quarta-feira, 16 de junho de 2010

Reflexão do dia – Luiz Werneck Vianna


A própria história, herança maldita com que deveríamos romper, passa a ser reinterpretada sob outros filtros, concedendo-se vida nova a instituições e valores comprometidos com fins e práticas autoritárias, e assim apronta-se mais uma floração para o sindicalismo corporativo, que, ao longo das nossas décadas de modernização autoritária, tutelou a vida associativa dos trabalhadores. A questão nacional, que mobilizou a sociedade nos anos 1950/60, perde capacidade de universalização, apropriada como está pelo Estado e pela fração do empresariado a ele vinculado. Nessa versão, tanto o Estado Novo de 1937 como o regime militar de 1964-1985 passam a ser percebidos acriticamente, pelo tipo de reflexão panglossiana que ora nos conduz, como momentos necessários para a realização apoteótica dos fins de grandeza a que o país estaria, desde sempre, predestinado.


(Luiz Werneck Vianna, no artigo, Efeito Marina, segunda-feira (14/6/2010), Valor Econômico)

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