quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Jarbas de Holanda :: Chile. O desgaste da “concertação” e o firme contraponto ao chavismo

O insucesso do empenho de Michelle Bachelet, feito no 2º turno do pleito presidencial chileno, no sentido da transferência de sua elevada popularidade (cerca de 80%) para o candidato
governista Eduardo Frei, foi a relação entre essa disputa e o cenário político-eleitoral brasileiro que teve, naturalmente, maior espaço em nossa mídia, logo após o evento. Pois a dúvida, principal, a respeito das chances de vitória da candidata do Palácio do Planalto,
Dilma Rousseff, decorre da incerteza sobre o grau de transferência para ela de índices, semelhantes, da popularidade do presidente Lula. Com o exemplo do país vizinho, as lideranças da oposição reforçaram a aposta num nível baixo, insuficiente, de tal transferência.
Avaliação que o estado-maior do Planalto e os dirigentes do PT contestaram, rejeitando a comparação entre os dois processos eleitorais; chamando a atenção para o fato de que, só nos últimos dias da campanha, a presidente Bachelet assumiu pessoal e ostensivamente o apoio a seu candidato; e, ademais, procurando destacar um outro fator político – a divisão do bloco governista – a “concertação” – ao longo da disputa, traduzida na candidatura do dissidente Marco Ominami, que obteve 20% dos votos no 1º turno. Avaliação essa que tem um objetivo claro: o afastamento do “risco” representado pela pré-candidatura de Ciro Gomes.

Mas o resultado do pleito do Chile tem implicações bem mais significativas do que as de indicador da viabilidade, ou não, da transferência do carisma de Lula para sua candidata. O significado maior desse resultado foi resumido já ontem em manchete do Valor: “Piñera assume ‘oposição’ a Chávez e Cuba”, seguida do título interno “Antichavista, Piñera muda o tom conciliador chileno” (com o subtítulo “Política externa deve mudar mais que o foco econômico”) e do lead – “Sebastião Piñera ganhou a eleição presidencial no Chile e imediatamente assumiu um papel mais amplo na América do Sul: porta-voz do antichavismo.
Para ele, não há democracia de fato no país governado por Hugo Chávez; e Cuba, um dos principais aliados do chavismo, não passa de uma ditadura”.

Outros trechos da reportagem do Valor: “Piñera disse não ver problema nenhum nos acordos militares entre Colômbia e EUA. O caso é um dos principais cavalos de batalha de Chávez, que acusa Washington de planejar uma invasão da Venezuela com apoio do presidente colombiano Álvaro Uribe. Declarações de Piñera deixam claro de que lado ficará”. “Na economia, ele já havia dito que dará atenção especial às relações com os EUA, países asiáticos e a
Europa, com os quais o Chile tem tratados de livre comércio. A tendência é que a relação com a China continue sua trajetória ascendente. Piñera deve manter o país fora do Mercosul, visto pelos chilenos como bloco protecionista”.

Quanto às relações diplomáticas na América Latina, o novo presidente valorizará a OEA, ignorando a Unasul.

Assim, com o presidente eleito, o governo do Chile deverá combinar o equilíbrio e a abertura de sua economia, bem como a institucionalidade democrática, consolidados pelos governos da “concertação” nos últimos 20 anos (compromissos enfatizados para ele na campanha), com
posturas e ações de firme contraponto ao radicalismo estatizante e autoritário promovido por Hugo Chávez a partir da Venezuela. Com extensões na Bolívia, no Equador e na Nicarágua (além de Cuba). Com tentativas de desestabilização dos governos da Colômbia. Com influência (e subsídios) sobre o populismo desbragado dos Kirchners na Argentina. E inspirando propostas autoritárias de grupos esquerdistas de vários países, como as de políticas para o controle estatal dos meios de comunicação, que são feitas até no Brasil

Jarbas de Holanda é jornalista

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