quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

'Aloprado' volta ao PT com aval de Marinho

DEU EM O GLOBO

Ex-assessor de Mercadante, Lacerda participou da tentativa de comprar falso dossiê contra tucanos em 2006

Tatiana Farah

SÃO PAULO. Chamado de “aloprado” pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-dirigente do PT e ex-assessor do senador Aloizio Mercadante Hamilton Lacerda voltou a se filiar ao partido. Envolvido no caso do dossiê contra os tucanos em 2006, Lacerda havia se desfiliado. Seu retorno, acolhido pelo diretório petista de São Caetano, no ABC Paulista, com a bênção do prefeito de São Bernardo, o ex-ministro Luiz Marinho, caiu como uma bomba no colo dos dirigentes nacionais do PT ontem. A direção nacional petista diz que quer barrar a refiliação de Lacerda.

Em 2006, durante o escândalo do chamado “dossiê dos aloprados”, Lacerda entregou ao diretório nacional sua carta de desfiliação.

Agora, está de volta. O que irritou os petistas em São Paulo foi saber da filiação de Lacerda pela imprensa do ABC (o assunto foi notícia no jornal “Diário do Grande ABC”, de Santo André). Dirigentes ouvidos pelo GLOBO sequer sabiam que estava em curso, desde janeiro, a aproximação do ex-assessor de Mercadante com o partido.

— Não é assunto local, mas nacional. A volta do Hamilton traz à tona um assunto que o PT quer esquecer: o dossiê de 2006, que afundou a campanha de Mercadante em São Paulo e levou as eleições presidenciais para o segundo turno — afirma um dirigente petista que pediu para não ser identificado.

Lacerda consta como réu no processo que tramita em Mato Grosso e apura o caso da venda do dossiê. O nome retirado do caso foi o de Mercadante. Lacerda foi flagrado pelas câmeras com uma bolsa, entrando no Hotel Ibis, onde estavam hospedados Gedimar Passos e Valdebran Padilha, presos em 2006 com mais de R$ 1,7 milhão — dinheiro que, segundo a PF, seria usado para pagar um dossiê contra políticos tucanos. Segundo a PF, ele carregava na bolsa o dinheiro que seria usado para a compra dos documentos de Luiz Antonio Vedoin, dono da Planam, beneficiada com venda irregular de ambulâncias.

Então coordenador da campanha de Mercadante ao governo paulista, Lacerda deixou o trabalho na eleição e o PT. Admitiu, em nota, ter conversado com a revista “IstoÉ” sobre o dossiê, mas negou ter participado do crime ou carregado o dinheiro.

Nos bastidores, afirma-se que sequer o presidente Lula, que é de São Bernardo e tem em Marinho um de seus fieis companheiros, sabia da volta de Lacerda.

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, teria sido surpreendido, assim como o coordenador da corrente CNB (Construindo um Novo Brasil), Francisco Rocha, o Rochinha: — Soube hoje pela matéria que saiu no ABC e estou fazendo uns telefonemas para saber o que aconteceu — disse.

— A volta do Hamilton causou constrangimento nacional.

O PT do ABC não calculou a repercussão do caso. Agora não aparece quem articulou essa volta — reclamou uma liderança petista ouvida pelo GLOBO.

Marinho não quis falar sobre o caso. Anteontem, afirmou: — O PT está aberto para recepcionar homens e mulheres de bem que querem estar no partido e concordem com o estatuto.

Hamilton Lacerda é uma das lideranças, até porque não responde a nenhum processo.

Não tem por que estar fora do partido — disse Marinho.

O GLOBO procurou Lacerda, mas ele não foi encontrado.

Mercadante, segundo assessores, passou o dia fazendo exames médicos.

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