quarta-feira, 31 de março de 2010

Três embaraços para Dilma:: Rosângela Bittar

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Embora cresça na aceitação do eleitorado à medida que vai se tornando conhecida e tenha seu nome associado ao do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a candidata Dilma Rousseff vê sua campanha embrenhar-se, na atual fase, em problemas políticos profundos e muito precoces para uma jornada que nem sequer começou oficialmente.

Um dos obstáculos de transposição mais difícil é a definição do candidato a vice-presidente, a ser buscado no PMDB, segundo garantem os assessores políticos, a partir da real possibilidade de aliança formal desse partido com o PT. Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, queria demais o cargo e trabalhou durante os últimos meses para viabilizar-se. Ingressou no PMDB para credenciar-se melhor à tarefa, mas o partido não abriu mão da indicação do presidente da Câmara, Michel Temer, para compor a chapa com Dilma caso a aliança seja formalizada. Deu espaços para Meirelles - senador ou governador por Goiás, por exemplo - mas ele não os aceitou.

Diante disso e, principalmente, por ter personalidade pouco afeita à subjetividade da política, sem querer arriscar-se e sem nenhuma garantia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua candidata de que terá o apoio para realizar seus desejos, Meirelles deve anunciar hoje que fica no BC para atender ao "apelo" do presidente e ir com ele até o fim do mandato.

O problema maior da campanha de Dilma nesse quesito do vice, porém, não foi descontentar Meirelles, mas fazer uma desfeita, que está prestes a sacramentar, ao próprio Lula. A solução "Temer na vice" desagrada em gênero, número e grau ao presidente e único fiador da candidatura Dilma.

Lula se reaproximou do PMDB, é verdade - depois do rompimento no primeiro mandato -, e fez de Temer o canal formal das negociações com o partido. Mas nunca se deu, não se dá hoje, e não emite sinais de que estabelecerá no futuro um canal político de confiança com o presidente da Câmara.

Temer, como vice, se vier a ser o nome da aliança PT-PMDB, terá que ser empurrado goela abaixo do presidente. E não é uma fissura de hoje. Em 2003, quando José Dirceu tentou acertar a aliança com o PMDB e levar o partido para dentro do governo petista, Lula perguntou-lhe se era todo o PMDB, ou só uma parte, e se Temer estava no acordo. Diante da resposta positiva, o presidente decidiu que teriam que procurar outros partidos.

De lá para cá, a trajetória de Temer avançou na aproximação com o presidente porque ele fundiu melhor sua imagem com a do PMDB, unificando as correntes. Mas há pouquíssimo tempo, quando teve oportunidade, Lula voltou a alfinetá-lo, pedindo uma lista tríplice para escolha do candidato a vice. Não é mesmo, está mais do que claro, uma convivência desejada.

Outro nó a ser dasatado por Lula é a candidatura presidencial de Ciro Gomes, em cujo pescoço o PSB ainda não pendurou o guizo da não candidatura a presidente. Enquanto não o faz, assiste aos sobressaltos o candidato atacar Dilma Rousseff e o PT, prováveis aliados, com grande desenvoltura. Nenhuma surpresa, pois foi exatamente para evitar isto que PSB e PCdoB levaram a Lula a ideia de transferir Ciro para a disputa de São Paulo. O problema é que esta fase de resistência na disputa nacional se torna longa e os ataques ao PT estão chegando a um ponto em que, se Dilma vencer, Ciro não terá mais condições nem de integrar o seu ministério.

Um outro obstáculo de peso à fluência e distensão política na campanha do PT tem sido a solução para o palanque de Dilma Rousseff em Minas Gerais. Há problemas para unificar o PT no Estado, que persistem, mesmo com a aparente solução a partir da desincompatibilização de Patrus Ananias, anunciada ontem. O grupo que faz assessoria política a Dilma está apreensivo com a demora das definições. Mesmo que as candidaturas se acomodem como nos melhores devaneios desses assessores - Hélio Costa candidato ao governo, Fernando Pimentel ao Senado e Patrus Ananias à Câmara - o que o governo mais quer é ter um palanque muito forte para segurar o governador Aécio Neves na disputa em Minas. Aécio longe da disputa nacional e da chapa presidencial do PSDB, preso à campanha em Minas para fazer o seu sucessor, é tudo o que deseja a campanha de Dilma, e não há uma garantia de que isso vá ocorrer agora.

"Com um só palanque, temos chances não só de ganhar no primeiro turno como de segurar o Aécio em Minas. Se tivermos dois palanques, um do PMDB e um do PT, a eleição se decidirá no segundo turno", avalia um dos coordenadores da campanha petista.

As soluções para a Vice, para a dupla candidatura governista à Presidência, e para Minas, não têm prazo esgotando-se agora com a desincompatibilização, o que pode levar mais tensão ao staff político da ministra. São questões que podem ser empurradas para junho.

Nonsense

Os candidatos podem se deparar com absurdos legais em cada uma das etapas da campanha mas o que a lei marca para esta semana é um dos maiores. Esgota-se praticamente hoje, tendo em vista os feriados da Páscoa, o prazo de desincompatibilização dos cargos executivos para quem vai disputar as eleições de outubro.

A lei obriga a demissão seis meses antes do pleito porque, supostamente, o candidato deve iniciar sua campanha e não pode misturá-la com a atividade pública que exerce. Mas as campanhas estão proibidas, pela lei, até julho, o que joga todos eles, e seus eleitores, no território da hipocrisia que já vinham frequentando até aqui.

O candidato deve sair porque está começando a campanha e seus aliados desejam que se entregue a ela, mas está proibido pela lei de fazê-la.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

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