domingo, 21 de março de 2010

Candidato confesso

DEU NA REVISTA VEJA

Apertado em um programa de TV, o governador de São Paulo, José Serra, admite que será o candidato do PSDB a presidente da República

Felipe Patury e Fábio Portela

Em entrevista, José Luiz Datena parabeniza Serra e o tucano fala sobre sua candidatura ao Planalto


Na última sexta-feira, o governador de São Paulo, José Serra, admitiu em público pela primeira vez que será candidato à Presidência da República pelo PSDB. O anúncio não ocorreu com a pompa e a solenidade que seus aliados e adversários esperavam, mas em uma simples entrevista concedida ao apresentador José Luiz Datena, da Band. Serra pretendia falar sobre um projeto na área de saúde.

A conversa tomou outro rumo. Ele recebeu parabéns por seu aniversário e, ao ser questionado sobre a data em que deveria lançar seu nome, respondeu: "No início de abril". O jornalista ainda conferiu: "Está definido, então?". O tucano confirmou: "Está". A candidatura de Serra era um segredo de polichinelo. Ainda assim, a revelação surpreendeu até seus colaboradores mais próximos.

Eles esperavam que Serra emitisse declarações cada vez mais claras sobre sua intenção de concorrer ao Palácio do Planalto. A senha nesse sentido foi dada no início do mês, durante as comemorações do aniversário de 100 anos do presidente Tancredo Neves.

Na oportunidade, Serra garantiu à cúpula do partido que disputará a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. A partir daí, deveria fazer afirmações semelhantes para círculos cada vez menos restritos. Deveria, no entanto, evitar manifestações públicas, que poderiam esvaziar o lançamento formal de sua campanha, em 10 de abril.

Tão convencido estava da decisão de disputar a Presidência e da correção de sua estratégia que Serra acabou se traindo. "Não disse nada de novo", ponderou o governador, declarando-se surpreso com a repercussão da entrevista. "Ele guardou isso por tanto tempo que acabou saindo", avaliou um de seus amigos. O deslize verbal não deverá, porém, alterar o calendário tucano. Na semana passada, Serra tomou novas decisões sobre a cerimônia.

Aprovou, por exemplo, o horário (de manhã) e o local (Brasil 21 Centro de Eventos e Convenções, em Brasília) em que ela ocorrerá. Também incumbiu o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, e seu secretário executivo, Sérgio Silva, de contratar as empresas que vão organizá-la. Empenhou-se em eliminar possíveis focos de conflito em sua equipe de campanha. Uma das preocupações atuais de Serra é convencer a agremiação de que o mais indicado para chefiar sua área de comunicação é o marqueteiro Luiz González, que o ajudou a conquistar a prefeitura de São Paulo, em 2004, e o governo do estado, em 2006. Alguns dos líderes do PSDB têm restrições a González porque, também em 2006, ele coordenou a campanha fracassada a presidente da República do tucano Geraldo Alckmin. Mas Serra não só gosta do marqueteiro como confia nele e está certo de que não há ninguém melhor para a tarefa.

A principal preocupação do tucano é outra. O governador paulista quer chegar ao dia do lançamento oficial de sua candidatura com o maior número de apoios possível. Por isso, orienta e acompanha passo a passo as negociações que Sérgio Guerra conduz com partidos que poderão integrar a sua coalizão. Já tem garantido o apoio do DEM e do PPS. Gostaria de concluir ainda neste mês os entendimentos com o PTB e o PSC. Tenta também seduzir o PP e angariar mais apoio com o PMDB e o PDT, que já prometeram se perfilar com a petista Dilma Rousseff. O grupo de Serra crê que a conquista desses apoios seria não apenas uma demonstração de força, mas também poderia ter impacto nas próximas pesquisas eleitorais.

No levantamento do Ibope divulgado na semana passada, Serra aparece com 35 pontos porcen-tuais, enquanto Dilma fica em 30 pontos. Para os analistas tucanos, um lançamento eficiente da campanha, com bom aproveitamento dos veículos de comunicação, poderia elevar essa diferença de 5 para 8 pontos porcentuais. Resta saber se a declaração fora de lugar e de hora feita na sexta-feira pode atrapalhar a repercussão do evento marcado para o dia 10 de abril, que disputará espaço nos veículos de comunicação com uma agenda de obras e lançamentos programados pelo governo para promover Dilma. Ainda neste mês, ela deve lançar uma versão recauchutada do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-2) e outra do plano habitacional Minha Casa, Minha Vida. Teleguiada pela equipe de marketing, Dilma certamente não fará isso em um programa policial.

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