sábado, 6 de fevereiro de 2010

Alimentos e transporte fazem inflação dobrar

DEU EM O GLOBO

Alta dos preços reforça pressão por aumento de juros

Os aumentos em transportes públicos e as chuvas que encareceram os alimentos fizeram com que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serva de referência para o cálculo da meta de inflação do governo, mais do que dobrasse em janeiro. A taxa, divulgada ontem pelo IBGE, passou de 0,38% em dezembro para 0,75% no mês passado. Em 12 meses, o índice ficou em 4,59%. A alta da inflação pode levar o Banco Central a subir juros para conter preços. Analistas acreditam que as pressões inflacionárias vão continuar.

Ano novo, preço novo

Alimentos e transporte pressionam inflação de janeiro. Juros podem subir, diz analista

Liana Melo

Pressionada pelo aumento dos alimentos e dos transportes públicos, a inflação oficial do país, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), começou o ano em alta, mais que o dobro de dezembro. O índice, divulgado ontem pelo IBGE, ficou em 0,75%, contra 0,37% no último mês de 2009. Foi a maior taxa desde maio de 2008 (0,79%). A inflação acumulada em 12 meses (4,59%) é também a maior alta desde junho de 2008. Alimentos e transportes foram responsáveis por dois terços da inflação do mês.

Como as maiores pressões vieram desses dois setores, a população de baixa renda acabou sendo ainda mais prejudicada pelos aumentos. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação para as famílias de um a seis salários mínimos, foi superior ao IPCA: 0,88% em janeiro de 2010, contra 0,24% em dezembro de 2009.

Rio tem alimentos mais caros

A inflação de janeiro não surpreendeu o mercado, que estava projetando um índice um pouco menor, perto de 0,70%. Ainda assim, a inflação do mês não é uma boa notícia, mesmo havendo um consenso de que as pressões inflacionárias foram sazonais, por causa das chuvas que castigam regiões produtoras, e isoladas, porque houve uma concentração de reajuste de preços de transporte público em vários estados.

- O aumento de preço dos alimentos e transportes públicos, isoladamente, não justifica uma elevação da taxa de juros, mas, como a economia está aquecida, o Banco Central já sinalizou que pode subir a Taxa Selic preventivamente - lembra o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal, comentando que um eventual aumento dos juros não é exatamente uma medida prejudicial em ano de eleições. - Inflação fora de controle é pior do que juro alto.

Já o economista José Cezar Castanhar, da Fundação Getulio Vargas (FGV), não concorda. Ainda que admita essa possibilidade, ele acha que não há, por enquanto, uma convergência de indicadores econômicos que justifique a medida:

- Já estamos no topo da lista dos juros reais.

A socióloga Tereza Ventura, moradora de Ipanema, sente no bolso o peso da inflação. Nem as frutas da estação, afirma ela, estão com os preços convidativos, como é o caso da manga, que, na feira livre da Nossa Senhora da Paz estava sendo vendida ontem a R$4.

- Na feira é mais fácil de negociar - diz Tereza, que foi às compras acompanhada da filha Nina, de 4 anos, e do marido, o alemão Ole Tons.

Levantamento da coordenadora de Índices de Preços do IBGE, Eulina dos Santos, confirma que os preços no Rio estão subindo mais do que no resto do país. O arroz, que foi fortemente afetado pelas chuvas nas regiões produtoras, registrou alta em janeiro superior à média nacional: 4,45%, contra 3,26%. O mesmo ocorreu com a batata inglesa, que subiu 12,12%, enquanto o aumento médio nacional foi de 10,80%. E até mesmo o pescado no Rio está o dobro do preço médio cobrado em outros estados: 7% e 3,22%, respectivamente.

- As pressões inflacionárias vão continuar, por isso estamos projetando 0,70% para fevereiro - avalia o economista-chefe da Concórdia Corretora, Elson Teles, admitindo que as expectativas de inflação para este ano, de 4,62%, devem subir um pouco mais, para 4,7%.

Em nota, o Itaú Unibanco avalia que, além das pressões inflacionárias concentradas,"há indícios de disseminação na economia". O acumulado de 12 meses do índice de difusão subiu para 62,5% contra 62,2% em dezembro, ou seja, o número de setores atingidos pela alta de preços está aumentando.

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