segunda-feira, 24 de maio de 2010

Senhor do destino:: Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

Pesquisa vai e vem, vai e volta. É uma fotografia variável. A campanha só vai começar depois da Copa (José Serra)

Em que estrela te escondes, Aécio Neves? Em que águas tépidas mergulhas? Em que braços roliços te aninhas? Não reverbera ao teu redor a aflição dos que sofrem com a transfusão de votos entre Lula, o doador, e Dilma Rousseff, a receptora? Achas que farás teu sucessor em Minas enquanto tudo mais desmorona? E o que de ti dirão depois, Aécio?

Pobre Aécio, filho de Aécio Cunha, ex-deputado federal; neto de Tristão, também ex-deputado federal; e de Tancredo Neves, o presidente da República que foi sem nunca ter sido. Ninguém duvida da sua eleição para o Senado depois de quase oito anos de bom governo em Minas Gerais.
Mas quem aposta em sua força para eleger sozinho governador o advogado Antonio Augusto Anastasia?

Quantas eleições disputou Anastasia? Uma, como vice de Aécio. Há quantos anos é militante do PSDB? Basta uma mão para contar o número de anos. Que passado político o credencia a disputar o cargo dos sonhos de todos os políticos mineiros? Destacou-se como técnico e administrador talentoso. Gente, Anastasia lembra quem? Sim, ele é a Dilma de Aécio. E Aécio pretende ser o Lula de Anastasi

Até pode vir a ser. De resto, Anastasia leva algumas vantagens sobre Dilma. Apenas 25% dos mineiros sabem que ele é o candidato de Aécio. Cerca de 75% dos brasileiros já sabem que Dilma é a candidata de Lula. Anastasia, pois, tem bastante espaço para crescer. Dilma largou o governo para concorrer à vaga de Lula. Anastasia sentou-se na cadeira de governador para tentar permanecer ali por mais quatro anos. Apesar disso...

Para eleger o atual prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, nome sacado do seu bolso e desconhecido dos mineiros, Aécio juntouse a Fernando Pimentel, do PT, na época ainda prefeito da cidade. No primeiro turno, os dois acreditaram na teoria do andor. Pouco importava quem fosse o santo no caso, alguém que entrara na política apenas um ano antes. Importava quem o carregasse.

Pois foi um sufoco. Na reta final da campanha, engrossou a procissão atrás de Leonardo Quintão, deputado federal do PMDB, um candidato de poucas ideias, porém simpático. Lacerda chegou quase sem fôlego ao fim do primeiro turno. E foi à luta no segundo com 20 pontos atrás de Quintão nas pesquisas de intenção de voto. Custou caro ah, como custou! eleger Lacerda.

Outra vez Aécio está sob forte pressão para aceitar a vaga de vice de José Serra, acossado por Dilma. No vasto mercado de teorias políticas que afloram às vésperas de eleições, ganhou força aquela que condiciona a eleição de Anastasia ao gesto de aparente desprendimento de Aécio, capaz de trocar uma vaga certa de senador por uma incerta de vice.

Candidato a vice de Serra, Aécio aumentaria seu cacife para derrotar Hélio, o PT e Lula. Uma coisa é ele pedir votos para Anastasia como ex-governador de largo prestígio e senador praticamente eleito. Outra, seria pedir como candidato a vice.

Uma vitória de Serra manteria Minas no primeiro escalão da República. Dilma é a mineira mais gaúcha que se conhece. Assim como Lula é o mais paulista dos pernambucanos.

A teoria não deverá ser testada por um monte de razões. A primeira: Aécio não acredita numa eventual vitória de Serra. Morrerá dizendo o contrário, mas não acredita. A segunda razão: não importa a segunda razão. Nem as demais. Que vantagem Maria leva se arriscando a uma derrota que considera provável? Ficaria sem mandato. E ainda ouviria o desaforo: O tal do Aécio não tinha tantos votos como se pensava.

Pelo aspirante a Rei, tudo, menos o próprio destino. Aécio pugnará por Serra convencido de que ele seria melhor presidente do que Dilma. Mas uma eventual vitória de Serra dependerá de Serra e de suas circunstâncias. De fato, o que em outubro decidirá a maioria dos brasileiros é se Lula merece ganhar um terceiro mandato por interposta pessoa. No momento, tudo indica que a decisão será favorável a ele.

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