segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Reflexão do dia – Tasso Jereissati

“Lula descolou do chão. Tenho uma admiração por ele, pelo que representou.Mas ele descolou. O Papa é coisinha na frente dele. Ele está dando aula para o (Barack) Obama e explicando até porque a terra não é redonda e dizendo que foi Freud que disse isso. Como diz a juventude, ele está se achando. Não é surpresa ele achar que onde tocar o dedo vai se iluminar”


(Tasso Jereissati, em entrevista ao jornal O Globo, ontem, dominngo.)

Fernando Rodrigues:: 25 anos de democracia

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA -
A avalanche de escândalos recentes dá a impressão de que as coisas só pioram na política.

Não é bem assim. O Brasil completa em 2010 seu 25º ano de democracia plena, iniciada com a eleição da chapa de Tancredo Neves (presidente) e José Sarney (vice) depois de 21 anos de ditadura militar.

É fácil lembrar o que deu errado de lá para cá. Escândalo da ferrovia Norte-Sul e hiperinflação no governo Sarney. O impeachment de Fernando Collor. Os casos da compra de votos e de manipulação do leilão da Telebrás durante os anos FHC. O mensalão sob Lula.

Em 2009, houve a lista sem fim de imposturas no Congresso, indo do deputado do castelo às verbas indenizatórias, dos atos secretos no Senado à farra das passagens aéreas. Sem contar o escândalo final em Brasília, o mais imagético de todos -com panetones e vídeos mostrando dinheiro nas meias, na cueca e até uma oração da propina.

Mas a pergunta a ser feita é: esses crimes passaram a existir só durante a democracia ou já eram praticados antes e ninguém tomava conhecimento? Difícil responder, embora um fato seja irrefutável: a transparência agora é maior.

O exemplo mais evidente é o Congresso (sobretudo a Câmara), o mais aberto Poder da República.

Sabe-se quanto cada deputado gasta com gasolina, viagens e restaurante. Nada era conhecido em anos passados. É claro ainda faltam instrumentos de controle à disposição da sociedade. Pouco se sabe do Judiciário e do Ministério Público. Cidades e Estados são instâncias opacas. O país não tem uma lei de acesso a informações públicas.

Mas o saldo tem sido positivo.

Outros escândalos virão conforme a democracia for se aperfeiçoando.

É um processo em andamento. O caminho é longo, mas parece que o Brasil entrou numa rota correta.

Feliz 2010. Volto em janeiro.

Repressão a protesto mata 5 em Teerã

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Sobrinho de candidato opositor está entre as vítimas; 300 foram presos nos mais violentos choques desde eleição

REUTERS, AFP E AP, TEERÃ

Pelo menos 5 pessoas morreram e 300 foram presas ontem durante choques entre opositores e forças de segurança oficiais em Teerã, segundo informações da polícia iraniana. Páginas web da oposição falavam em mais de dez mortos. Essa foi a mais violenta jornada de protestos no Irã desde as manifestações organizadas em junho para denunciar fraude nas eleições presidenciais.

Segundo testemunhas, a polícia abriu fogo contra milhares de manifestantes, após tentar dispersá-los com gás lacrimogêneo, golpes de cassetetes e balas de borracha. O governo nega. Entre os mortos está o sobrinho do líder opositor Mir Hossein Mousavi, que perdeu a votação de junho para o presidente Mahmoud Ahmadinejad. Segundo o site Parlemannews, Seyed Ali Mousavi, de 35 anos, foi atingido por um disparo no peito na Praça Enghelab, centro de Teerã, e morreu a caminho do hospital.

O site reformista Rah-e-Sabz disse que quatro pessoas foram mortas em protestos em Tabriz e uma em Shiraz, mas a informação não foi confirmada. Também ocorreram choques entre opositores e a polícia nas cidades de Isfahan e Najafabad.

Em Teerã, segundo testemunhas, os manifestantes gritavam "Morte ao ditador", numa referência a Ahmadinejad, enquanto incendiavam contêineres de lixo, motos e carros da polícia, construindo barricadas. Autoridades iranianas disseram que dezenas de policiais ficaram feridos nos conflitos - e ao menos um deles foi fotografado com o rosto ensanguentado.

Segundo o subchefe de polícia, Ahmadreza Radan, dos mortos em Teerã, um caiu de uma ponte, dois se envolveram num acidente de trânsito e outro foi atingido por disparos, mas não das forças oficiais. A quinta morte foi anunciada à noite, mas a polícia não revelou em que circunstâncias ela teria ocorrido. As informações sobre os choques não puderam ser confirmadas por fontes independentes porque, desde junho, a imprensa estrangeira está proibida pelo governo iraniano de acompanhar manifestações da oposição.

A Casa Branca condenou o que qualificou como "repressão violenta e injusta" de civis pelo governo iraniano e deu seu apoio aos manifestantes. "A esperança e a História estão do lado daqueles que perseguem de forma pacífica seus direitos universais e os EUA também", disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Mike Hammer. A chancelaria da França também condenou "as detenções arbitrárias e a violência em Teerã".

As manifestações foram organizadas para marcar o sétimo dia da morte do grão aiatolá Hossein Ali Montazeri, o mais importante clérigo dissidente do Irã, e coincidiram com o fim da festividade muçulmana xiita de ashura - quando milhares de iranianos tradicionalmente vão às ruas para participar de procissões.

Montazeri, que era bastante crítico ao governo iraniano, morreu de causas naturais, aos 87 anos. Na última semana, seu funeral e os atos em sua homenagem acabaram se transformando em protestos contra Ahmadinejad e o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei.

As tensões se intensificaram na quarta-feira, quando a polícia tentou impedir milhares de pessoas de realizar uma cerimônia fúnebre para Montazeri numa mesquita em Isfahan. Mais de 50 pessoas foram presas na ocasião.

Política externa vai ocupar espaço inédito na campanha presidencial

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Raymundo Costa, de Brasília

A política externa brasileira deve ter um espaço inédito assegurado na campanha presidencial de 2010, tanto por causa da projeção internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como pelos resultados e trapalhadas que proporcionou nos últimos oito anos anos.

Lula é sucesso por onde passa, e isso será explorado pelos arquitetos da candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef. O tucano José Serra espera por isso, mas desconfia se o conteúdo da política externa venha a ser um tema central ou mesmo capaz de influir na eleição.

O professor de relações internacionais e cientista político da Universidade de Brasília (UnB), David Fleischer, acredita que isso ocorreu nas últimas eleições por uma espécie de acordo tácito entre os candidatos.

"Na campanha presidencial americana eles reservam um dos debates para a política externa", diz Fleischer. "Mas aqui geralmente os candidatos, por comum acordo, evitam falar porque acham que não rende votos". Isso pode mudar em 2010, na visão do professor da UnB.

Nas contas de Fleischer, contabilizadas antes da viagem de Lula a Copenhague para a conferência do clima, o presidente esteve fora do país, este ano, um total de 90 dias. Nessas incursões, Lula teve ampla cobertura de mídia, especialmente dos telejornais. E é provável que isso em parte tenha contribuído para sua elevada aprovação nas pesquisas.

De certa forma, Dilma já incorporou a política externa à sua agenda de campanha, como demonstram duas viagens recentes da ministra: a Copenhague, para a conferência do clima, e a Alemanha, quanto a qual tratou, com jornalistas brasileiros, do espinhoso tema Honduras.

Em alta velocidade, a bordo do trem-bala (que os alemães, aliás, estão interessados em vender ao país), foi Dilma quem sinalizou o recuo da posição do Brasil em relação a uma das mais polêmicas ações da política externa brasileira: a ingerência explícita em assuntos internos de outro país.

A defesa de Manoel Zelaya e a condenação dos "golpistas" alçados ao poder, em Tegucigalpa, representou uma guinada na condução dos negócios exteriores. Pelo menos desde o governo de Ernesto Geisel, o penúltimo presidente do ciclo dos generais, as palavras mágicas no Itamaraty eram não ingerência e respeito à autodeterminação dos povos.

Lula mudou o eixo da política externa, e os petistas têm bons motivos para usá-la como estandarte na eleição. Mas como acontece com todas as mudanças, elas também forneceram munição para a oposição estocar e usar durante a campanha eleitoral.

O Brasil se tornou um protagonista internacional, mas também colecionou fracassos, como as frustradas tentativas para eleger brasileiros ou aliados para a direção de organismos internacionais como a OMC, o BID, o Tribunal Internacional de Haia (na Holanda) e a Unesco - neste caso, ignorando a candidatura viável de dois brasileiros para fazer um gesto político ao Egito.

Esse ativismo também rendeu rendimentos elevados em outras ocasiões, caso, por exemplo, das articulações no G-20 que antecederam a reunião de Cancún, no México, da OMC e serviram para alterar substancialmente a política da Organização Mundial do Comércio. Por tabela ganhou também destaque para as negociações no sistema financeiro internacional.

Outra grande mudança ocorreu na política do BNDES, que passou a emprestar dinheiro para investimentos em países vizinhos. Nunca antes na história, parafraseando o presidente Lula, o país tinha feito isso. É algo comum às nações do hemisfério Norte, mas não do lado de cá da linha do Equador.

Em tese, os empréstimos ajudariam a reforçar a política externa. Na prática, oferecem à oposição o argumento segundo o qual o governo é leniente com a vizinhança - nas principais disputas pela direção de organismos internacionais em que se envolveu o Brasil ficou isolado entre os latino-americanos, caso claro da eleição para a OMC.

Ponto positivo para o PT na campanha é o papel do Banco Central na crise americana. "Isso vai ser uma fala forte do ano que vem: nossa política macroeconômica, BC, nossos bancos muito bem controlados, não estavam ao bel-prazer como estavam os dos EUA. A Dilma vai bater forte nisso", diz Fleischer.

Para o secretário de Assuntos Internacionais do PT, Pedro Pomar, a política externa teve enorme visibilidade já em 2006. Ele não dá a menor importância ao fato de o tema ter merecido pouco mais de 32 linhas no programa de governo petista.

"Fiz parte da comissão de programa (de governo do PT) e todos os temas foram "enxutos"; e, pelo contrário, onde havia maior consenso interno sobre o que dizer, se podia ser mais econômico", testemunha Pomar.

Segundo Pomar, o destaque à política externa tanto em 2006 como em 2010 se dá por vários motivos, "o principal dos quais é acaciano: há uma enorme divergência sobre a política externa, entre nós e os tucanos", diz. "Houvesse identidade, não haveria polêmica".

Pomar considera que "o fato de Lula ter projeção internacional e os acertos da política externa" não são a causa do debate que está, na realidade, na "existência de divergências".

O secretário de Assuntos Internacionais do PT foge um pouco à regra quando é analisado o papel de Lula e a importância que o país ganhou no cenário internacional. "Ela resulta da política", diz.
"O estilo pessoal do presidente é um fator complementar, mas este estilo (sem a política) não teria o mesmo efeito".

Integrante maior da Articulação de Esquerda, uma das tendências do PT, é interessante ouvir Pomar num momento de transição quando o partido espera, no próximo governo, influir mais do que nos oito anos de mandato de Lula:

"A política tem impacto por ela mesma, bem como pela conjuntura internacional, de crise, instabilidade e transição. Neste contexto, de declínio da hegemonia dos EUA, todos os países que podem ocupar um espaço maior na cena estão chamando a atenção do mundo."

É lugar comum na Esplanada dos Ministérios que as origens e o carisma de Lula contribuíram muito para sua projeção internacional, mas que isso não teria bastado não fosse o reconhecimento externo de políticas públicas como o ataque à desigualdade social. "O destaque internacional do governo Lula está relacionado a um mix (política externa, política interna e estilo pessoal), mas nesse mix o fundamental é a política externa em si", afirma Pomar.

Do ponto de vista de hoje, é provável que Dilma leve vantagem na comparação, como quer fazer o presidente Lula, entre os dois governos - petista e tucano - nas eleições de 2010. Em condições normais de pressão e temperatura, Lula chegará à eleição com reservas externas altas (mais de US$ 200 bilhões), enquanto Fernando Henrique Cardoso, por causa de uma sucessão de crises externas, viu as reservas evaporarem. Em janeiro de 1999, primeiro ano do seu segundo mandato, o presidente foi obrigado a deixar o câmbio flutuar.

Lula aproveitou a bonança mundial, talvez nem tanto quanto deveria, segundo a oposição do PSDB ao PPS, passando pelo Democratas. FHC passou pelas crises russa, mexicana e asiática que bateram forte e forçaram o presidente tucano a ir duas vezes a recorrer ao Fundo Monetário Internacional. Lula emprestou dinheiro ao FMI.

Um gesto demagogo, como denuncia a oposição, mas de apelo eleitoral. Pode se repetir o que ocorreu em 2006 quando o candidato Geraldo Alckmin foi acusado de pretender vender o Banco do Brasil e a Caixa sem nunca ter efetivamente declarado essa intenção, ao menos de público. FHC costuma dizer que se o BC tivesse autonomia, em 1999, em vez da diretoria do banco ele é quem teria sido demitido.

Serra é econômico quando se refere à política externa. Considera o chanceler Celso Amorim um diplomata competente, que atua no limite" e com o qual se entendeu muito bem quando estava no governo federal, no Ministério da Saúde. Ainda sem ter confirmado sua candidatura pelo PSDB, o governador de São Paulo também pouco ou quase nada fala sobre sua eventual política externa. Quem conversa com o tucano paulista com alguma regularidade espera dele uma forte atuação, de início, em relação ao comércio exterior.

Já a ministra Dilma não esconde a admiração que tem pelo desempenho do presidente Lula na política externa.

"A relação das lideranças internacionais com o presidente é impressionante", disse a ministra, numa recente conversa com o Valor. "Um país só é respeitado se se respeita. Se não tivéssemos reduzido as desigualdades a gente tinha o respeito internacional".

Dilma também acha, como Pomar, que a projeção internacional do país não ocorre "pelos belos olhos do presidente", diz. "É também - o presidente tem essa capacidade de gerar simpatia e ter essa relação. Mas é também pelo fato de que eles respeitam. Nós não somos tratados como pop-star, somos tratados como um governo", afirmava então a ministra em referência ao tratamento dispensado a Lula na Alemanha, no início do mês.

Fosse só por isso - acredita Dilma - "a gente não era respeitado. Ele foi capaz de pegar um país, que estava com a reserva lá embaixo, com uma inflação não sei das quantas, totalmente desequilibrado, com a metade da torcida contra dizendo que ele ia fazer governo ruim, não ia dar certo, ia tudo para o beleléu". E no entanto "é um governo bem sucedido economicamente, um governo que passou dificuldades", dizia. "Agora falam que é sorte. Como sorte? Me conta como a gente pegou a maior crise pelos cornos - como diz a Conceição Tavares - e saiu dela"?

Em resumo, num eventual governo Dilma a expressão "continuidade" também dará o tom da candidatura da ministra no que se refere à política externa.

A sufocante sombra de Lula

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Apesar do alto nível de aprovação do governo, só quatro ministros são candidatos competitivos em disputas estaduais. Sinal de que os dividendos são creditados, basicamente, na conta do presidente

Denise Rothenburg

No meio político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é constantemente comparado a uma mangueira frondosa: sob sua sombra nada cresce. Um passeio pelas perspectivas eleitorais dos titulares da Esplanada dos Ministérios mostra que a comparação não é exagerada. À exceção da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), que Lula guindou ao posto de coordenadora do governo e escolheu para tomar um banho de sol nos palanques do país, são poucos os auxiliares que conseguiram se sobressair no cargo e ganhar luz própria para concorrer a governos estaduais.

“Só conseguiu algum destaque quem já tinha uma estrutura política forte em seus estados e soube conciliar o poder federal com o local. Mas, no geral, nenhum ministro teve um desempenho estelar. Lula não tem hoje um ministério de ponta, capaz de montar palanques fortes nos estados”, diz o cientista político Murilo Aragão. No rol daqueles que conciliaram atividades estaduais e federais, Aragão e analistas citam apenas quatro entre os comandantes de 37 pastas da Esplanada: Alfredo Nascimento (Transportes), Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), Hélio Costa (Comunicações) e Tarso Genro (Justiça).

O quarteto tem um ponto em comum: força política em seus estados. Genro, por exemplo, foi prefeito de Porto Alegre duas vezes. Na segunda, deixou o mandato pela metade para concorrer ao governo estadual. Perdeu para Germano Rigotto (PMDB) e foi chamado a assumir o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, órgão vinculado à Presidência da República. Quando o senador Cristovam Buarque (PDT) foi afastado do Ministério da Educação, em 2004, Genro assumiu um mandato-tampão na pasta. Precisou sair em 2005 para assumir o PT no meio da crise do mensalão. Só sossegou em 2007, quando foi transferido para o Ministério da Justiça, onde permanece até hoje, de malas prontas para concorrer ao governo gaúcho em 2010. “O Tarso foi um curinga do Lula. Agora, terá todo o apoio como candidato”, revela um assessor palaciano.

Cristão-novo

Do quarteto, o único que não esteve com o presidente desde o primeiro mandato foi Geddel Vieira Lima (PMDB). Em 2003, ele dava expediente no térreo da Câmara dos Deputados, no cargo de primeiro-secretário da Casa. No ano seguinte, o PMDB baiano elegeu só 20 prefeitos dos 417 do estado. Geddel, no entanto, foi um dos mais votados na eleição de 2006 e, guindado ao ministério em março de 2007, fez crescer para 119 o número de prefeitos do PMDB baiano. Essa base levou o partido a lançá-lo candidato ao governo baiano em 2010. “Serei candidato a governador”, afirmou Geddel ao Correio, depois do jantar natalino com o presidente Lula, com ares de quem já está com a pré-campanha solta no estado. Um dos adversários dele será o governador Jaques Wagner (PT).

Quem já esteve citado para diversos cargos e hoje não sabe nem sequer se concorrerá a mandato eletivo é o ministro da Educação, Fernando Haddad (PT). No início do segundo mandato de Lula, Haddad integrava as listas de possíveis candidatos a presidente da República e a governador de São Paulo. “Faltou tempero para ele”, comentou um colega de governo. Na verdade, avaliam os próprios petistas, Haddad só seria considerado uma opção se tudo o mais desse errado, especialmente em São Paulo, onde as estrelas da legenda não abrem espaço para ninguém. “Ele é um bom ministro, mas o partido tem outros quadros em São Paulo”, desconversa o líder da bancada na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), do alto de quem conhece como poucos o funcionamento da sigla em território paulista.

No ministério, também existem aqueles que ninguém imaginava que teriam destaque e agora vão tentar uma investida na seara política. Dois exemplos mais emblemáticos são os ministros de Relações Exteriores, Celso Amorim, recém-filiado ao PT, e do Esporte, Orlando Silva (PCdoB).
Embalado pela campanha para as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016 e a pela Copa do Mundo de futebol no Brasil, em 2014, Silva sonha em concorrer a deputado federal por São Paulo. “É esse o plano e não mudou”, declarou o ministro. Amorim e Silva são as raríssimas exceções de flores sob a mangueira. No geral, garantem os analistas, diante de alguém tão popular como Lula, os ministros terminaram mesmo numa grande sombra.

Análise da notícia
Perfil calculado
A falta de ministros de ponta para concorrer a governos estaduais, de forma a estampar os feitos do governo federal na campanha, é resultado de uma decisão do próprio presidente Lula. Ele passou os primeiros dois anos de sua gestão como árbitro de uma disputa surda entre os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e da Casa Civil, José Dirceu, ambos digladiando para ver quem seria o grande herdeiro político do petista. Nas raias três e quatro dessa piscina, corriam ainda Ciro Gomes, na Integração Nacional, e Cristovam Buarque, na Educação.

Cristovam foi o primeiro a sair, uma vez que Dirceu identificou ali um futuro concorrente no quesito herança política de Lula. O então ministro da Educação foi afastado por um telefonema do então chefe da Casa Civil. Com as denúncias do mensalão, em 2005, Dirceu foi afastado e, logo em seguida, o caso do caseiro Francenildo detonou Palocci. Lula se viu livre da pressão. Um ministro é direto quando fala dos dois: “Ali, Lula passou a governar, como senhor da equipe”.

Sobrou apenas Ciro Gomes, que saiu em 2006 para concorrer a uma vaga de deputado federal. Lula, no entanto, nunca mais chamou Ciro para voltar ao governo. Escaldado pelas dificuldades que enfrentou com os ministros de grande estatura política, optou no segundo mandato por um grupo menos robusto do ponto de vista político. E, nesse colegiado sem grandes estrelas da articulação política, ele pinçou a que considerava mais fiel ao seu projeto político para concorrer à Presidência da República, transformando-se em senhor do governo e da sua sucessão dentro do PT. Agora, Lula não tem adversários nem um candidato que faça sombra ao seu último ano de mandato. (DR)

Mac Margolis* :: Húbris nacional bruto

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO / Aliás

Depois de 7 anos no poder, o presidente mais popular do País continua sendo o maior enigma brasileiro

O presidente Lula causou alvoroço outro dia. "Eu quero é saber se o povo está na merda e eu quero tirar o povo da merda", afirmou, definindo sua missão para uma plateia de nordestinos.
Parte do País ficou estarrecida. (Outra parte, presumivelmente aquela na merda mesmo, aplaudiu.) O mais marcante da fala do presidente não era o palavrão, mas a pretensão. "Nós viemos para mudar a história do País", disse. "Mudar a história é escrever uma nova história deste País, incluindo os pobres como cidadãos brasileiros."

Talvez seja a bênção das pesquisas de opinião, que consagram Lula como o líder mais popular da história recente do Brasil. Poderia ser a fase minguante do mandato, que libera o titular da cautela protocolar e da política comedida, obrigatórias na sua estreia no poder.

Após sete anos nas alturas, qualquer mortal ficaria embevecido (experimente substituir a palavra merda por miséria no mesmo discurso - eu quero tirar o povo da miséria - e tem-se a medida exata da sua ambição). Lula não se vê apenas como o roto-rooter-mor do Brasil, se não como o justiceiro nacional, aquele que veio para redimir os injustiçados. Se Getúlio Vargas era o pai dos pobres do País, Lula encarna o herdeiro, o filho do Brasil.

Lula, o Filho do Brasil, sobre a infância e o despertar político de Lula, pode até merecer as críticas por fazer vista grossa aos escândalos de Brasília, do mensalão, dos sanguessugas, dos companheiros com dinheiro na cueca. Mas a resposta emocionada nas salas de cinema sugere que o público autoriza a lacuna. Hagiografia é assim mesmo.

Só que a aura pode subir à cabeça. Há diversas formas de avaliar o bem-estar de um povo, do PIB ao Gini e até - diretamente do Butão - a taxa de felicidade nacional. No Brasil de Lula, acrescenta-se mais uma: o húbris nacional bruto. Já se comentou a tendência do presidente e seus devotos de definir seu governo como divisor de águas, um marco zero da história brasileira.
Mais do que um slogan de marketing, o "nunca antes neste país" é o mote de um mito de origem.
Assim, a ascensão do presidente se confunde com a trajetória improvável do País, dois emergentes que superaram privação, atraso e descrença para chegar ao lugar ao sol.

Mas o sol também se põe. O encantamento com o Brasil mostra sinais de fadiga. O economista-celebridade Paul Krugman falou do risco iminente de uma "bolha Brasil", que derrubaria o real - a mais valorizada das moedas emergentes em 2009 - e as ações voadoras da Bovespa. Nouriel Roubini, o economista da Universidade de Nova York que cantou a bola do colapso do mercado subprime, agora soa o alarme para o nosso lado: "Há euforia demais sobre o Brasil", disse a uma plateia de investidores em Nova York, em dezembro. Até o afamado desempenho do País como potência regional começa a atrair petardos. A secretária de Estado americana, Hilary Clinton, não explicitou o Brasil, mas nem precisava após a recepção calorosa em Brasília e demais capitais sul-americanas ao presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad: "Se quiserem flertar com o Irã", disse, "pensem duas vezes".

O questionamento é salutar. Lula foi alçado à estratosfera por asas próprias e por impulso alheio.
Analistas com pé no chão lembram que os sucessos da era Lula se devem a 15 anos de estabilidade econômica, fruto de um pacto civilizatório que converteu os fundamentos econômicos - inflação baixa, parcimônia fiscal, respeito pelas regras do mercado livre - de heresia em senso comum. A bonança global deu um empurrão. Seis dos sete anos de Lula no poder foram de céus tranquilos por conta da economia internacional em ebulição, que conferiu ao Brasil mercados francos e oceanos de liquidez. "Lula surfou na onda perfeita", me disse Armínio Fraga, ex-Banco Central.

Fazendo justiça, Lula tampouco perdeu o equilíbrio e teve a destreza de não se desviar do rumo durante a crise mundial. Se isso parece pouco, é só ouvir o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que conta com franqueza como o Brasil se transformou de país-problema na economia mundial em emblema no mundo em turbilhão.

Lula, raposa que é, sabe jogar com as expectativas. Na ressaca da Grande Recessão, o mundo parece ávido por novos emblemas. Enquanto Lula lutava pelo reconhecimento internacional, o mundo achou nele um novo herói popular - da esquerda adestrada, que anseia por tirar o povo da merda, mas sem ameaçar os arranjos dos poderosos. Enfim, o bom selvagem de terno e gravata.

Só que se mostra cansado das regras do jogo. Se o ceticismo quase universal com o governo Lula obrigou-o a se comprometer em 2003 com políticas que a esquerda sempre desprezara - mercado livre, responsabilidade fiscal, inflação em baixa -, foi o sucesso em executá-las que hoje, ironicamente, permite a reviravolta. Aumentos polpudos a servidores, derretimento do superávit primário, críticas abertas às empresas privadas e o avanço estatal sobre a indústria do petróleo...
O Lula triunfal de hoje está empenhado em enterrar o político da Carta ao Povo Brasileiro.

Guinada eleitoreira? Nada como o Lula de outrora, que brada contra os interesses do capitalismo internacional para eletrizar a militância e aquecer uma candidatura morna. Mas hipotecar o legado histórico para bancar a sucessão traz riscos e provoca inquietações. O Brasil que o mundo celebra como a mais nova potência regional é o mesmo que afaga aiatolás com sonhos nucleares e ensaia gestos chavistas como o controle social dos meios de comunicação? Convidar a Venezuela sob o jugo de Chávez para ingressar no Mercosul é soberba diplomática ou bolivarianismo light?
O Brasil quer ser o primeiro do Terceiro Mundo ou o mais novo sócio de uma empreitada global?
É curioso, e ao mesmo tempo apropriado, que às vésperas de 2010, após sete anos no poder, o presidente mais popular do Brasil continue sendo seu maior enigma.

* Correspondente da revista Nesweek no Brasil

Ricardo Noblat :: Lição aos moços

DEU EM O GLOBO

"(...) não há nada melhor para eventuais excessos cometidos pela imprensa do que a própria liberdade de imprensa." (Lula)

Em João Pessoa, no final dos anos 60, havia um baiano conhecido como “Mocidade”. O apelido derivou do seu gosto de participar ativamente no centro da cidade de manifestações políticas promovidas por estudantes. Era um tipo maduro, inteligente, com razoável cultura e oratória incendiária. Não trabalhava. Vivia de quem lhe pagasse as contas.

Uma vez eleito governador da Paraíba, João Agripino, tio do atual senador José Agripino Maia (DEM-RN), tomou-se de amores por Mocidade. Admirava seus ditos populares e o raciocínio rápido. Dava-lhe trocados e roupas. E mais tarde ofereceu-lhe abrigo. Mocidade passou a dormir no alojamento da Casa Militar no Palácio da Redenção, sede do governo do Estado. Quando se sentia aborrecido ou exausto, Agripino relaxava conversando longamente com ele.

Certo dia, o secretário de Segurança Pública telefonou para Agripino a propósito de uma manifestação estudantil que ameaçava escapar ao seu controle. “Os estudantes estão fazendo confusão no Ponto Cem Réis”, contou o secretário. O Ponto Cem Réis era uma espécie de Cinelândia de João Pessoa. Equivalia também à Boca Maldita de Curitiba porque era frequentado por deputados, secretários do governo e políticos de outros Estados em visita à Paraíba.

– Não prenda ninguém – ordenou Agripino, um dos líderes da ala liberal da então extinta União Democrática Nacional (UDN). “Mas o senhor sabe quem lidera a manifestação, sabe? Quer saber?” – insistiu o secretário com raiva. E foi logo dizendo antes mesmo de obter o consentimento do governador: “É o Mocidade. Está agitando e falando muito mal do governo.”

Sem hesitar, Agripino ordenou: “Então prenda ele. Prenda e traga à minha presença”.

Esperto, Mocidade escapou de ser preso. E à noite, ao chegar mais tarde do que de costume para dormir com os seguranças do governador, foi convocado por ele para um encontro na ala residencial do palácio. “Mocidade, quem paga sua comida?” – perguntou Agripino enquanto acendia um cigarro. “Bem, é o senhor, não é?” –- devolveu Mocidade, desconfiado e à espera do pior. “Não. Quem paga é o governo da Paraíba”, observou Agripino sem alterar o tom da voz.

Mocidade concordou com um maneio da cabeça. “Quem lhe dá um teto?” – prosseguiu Agripino, certo de que em pouco tempo Mocidade estaria encurralado. “Bem, nesse caso é o governo” – ele respondeu. “É isso mesmo”, avalizou Agripino. Em seguida fez uma pausa, deu um trago no cigarro e encaixou o golpe sem disfarçar mais a irritação: “E como é que o senhor, logo o senhor, tem coragem de ir para as ruas falar mal do governo, do meu governo?”

A resposta não demorou. Mocidade passou a mão direita sobre os cabelos, tomou fôlego, olhou dentro dos olhos de Agripino e disse – sem empáfia, mas também sem subserviência:

– Sabe o que é mesmo doutor? É que governo foi feito para apanhar.

Feliz Ano Novo com eleições gerais!

» Sucessão em Brasília

Está quase fechada a aliança de partidos de esquerda que tentará fazer o sucessor do governador José Roberto Arruda, do Distrito Federal – o cabeça, segundo a Polícia Federal, da organização criminosa beneficiada pelo mensalão do DEM. Agnelo Queiroz, ex-ministro dos Esportes, será candidato ao governo pelo PT. Cristovam Buarque concorrerá pelo PDT a mais um mandato de Senador. A outra vaga do Senado está reservada para o deputado Geraldo Magela (PT). Arruda diz que terá candidato ao seu lugar. De fato, a prioridade dele é derrotar Joaquim Roriz (PSC), aspirante a governar o Distrito Federal pela quinta vez. Arruda culpa Roriz por sua desgraça.

CHARGE


Jornal do Commercio (PE)

Aliança PT-PMDB esbarra no fator Ciro

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Possível candidatura de deputado à Presidência divide alas petistas; há quem o deseje como vice de Dilma no lugar de Temer

Parte da sigla crê que Ciro, ao atacar a aliança, age em sintonia com o Planalto, que vê necessidade em pôr freio no apetite peemedebista

Malu Delgado


A consolidação da aliança do PT com o PMDB na sucessão presidencial de 2010 esbarra não apenas nos complicados arranjos regionais de poder. O suspense em torno de uma possível candidatura de Ciro Gomes (PSB) à Presidência divide alas do PT. Parte expressiva do partido ainda não digere a provável indicação do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), à Vice-Presidência na chapa liderada pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e, paralelamente, os petistas não creem na disposição de Ciro em se lançar candidato ao governo de São Paulo.

Ciro candidato a presidente ou a vice de Dilma são os cenários que perseguem as mentes petistas. "Existe, sim, um movimento dentro do PT para puxar o Ciro para a [vaga de] vice", afirma um dirigente petista.

"O Ciro quer ser candidato à Presidência. Ele acha que tem espaço para isso. O PSB não está discutindo a vice", avisa o senador Renato Casagrande (ES), secretário nacional do PSB.

Os movimentos recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do pré-candidato Ciro Gomes no jogo sucessório -que causaram polêmica nas últimas semanas- não podem ser entendidos como acaso, tampouco deslize, dizem dirigentes petistas. Lula, ao afirmar que a escolha do vice é como casamento e, por isso, caberá a Dilma "escolher" o nome do noivo dentro de uma lista tríplice, não cometeu um deslize, disseram à Folha integrantes do partido.

"Dentro do PT há uma avaliação generalizada de que desequilibramos demais a relação com o PMDB no segundo mandato, após a crise [do mensalão]. Fragilizados, abrimos espaço demais para o PMDB. Lula, agora, deu um recadinho ao PMDB", confidenciou um membro da cúpula petista.

Por outro lado, quando Ciro ataca a aliança PT-PMDB, age não somente em causa própria, mas também em sintonia com o Planalto, que acha necessário pôr freios no apetite peemedebista. "Parte do PT pressente que o PMDB vai se comportar como sempre em 2010.

Nos Estados, o PMDB sempre faz a política que acha mais conveniente", alerta outro dirigente, incomodado com a falta de comprometimento do PMDB com a candidatura de Dilma, que pode ter dificuldades com palanques peemedebistas.

O que Ciro quer é se manter em evidência, concordam as cúpulas de PT e PSB. Mas, para se manter pré-candidato, depende de bons resultados nas pesquisas. Enquanto isso, dá estocadas no PMDB e aumenta o número de amigos no PT.

Sonho de vice

Enquanto segmentos do PT não desistem de lançar Ciro como o candidato a vice na chapa de Dilma -"Temer é um homem-bomba", declaram-, a realidade obriga os petistas a manter os pés no chão.

Defensor da aliança nacional PT-PMDB, o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante, apela ao pragmatismo: "Em 2002, o Serra tinha 42% do tempo de TV e Lula, 21%. Agora, com o PMDB, Dilma teria 50% e o PSDB, 27%". "Se o PMDB não estivesse conosco, Ciro seria um excelente vice", pondera.

"Lula não morre de amores pelo Temer, mas não procede que exista um veto ao nome", explicou outro dirigente petista que quer a aliança com o PMDB, desde que com restrições. "O PMDB só vai indicar o [Henrique] Meirelles [presidente do Banco Central] se todo o resto do partido for baleado", ironiza um integrante do PT, revelando a impossibilidade de a sigla referendar Meirelles na vaga de vice de Dilma.

A única forma de brecar o poder peemedebista num eventual governo Dilma, avaliam os petistas, é superar a bancada do PMDB na Câmara. "O problema é o Senado", diz o senador Delcídio Amaral (MS), para quem a bancada do PT na Casa, hoje com apenas 11 membros, vai crescer, mas não ultrapassará a do PMDB, hoje com 17 senadores. Nos dois mandatos de Lula, foi no Senado que o governo sofreu derrotas e enfrentou as votações mais apertadas.

A avaliação no PT é que o PMDB não vai lançar candidatura própria porque isso implicaria entregar os seis ministérios que tem no governo Lula. "Se o PMDB conseguir manter esse número de pastas no governo Dilma, já estaria de ótimo tamanho", diz um petista.

O QUE PENSA A MÍDIA

EDITORIAIS DOS PRINCIPAIS JORNAIS DO BRASIL
Clique o link abaixo

Rio gastará cem vezes mais em publicidade

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Para 2010, prefeito Eduardo Paes prevê despesa de R$ 60 milhões

Wilson Tosta, RIO

A poucos dias de encerrar seu primeiro ano à frente da Prefeitura do Rio, Eduardo Paes (PMDB) se prepara para multiplicar por quase 100 o gasto anual do município com publicidade, passando-o de pouco mais de R$ 600 mil em 2009 para R$ 60 milhões. Uma licitação para contratar três agências do setor e uma empresa de eventos por 24 meses, ao preço de R$ 120 milhões, já está em curso, devendo quebrar um padrão anterior da administração municipal - o de gastar pouco na área.

"Aqui não tinha agência, o Cesar Maia não fez", diz Paes, admitindo que seu antecessor gastou pouco com divulgação na gestão passada. Ele afirma, entretanto, não ter pressa para fechar o contrato e, apesar da presença forte que tem na mídia, nega tê-la como prioridade. "É uma publicidade institucional. Minha ideia é gastar institucionalmente, fazer campanhas, divulgar as ações da prefeitura, mas não tenho ainda foco definido", diz Paes. "Não estou com muita pressa, estou há um ano lançando o edital. Não é o que está me angustiando."

Na proposta orçamentária, com votação prevista para hoje, a publicidade tem pouco mais de R$ 20 milhões reservados - será necessário fazer uma suplementação, depois da licitação. Não será difícil, se o prefeito conseguir aprovar o índice de 30% de remanejamento de verbas sem consulta ao Legislativo. É o que propõe no projeto de lei. Em 2005, a despesa empenhada pela prefeitura para publicidade foi R$ 1.947.461; em 2006, 166.866; em 2007, R$ 818.029,11; em 2008, R$ 448.286,20; em 2009, R$ 649.492.

Paes reconhece que apertou muito as despesas em 2009. Também obteve algumas receitas extras, como o aumento de arrecadação do IPVA, devido à Operação Lei Seca, do governo estadual, para reprimir a mistura de bebida e direção - nas blitze, checa-se também se os tributos do veículo estão em dia. Levantamento do Fórum Popular do Orçamento mostra o tamanho do garrote. Até o fim de novembro, a prefeitura investira apenas R$ 453 milhões, cerca de R$ 200 milhões abaixo dos R$ 673 milhões investidos em 2005, primeiro ano da última gestão de Maia. Os números já estão corrigidos pelo IPCA.

"O caixa veio muito apertado", diz Paes. "Apertei no custeio, nos cargos." Mesmo não investindo, Paes garantiu noticiário positivo com o "choque de ordem" - operações contra ambulantes, sujeira e desordem urbana - e atividades de rua.

O prefeito segue intensa agenda pública diária, com iniciativas de impacto, que vão de descer de bicicleta da residência oficial, na Gávea Pequena, ao Palácio da Cidade, em Botafogo, no Dia Mundial sem Carro, a tocar em bateria e "brincar" de paciente de dentista, como no Pavão-Pavãozinho, no dia 18.

Para a vereadora Andréa Gouvêa Vieira (PSDB), da minoria oposicionista na Câmara Municipal, o prefeito foi para a rua por motivo político. Ela lembra que Paes venceu um segundo turno muito apertado, derrotando Fernando Gabeira (PV) por pouco mais de 50 mil votos, e assumiu uma cidade dividida. "Quando ele tomou posse, tinha gente na rua pedindo anulação da eleição."

Paes nega. "Saio no fim de semana direto, sem vocês, sem imprensa. Sábado e domingo saio andando de bicicleta pelo subúrbio."

Oposição critica atuação de Paes

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Vereadora do PSDB diz que ele legitimou "fichas-sujas"

RIO

O estilo do prefeito Eduardo Paes (PMDB) teve repercussão positiva na Câmara Municipal carioca, que ele e seu governo procuraram prestigiar, pelo menos no primeiro semestre de 2009, reconhece a vereadora Andréa Gouvêa Vieira (PSDB), da oposição. "Ele mesmo trouxe à Casa projetos de interesse do Executivo e os secretários vieram discuti-los", diz.

A postura, entretanto, teria mudado no segundo semestre, quando, afirma Andréa, pareceu haver a decisão de entregar a relação entre governo e Câmara a quem "sabe fazer". Paes, diz ela, uniu os grupos dos vereadores Jorge Felippe (PMDB), atual presidente da Casa, e Jorge Pereira (PT do B), até então rivais, e legitimou parlamentares "fichas-sujas". Um deles, conta, foi Cristiano Girão, do PMN. O parlamentar foi preso na semana retrasada, acusado de integrar uma milícia.

"O prefeito também distribuiu as vilas olímpicas da prefeitura a vereadores", acusa a parlamentar. Ela também afirma que Paes usou vereadores "laranjas" para assumir o desgaste por projetos de repercussão ruim, como o Plano de Estruturação Urbana das Vargens, que alterou regras de ocupação em Vargem Grande e Vargem Pequena, e a criação da Taxa de Iluminação Pública.

Andréa diz, porém, que a prática política do prefeito, que chama de "muito ruim", se combina com iniciativas "interessantes" de gestão, como o estabelecimento de metas por secretaria. "O PPA (Plano Plurianual) que ele lançou tem muitas coisas boas, muito boas, bons indicadores para acompanhar e ver resultados", admite. Paes foi do PSDB, antes de se mudar para o PMDB.

O líder do governo na Câmara, Adilson Pires (PT), defende Paes, dizendo que a postura dele em relação ao Legislativo tem sido elogiada pelos vereadores. "O prefeito recebe a todos, com mais informalidade, é muito brincalhão", diz. Segundo Pires, isso garantiu a aprovação de mais de 40 projetos de interesse do Executivo, alguns polêmicos, como a alienação de terrenos para o metrô e o uso de organizações sociais na gestão municipal.

Ele atribui a relação de Paes com parlamentares polêmicos, como Girão, e sua atitude sobre vilas olímpicas, nomeando indicados, à compreensão do prefeito de que os vereadores são representantes do povo, com peso local.

PAC faz 3 anos com apenas 10% das obras concluídas

DEU EM O GLOBO

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) completa três anos em janeiro longe de concluir metade do proposto pelo governo. Levantamento da ONG Contas Abertas mostra que, das 12.520 obras do programa em todo o país, apenas 1.229 foram concluídas, o que representa 9,8% do total, incluindo os projetos de habitação e saneamento. Sem esses dois setores - que são maioria no PAC- os números melhoram e apontam para 31% dos empreendimentos concluídos. Do total, as obras que nem sequer saíram do papel - estão em fase de contratação, em ação preparatória ou em licitação - chegam a 62%. Nos últimos meses, o PAC foi engordado e passou a ter orçamento de R$ 646 bilhões até 2010. A Casa Civil contesta o levantamento e diz que ele leva em consideração apenas o número de obras. No Rio, a Petrobras ajudou a puxar os investimentos.

PAC: prazo acabando. Obras, não

Para ONG Contas Abertas, só 9,8% das 12.520 iniciativas estavam concluídas

Gustavo Paul, Brasília

Com obras espalhadas por vários municípios e cujos valores vão de poucos milhões até bilhões de reais, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) completa três anos em 2010 ainda longe de concluir metade do que se propôs. De acordo com levantamento da ONG Contas Abertas, das 12.520 obras do programa em todo o país, apenas 1.229 estavam concluídas, o que representa 9,8% do total. Esse montante inclui os programas de habitação e saneamento, que formam sua grande maioria. Sem esses dois setores, os números melhoram, mas ainda ficam distantes das metas do PAC em 2010: o volume de obras concluídas sobe para 31% dos 1.340 empreendimentos contabilizados.

Do total, as obras que sequer saíram do papel — consideradas em contratação, em ação preparatória ou licitação —chegam a 62% do total.

Apenas 29% estão em pleno andamento.

A compilação dos dados só foi possível em 16 de dezembro, quando a Casa Civil divulgou os cadernos estaduais do PAC, que detalham todas as obras do programa. Os números se referem ao balanço de agosto.

— O governo terá de trabalhar em um ano mais do que fez em dois anos e oito meses para entregar boa parte das obras ao final do mandato — diz o economista Gil Castelo Branco, coordenador do Contas Abertas.

Programa cresce e ultrapassa 2010

Ao lançar o PAC em uma grande solenidade em janeiro de 2007, o governo tinha como horizonte apenas o ano de 2010, fim do mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. A previsão era gastar R$ 503,9 bilhões em obras no setor de logística, energia e nas áreas social e urbana.

Em fevereiro de 2009, ao completar dois anos, o governo turbinou o programa com R$ 142,1 bilhões de novos investimentos previstos até 2010. Além disso, foram computados mais R$ 502,2 bilhões para após a gestão Lula.

Com isso, o PAC passou a ter um orçamento de R$ 646 bilhões até 2010. A Casa Civil contesta o levantamento, sob argumento de que ele leva em conta apenas o número de obras. No 8oBalanço do PAC, divulgado em outubro, o governo federal informou que 32,9% das ações estavam concluídas, considerando o montante de recursos.

“Consideramos que o critério de valor seja mais adequado para calcular o percentual de conclusão de obras, pois o PAC é composto de um número muito grande de obras com dimensões muito diferenciadas. Esse fato provoca distorções”, informa a assessoria da ministra Dilma Rousseff, em nota.

Eles lembram que o PAC Funasa, voltado para saneamento, contabilizava 6.916 empreendimentos no valor de R$ 3,5 bilhões. Isso representaria 40% da quantidade de obras e apenas 0,5% do valor total do PAC até 2010. Ao mesmo tempo, a Usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, orçada em R$ 13,5 bilhões, equivale a 2% do PAC.

Para a Casa Civil, em 2010 as expectativas são melhores, pois algumas obras ganharam ritmo e outras sairão do papel. Mas grandes obras previstas para 2009 não começaram.

É o caso do trem-bala entre Rio e São Paulo, cujo edital só foi lançado para consulta pública em 18 de dezembro.

A usina de Belo Monte só deverá ser licitada no início de 2010, e até a terceira etapa das concessões rodoviárias, prevista para junho passado, foi transferida para abril de 2010.

Paulo Godoy, que preside a associação de empresas de base (Abdib), lembra que há problemas, mas acredita que o programa trouxe um novo modelo de gestão de obras públicas.

Dados orçamentários levantados pela Contas Abertas mostram que, até 15 de dezembro, dos R$ 27,9 bilhões previstos para o ano foram empenhados R$ 21,4 bilhões (76,7%).

Efetivamente pagos foram R$ 6,7 bilhões (24%). A maior parte dos R$ 15 bilhões restantes deve ser paga em 2010.

Foram incluídos no programa os R$ 7,3 bilhões do programa Minha Casa, Minha Vida. Mas a maior parte do orçamento do PAC de R$ 29,8 bilhões deverá ficar com o futuro presidente.

Gil Castelo Branco alerta que ainda há um estoque de R$ 8,9 bilhões de restos a pagar acumulados de 2007 e 2008. Com isso, o governo já teria comprometido cerca de R$ 23 bilhões de restos a pagar em 2010. Somados aos recursos novos orçados para o ano que vem, se o governo gastar o que já empenhou e o que poderá empenhar, terá de quitar cerca de R$ 53 bilhões em 2010, segundo a ONG: — Com certeza essa conta será herdada pelo futuro presidente.

A Casa Civil ressalta que, considerando apenas os recursos orçamentários, a execução do PAC tem crescido de maneira expressiva ano a ano. Sobre o montante de restos a pagar, afirma que se deve a uma contingência da estrutura das contas públicas.

Luiz Carlos Bresser Pereira :: Crescimento de 3% para 5%

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

O aumento artificial dos salários e do consumo levará à substituição da poupança interna pela externa

Entre 1995 e 2004, a economia brasileira crescia a uma taxa aproximada de 3% ao ano -o que levava os economistas convencionais a afirmar que 3,5% era o "PIB potencial"-, ou seja, a taxa de crescimento máxima que o Brasil poderia experimentar sem que a inflação voltasse. De 2005 a 2008, porém, essa taxa saltou para aproximadamente 5% e, depois dos reflexos da crise global em 2009, deverá crescer algo mais do que 5% em 2010.

Dados os seus recursos humanos, tecnológicos e institucionais e dada a sua mão de obra ainda barata e a possibilidade de copiar ou comprar tecnologia a preço relativamente barato, o Brasil poderia crescer, como os outros três Brics, mais de 7% ao ano. Como, entretanto, explicar o salto de 3% para 5%?

Para compreendê-lo, é preciso considerar que o desenvolvimento econômico depende da existência de demandas interna e externa. Depende também de fatores do lado da oferta, mas o fato é que o Brasil dispõe de empresários inovadores, de administradores e técnicos competentes, de um sistema nacional de inovação, de um sistema financeiro e de instituições melhores do que a renda per capita do país deixaria prever. O ponto de estrangulamento do desenvolvimento, portanto, não está no lado da oferta, mas no da demanda. O fundamental, para que haja crescimento, é que os empresários tenham demanda, ou seja, boas oportunidades de investimento, crédito, e invistam, assim aumentando a poupança.

Entre 2003 e 2005, foi a demanda externa que sustentou o salto do desenvolvimento brasileiro.

Foi uma taxa de câmbio depreciada, que partiu de R$ 3,95 em dezembro de 2002, e foi um grande aumento no preço das commodities exportadas pelo Brasil. A taxa de câmbio, entretanto, deixada sem administração, voltou a se apreciar gradualmente, de forma que a indústria não teve mais estímulo para investir na produção de bens para exportar.

Entretanto, a partir de 2006 a demanda interna substituiu a externa como fator de desenvolvimento, e o investimento industrial voltou a ser estimulado. Não cresceu com base em deficit público, que foi mantido sob controle, mas baseada em duas sadias medidas distributivas (os aumentos do salário mínimo e do gasto com o Bolsa Família) que contrabalançaram com efetividade a tendência estrutural dos salários a crescer menos do que a produtividade. E baseada também em uma medida financeira perigosa: o crédito consignado, ou seja, o maior endividamento das famílias, que poderá criar problemas no futuro.

Por meio dessas três políticas, a demanda interna substituiu a externa, os empresários continuaram a contar com oportunidades de investimento lucrativo, e as taxas de investimento e de poupança subiram. Podemos, portanto, comemorar afinal a volta do Brasil ao desenvolvimento econômico sustentado? Infelizmente, não. E não apenas porque o crédito consignado é um perigo. Também -e principalmente- porque o câmbio voltou a se apreciar e o Brasil voltou ao deficit em conta corrente. Assim, "crescerá com poupança externa", dizem os economistas convencionais. Ledo engano.

Quando a nação gasta mais do que arrecada e há deficit em conta corrente, temos o populismo cambial santificado pela ortodoxia. Em vez de mais investimento, o que voltará a ocorrer é o aumento artificial dos salários e do consumo e, assim, a substituição da poupança interna pela externa. E, de novo, a perspectiva de instabilidade e de crise financeira assombrará os brasileiros.

Luiz Carlos Bresser-Pereira, 75, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Globalização e Competição"

Bom dia! - Foi um rio que passou em minha vida - Marisa Monte e Velha Guarda da Portela