sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Dirceu terá 'papel oficial' na campanha de Dilma

DEU EM O GLOBO

Cassado e sob investigação do STF por causa do mensalão do PT, o ex-deputado José Dirceu foi um dos mais assediados no congresso do partido, aberto ontem, e disse que vai ter função formal na campanha da candidata petista ao Planalto, Dilma Rousseff. “Agora serei do Diretório Nacional (do PT). Vou ter um papel oficial na campanha da Dilma”, disse ele.

Dirceu: Terei papel oficial na campanha da Dilma

Deputado cassado vira estrela no congresso do PT e faz releitura de escândalos: Mensalão para mim não é corrupção

Maria Lima, Gerson Camarotti e Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. Alijado oficialmente da vida pública desde dezembro de 2005, quando seu mandato de deputado foi cassado pela acusação de ser mentor do maior escândalo de corrupção do governo Lula, o ex-ministro José Dirceu desfilou ontem no 4° Congresso Nacional do PT reabilitado. Ele está prestes a assumir uma função de articulação na campanha da presidenciável petista, Dilma Rousseff.

Disse que estará nos palanques do PT este ano porque não está na clandestinidade.

— Antes não era do Diretório Nacional. Agora serei. Vou ter um papel oficial na campanha da Dilma, mas ainda não sei o que é — afirmou.

Bronzeado e mais magro, Dirceu foi o mais requisitado ontem de manhã, enquanto Dilma e outros petistas participavam de seminário sobre questões internacionais.

Ele posou para fotos com militantes, conversou com dirigentes petistas.

Perguntada se Dirceu seria bem-vindo ao seu palanque, Dilma afirmou: — Ele é um dirigente do partido e, como tal, será considerado.

Sem dúvida (será bem-vindo).

Todos os dirigentes do PT, todos os militantes do PT serão bem-vindos, até porque deles eu dependo para me eleger.

A busca de Dirceu pelos holofotes e o aviso de que estará presente nos palanques de Dilma causou desconforto entre alguns petistas e integrantes do governo, que preferem atuação mais discreta do ex-ministro.

Mas Dirceu, à vontade, contou que só ano passado visitou 70 vezes os estados para resolver pendências do partido.

— Vou subir nos palanques e não vou tirar votos da Dilma não. Não vou ficar na clandestinidade.

Já fiquei dez anos na clandestinidade. Nunca fui de bastidor. Sempre tive uma atuação pública, sempre fui eleito. Se me convidarem e houver demanda, estarei sempre à disposição — disse Dirceu, afirmando que não há nada contra ele: — Em tudo o que fui julgado, já fui absolvido. Mensalão para mim não é corrupção, é financiamento de campanha com caixa 2.

Berzoini defende ação de Dirceu

O deputado Ricardo Berzoini, que está deixando a presidência do PT, também defendeu a presença de Dirceu no partido e na campanha eleitoral. Na avaliação dele, houve uma mudança na opinião pública, e Dirceu não trará inconvenientes eleitorais.

— Se analisarmos tudo o que ocorreu de 2005 para cá, veremos que houve um processamento da opinião pública.

As pessoas já separam o que é político do que jurídico.

De nossa parte, não há nenhum constrangimento.

Dirceu disse que se considera reabilitado pelo afeto e solidariedade dos companheiros, mas reconhece que o fantasma do mensalão só estará sepultado quando for julgado no Supremo Tribunal Federal (STF), onde responde a processo como o chefe da “quadrilha” do escândalo.

— Ainda não está sepultado.

Quero ser julgado logo. Onde fui julgado, fui absolvido. Não há nada contra mim. Não sei por que ser condenado.

Dilma chegou ao encontro acompanhada do ex-senador José Eduardo Dutra, que assume hoje o comando nacional do PT. Chamou a atenção sua blusa azul piscina, que destoou de toda a decoração em vermelho, do chão ao teto, com milhares de estrelas espalhadas pelo Centro de Convenções Ulysses Guimarães.

— Estou guardando o vermelho para sábado — respondeu a ministra, quando disseram que o azul era a cor dos tucanos

Um comentário:

Paulo Bezerra disse...

Estarrecedor. O "capo" Dirceu de volta à política sugere que a luta pela democracia pode vir a ser tão ou mais importante quanto o foi durante a ditadura. É viver para conferir.
Paulo Bezerra