

No Rio, Gabeira critica pressão peemedebista sobre prefeitos; na Baixada, Cabral faz campanha ao lado de aliados do verde

Cássio Bruno e Camila Nóbrega

A hegemonia do PMDB no Estado do Rio leva a cenas de traição explícita nas ruas e cria um desconforto para a candidatura de Fernando Gabeira, do PV, ao governo fluminense. Aliados do verde, como a deputada federal Andreia Zito, do PSDB, fizeram ontem, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, campanha com o governador Sérgio Cabral, que tenta a reeleição pelo PMDB. Gabeira, em campanha na orla de Ipanema, disse ontem que todo mundo orbita em torno de Cabral por causa de um jeito clientelista de fazer política. Segundo ele, a máquina é tão forte, "o controle é tão poderoso", que as pessoas não conseguem escapar.

O governador fez corpo a corpo, numa feira nordestina, com Andreia Zito, que também disputa a reeleição. A deputada é filha do prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito, presidente estadual do PSDB. Ela chegou ao local com Cabral. Políticos tucanos espalharam propaganda do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, entre aliados do governador. Mesmo abraçada a Cabral e posando para fotos com ele, Andreia negou ter pedido votos para o peemedebista:

- O convite foi de (Jorge) Picciani (candidato ao Senado pelo PMDB). Ele me ligou, avisou que estaria na feira e pediu para eu recebê-lo (Cabral). Foi uma questão de educação e de delicadeza. Não fiz campanha para o Cabral. A amizade com Picciani prevaleceu e não me causou constrangimento.

Já Zito criticou Gabeira e afirmou que não caminhará nas ruas com o verde:

- O dia em que Gabeira tiver apenas um candidato a presidente, e esse for o Serra, eu estarei com ele. Enquanto Gabeira apoiar Serra e Marina (Silva, candidata do PV à Presidência) ao mesmo tempo, não ficarei com ele. Não posso deixar de receber o governador na minha cidade e não aceitar os benefícios que o município recebe dele.

Cabral não falou com a imprensa. No discurso, disse ter o apoio de Zito:

- Temos que dizer ao povo de Duque de Caxias que queremos fazer mais. E nós temos aqui uma parceria com a prefeitura, com o prefeito Zito, e nós vamos fazer mais.

Cabral, no entanto, destacou a parceria do governo estadual com o presidente Lula, e pediu votos para a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff:

- Trago aqui o abraço daquela que dará continuidade a esse trabalho no Brasil e que será a primeira mulher presidente deste país: Dilma Rousseff.

Não foi só o PSDB que aderiu a Cabral ontem. O candidato a deputado estadual Samuquinha também espalhou sua propaganda na feira nordestina. Samuquinha é do PR, partido do candidato ao governo do Rio, Fernando Peregrino, aliado do ex-governador Anthony Garotinho. Para Gabeira, candidato ao governo do Rio pelo PV, o domínio que o PMDB exerce sobre os prefeitos do estado se deve a uma política que ele classifica como clientelista. Durante um ato de campanha de militantes do PV na Praia de Ipanema, Gabeira chegou a comparar o domínio do PMDB a regimes de governo totalitários, devido ao controle exercido pela máquina do estado sobre os administradores municipais:

- Eu jamais exigiria esse apoio quase unânime. Unanimidade é muito comum em países comunistas antigos, onde a máquina é tão poderosa, o controle é tão grande que ninguém consegue escapar. No Rio, é a política da bica d"água que prevalece. E ela é um polvo, pois alastra seu controle para outros setores da administração, dando grande poder de influência. O PMDB tem o domínio das máquinas, e, portanto, das prefeituras.

Sobre a presença de Andreia Zito, do PSDB, no ato de campanha de Cabral, ontem, Gabeira desconversou, mas disse que espera a redução de episódios como esse durante a campanha.

Ontem, O GLOBO mostrou que Cabral tem o apoio de 91 dos 92 prefeitos do estado. Destes, 35 são do PMDB e 38 de partidos aliados.

Colaborou:Marcelo Remígio

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