segunda-feira, 5 de julho de 2010

Graça mantida:: Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

Sabe de uma coisa? Melhor assim. A mais recente pesquisa de intenções de voto para presidente aplicada pelo Instituto Datafolha registrou um empate técnico entre José Serra e Dilma Rousseff – 39% a 38%. Em maio passado, ambos estavam empatados com 37%. Oscilaram dentro da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Há 15 dias, Ibope e Vox Populi haviam dado cinco pontos de vantagem para Dilma – 40% contra 35%. No último fim de semana, o Ibope cravou 39% a 39%. Corrigiu algum “desvio de amostragem”. Eu disse de amostragem, não de comportamento. De resto, um período de 15, 10 ou um dia é suficiente para mudar índices de intenção de voto – mais ainda quando os eleitores permanecem indiferentes à eleição. Estavam ligados na sorte do Brasil na Copa do Mundo.

O time de Dunga afundou depressa. Imagine só se o de Serra ou de Dilma tivesse afundado antes do início oficial da campanha. Ou do início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão marcado para o dia 17 de agosto. Convenhamos: a eleição perderia sua graça. Não para os eleitores. Mas para nós, jornalistas. E para os políticos. E para lobistas e homens de negócios. E para caçadores de empregos.

Ah, se o distinto público soubesse como se faz política – os interesses inconfessáveis que se escondem por trás dela, o que move tanta gente a disputar cargos, como os candidatos são escolhidos e alguns aceitam concorrer sem acreditar em suas próprias chances. Você acha, por exemplo, que o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) queria ser candidato outra vez ao governo de Pernambuco? Pois será para que o PSDB nacional tenha um palanque no Estado.

Jarbas acredita que derrotará Eduardo Campos (PSB), candidato à reeleição? Acredita em uma vitória de Serra? Somente se a campanha de Serra fosse radicalmente reformulada, confessou ele outro dia numa roda de amigos em Brasília. Haverá reformulação? Jarbas duvida. Então por que ele é candidato a uma derrota mais ou menos certa? Porque é amigo de Serra. Porque tem mais quatro anos de mandato como senador e não ficará ao relento.

Geddel Vieira Lima (PMDB) é candidato ao governo da Bahia porque se perder sairá candidato daqui a dois anos à Prefeitura de Salvador. E candidato forte. Caso se eleja prefeito ocupará o cargo durante dois anos à espera da próxima eleição para governador. A Câmara dos Deputados não o atrai mais. É moço. Quer governar seu Estado. Mais moço do que ele é Indio da Costa (DEM), o vice de Serra. Não se imagina vice. O DEM imagina vê-lo como prefeito do Rio e, mais adiante, governador.

As pesquisas Datafolha e Ibope salvaram Serra de ser largado de mão antes do tempo. Para quem em junho protagonizou tantos programas e comerciais de partidos políticos no rádio e na televisão, ele deveria ter aberto uma vantagem de cinco ou mais pontos sobre Dilma. Ficou com o mesmo tamanho que tinha em maio, segundo o Datafolha. Empatou com Dilma depois de estar perdendo para ela, segundo o Ibope. Os que torcem por Serra voltaram a se animar – e com razão, vá lá.

Serra é um político experiente e cerebral. Muito antes de admitir de público sua candidatura, procurou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e disse que sabia que perderia a eleição para Lula. Venceria com folga mais uma eleição para governador de São Paulo. Fernando Henrique o convenceu a enfrentar Lula em nome dos superiores interesses políticos e econômicos paulistas que hoje controlam o PSDB. E que seguirão controlando o partido e o governo estadual com Geraldo Alckmin.

É fato também que Serra gostou de uma pesquisa encomendada pelo PSDB e destinada a provar que ele deverá derrotar Lula – quer dizer, e com todo o respeito, o poste escolhido por Lula para sucedê-lo. Política não é só pragmatismo. É também um espaço fértil para sonhos e ilusões. E vai que o poste, de repente, apaga sei lá por quê.

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