quinta-feira, 1 de abril de 2010

A ponte vermelha e o kabuletê:: Plínio Fraga

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

RIO DE JANEIRO - "E eu não posso deixar o meu governo sem inaugurar a ponte do quilombo de Ivaporunduva!", discursou Lula ontem, na solenidade em que uma dezena de ministros saiu do cargo para disputar a eleição de outubro.

Ponte do quilombo de Ivaporunduva? Lula não fez a reforma eleitoral, nem a tributária, está prestes a ver sua base no Congresso votar a favor da legalização dos bingos e das trapaceiras máquinas de caça-níquel, não concluiu metade do PAC que ele mesmo criou. E vem falar da ponte de Ivaporunduva?

Na pré-campanha eleitoral de 1993, Lula conheceu Ivaporunduva, no Vale do Ribeira, uma das mais antigas comunidades remanescente de quilombos de São Paulo, cujo nome, em tupi, significa "rio de muitos frutos". Lá vivem menos de 300 pessoas, numa área de 3.100 hectares, produzindo banana orgânica em sistema de colheita coletiva e com comercialização no atacado.
Pretendem construir uma fábrica para processar a produção e agregar valor ao produto.
Ridicularizando, é quase um laboratório tropical da ilha socialista ideal preconizada por Thomas Morus em "Utopia".

Em 2003, com Lula no poder, Ivaporunduva viu a chance de viabilizar uma ponte de 128 metros que a ligaria aos municípios vizinhos de Eldorado e Iporanga. O acesso hoje é feito por canoas e balsas.

A ponte está pronta, mas falta a desapropriação de área de 400 metros para permitir a chegada ao quilombo. Fizeram a ponte, mas se esqueceram do terreno que dá acesso a ela.

Oito anos de Lula no poder não foram suficientes para que o Estado tornasse usável uma ponte de 128 metros. Ou seja, o "socialismo" de Ivaporunduva foi apresentado à eficiência da máquina pública, numa alquimia perfeita que ligará o quilombo utópico à tonga da mironga do kabuletê estatal.

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