sábado, 3 de abril de 2010

Alianças de Gabeira e de Cabral em crise

DEU EM O GLOBO

O PV decidiu romper com a candidatura de Cesar Maia ao Senado e excluí-lo da aliança de Fernando Gabeira para o governo do estado.

Já na chapa do governador Sérgio Cabral, há uma guerra entre Lindberg (PT) e Picciani (PMDB).

Fogo amigo ameaça alianças no Rio

PV de Gabeira quer excluir Cesar; no grupo de Cabral, Lindberg e Picciani estão em guerra

Cássio Bruno

A pré-campanha no Rio já virou uma guerra. Mas não entre adversários.

Os dois principais nomes da disputa pelo governo do estado sofrem com fogo amigo.

De um lado, Fernando Gabeira (PV) — muito criticado pelo até então aliado e presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia — deverá anunciar, na próxima semana, o rompimento com o ex-prefeito Cesar Maia (DEM), que concorreria ao Senado em sua chapa. Do outro, o governador Sérgio Cabral (PMDB), candidato à reeleição, tenta administrar o confronto pesado entre seus dois pré-candidatos ao Senado: o ex-prefeito Lindberg Farias (PT) e o presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani (PMDB).

Gabeira já havia manifestado o desejo de excluir Cesar Maia da aliança por causa da rejeição ao ex-prefeito na classe média carioca. A intenção do verde, porém, provocou forte reação de Rodrigo Maia, que saiu em defesa do pai e pôs em risco a coligação formada por PV, DEM, PPS e PSDB. Segundo o presidente nacional do DEM, “ou Gabeira tem o apoio de todos os partidos ou não tem de nenhum deles”.

E atacou: “A rejeição a Cesar Maia só ocorre no Posto 9, na Praia de Ipanema, onde Gabeira toma sol”.

As últimas declarações de Rodrigo Maia, publicadas ontem no GLOBO, sacramentaram de vez a decisão de Gabeira, que, há três semanas, participou de um encontro do DEM. No evento, o verde declarou que Cesar Maia “é o melhor candidato ao Senado”. O PV indicará a vereadora Aspásia Camargo para disputar uma vaga no Senado.


Aliança com PSDB e PPS seria mantida

O presidente regional do PV, Alfredo Sirkis, inimigo político de Cesar, disse que, agora, o problema está resolvido.

— Eles (Rodrigo e Cesar) vão seguir a vida deles. É melhor assim. Com a saída do DEM, o tempo na propaganda eleitoral na TV não será problema.

Teremos três ou quatro minutos para fazer um bom programa. E é o suficiente.

Eles acham que estamos nos suicidando. Não estamos. Só não compensa o tempo de TV com o desgaste que teremos com Cesar junto à classe média — afirmou Sirkis.

A intenção de Sirkis é manter a aliança com o PPS e o PSDB, como ocorreu nas eleições de 2008, quando Gabeira foi candidato a prefeito. No PSDB, porém, há divergências. O presidente regional do partido, José Camilo Zito, já disse que não apoia Gabeira.

E o presidente regional do PPS, deputado estadual Comte Bittencourt, afirmou que o partido ficará com Cesar Maia. O PPS deverá indicar Marcelo Cerqueira para o Senado.

— Anteciparam (a campanha) para fevereiro e março, o que deveria ocorrer somente em junho. O que há é um processo de discussão de alianças. Não há ruptura do que ainda não existe. Para manter as características de atuação do PV e do Gabeira, não cabia uma aliança com Cesar Maia — disse Sirkis.

Gabeira disse que só vai se pronunciar sobre qualquer decisão dele e do PV depois da Semana Santa.

Na última quinta-feira, ao saber dos ataques de Rodrigo Maia, o pré-candidato evitou entrar em polêmica: — É assim? Tudo bem. Eu não vou bater boca com ele pelo jornal. Se ele acha tudo isso, então, estamos conversados.

Anteontem, Rodrigo Maia ironizou a intenção de Gabeira de romper com o DEM: — O Gabeira recebe meia dúzia de mensagens contra Cesar Maia na caixa postal do computador e entra em TPM.

O presidente do DEM voltou a criticar Gabeira ontem: — É um problema deles (romper com Cesar e o DEM). O Sérgio Cabral vai ganhar a eleição com essa decisão do Gabeira — disse.

Por e-mail, Cesar Maia atacou os aliados do pré-candidato. “Gabeira é vítima dos seus, que, na verdade, querem usá-lo para se elegerem”, disparou o ex-prefeito. E completou: “Para mim, aumenta a votação. Para ele (Gabeira), elimina a chance (de vencer Cabral)”. No Twitter, Cesar declarou apoio ao pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra.

Acusações de enriquecimento


Já Cabral terá de buscar o entendimento entre Lindberg e Picciani. Em entrevista a um programa de TV que irá ao ar amanhã, o presidente da Alerj ataca o petista. Segundo Picciani, “Lindberg teve comportamento de criminoso” ao responsabilizá-lo pelo vazamento de informações à imprensa sobre a decisão da Justiça de quebrar o seu sigilo bancário e fiscal e o de sua família por suspeitas de desvios de verbas na prefeitura de Nova Iguaçu. E concluiu: “Lindberg vai ter que explicar é à Justiça como ele e seus familiares criaram 12 empresas contratadas irregularmente pela prefeitura”.

Lindberg rebateu: — Este senhor (Picciani) se acha o dono do Rio. Ameaça, chantageia, joga sujo. É baixo. Gosta de dizer que todos o temem. Mas eu não tenho medo dele e muito menos dos seus métodos. Vou processá-lo. Ele vai ter que provar tudo isso.

Em seguida, o petista atacou novamente Picciani: — Em 1994, Picciani tinha um Corcel velho. Era assim que fazia campanha nos subúrbios do Rio.

Hoje é um grande fazendeiro, um dos maiores criadores de gado do Brasil. Se alguém tem que se explicar como enriqueceu, não sou eu.

Picciani respondeu por meio de sua assessoria: “Os meus problemas foram enfrentados e resolvidos.

Espero que o Lindberg enfrente e resolva os dele”.

Cabral tem outra dor de cabeça.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem pressionado o governador aliado a apoiar o senador Marcelo Crivella (PRB), que disputará novamente uma vaga no Senado. Lula atenderia a um pedido de seu vice, José Alencar (PRB). O presidente vem ao Rio na próxima terça-feira.

— Conversarei com Cabral sobre esses problemas e outros assuntos no domingo (hoje). Mas isso tudo é uma disputa de espaço natural. É uma coisa que vai se ajeitar — minimizou o vice-governador, Luiz Fernando Pezão.

Em janeiro, Cabral ficou furioso com o encontro entre o pré-candidato ao governo do estado pelo PR, o ex-governador Anthony Garotinho (PR), e a pré-candidata à Presidência pelo PT, a ex-ministra Dilma Rousseff. Garotinho, a exemplo de Cabral, faz parte da base aliada de Lula, mas o governador não pretenderia ver os aliados petistas no palanque de seu adversário.

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