terça-feira, 13 de abril de 2010

Petista causa polêmica também sobre exilados

DEU EM O GLOBO

Serra, Marina e aliados de Dilma reagem à declaração dela de que "não foge da luta"

Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Os pré-candidatos à Presidência José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) reagiram ontem às declarações da adversária Dilma Rousseff, do PT, de que não foge da luta, interpretada como crítica a ex-exilados políticos, como o tucano. Até aliados ficaram insatisfeitos, levando Dilma a se corrigir, primeiro no Twitter e, depois, em nota. Foi o quarto escorregão da petista desde que saiu do governo para a pré-campanha.

Sábado, ao participar de debate no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, Dilma disse: Eu não fujo da situação quando ela fica difícil. Eu não tenho medo da luta. Eu posso apanhar, sofrer, ser maltratada, como fui, mas estou sempre firme nas minhas convicções. (...) Mas eu nunca fugi da luta ou me submeti.

Nunca abandonei o barco.

Em entrevista à rádio Jovem Pan, Serra disse não acreditar que ela tenha se referido ao exílio dele no Chile, durante a ditadura, ou a outros que tiveram de deixar o Brasil para escaparem da prisão, da tortura ou da morte após o golpe de 64. Para Serra, a declaração de Dilma foi surpreendente: O próprio Brizola, que era chefe do partido da Dilma, foi exilado, porque, se ficasse no Brasil, seria preso. E há muitos companheiros de partido da Dilma que também foram exilados por este motivo, de maneira que não entendi direito a declaração, porque seria um desrespeito a toda essa gente (...) Acho que foi um escorregão, não me senti atingido.

Marina reagiu dizendo que os exilados não são fujões e que agiram em legítima defesa de suas vidas: Quando o senador Agripino Maia insinuou que ela (Dilma) era mentirosa, ela fez uma fala comovente. Disse que era muito fácil dizer a verdade quando você está torturado.

Difícil era mentir e não entregar seus companheiros.

Todos aqueles que saíram do Brasil não fugiram. Fizeram ato de legítima defesa de sua vida.

A senadora lembrou que o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), pré-candidato do partido ao governo do Rio, foi exilado: Eu não sei o contexto em que a ministra (Dilma) falou, mas o exilados políticos não são fujões.

O presidente do PPS, Roberto Freire, criticou em nota: O PPS, herdeiro das mais dignas tradições do PCB, vem a público em defesa de todos os exilados brasileiros, obrigados a deixar o país durante a ditadura militar.

Ao mesmo tempo, repudia as acusações feitas pela candidata do PT, que os chamou a todos de fugitivos. Ao tachá-los com tal adjetivo, Dilma nada mais fez do que se igualar ao general Leônidas Pires Gonçalves, diz trecho da nota, que lembrou declaração de Lula sobre um dissidente cubano: Não bastou a declaração do presidente Lula ao comparar o preso político Orlando Zapata Tamoyo, que morreu numa greve de fome em Cuba, com bandidos das nossas cadeias. Logo vem outra sandice, desta vez para macular a luta dos brasileiros exilados.

Além de ter tentando se explicar logo cedo, no Twitter, Dilma soltou uma nota, à tarde, para negar que tenha se referido a brasileiros que tiveram que sair do país, na ditadura.

Com o título Dilma não foge da luta nem critica exilados, a nota reproduz a frase dela no sindicato, quando, segunda a assessoria, enumerava os princípios que norteiam sua conduta ética e política. É, portanto, totalmente equivocada a interpretação, difundida hoje (ontem) por vários veículos de comunicação, de que ela tenha feito qualquer referência a brasileiros que tiveram que se exilar do país durante a ditadura militar. Cita ainda o que Dilma havia postado no Twitter: De onde tiraram que fugir da luta é se exilar? O exílio significou a diferença entre a vida e a morte para os exilados brasileiros.

Grandes amigos meus, corajosos e valorosos, só tiveram uma saída na ditadura, se exilar. Querer dizer que eu os critiquei só pode ser má-fé. Para a oposição, o alvo do discurso era Serra, como afirmou o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM): Mas Dilma acabou chamando de covardes Miguel Arraes, Luiz Carlos Prestes e até seu companheiro José Dirceu. Atingiu ainda a memória do ex-governador Leonel Brizola.

O líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), tentou contemporizar: Dilma não falou que os exilados fugiram da luta, falou da experiência dela. Até porque tem mais ex-exilado no PT do que no PSDB.
Mas o líder do PSB, deputado Rodrigo Rollemberg (DF), não escondeu o desconforto com a declaração.

Cada um viveu uma realidade na ditadura. Arraes foi exilado. Dilma tem uma biografia própria. É diferente daqueles que tiveram outro tipo de luta e vivências que também valorizamos.

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) foi duro com a ex-ministra: Essa declaração é uma falta de respeito aos que se exilaram, como Arraes, Brizola e Prestes. Até porque os que estavam na guerrilha tinham a proteção do seu grupo e se defendiam.

Os que lutavam por solução política e não pegavam em armas não tinham opção de ficar. A única saída era sair do país. Tenho impressão que Dilma disse isso sem pensar, até porque não acho que queria chamar de fujão todos os exilados. Ao tentar atacar Serra, acabou atingindo muita gente.

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