terça-feira, 27 de abril de 2010

Debate eleitoral brasileiro nos EUA:: Vinicius Torres Freire

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Mantega e Meirelles tratam de câmbio como se fossem governo e oposição; Serra e Dilma não falam a respeito

Dilma Rousseff foi orientada por Lula a fazer menos comício a fim de treinar a arte de dar entrevistas "pop", em especial na TV, noticiou esta Folha. O presidente acha que sua candidata ainda se expressa de modo técnico e enrolado demais.

José Serra estava ontem na TV a discutir tornozeleiras para controlar eletronicamente criminosos que cumprem pena em regime aberto. Falou também sobre saúde.

Repetiu que não disputa a eleição com Lula, mas com Dilma e Marina Silva. Serra disse que na campanha eleitoral deve-se discutir "o futuro". O tucano foi ao programa "Brasil Urgente", da Band.

A contenção de criminosos e o serviço público de saúde são temas relevantes e, em especial, "pop", que afetam direta, visível e fisicamente a maioria dos cidadãos.

A taxa de câmbio do dólar pelo real, por sua vez, torna-se problema visível quase apenas quando altera o custo de viagens internacionais -e apenas para a minoria dos cidadãos. A minoria da minoria tem noção de que o preço do dólar altera o preço de eletrônicos e bebidas importados, por exemplo.

Mas o câmbio afeta o preço do ferro, do aço, do carro, da geladeira; ou de empregos e empresas.

Mas quem esteve discutindo câmbio por estes dias, entre Washington e Nova York, nos EUA, como se fossem governo e oposição? Guido Mantega, o ministro da Fazenda, e Henrique Meirelles, o presidente do Banco Central.

Já vai bem longe o tempo em que Mantega e Meirelles, Fazenda e BC, se atritavam mais. Porém, em conversas de corredor e discursos para autoridades, banqueiros e investidores, voltaram à velha discordância sobre câmbio e inflação.

Esses temas básicos da eleição de 2010 eram discutidos nos EUA.

Meirelles falou grosso sobre juros e inflação. E, como propôs José Serra, passou a falar do futuro. Disse que o próximo governo não pode ceder à tentação de desvalorizar artificialmente a moeda, o real. É coisa, aliás, que Meirelles tem dito em reuniões pelo Brasil.

Mantega, por sua vez, voltou a dizer que há ansiedade demais e interessada sobre a inflação. Insinuou que o governo pode tomar mais medidas para evitar a valorização excessiva do real. Como o fez em 2009, quando passou a cobrar imposto (IOF) sobre a entrada de dólares em alguns investimentos.

Serra costumava ter uma opinião parecida com a de Mantega. Mas defendia, além de alguma intervenção no câmbio, uma dura contenção de gastos, de modo a facilitar a tarefa de comprar dólares de modo a evitar o fortalecimento do real, entre outras tarefas. Os verbos estão no passado porque Serra, faz algum tempo, quase se calou sobre política econômica.Dilma também nada diz sobre o assunto. É candidata da continuidade do governo. Mas, no que diz respeito a câmbio, um preço fundamental da economia, é adepta de que lado do muro do governo Lula:

Mantega ou Meirelles?

A campanha não começou oficialmente, decerto. Mas como é possível que não saibamos, desde ontem, o que os principais candidatos pensam sobre um tema central da política econômica?

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