quarta-feira, 9 de junho de 2010

Crescimento 'chinês'? :: Fernando de Holanda Barbosa Filho

DEU EM O GLOBO

O "crescimento chinês" do PIB brasileiro no primeiro trimestre de 2010 era um resultado esperado. A crise americana afetou a economia brasileira no último trimestre de 2008 e seus efeitos continuaram no primeiro trimestre de 2009, com uma breve recessão que gerou grande aumento na capacidade ociosa na economia brasileira: o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) atingiu 77,9 em Fevereiro de 2009, contra 86,7 em Junho de 2008. Neste cenário, a recuperação da economia brasileira foi ocorrendo de forma progressiva com sinais de recuperação a partir do 2º trimestre de 2009 quando o PIB apresentou crescimento de 1,5% em relação ao trimestre anterior e com uma aceleração gradativa da taxa de crescimento até atingir os 2,7% do primeiro trimestre de 2010.

Entretanto, esta elevada taxa de crescimento de 2,7% em relação ao trimestre anterior (crescimento anualizado de 11,2%) ou de 9% sobre o primeiro trimestre de 2009 não significa que a economia brasileira tenha entrado em um regime de "crescimento chinês". Infelizmente, este elevado crescimento não é sustentável e é fruto de uma combinação de eventos, quais sejam: 1 - Elevada capacidade ociosa da economia brasileira em virtude do impacto da crise mundial; 2 - Política monetária expansionista com a redução dos compulsórios e da taxa de juros pelo Banco Central; 3 ? Política fiscal expansionista de 2009 com elevação dos gastos de 1,8% do PIB, e redução do superávit primário; 4 ? Antecipação de consumo em virtude de incentivos fiscais como a redução do IPI.

O nível de utilização da capacidade instalada já atingiu 84,9 em abril de 2010, próximo ao valor de agosto de 2008, 86,1. A expansão fiscal do governo encontra-se em patamar inferior ao observado em 2009 e o consumo de bens duráveis não vai atingir os elevados níveis incentivados pela redução do IPI que estimulou a antecipação do consumo. Logo, o crescimento do PIB entre o primeiro trimestre de 2009 e o de 2010 é explicado por fatores conjunturais e não por mudanças estruturais que estimulassem o crescimento do produto potencial brasileiro.

O crescimento da economia em ritmo superior ao do produto potencial gera pressões inflacionárias. Com isso, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve continuar o seu ciclo de elevação da taxa de juros reduzindo a taxa de crescimento da economia brasileira no ano de 2010 para baixo da taxa apresentada em seu primeiro trimestre.

Logo, o aperto da política monetária e a ausência dos fatores conjunturais acima reportados sinalizam que o "crescimento chinês" deste primeiro trimestre de 2010 não é sustentável e o país deve fechar o ano com um crescimento mais baixo. Para o Brasil entrar em um regime de "crescimento chinês" seriam necessárias diversas medidas, dentre as quais uma elevação da taxa de investimento (18% ao ano no 1º trimestre de 2010) e adoção de políticas que possibilitem elevar a produtividade da economia.


Fernando de Holanda Barbosa Filho é professor da Fundação Getulio Vargas e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV

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