segunda-feira, 21 de junho de 2010

Eleito com folga, candidato de Uribe promete governo de união na Colômbia

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ex-ministro da Defesa, Santos recebe maior número de votos da história colombiana e derrota o opositor Antanas Mockus por uma diferença de mais de 40 pontos; favoritismo, fortes chuvas e Copa do Mundo fazem abstenção chegar a 55%

Renata Miranda
ENVIADA ESPECIAL / BOGOTÁ

Vencedor. Santos comemora vitória entre seu vice, Angelino Garzon, e sua mulher, Maria Clemencia, no centro de Bagdá


Confirmando o favoritismo e as pesquisas de intenção de voto, o candidato governista Juan Manuel Santos foi eleito ontem o novo presidente da Colômbia, com 69% dos votos, prometendo um governo de "unidade nacional". Com mais de 9 milhões de votos, Santos obteve a maior votação na história da Colômbia, superando as vitórias de seu mentor político Álvaro Uribe em 2002 e 2006.

Em um segundo turno marcado pela abstenção, seu rival, Antanas Mockus, do Partido Verde, obteve 27% de apoio, com 99,77% das urnas apuradas.

"O relógio hoje marca uma nova hora, chegou a hora da unidade nacional", afirmou Santos a milhares de partidários no Coliseu El Campín, em Bogotá. "Os colombianos votaram por unidade e hoje sou o presidente eleito de todos." O governista elogiou Mockus e convidou o opositor a participar de seu projeto de unidade. Santos também agradeceu o apoio de Uribe e prometeu dar continuidade às suas políticas.

O novo presidente da Colômbia aproveitou o discurso para enviar uma mensagem à comunidade internacional, garantindo melhorar as relações com os países vizinhos, como Venezuela e Equador. "Vocês podem ter certeza de que em meu governo encontrarão um aliado e um sócio." Sobre o combate à guerrilha, Santos disse que "se esgotou o tempo das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)", prometendo "dureza e toda firmeza" na luta contra a insurgência.

Mockus, ex-prefeito de Bogotá, felicitou seu rival pela vitória. Ele disse também que, apesar de sua derrota nas eleições, seu partido consolidou-se como "uma força política independente".

O resultado das eleições é um claro reconhecimento do legado do presidente Álvaro Uribe, um dos líderes mais populares da América Latina que, em oito anos de governo, melhorou drasticamente a segurança do país. Em pronunciamento na TV, Uribe felicitou Santos e agradeceu o Exército pela segurança durante o processo eleitoral.

Como seu ministro da Defesa, Santos recebeu parte dos créditos pelos impressionantes resultados da política de Segurança Democrática e é visto como o símbolo de continuidade das populares medidas do governo.

Apesar da proximidade com o presidente, Santos promete fazer mudanças na Casa de Nariño. Analistas, porém, acreditam que após a vitória de seu herdeiro político, a presença de Uribe no próximo governo deve ser forte (mais informações nesta página). A governabilidade de Santos também está garantida, com uma base de apoio de 232 dos 268 deputados da Câmara, ou 86% do total de cadeiras da Casa.

Abstenção. "Altos níveis de votação melhoram sensivelmente os índices de governabilidade", disse o articulista Edulfo Peña no jornal El Tiempo. "Uma maioria significativa de votos dá ao presidente mais autoridade diante dos demais atores políticos."

Estima-se que apenas cerca de 45% dos colombianos foram às urnas escolher entre Santos e Mockus. Uma das principais preocupações deste segundo turno era tentar reduzir o número de abstenções - o voto na Colômbia não é obrigatório e na primeira fase da eleição, 50% do eleitorado decidiu ficar em casa.

O baixo comparecimento às urnas foi atribuído ao desânimo causado pela grande diferença de votos entre os dois candidatos no primeiro turno. As autoridades também temiam que os jogos da Copa do Mundo e a chuva desestimulassem os eleitores.

"É um grande avanço para o nosso país que os maiores problemas desta eleição sejam as partidas de futebol e a chuva", disse o candidato governista depois de ter votado pela manhã na capital. Ele elogiou o apoio do Exército para realizar as eleições.

Juan Manuel Santos
PRESIDENTE ELEITO
"Mockus foi um rival de alto nível, que fez a Colômbia pensar no valor da vida, transparência e legalidade. Compartilhamos essas bandeiras e o convido a, juntos, mantê-las no alto"

Antanas Mockus
CANDIDATO DERROTADO
"Desejo a (Juan Manuel) Santos o maior dos êxitos para o bem de nosso querido país"


PONTOS-CHAVE

Vizinhos
O novo presidente terá a difícil tarefa de normalizar as relações com Venezuela e Equador, abaladas após um ataque aéreo contra um acampamento das Farc em território equatoriano

Farc
Combate à guerrilha foi prioridade de Uribe e seu sucesso em acuar rebeldes é determinou sua alta popularidade. Santos afirma que se recusará a negociar com a guerrilha

Economia
O novo presidente terá de desenvolver políticas que melhorem a economia da Colômbia - que está saindo da recessão - e incentivem a criação de empregos. O desemprego no país é de 12,4%

Narcotráfico
O combate ao tráfico de drogas é um dos desafios do futuro líder. Apesar da ajuda dos Estados Unidos, a Colômbia continua sendo o primeiro produtor mundial de cocaína

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