sexta-feira, 30 de abril de 2010

O recuo dos bancos públicos:: Vinicius Torres Freire

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Banca privada mantém passo do final de 2009, mas estatais reduzem para um terço ritmo de aumento do total de crédito

Depois de hibernar durante o auge da crise financeira mundial e da suave recessão brasileira, de setembro de 2008 a setembro de 2009, a banca privada nacional voltou ao mercado.

Entre aqueles dois setembros, os bancos públicos comerciais e o BNDES haviam sido responsáveis por 70% do aumento do estoque de crédito -do total do dinheiro ainda emprestado. No primeiro trimestre deste ano, os bancos privados inverteram o jogo. Do total do aumento do estoque de crédito de janeiro a março, responderam por 59%.

Mas os bancos privados aumentaram o ritmo de seus empréstimos já no terço final do ano passado. Continuam mais ou menos no mesmo passo neste início de 2010. Foram os bancos públicos que deram um tempo na voracidade de 2008-09. A fatia de mercado dos bancos públicos subiu de 34% (setembro de 2008) para 41,5%, agora em março, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central.

Estranha mesmo é a atuação dos bancos privados estrangeiros. Mesmo passada a crise, eles estão mais do que tímidos. Sua fatia na expansão do estoque de crédito no primeiro trimestre deste ano é um quinto do que era no início de 2008.

A redução do ritmo nos bancos públicos e a estabilidade nos bancos privados fazem com que a taxa anual de expansão de crédito venha flutuando em torno de 16% desde setembro de 2009. Bancos privados vinham estimando que o estoque de crédito poderia crescer perto de 20% neste ano. Como a economia tende a desaquecer um tico daqui ao final do ano, dada a alta dos juro básico, parece mais difícil chegar aos 20%. A inadimplência continua a cair.

No caso das pessoas físicas, a taxa de calote não passou de 8,6% de 2009.

No início do ano passado, banqueiros estimavam que a inadimplência chegaria a 10%. Agora está em 7%.

A projeção inicial não foi tão errada quanto parece. Os bancos privados não contavam com a agressividade dos bancos públicos no crédito, o que evitou recessão feia, mais desemprego, falências e, pois, calotes.

Temos um sistema financeiro híbrido, com prós e contras. Por um lado, foi possível evitar recessão maior com o "ativismo estatal" -que não redundou em calotes e rombos na banca pública, como se temia. O outro lado da moeda é que nosso sistema de juros tabelados e subsidiados, gerido pelos bancos públicos, impede que a taxa básica de juros, a Selic, seja menor.

Isto é, a taxa básica, a do BC, tem de ser maior para compensar o estímulo econômico oferecido por taxas menores, subsidiadas, como as do BNDES, que faz o grosso do financiamento bancário do investimento. Sem juros tabelados e subsidiados, quão menor seria a Selic? E quão menor seria o crédito para investimentos? Não se sabe. O problema vai muito além da alternativa crédito público vs. crédito privado.

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