quarta-feira, 16 de junho de 2010

Aliados que aniquilam:: Rosângela Bittar

DEU NO VALOR ECONÔMICO

O PCdoB reune-se, hoje, em Convenção Nacional, para declarar apoio à candidata do PT, Dilma Rousseff, que disputa a Presidência. Joga, porém, nessa empreitada, infinitamente mais que uma formalidade, aliado histórico que é das campanhas e do governo Lula. Empenha o coração, a integridade política, a ética, as regras eleitorais e, muito mais ainda, a vida de alguns aliados que acompanham o partido nas eleições do Maranhão.

O PCdoB deve manter a candidatura a governador do deputado federal Flávio Dino, apesar do golpe sofrido com a mão de ferro do diretório nacional do PT que, na última sexta-feira, não só anulou decisão do PT maranhense de coligar-se com Dino como determinou a aliança com sua adversária Roseana Sarney, do PMDB, em nome da aliança nacional dos dois partidos pra eleger Dilma Rousseff. Até os Sarney, soube a direção do PT, se surpreenderam, pois não esperavam tanto: os dois lados apostavam que uma saída aceitável e menos violenta seria decretar a neutralidade, não concedendo o tempo de televisão para nenhum candidato.

A insensibilidade para distinguir um caso especial resultou em perplexidade mas já produziu um consequência grave. Há quatro dias estão em greve de fome, no plenário da Câmara, o deputado Domingos Dutra (PT-MA), 54 anos, que acredita já ser o PMDB vencedor qualquer que seja o resultado das urnas pelo estrago que a aliança vem fazendo no PT. E o líder camponês Manoel da Conceição, perseguido pela ditadura, fundador do PT ao voltar do exílio, integrante da primeira comissão executiva nacional e primeiro secretário agrário.

Manoel, 75 anos, perdeu uma perna em confronto com a polícia da ditadura, é diabético e já se mostra debilitado. A amigos que o visitaram na noite de segunda e que tentaram confortá-lo apontando-lhe a evidência de que o PT pelo qual está lutando não existe mais, assegurava, batendo no peito: "Para mim, e todos os meus companheiros do Bico do Papagaio, existe, sim".

A candidata Dilma Rousseff está fazendo um giro internacional, não tem agenda no Brasil por uma semana, e está sendo preservada também deste conflito, incluído, com descaso, no escaninho de "problemas dos palanques estaduais". O presidente Lula tem uma relação muito peculiar com greves de fome. Enfrenta pela terceira vez o desgaste provocado por esta forma de luta desde que assumiu o governo, tendo sido ele próprio um grevista de fome na luta sindical.

Não dá muita bola para elas.

O bispo Luiz Flávio Cappio fez greve de fome pela suspensão das obras de transposição do rio São Francisco, conseguiu provocar embaraços e desgaste ao presidente, inclusive com repercussão internacional, mas as obras da transposição, embora lentas, continuaram. Lula fazia visita ao governo cubano quando morreu Orlando Zapata, um dissidente em greve de fome, e lhe pediram para interceder por outro grevista, ainda vivo, sem sucesso. Não há o menor sinal de que vá rever sua determinação e reverter a decisão do PT Nacional contra Dino e a favor de Roseana.

À espera da convenção, hoje, Dino espera convencer o PCdoB a exigir que Dilma, pelo menos, frequente também o seu palanque. Com expectativa baixa, dado que está sendo solenemente ignorado por todos, como transparece nesta rápida conversa, ontem, enquanto se dirigia à Câmara para visitar os aliados em greve.

- Quantos minutos de propaganda na TV você teria com o PT e sem o PT?

Com o PT, 6 minutos; sem o PT, 2,5.

- A campanha parou com a intervenção do diretório nacional do PT?

Não, ganhou mais entusiasmo do ponto de vista dos militantes, dos simpatizantes. Esse resultado gerou uma onda de indignação e solidariedade a meu favor, inclusive do PT.

- O problema, então, são as condições reais para disputar, o tempo de propaganda?

- Disputar em condições mais ou menos equilibradas com o poder constituído, enraizado, assentado na máquina estadual e também federal. O que ainda restava de mais ou menos igualitário no processo era exatamente o tempo de TV. E por isso houve essa operação nacional e internacional.

- Internacional?

Até em Nova York isso foi tratado, na viagem internacional da Dilma, quando o Henrique Meirelles foi homenageado, José Sarney foi e só falava nisso: Maranhão, Maranhão, Maranhão.

- Qual a viabilidade da sua candidatura?

Estão querendo criar uma espécie de gueto para a minha candidatura, pois ela cresceu muito. Eu saí de 4, fui para 9, depois 13 e agora 18, nas nossas pesquisas internas, demonstradoras da potencialidade da candidatura. A Roseana, na real, está na faixa de 45, e Jackson Lago, 25. O objetivo do PMDB é disputar só com o PST, é impedir os segundo turno.

- O PT nacional anulou a decisão do PT maranhense e impôs o seu contrário. Esperava manobra tão radical?

No meio da história propusemos várias mediações, uma delas era até a neutralidade. O PT, disputado pelo PMDB e pelo PCdoB, tendo em vista que vencemos no voto a disputa no Estado, se quisesse intervir na decisão e mudar o resultado, decretaria a neutralidade. Nem isso conseguimos.

- Sua candidatura está mantida?

Ontem, o PSB, na convenção nacional, reiterou apoio a mim. O PCdoB está firme. Temos o apoio e a solidariedade de 80% do PT local, inclusive 50% da corrente Construindo um Novo Brasil, do Lula e do Zé Dirceu. Serão dois palanques para Dilma no Maranhão, sendo que o PCdoB é aliado histórico e não tem candidato em todo lugar.

- O que o move nesta determinação?

A convicção de que o Maranhão está na hora da virada da página. Todas as oligarquias regionais já foram removidas, desde o Ceará, em 86, quando Tasso Jereissatti venceu os velhos coronéis, até a Bahia, em 2006, quando Jaques Wagner derrotou o carlismo. É um processo de plenitude da alternância no poder no Brasil. Nesse intervalo histórico houve mudança no Pará, no Piauí, em Pernambuco. Não se trata de dizer se é esquerda ou direita, é alternância. No Maranhão, não, se cristalizou o poder total.

Historicamente esse modelo ganha sua sobrevida hoje apenas por esse patrocínio do PT nacional.



Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

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