sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Candidato não é chefe da oposição, diz Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Christiane Samarco

O governador José Serra só oficializará a candidatura presidencial em março, mas já adianta que o foco da campanha do PSDB não será o atual governo. Demonstrando, pela primeira vez, menos preocupação com a condição de candidato natural à sucessão de Lula, ele conversou com o Estado na noite de quarta-feira, depois de participar, no Itamaraty, de evento em que foram anunciados investimentos federais nos Estados que sediarão jogos da Copa de 2014.

"Candidato a presidente não é chefe da oposição", afirmou, delegando ao PSDB a tarefa de criticar o governo Lula e se guardando para o que considera o confronto real, com a candidata Dilma Rousseff, mais adiante. A síntese é a de que o exercício da oposição é tarefa partidária. A sua é a de governar o Estado.

A mensagem alcança o Planalto porque o governador avalia que o presidente Lula antecipou o calendário eleitoral também para atraí-lo antes do tempo. Se caísse na cilada palaciana, facilitaria a estratégia de Lula de estabelecer uma campanha polarizada entre seu governo e o anterior, do PSDB.

FUTURO

Nesse contexto, sem explicitar, Serra compartilha a tese do governador de Minas, Aécio Neves, que cunhou a expressão "pós-Lula", como referência tática para a campanha do partido. "Vou apontar as coisas para o futuro", afirmou.

Lula declarou reiteradas vezes que a campanha de 2010 será uma comparação entre seu governo e o de Fernando Henrique Cardoso. O governador paulista não vai por aí. "Não vou ficar tomando conta do governo Lula", disse ao Estado.

As bancadas tucanas na Câmara e no Senado terão de se organizar para fazer uma oposição mais articulada e eficaz. Caberá aos deputados e senadores do PSDB, e não ao candidato presidencial do partido, acompanhar com lupa cada ato do governo Lula e liderar a oposição.

Essa mensagem, o próprio Serra já se encarregara de transmitir ao PSDB no início do ano, em tom de cobrança, provocando um debate interno, que envolveu a cúpula da legenda. O efeito foi imediato.

"Precisamos combater esse ufanismo", apelou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), aos dirigentes tucanos. "Isso não combina com um Brasil que cresceu 0% em 2009 e teve a maior queda da exportação da história", completou o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA), respondendo de pronto à cobrança do candidato. Serrista de primeira hora, Jutahy lembra que, "em ano eleitoral, é preciso ter uma ação parlamentar sincronizada com o candidato, sobretudo diante da propaganda escandalosa do governo".

DINÂMICA

Determinado a não permitir que a guerra antecipada da campanha lhe crie dificuldades na tarefa de governar São Paulo, Serra diz que essa fase de pré-campanha foi ditada pela conveniência de Lula. Que não é a dele, Serra. Para o tucano, o processo tem dinâmica própria e alguns passos políticos não ocorrem fora do tempo, nem por pressão nem por conveniência. "Certas coisas são irremovíveis."

Por irremovíveis, segundo o raciocínio de Serra, devem ser entendidas a escolha do candidato a vice e as decisões finais sobre as coligações nos Estados. Mas o PSDB também está acelerando a montagem de palanques em Estados-chave como o Rio de Janeiro, e o próprio Serra procurou o ex-prefeito Cesar Maia para tratar desse assunto.

"No Rio, o PSDB reabriu uma perspectiva, mas tem muita água para rolar debaixo da ponte", avaliou. Serra calcula que o prazo formal de campanha, que vai de abril, quando a Lei Eleitoral obriga os candidatos a deixarem seus cargos, até 3 de outubro, data da eleição, é mais que suficiente para os concorrentes se apresentarem ao eleitor. "A partir de abril teremos seis meses pela frente. Isso é tempo demais, especialmente se a gente considerar que nos primeiros três meses ninguém pode fazer campanha."

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