quinta-feira, 4 de março de 2010

Homenagem emociona ao relembrar a história

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

A deputada Rita Camata, musa da Constituinte, foi às lágrimas ao recordar o passado

Denise Rothenburgd

A homenagem ao centenário de Tancredo Neves emocionou o plenário. A deputada Rita Camata (PSDB-ES), musa do Congresso Constituinte no governo de José Sarney, foi às lágrimas ao ver a cantora Fafá de Belém abrir a sessão solene do Congresso em homenagem aos 100 anos de Tancredo Neves(1) cantando o Hino Nacional — uma cena que ficou marcada na lembrança de todos na campanha pelas Diretas. Depois, a interpretação de Fafá marcaria ainda a eleição de Tancredo no Colégio Eleitoral e a tristeza pela morte precoce do presidente que não chegou a assumir o governo para completar o trabalho pelo retorno da democracia.

“Há homens que dão a vida por um país: Tancredo deu mais, ele deu a morte, afirmou o presidente do Senado, José Sarney, o vice de Tancredo, a quem coube a obrigação de concluir a transição da ditadura militar para o regime democrático. Sarney contou ainda detalhes daquela noite em que Tancredo foi internado, na véspera da posse, implorando aos médicos que lhe dessem mais algumas horas, que ele precisava tomar posse porque sabia que João Figueiredo não empossaria Sarney. “Ele foi um mártir”, resumiu o senador. Mais cedo, Sarney foi anfitrião da inauguração do busto de Tancredo no Salão Nobre do Senado.

Plenário lotado

Na plateia, com o plenário lotado por autoridades dos mais diversos matizes da política, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) acompanhou a cerimônia de pé. O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Mário Veloso e o senador Marco Maciel (DEM-PE) chegaram cedo e conseguiram um lugar. No meio dos convidados que vieram de Minas, uma senhora chamava a atenção: era dona Antônia, que foi secretária de Tancredo. “Não tenho muita coisa para contar. Só sei que os tempos são outros”, desconversava, discreta e elegante.

Os políticos do PT eram presentes. Afinal, temiam, como foi lembrado, a menção à decisão de votar contra Tancredo no colégio eleitoral. O único que defendeu o partido na tribuna foi o senador Pedro Simon (PMDB-RS), que citou a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, como sua candidata. Cada político saiu do plenário com um exemplar do livro editado pelo Senado com os discursos do ex-presidente Tancredo. É de lá que todos agora buscam inspiração para conciliar interesses antagônicos. Os tucanos, principalmente, terão de se aplicar nessas lições em busca da unidade, que se mostra cada vez mais distante.

Defensor das instituições

De 1934 a 1985, Tancredo Neves fez de quase tudo. Só não foi prefeito de sua terra natal, São João del-Rei. Vereador, deputado, secretário de estado, diretor de banco, ministro, senador, governador e presidente eleito do país, esse cidadão de profundas convicções liberais — leitor de Alexis de Tocqueville — cultivou o extremo apreço pelas instituições. Conservador, defensor da negociação, do diálogo, da conciliação e do respeito às instituições, estudou na cartilha da democracia liberal. Eleito pelo Colégio Eleitoral, faleceu em 21 de abril de 1985, devido a complicações decorrentes de uma diverticulite aguda.

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