sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Reflexão do dia - Luiz Weneck Vianna

“A política é capturada pelo Estado; de outra parte, o presidencialismo de coalizão em vigência converte os partidos políticos em partidos de Estado e sem representação significativa na sociedade civil. Tal configuração veio a ser reforçada pela crise de 2008, levando a uma revalorização acrítica do Estado Novo e até mesmo de governos do regime militar. “


Luiz Werneck Vianna, no 33º Encontro Anual da ANPOCS, Caxambu/MG, de 26 à 30/10/2009)

Merval Pereira:: A síndrome do PMDB

DEU EM O GLOBO

O diagnóstico do líder do governo Romero Jucá de que o PMDB, antes de ser a solução, pode ser o grande problema para a montagem da chapa oficial à sucessão de Lula, é o mais fiel retrato de nosso presidencialismo de coalizão. Maior partido do Congresso, o que tem o maior número de prefeitos e vereadores no país, e com 9 governadores, o PMDB não consegue se unir para lançar um candidato próprio desde que cristianizou sucessivamente Ulysses Guimarães e Orestes Quércia.

Mas nenhum presidente eleito consegue governar sem um bom acordo com o PMDB, mesmo que não tenha sido apoiado oficialmente por ele na eleição presidencial.

Apoio, aliás, que não garante que a extensa e eficiente máquina partidária trabalhará integralmente pelo candidato oficial do partido.

Isso quer dizer que mesmo que a convenção, no segundo semestre do próximo ano, confirme o acordo político que está sendo costurado agora, o PMDB pode dar o vice-presidente da chapa oficial, mas certamente não estará integralmente ao lado da ministra Dilma Rousseff na campanha eleitoral.

Foi o que aconteceu, por exemplo, na eleição de 2002, quando o PMDB deu o vice, a deputada Rita Camata, mas não se empenhou na campanha do tucano José Serra.

Existe sempre ainda a possibilidade, que não é pequena, de a cúpula do partido simplesmente não ter condições de entregar ao governo o apoio formal, pois no PMDB quase sempre não há maiorias para uma definição.

A situação atual é exemplar do estado de espírito permanente desta grande federação de líderes regionais.

A direção nacional, capitaneada pelo deputado federal Michel Temer, quer formalizar o apoio, o que daria a ele a vice-presidência na chapa oficial e ao governo 5 minutos diários de propaganda de televisão.

Teoricamente esse apoio formal viria acompanhado da máquina partidária, a mais capilarizada do nosso sistema partidário, o que é fundamental nas eleições presidenciais, especialmente quando se trata de conseguir os votos do interior do país.

Mas essa máquina tão impressionante, que atrai a cobiça de todos os candidatos a presidente, nunca está integralmente à disposição do candidato escolhido, e nada indica que estará desta vez, mesmo com toda a força popular do presidente Lula.

Há setores importantes do partido que já estão comprometidos com a candidatura da oposição, como a seção paulista do PMDB, comandada por Orestes Quércia, que apoia o governador José Serra, ou a de Pernambuco, com o senador Jarbas Vasconcellos. Ou a do Rio Grande do Sul, capitaneada pelo senador Pedro Simon.

E há os estados que, em disputa acirrada com o PT, podem acabar indo para a oposição, em vez de servirem de segundo palanque para a candidata oficial Dilma Rousseff.

A Bahia, do atual ministro Geddel Vieira Lima, e Minas Gerais, do atual ministro Hélio Costa, são bons exemplos de estados fortes comandados pelo PMDB que não estão confortáveis com as alianças regionais.

Há ainda uma terceira face peemedebista, que defende a candidatura própria, que já lançou o governador do Paraná Roberto Requião. Nada indica que exista espaço para uma aventura desse tipo, que já foi tentada em outras ocasiões, sem sucesso, pelo ex-presidente Itamar Franco ou pelo ex-governador Garotinho.

Mas esse movimento é um claro indício de que mais setores peemedebistas não se satisfazem com o apoio à candidata oficial Dilma Rousseff.

Por seu turno, a oposição, na impossibilidade de vir a ter o apoio formal do PMDB, trabalha para impedir que a convenção oficialize o acordo que já foi acertado.

Na pior das hipóteses, consegue que o tempo de propaganda da televisão e do rádio que cabe ao PMDB seja dividido por todos os candidatos, sem engordar apenas a cota da candidatura oficial.

Mas não basta à oposição neutralizar os acordos do governo com sua base aliada, ela precisa ampliar seus pontos de apoio, sob pena de ficar não apenas com menos tempo de propaganda oficial na televisão, como também sem máquina partidária para trabalhar por seu candidato.

A base de apoio do PSDB, apenas com o DEM e o PPS, é muito frágil diante da ampla coalizão que está sendo montada pelo governo.

As negociações regionais estão começando a ser montadas, e não há uma definição do candidato oposicionista que sirva de atrativo para os partidos que não conseguem se entender com o PT.

Mesmo com o presidente Lula fazendo o meio de campo, está difícil chegar a um acordo em alguns estados, e o temor dos aliados, sobretudo as pequenas siglas, é de que, sem a intermediação de Lula, o PT tente ampliar seu espaço dentro da coalizão.

Mais do que para os eleitores, será para os políticos e seus partidos que a mensagem oposicionista realçará o perigo que representa um PT sem quem o controle.

Mas para que o passo seguinte seja dado, isto é, que partidos da base aliada sejam compelidos a deixar a proteção governamental para se aventurar na oposição, é preciso que se defina o candidato oposicionista e que este comande as negociações dos palanques regionais.

Os pré-candidatos tucanos já estão fazendo essas negociações, mas nenhum deles pode assumir compromissos definitivos.

Por isso as pressões para que seja antecipada a definição da candidatura, o que vem sendo reivindicado pelo governador mineiro Aécio Neves.

Tudo indica que ele terá essa primeira vitória.

Mas, no final das contas, quem sairá vencedor, seja qual for o resultado das negociações com governo ou oposição, será sempre o PMDB.

Dora Kramer:: Tranquilos, porém aflitos

DEU EM O ESTDO DE S. PAULO

A possibilidade da derrota é assunto proibido em público para políticos e partidos que se preparam para disputas eleitorais. Reza a regra do jogo que todos se posicionem, a princípio, como vencedores.

Manda também a etiqueta que não se menospreze o adversário na frente das visitas - no caso, o eleitorado. É de bom tom - além de prudente - que se considere a peleja "difícil". Às vezes isso denota senso de realidade, às vezes traduz apenas a intenção de cada um valorizar o próprio passe.

Dessa forma supostamente respeitosa, feita na medida exata para transparecer humildade sem deixar de exalar confiança na vitória, é que se apresentam ao embate da sucessão presidencial as forças de governo e oposição reunidas sob os guarda-chuvas do PT e do PSDB.

Mas essa é apenas metade da história. As reais motivações não são postas à mesa, embora sejam elas que de fato mobilizem partidos, candidatos e aliados.

Os de oposição têm verdadeiro pavor de continuar mais quatro ou oito anos fora do poder. PSDB e DEM perderam espaço, correligionários, parlamentares no Congresso e, consequentemente, perderam também influência e destaque no noticiário.

Em público, os oposicionistas nem às paredes confessam. Mas é isso que está por trás da aflição para que o governador de São Paulo, José Serra, assuma logo ou desista de uma vez da candidatura em favor do governador de Minas, Aécio Neves.

Eles temem que o adiamento da decisão os faça perder terreno e, com ele, a eleição. Não pelo sabor da vitória, mas pela certeza de que não sobrevivem a mais uma temporada como oposição.

No campo governista, há diferentes situações. A do PMDB é mais tranquila, já que seja qual for o resultado o partido tem lotes assegurados na administração pública.

Já para o PT a coisa é mais complicada. Embora haja a expectativa de que em caso de vitória do PSDB nem Serra nem Aécio promovam expurgos radicais, a hipótese da derrota no plano nacional aponta para o desemprego de uma massa considerável de companheiros.

Esse pessoal espera ter abrigo em algum lugar, bem como o PT precisará manter algumas ilhas de poder não só por uma questão de sobrevivência, mas até para ter como se reorganizar para uma nova disputa em 2014 sem precisar recomeçar quase do zero.

Esses nichos são justamente os governos dos Estados. E Estados de robusta máquina pública e significativa presença política no cenário nacional.

Quando se diz que Lula prefere que o PT se componha com o PMDB concorrendo ao Senado e deixando de lado a disputa de alguns Estados porque os governadores, mesmo de partidos de oposição, tenderiam a se compor com o governo federal, considera-se apenas a hipótese da vitória na Presidência.

Mas, como nas avaliações internas a possibilidade da derrota é levada sempre em conta, as coisas não funcionam bem assim.

Para o PT é crucial conquistar governos para abrigar seu pessoal. Nessa equação não se perde de vista o fato de que quem tem prioridade no comando do preenchimento dos cargos é o governador, não o vice nem o senador.

Por isso são tão importantes candidaturas próprias em Estados onde o PT tem chance real de ganhar, como Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

Na seção gaúcha tudo foi resolvido com a antecipação da candidatura do ministro da Justiça, Tarso Genro, ao governo. São Paulo é tido como jogo perdido, o Rio de Janeiro quase isso, mas Minas é essencial sob a lógica da conquista de trincheiras estaduais.

Daí que dificilmente se pode esperar que o PT aceite uma aliança com o PMDB no Estado, a menos que houvesse garantia total da permanência do partido na Presidência da República.

Uso do cachimbo

O poder está tão acostumado a desconsiderar a existência de regras, que o avião da Presidência carrega 15 convidados do filho do presidente e o governo acha que o público não tem o direito de saber quem são as pessoas que viajam às suas custas.

O Ministério da Cultura paga propaganda indevida e o ministro se irrita quando é cobrado pelo uso de recursos destinados a promover a cultura na promoção de deputados.

As medidas provisórias existem para ser usadas em caso de urgência, mas o governo edita uma MP para entrar em vigor só em 2011 e considera que é muito natural.

E por que isso acontece? Porque a sociedade, o Ministério Público e o Congresso deixam que aconteça.

Adaptação

Não é o curto espaço de tempo até a Copa de 2014, como alega o governo, que impede a execução do prometido plano de privatizações de aeroportos.

Dilma Rousseff sempre foi contra e agora que o PT se prepara para dar à eleição uma conotação de Fla-Flu com o governo de Fernando Henrique Cardoso qualquer privatização tornaria incoerente o discurso da confrontação.

Alberto Carlos Almeida:: Por dentro do Bolsa Família

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Será que algum leitor deste artigo recebe regularmente o Bolsa Família? Eu diria, com relativa certeza, que dificilmente. Quem lê jornal no Brasil, ao menos jornais com o perfil do Valor, são pessoas de grau superior, os assim chamados formadores de opinião, pessoas de renda elevada que fazem parte, em maior ou menor grau, do debate político e econômico brasileiro. Trata-se de um perfil social distante do perfil médio de quem recebe o benefício social do governo federal.

Proponho que nós, leitores deste jornal, pensemos no Bolsa Família sob a ótica de quem o recebe.

A pessoa que recebe esse benefício social reside, na maioria dos casos, em regiões com pouco ou nenhum dinamismo econômico. Esqueçamos por ora a prosperidade da cidade de São Paulo com a sua Mesopotâmia, as residências, os escritórios e os restaurantes que ficam entre os rios Pinheiros e Tietê. O ponto de vista dessa cidade, e dessa região específica de São Paulo, não serve para entender o significado do Bolsa Família para quem o recebe.

Alguns críticos de São Paulo, muitas vezes cariocas, dizem que se trata de uma cidade cheia de restaurantes cercados por escritórios. O interior pobre do Brasil, onde predomina o Bolsa Família, caracteriza-se por um grande aglomerado de casebres cercados de informalidade por todos os lados. É uma grande ilha, ou continente ilhado, de miséria.

Resultado: quem reside em São Paulo, na zona sul do Rio ou na Savassi de Belo Horizonte aprende desde criança que se tiver uma boa educação e trabalhar muito melhora de vida. Isso aconteceu provavelmente com todos os que leram e vão ler este artigo. Isso aconteceu e acontece comigo. Quanto mais trabalho, mais chances tenho de conseguir mais clientes, de vender mais e, consequentemente, de melhorar de vida. O ambiente de São Paulo favorece sobremaneira essa trajetória. Há empresas, negócios, dinamismo. Individualmente, há carreira, há profissão. Muitos dos que se formam nas faculdades cariocas e paulistas saem pensando em como construir uma carreira. Isso é possível no chamado Sul Maravilha.

É possível também no interior do Nordeste? Não, não é. Quem mora no interior de qualquer Estado nordestino e também tem escolaridade baixa, que é pai de família, não tem carreira.

Não tem, nunca teve, nem nunca terá. Para esse chefe de família o trabalho não compensa.
Trabalhar mais não levará necessariamente a melhorar de vida.

Vamos nos colocar no lugar dessa pessoa. Um homem, de uns 38 anos, que não completou o segundo grau, casado e pai de dois ou três filhos, morador de uma cidade vizinha a Petrolina, no interior de Pernambuco. Esse indivíduo não tem poder de barganha no mercado de trabalho.
Naquela região, como ele, existem milhares. Assim, o empregador muito provavelmente não lhe dará um trabalho de carteira assinada. Caso não se torne um migrante, ele vai trabalhar em algum roçado, vai construir ou manter a cerca de alguma propriedade, poderá tornar-se um vendedor de porta em porta de vassouras e rodos e, se tiver muito sucesso na vida, eventualmente, poderá conseguir um emprego urbano como "auxiliar administrativo", esta profissão pouco definida e muito mal remunerada pela qual qualquer brasileiro pouco ou nada qualificado poderá almejar.

Essa criatura imaginária é muito real. Ela não concebe a melhoria de vida por meio do trabalho. Isso é fato, não é uma simples percepção. Isso é real. É aqui que entra o Bolsa Família. Esse benefício social, recebido mensal e regularmente por esse chefe de família, se torna a única oportunidade de melhorar de vida no curto prazo.

Quando se diz que alguém "realmente precisa do Bolsa Família", está-se dizendo que sem o benefício social essa pessoa jamais melhoraria de vida. É verdade. O recebimento do benefício mudou a vida dela e de seus familiares. Houve um imediato aumento na renda corrente e, como se trata de um contrato de longo prazo, essa família passou a poder comprar coisas no crediário. Praticamente 50% dos que recebem o Bolsa estão atualmente comprando alguma coisa em prestações. O mais interessante é que o programa atinge cerca de 30% das famílias brasileiras e custa para o governo federal a quantia irrisória que corresponde a 0,4%, apenas, de nosso PIB.

O Brasil passou longos anos sem cuidar de sua população, sem educá-la formalmente de maneira apropriada. Apenas durante o governo Fernando Henrique, ou seja, depois de 1994, conseguimos universalizar o acesso das crianças à educação básica. Ainda não conseguimos universalizar o acesso dos adolescentes ao ensino médio. Além disso, a evasão e a repetência são um fenômeno avassalador nos dois níveis de ensino. Não investimos há 30 ou 40 anos em educação, temos que gastar agora um pouquinho (0,4% do PIB, como mencionado anteriormente) com política social para "compensar" o não investimento.

Há uma crítica de caráter moral ao Bolsa Família: ele cria acomodação. Ledo engano. O beneficiário do programa já era acomodado. A ambição já veio morta, de berço. Em áreas sem dinamismo econômico, como afirmei, o trabalho não compensa, a ambição não existe. O Bolsa não gera nem vai gerar ambição. Os pais nunca terão uma boa oportunidade no mercado de trabalho, é uma geração perdida em termos profissionais. Se alguém tiver oportunidades de empregos melhores, serão os filhos. Daí a necessidade da obrigatoriedade da matrícula escolar. O Bolsa melhorou o bem-estar geral da família e criou um incentivo a mais, para muitas famílias o único incentivo, para manter as crianças na escola. Salva-se a geração dos mais jovens.

A crítica moral a essa política social não encontra apoio na maioria da população brasileira.

Nada menos do que 77% da população concorda com a seguinte afirmação: "Muita gente que recebe o Bolsa Família continua trabalhando, por isso ele tem que continuar". Essa proporção é menor entre as pessoas que têm o grau superior completo e maior entre as pessoas de escolaridade mais baixa. Quem tem o grau superior completo, ao contrário das pessoas de escolarização baixa, está muito distante da situação financeira e social de quem recebe o Bolsa. Assim, é menos compreensivo em face dos benefícios do programa social. A maioria de nossa população tem a renda e a escolaridade baixas. Sendo assim, o apoio social ao Bolsa Família é muito grande.

Se apenas 30% da população recebe o Bolsa, nada menos do que 60% afirmam ser totalmente a favor do programa. Quando somamos esse número aos 23% que dizem ser a favor, obtemos 83% da população adulta brasileira apoiando o programa social criado no governo Fernando Henrique Cardoso. Só 16% se dizem contrários ao programa. Destes 5% são totalmente contra e 11%, um pouco contra. Quem é mais contra? Quem tem diploma de grau superior. Praticamente um quarto de quem se formou em uma faculdade é contra o bolsa. Essa proporção é de somente 12% para as pessoas do mais baixo nível de escolaridade formal, o primário completo.

Qual é a consequência política dessa informação? Que o Bolsa Família está para a área social assim como a inflação está para a área econômica. A maioria os quer, aceita, valoriza e considera ambos um ganho já estabelecido e com poucas chances de haver retrocesso.

O presidente Lula escreveu e divulgou em 2002 a famosa "Carta aos Brasileiros", eufemismo para uma carta aos banqueiros e investidores internacionais. Nela, Lula prometeu e cumpriu manter os quatro elementos-chave da política econômica de FHC: câmbio flutuante, superávit primário, metas de inflação e responsabilidade fiscal. Em 13 de agosto de 2002, Lula declarou na "Folha de S.Paulo": "Eu me dei conta de que o PT que precisava construir era maior do que o PT de macacão que eu sonhava em construir". Tão grande que trouxe recentemente Fernando Collor como um de seus importantes aliados. Lula foi e é extremamente pragmático.

A oposição, PSDB, DEM e PPS, precisa cometer o "pecado" do pragmatismo para enfrentar Lula. Nesse caso, o pecado é quebrar o omelete de apoiar sem tergiversação o Bolsa Família.

Há várias maneiras de demonstrar que se é a favor de alguma coisa. Uma delas é simplesmente afirmar: sou a favor do Bolsa Família, aliás, ele foi criado durante um governo do PSDB. Outra maneira é afirmar: vamos duplicar o valor do Bolsa Família. Esse é um apoio contundente, um apoio que não dá espaço para desculpas evasivas de quem apoia ou para ataques infames do adversário.

A propósito, dobrar o Bolsa significa sair de 4,0 para 0,8% do PIB nesse gasto. Apenas um pouco a mais do que os 0,6% colocados no benefício da Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), mais um programa de proteção social criado no período tucano. Se o programa é bom para quem o recebe, se foi criado (com inspiração de Milton Friedman) por um governo do PSDB e se trará dividendos eleitorais importantes, em particular para quem se caracteriza por gestões eficientes, por que não assumir o compromisso de duplicá-lo? Há uma única razão para não fazê-lo: uma visão de mundo, uma ideologia que rechace o bolsa. Uma ideologia que, nesse caso, é oposta à ideologia do pragmatismo.

Alberto Carlos Almeida, sociólogo e professor universitário, é autor de "A Cabeça do Brasileiro" (Record).

Maria Cristina Fernandes

DEU NO VALOR ECONÔMICO

As perdas internacionais de Leonel Brizola e o fora FMI de Luiz Inácio Lula da Silva marcaram os limites que, há apenas 20 anos, circunscreveram o tema da política externa nas eleições presidenciais.

É outro o Brasil que, nesse curto espaço de tempo, vê o eixo do discurso político passar das injustiças da ordem internacional contra o país às pretensões nacionais de maior protagonismo na mediação do conflito do Oriente Médio.

A crítica de próprio punho do governador de São Paulo, José Serra ("Folha de S.Paulo", 23/11/2009) à visita do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, marca a estreia do debate da política externa na campanha presidencial e é, de antemão, um reconhecimento de que o Brasil mudou.

Pela crítica do pré-candidato tucano, depreende-se que o objeto de discórdia é o mérito da visita do governante de um país ditatorial e repressivo e não a pretensão brasileira à mediação.

No dia seguinte o noticiário registraria que nem mesmo o presidente americano questiona as pretensões da diplomacia brasileira. Em carta a Lula, na qual explicitaria suas insatisfações com a visita sem questionar o direito do Brasil de promovê-la, Barack Obama acabaria por aceitar a legitimidade da atuação brasileira ao pedir que a pauta do encontro incluísse direitos humanos e cooperação nuclear.

O historiador brasileiro Luiz Felipe de Alencastro, cuja sede em Paris não o impede de acompanhar detidamente a conjuntura nacional, assistiu à largada do tema na campanha presidencial com incontido interesse.

Custa-lhe entender por que a indignação que cerca a visita de Ahmadinejad não se estende à relação do Brasil com outros países ditatoriais como, por exemplo, a China. O vice-presidente Xi Jinping veio ao Brasil em fevereiro. A visita do representante do país cuja crescente pauta comercial amparou o Brasil na crise não recebeu nenhuma moção de repúdio ou desagrado da oposição.

Alencastro compara a reação contra o presidente iraniano àquela que antecedeu a visita de Lula à Líbia de Khadafi, que precederia sinais de distensão entre as relações do ditador com outros países.

Apesar de Honduras, não vê abandono do princípio da soberania como norteador da política externa brasileira - "O mundo mudou. A não ingerência era uma maneira de se acomodar atrás da liderança americana", diz.

O historiador só vê dois momentos comparáveis ao momento de maior protagonismo das relações exteriores no debate político interno do país, ambos do século XIX - o fim do tráfico negreiro e a Guerra do Paraguai.

E atribui o viés hoje dominante no Itamaraty à retomada da linha que norteou a instituição sob os auspícios de San Thiago Dantas, chanceler do governo João Goulart e paraninfo da turma do ministro Celso Amorim no Rio Branco.

Era o mesmo lado ao qual se perfilava o então presidente da União Nacional dos Estudantes (Une), José Serra. Isso talvez explique por que no seu primeiro libelo de política externa nessa campanha não haja uma única linha de repúdio ao maior protagonismo adotado pelo Itamaraty.

Tão proveitoso quanto observar a linha de confronto que Serra traçará com seus antigos aliados será acompanhar os atritos dentro de sua própria aliança partidária. Herdeiro das forças que derrotaram San Thiago Dantas e sua turma, o DEM, principal aliado serrista, é hoje o partido mais ativo, nos debates parlamentares, à conduta do Itamaraty.

Sem diferenças gritantes em sua política econômica e com quaisquer tentativas de limitar as políticas sociais inviabilizadas pelas urnas, o DEM tem usado a política externa para exercitar um anticomunismo embolorado.

O país das perdas internacionais agora tem poder de veto no FMI, mas o que certamente estará fora do debate é que o ingresso do Brasil não muda o jogo.

Na noite da última terça-feira feira, quando caiu um aguaceiro em São Paulo, tucanos e petistas se misturaram aos intelectuais do Cebrap para comemorar os 40 anos da instituição, da qual Alencastro também foi ativo colaborador. Lá Roberto Schwarz deixaria registrado o depoimento mais contundente sobre os novos tempos do Brasil na ordem mundial.

Dizendo não se arrepender de ter votado em Lula todas as vezes em que este se candidatou e de avaliar positivamente tanto o seu governo quanto o de Fernando Henrique Cardoso, Scharwz assume os riscos de afirmar que, no futuro, ambos os governos, além do de Collor, serão vistos como um único bloco que melhorou a posição relativa do Brasil na globalização.

Fiel às convicções que um dia inspiraram aquele centro de estudos, Scharwz concluiu: "O que me parece errado é adotar uma visão rósea do capitalismo porque o Brasil está com um vento a favor ou porque temos amigos no governo. A irracionalidade e a destrutividade do capitalismo estão aí, visibilíssimos na crise e no despropósito da mercantilização total. E é nessas discussões que o marxismo finca sua crítica, mesmo que, no momento, não faça muitos adeptos".

Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras

PMDB anti-Lula lança Requião

DEU EM O GLOBO

Ato de dissidentes apresentará pré-candidatura de governador do Paraná

Maria Lima e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Mesmo com a cúpula lulista do PMDB garantindo que já abortou o racha, o governador do Paraná, Roberto Requião, promete fazer barulho terça-feira, em Brasília, com o lançamento oficial de sua pré-candidatura a presidente da República pelo PMDB. O líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), afirmara anteontem que o partido esvaziou o encontro promovido por Requião em Curitiba no último fim de semana, mesmo assim representantes menos expressivos de 15 diretórios regionais assinaram uma moção defendendo o nome do governador.

Requião e o senador Pedro Simon já reservaram o plenário da Comissão de Constituição e Justiça do Senado para fazer o ato.

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), também minimizou o impacto da candidatura Requião.

- O que nos interessa são as conversas institucionais com o PMDB - disse Berzoini.

Para o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), essa mobilização é saudável.

- Esse movimento cria ainda mais dificuldades para a homologação da aliança com o PT na convenção - disse Jarbas.

Assinaram a moção de apoio a Requião líderes regionais como Pedro Simon (RS), Orestes Quércia (SP), Luiz Henrique (SC), Paes de Andrade (CE), Mangabeira Unger (RJ), Eliseu Padilha (RS) e Dario Berger (SC) entre outros menos conhecidos

Eliane Cantanhêde:: Vexame

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

MANAUS - Lula tinha arquitetado dois palanques ontem em Manaus: um, interno, para inaugurar um gasoduto que ainda não serve para nada; outro, internacional, para liderar os presidentes dos oito países amazônicos em Copenhague. Seis deles não deram as caras.

Uribe, Morales, Rafael, Alan Garcia, o arroz de festa Hugo Chávez e até o presidente do pequeno Suriname ficaram de fora. Conclusão: Lula levou o seu troféu para a ocasião, o presidente francês Nicolas Sarkozy, para almoçar com o presidente da Guiana Inglesa e um punhado de ministros e assessores. Dilma, evidentemente, marcou presença nos dois palanques. Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia ficaram no internacional, deitando falação para tentar explicar a complexa relação Brasil-EUA.

Garcia, que já admitira "decepção" com os rumos das coisas nos EUA, tenta explicar: "Decepção e desilusão a gente tem nas relações amorosas". Com os EUA "são divergências".

Mas não são poucas.

Uma delas é que o Brasil se uniu à França -ou melhor, Lula se uniu a Sarkozy- para tomar a dianteira também em Copenhague, enquanto Obama falou, falou, falou, mas ficou limitado por forças econômicas americanas. Só sob pressão externa decidiu ir e apresentar proposta de corte de CO2.

É por isso que Amorim, ontem, depois de uma hora de conversa com Hillary Clinton, disse que ela "reconheceu que a proposta brasileira serviu de inspiração para outros países". Os próprios EUA. O fato é que Lula pensa alto, talvez alto demais. Quer liderar a América do Sul, chegar com a tropa amazônica para a conferência do clima e confrontar, dia sim e outro também, a maior potência.

Audácia é bom, e o eleitorado até gosta. Mas, quando passa do ponto, pode afugentar. Foi isso que ocorreu ontem em Manaus: Chávez, Uribe, a turma toda fugiu da mania de Lula de querer ser o líder de tudo. Soou assim: "Tou fora!"

CHARGE


diário do nordeste (ce)

Lula e Dilma 'inauguram' obra inacabada

DEU EM O GLOBO

Presidente já visitou a obra três vezes e ontem levou sua candidata ao Planalto

LULA E DILMA conversam na inauguração do gasoduto: presidente criticou "invejosos"

Chico de Gois

MANAUS. Num palanque em clima de campanha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou, ao lado da ministra-chefe da Casa Civil e pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, o gasoduto Urucu-Coari-Manaus, da Petrobras - obra que só funcionará plenamente em setembro do ano que vem. Com capacidade para transportar 5,5 milhões de metros cúbicos de gás por dia, ontem apenas 77 mil metros cúbicos, o equivalente a 1,6%, começaram a ser aproveitados.

Em junho de 2006, Lula acompanhou o início das obras do gasoduto. Depois esteve lá em setembro de 2008, para visitar aos obras. Ontem, inaugurou o gasoduto, ainda não totalmente em operação, e já marcou nova visita para outubro de 2010, quando se espera que estará operando com sua capacidade total.

Na hora de descerrar a placa de inauguração do gasoduto, Lula fez questão de levar Dilma para o lado dele, e o nome da ministra foi gritado pela claque organizada, que a aplaudiu muito. Em discurso, Dilma defendeu com ênfase a continuidade do governo Lula. Destacou o que chamou de avanços de seu governo, como redução da pobreza e o acesso a universidades por estudantes que antes não tinham condições de pagar uma faculdade particular. A ministra foi recebida pela plateia, composta, em sua maioria, por sindicalistas e funcionários da Petrobras, aos gritos de "Dilma, Dilma, Dilma".

- Sabemos que o governo do presidente Lula significa uma mudança no caminho que o Brasil vinha trilhando no passado - discursou, sem citar nomes de ex-presidentes. - E nós todos juntos temos a missão, a obrigação e o dever de fazer esse projeto continuar.

O gasoduto tem 661 quilômetros de extensão. Faltam ser construídas tubulações para levar o gás às termelétricas, além da troca de motores das usinas. No total, oito usinas vão utilizar o gás em substituição ao diesel e ao óleo combustível para geração de energia. A conversão da troca da matriz energética deve ser concluída até setembro, de forma gradual.

Lula, ao dizer que voltará a Manaus em setembro do ano que vem para inaugurar o término da substituição do óleo diesel pelo gás nas usinas da região, lembrou que Dilma, que deverá ser candidata, não poderá estar ao lado dele.

- O Eduardo (Braga, governador do Amazonas) não vai estar, porque é candidato, o Alfredo (Nascimento, ministro dos Transportes) não vai estar, porque acho que é candidato, a Dilma não vai estar, porque acho que é candidata. Mas eu não sou candidato, estarei aqui para apertar o botão de todas as empresas, usando gás na energia elétrica deste estado.

O presidente Lula também voltou a atacar os adversários.

- O dado concreto é que é importante dizer, em alto e bom som, aos descrentes deste país, aos que passam a vida inteira torcendo para as coisas não darem certo: mais uma vez conseguimos vencer aqueles que apostam no retrocesso deste país - afirmou, sem citar nomes. - Tem gente que é tão azeda, tão invejosa, tem gente que torce tanto para as coisas não darem certo, que é como se fosse um casal que não tem filhos, em vez de procurar um médico para se tratar, ficam olhando o casal vizinho e, quando o casal vizinho tem um filho, eles falam: "tudo bem, nasceu, mas nem falar, fala, só chora. Não sabe nem se limpar sozinho, tem que a mãe limpar ele quando faz suas necessidades".

O discurso de Lula foi uma resposta ao fato de a obra inaugurada por ele ontem ainda não funcionar plenamente. Lembrou que o gás foi descoberto em 1986, mas a obra do gasoduto só começou 20 anos depois, em seu governo.

- Com essa obra, está acontecendo a mesma coisa. É como se fosse um filho meu, do Eduardo Braga, do Gabrielli, da Dilma. E quem não conseguiu, em um parto normal, parir esse gasoduto, está do lado de fora morrendo de inveja e querendo fazer todas as críticas.

Presidente promete que voltará a visitar obra no ano que vem

A obra faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento e tem sete ramais para atender as cidades de Coari, Codajás, Anori, Anamã, Caapiranga, Manacapuru e Iranduba, com 140 quilômetros de extensão. Só as termoelétricas que atendem Manaus têm consumo anual de 1,2 bilhão de litros de óleo combustível e óleo diesel.

Ontem, depois de dizer que voltará lá em outubro do ano que vem para inaugurar o resto da obra, Lula cobrou dos empresários a conclusão até setembro.

- Eu quero deixar claro aqui, aos meus queridos companheiros da Petrobras, aos da Eletrobrás, que não venham no dia 1º de outubro dizer que não deu para fazer a mudança, porque vai ter que mudar de óleo combustível para gás até setembro - afirmou. - Portanto, não é uma coisa voluntária, é uma decisão do governo.

E estocou os empresários, dizendo que já ganharam muito dinheiro:

- Estou avisando, e quero ser claro e objetivo, para ninguém dizer que tenho duas caras.

Certamente, alguns companheiros empresários ganharam muito dinheiro com o óleo combustível, e talvez não tenham mais interesse. Quero reafirmar que não é interesse pessoal de nenhum empresário, é interesse estratégico do Estado.

Fernando de Barros e Silva:: Governo no trono

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - As imagens do presidente da República e da ministra da Casa Civil nunca antes na história deste país haviam sido usadas para vender papel higiênico. Alguém poderá dizer que a primeira vez a gente nunca esquece...

Parte dos leitores já deve ter conhecimento do enredo da propaganda que começou a ser veiculada pelo rádio: uma voz que imita Lula se põe a elogiar aspectos do PAC.

Ele passa a palavra a Dilma e estranha sua ausência. A voz dela então ecoa lá do fundo: "Alfreeeeeedo!!!!". Lula retoma a cena e faz o resto do serviço: "Nunca antes na história deste país o povo teve tanta maciez", diz o locutor, entre batatadas.

O bordão já é bem conhecido. Na versão original, a peça publicitária tinha a intenção de reforçar o exclusivismo social do consumo: era macio porque era para poucos. Agora, o papel higiênico da madame está ao alcance do povo -é essa a nova mensagem, suave como lixa. Alfredo virou o mordomo da classe C.

Tudo isso, porém, acaba ficando em segundo plano, ofuscado pela escatologia a que são arrastadas as autoridades da República. A percepção de que há algo ofensivo em relação aos personagens se impõe: Dilma está -vamos dizer assim- "se lixando" para o PAC. Como deixar de fazer associações desse tipo?

É improvável, no entanto, que a propaganda tenha a mão de algum gênio tucano mal intencionado. A explicação aqui parece ser outra. O jornalista Marcio Aith mostrou na segunda-feira que grandes empresas e bancos transformaram o governo e o presidente em garotos-propaganda. Há uma onda ufano-lulista na publicidade brasileira.

Se o PAC foi parar no banheiro e Dilma virou atriz-camelô de produtos delicados para as massas, não é só porque o governo é muito popular. Fazendo piadas, revelando intimidades, dizendo impropriedades, Lula criou um ambiente público que acolhe e estimula esse tipo de abuso vulgar. A avacalhação costuma jogar a seu favor. Desta vez, a liturgia do cargo foi pela privada.

Ministro de Lula ataca projeto do governo que enfraquece TCU

DEU EM O GLOBO

Chefe da CGU diz que presidente recebe informações falsas sobre fiscalização

Chefe da Controladoria Geral da União (CGU), órgão ligado à Presidência da República, o ministro Jorge Hage fez duras críticas ao projeto da lei Orgânica da Administração Pública, que tira poderes do Tribunal de Contas da União (TCU) na fiscalização de obras públicas. A proposta é defendida pelo presidente Lula, que tem criticado sistematicamente o TCU. Hage disse que considera inaceitável a demonização dos órgãos de controle e que a proposta tem graves equívocos. "O projeto propõe praticamente a eliminação do controle preventivo, quando, a nosso ver, a ideia é exatamente o contrário. O primeiro dever dos órgãos de controle interno é reagir preventivamente", disse, ao GLOBO. Sobre a fiscalização apenas após a conclusão das obras, afirmou: "É absolutamente inaceitável pensar em controle pelos resultados." Segundo o ministro, há muita gente levando informações falsas a Lula. "Sou testemunha de uma delas."

Hage: "É inadmissível negligenciar o controle"

Ministro da CGU diz que Lula está recebendo informações falsas

JORGE HAGE, ministro-chefe da CGU, órgão ligado à Presidência: ele fez duras críticas ao projeto que tira poder do TCU


Regina Alvarez

Responsável pelo comando do controle interno no governo, o ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage, ligado diretamente à Presidência da República, fez ontem duras críticas ao anteprojeto de Lei Orgânica da Administração Pública, que limita os poderes do Tribunal de Contas da União (TCU) na fiscalização de obras e serviços públicos. A proposta - elaborada por um grupo de juristas - foi apresentada pelo Ministério do Planejamento para discussão. Hage disse que considera inaceitável a demonização dos órgãos de controle, que a proposta de lei contém equívocos conceituais e que a CGU é contrária à maioria de seus dispositivos.

- O capítulo de controle precisa ser profundamente alterado, tem coisas inaceitáveis. Propõe praticamente a eliminação do controle preventivo, quando, a nosso ver, a ideia é exatamente o contrário. O que estamos fazendo é ampliar o controle preventivo. O primeiro dever dos órgãos de controle interno é reagir preventivamente - disse o ministro ao GLOBO. - O projeto foi escrito por quem não tem vivência de controle.

As críticas à proposta foram feitas na reunião do grupo de infraestrutura do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), da qual participaram o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e o chefe da Advogacia Geral da União (AGU), Luis Inácio Adams.

- O anteprojeto de lei propõe enfatizar o controle apenas pelos resultados. É inadmissível negligenciar o controle de legalidade e conformidade para controlar apenas resultados - disse o ministro. - Basta saber se a obra foi feita, se o resultado está lá? E irregularidades na licitação? Se foi direcionada, se houve sobrepreço, conluio entre empresas? É absolutamente inaceitável pensar em controle pelos resultados. Defendemos na CGU as duas coisas: legalidade e conformidade com resultados.

Ministro critica "histórias falaciosas"

Segundo o ministro-chefe da CGU, o presidente da República vem recebendo informações falsas sobre supostos abusos na fiscalização dos órgãos de controle, que não têm relação com a realidade e justificam atrasos decorrentes da incompetência dos órgãos.

- Tem muita gente levando ao presidente informações falsas. Sou testemunha de uma delas - disse.

E citou o exemplo de uma autoridade estadual que reclamou com Lula de suposta crítica da CGU ao preço de um disjuntor de R$12, numa obra de R$60 milhões. Segundo Hage, foi provado que o prejuízo era de milhões.

Ao se referir a "histórias falaciosas", Hage mencionou o exemplo de um sabonete citado pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, em reunião.

- Tinha uma discussão sobre o custo do sabonete usado no banheiro do canteiro de obras. Vamos ficar discutindo contratar sabonete? - disse Bernardo na ocasião.

- São histórias, na maioria, falaciosas. Nunca ninguém conseguiu me mostrar esse relatório de auditoria. São coisas que alguém lança irresponsavelmente e ganha fórum de verdade - disse Hage, sem se referir diretamente ao ministro do Planejamento.

Na reunião do CDES, Hage disse que os órgãos de controle estão sendo postos como vilões. Ele considera que foi inadequada a divulgação da proposta dos juristas quando se debate no governo a atuação do TCU na fiscalização das obras públicas:

- Todos concordaram com a proposta de pôr a discussão nos devidos trilhos. O debate é da maior importância, sendo conduzido com seriedade, sem tomar como ponto de partida determinadas falácias. Não acho que o governo esteja decidido a enviar a proposta de lei orgânica (ao Congresso) de forma alguma. Não foi discutida no governo.

Procurado, o ministro Paulo Bernardo não se pronunciou.

Apagão itinerante

DEU EM O GLOBO

Depois de Ipanema e Leblon, falta de luz atinge sede do Flamengo e mais 6 bairros

A GARAGEM do Clube de Regatas do Flamengo, na Gávea, totalmente às escuras depois de mais um apagão

A MORADORA de Jacarepaguá Roberta Susan, que puxou um fio da casa do vizinho para ter energia elétrica


Bruno Rohde* e Waleska Borges

Numa semana em que Ipanema, Leblon e outras áreas do Rio, das zonas Norte e Oeste, já sofreram com a falta de energia, chegou a vez de o apagão itinerante aportar no Clube de Regatas Flamengo e em pelo menos mais seis pontos da cidade. Entre as 18h30m de quarta-feira e as 10h30m de ontem, a sede do rubro-negro, na Gávea, ficou sem energia elétrica. Por isso, os ingressos para a partida entre o Flamengo e o Grêmio, dia 6 de dezembro, no Maracanã, foram vendidos nas bilheterias do clube à luz de velas ontem. Funcionários tentavam controlar os torcedores, que reclamavam da demora na fila: quem queria pagar com o cartão de crédito não pôde ser atendido. O fornecimento de energia também foi afetado em parte do Jardim Botânico, do Recreio dos Bandeirantes, de Jacarepaguá, da Ilha do Governador, do Alto da Boa Vista e da Tijuca.

Segundo o vice-presidente do Flamengo, Luiz Paulo Segond, o problema que afetou o clube aconteceu na rede aérea da Light.

- Esperamos mais de 12 horas para ser atendidos. Falta estrutura à Light para atender as reclamação. Estamos com problemas na rede da Light desde terça-feira à noite. Na quarta-feira, a luz faltou duas vezes.

Na fila do ingresso, a falta de energia revoltou os torcedores. Eles só podiam comprar três entradas cada - normalmente, são cinco. Muitos criticavam a Light pelos recentes apagões na cidade. Além das bilheterias, o estacionamento e as lojas do clube estavam sem luz. Por isso, os estabelecimentos comerciais ficaram fechados durante parte da manhã.

- A Light não presta o serviço pelo qual recebe - disse o servidor público Joaquim Filho, de 28 anos, que chegou às 6h de ontem ao Flamengo para comprar ingresso.

O publicitário Bruno Sereno, de 25 anos, também reclamou:

- Esses apagões na cidade que vai ser sede dos Jogos Olímpicos nos deixam envergonhados. É uma falta de respeito.

O professor João Carlos de Assis, de 60 anos, que veio de Minas Gerais comprar ingresso ontem, disse que está acompanhando as notícias sobre a falta de luz pelos jornais, mas não esperava encontrar o Flamengo com o mesmo problema.

- É o primeiro dia da venda de ingressos. Muitas pessoas vieram de longe - lamentou João Carlos.
A luz foi restabelecida depois que operários da Light fizeram um serviço num poste na calçada do clube, próximo à Rua Ministro Raul Machado. A Light informou apenas que a falta de energia no Flamengo foi provocada por um "problema interno do cliente", sem dar qualquer outra explicação. O vice-presidente Luiz Paulo reagiu:

- O problema da falta de luz está afetando o Rio todo. Não é do Flamengo.

De madrugada, segundo a Light, a chuva provocou corte no abastecimento de energia em trechos de quatro bairros: Recreio dos Bandeirantes, Jacarepaguá, Jardim Botânico e Ilha. De acordo com a empresa, o fornecimento foi normalizado às 3h.

Morador da Rua Lopes Quintas, no Jardim Botânico, o engenheiro Maurício Coelho, de 52 anos, conta que acordou de madrugada com o calor.

- O ar-condicionado estava desligado. Acredito que, além da falta de investimento da Light, estamos assistindo a um descaso com o cliente - criticou Maurício.

Ainda segundo a Light, também foram afetadas algumas áreas dos municípios de Nova Iguaçu e Duque de Caxias.

De dia, moradores de Jacarepaguá ainda sofriam com a falta de luz. A dona de casa Susilane Ferreira Cândido, de 32 anos, estava sem energia desde terça-feira. Moradora da Rua Tirol, ela estava lavando a louça, por volta das 21h30m, quando a luz apagou. Ontem, ela contabilizou os alimentos que estragaram em sua geladeira, por causa da falta de energia. Não sobrou muita coisa, além de água.

- Estragou tudo que eu tinha. Acho errado pedirem desculpa só para quem mora na Zona Sul. Aqui também está faltando luz. Pago a conta todo mês. Estou dormindo com portas e janelas abertas por causa do calor - disse Susilane.

Mãe de três filhos pequenos, o mais velho com 6 anos, Roberta Susan, de 31 anos, está sem energia elétrica desde terça-feira. Também moradora da Rua Tirol, ela adotou uma medida inusitada para não ficar sem energia, pelo menos na cozinha, onde está a geladeira:

- Estragou peixe e frango. Tive que pedir para puxar um fio da casa de um vizinho - disse ela.

CHARGE - O Rio de Sergio Cabral

Sistema elétrico requer R$7,2 bi a mais por ano, diz ONS

DEU EM O GLOBO

Investimento, considerado economicamente inviável, iria para geração térmica e serviria como um seguro-apagão

PINGUELLI, ZIMMERMANN, Collor, Resende, Hubner e Chipp, durante audiência pública no Senado, que discutiu o apagão do dia 10: autoridades concordam que curtos-circuitos na linha de Furnas causaram blecaute

BRASÍLIA. Para garantir maior confiabilidade ao abastecimento elétrico brasileiro, seriam necessários investimentos adicionais de R$7,2 bilhões ao ano na manutenção de um sistema de geração térmica, que funcionaria como um seguro-apagão. A informação foi dada ontem pelo diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, em audiência pública no Senado, ao lado de outras autoridades do setor elétrico. Foi a primeira iniciativa do Parlamento para discutir as causas do apagão do dia 10 de novembro, que colocou às escuras 18 estados por até cinco horas.

Esse sistema alternativo teria de ser capaz de gerar 4 mil megawatts (MW) e, assim, garantir o fornecimento no caso de uma pane na usina de Itaipu. Essa é a quantidade de energia que chega à subestação de Tijuco Preto (no interior de São Paulo) pelas linhas de transmissão que foram atingidas pelo curto-circuito no último blecaute.

Senador afirma que sistema é vulnerável

Para Chipp, porém, esse sistema de backup é inviável economicamente e seu custo acabaria repassado para as tarifas:

- Imagine o que é gerar R$600 milhões (ao mês) de custo para prover um sistema de segurança de uma situação que nunca aconteceu. Isso é antieconômico. Para evitar essa contingência de probabilidade remotíssima, não se espera que você gere um custo desses - afirmou, em audiência pública conjunta das comissões de Assuntos Econômicos e de Infraestrutura. Também participaram da audiência o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, e o professor da Coppe/ UFRJ Luiz Pinguelli Rosa.

A exposição das autoridades do setor convergiu em apontar como provável causa do blecaute os curtos-circuitos na linha de transmissão de Furnas. Chipp descartou a hipótese de atentado ou sabotagem.

O diretor da ONS informou que a entrega do Relatório de Análise de Perturbação (RAP) sobre o blecaute deverá ser antecipada para a próxima semana, apesar de o prazo dado pelo Ministério de Minas e Energia só terminar em 15 de dezembro. O texto será encaminhado ao Comitê de Monitoramento do Sistema Elétrico (CMSE) e trará a conclusão dos técnicos do ONS.

- Temos 30 dias dados pelo ministro, mas, pela relevância e pela importância, estamos fazendo todos os esforços para entregar na próxima sexta-feira, dia 4 - disse Chipp.

Apesar das afirmações de que o apagão foi um evento raro e que o sistema elétrico é robusto, os senadores saíram do encontro intranquilos.

- Foi demonstrado que estamos sujeitos a problemas novamente. O sistema interligado nacional é vulnerável, o que não nos dá tranquilidade - afirmou o senador Eliseu Resende (DEM-MG).

Pinguelli: governo não pode se isentar de responsabilidade
O diretor do ONS afirmou que os investimentos feitos nos últimos anos evitaram a ocorrência de blecautes como os de 1999 e 2002, que, segundo ele, tiveram uma dimensão bem maior do que o deste ano. Ele também reafirmou que as causas do último incidente são inéditas:

- Os investimentos evitaram que se propagasse como 1999 e 2002, quando as contingências foram menos severas e os efeitos mais severos. (Aconteceu uma) contingência que eu, com 40 anos de profissão, nunca vi igual.

Luiz Pinguelli Rosa, da Coppe/UFRJ, alertou que, apesar de o problema não ter sido causado por falta de investimentos, o governo não pode se isentar de responsabilidades.

- Há necessidade de se esclarecer o que aconteceu e reconhecer que temos vulnerabilidades que exigem atenção. Não podemos nos acomodar nessa situação.

O diretor da Aneel disse que só depois de receber o relatório técnico sobre as causas do blecaute, o órgão irá sugerir as medidas mais adequadas para evitar situação similar no futuro. Pontos como as condições de operação, os registros históricos de manutenção e ocorrências, a adequação aos critérios e a operação do sistema de forma segura, entre outros, serão verificados pela agência.

Míriam Leitão:: Nas nuvens

DEU EM O GLOBO

O economista Ilan Goldfajn acha que o Brasil vai crescer 5,5% no ano que vem, mas isso só se desacelerar durante o ano, porque, do contrário, crescerá mais. Parte é efeito estatístico, parte é crescimento mesmo. Nos anos seguintes, o Brasil pode continuar mantendo o mesmo ritmo. "Só se quisermos muito é que vamos estragar esse ciclo de crescimento", diz o ex-diretor do Banco Central.

Esta semana, o Itaú-Unibanco, onde Ilan trabalha, soltou um relatório assinado pelo economista e a equipe de análise de conjuntura, com o título "Brasil 2020: a estrada à frente". Nele, o cenário não poderia ser mais otimista. A taxa de investimento que atualmente é de 16%, o que não sustenta crescimento algum, iria para 22%. Ele acrescentou na conversa comigo que na sua visão pode chegar a 25%. Mas quem vai financiar essa taxa de investimento se o Brasil tem, como se sabe, baixa taxa de poupança?

- O mundo quer nos financiar. Está vendo agora principalmente as qualidades do país e os avanços que fizemos - disse ele.

Isso significa déficit em transações correntes. Quando um país cresce com financiamento externo tem mais déficit nas suas contas com o exterior. Para Ilan, o país sairá de 1,2% do PIB de déficit para 4,7% do PIB em 2016, com queda para 3,5% no final da década.

Parte do aumento do investimento será para as obras necessárias de infraestrutura para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas. Pelo cenário do banco, o Brasil terá de investir, só para as Olimpíadas, 0,7% do PIB por ano, nos quatro anos anteriores ao evento. Vai investir também US$55 bilhões para extrair o petróleo do pré-sal nos próximos dez anos. Quando acabarem os investimentos nas Olimpíadas, o Brasil começará a ter as receitas do petróleo do pré-sal, e isso é que reduzirá o déficit em transações correntes.

O economista diz que há recursos abundantes do mundo atrás de bons mercados onde o consumo possa aumentar. O Brasil se encaixaria perfeitamente nesse modelo, pela perspectiva de uma classe média em expansão.

A demografia ajudaria neste cenário. Nos próximos dez anos o Brasil estará aumentando o tamanho de sua população em idade de trabalhar, e será beneficiado pela queda da taxa de dependência. Essa taxa resulta da soma da faixa muito jovem da população e da mais velha, e o cálculo de quanto ela representa em proporção da população em idade ativa. Quando ela cai, significa que os que estão no mercado de trabalho têm menos dependentes e portanto maior capacidade de consumo e maior capacidade de poupança. Acontece nos países cuja população idosa é ainda pequena e o percentual de crianças está em queda.

Na economia, o banco prevê queda da taxa de juros. Uma pequena elevação no ano que vem, e depois queda persistente até uma taxa real de 3,5%. O real continuará valorizado, ajudando a manter a inflação baixa.

Na área fiscal, a previsão é de uma recuperação do superávit primário para 2,5% do PIB, mas não a volta aos percentuais mantidos durante os últimos anos. Ilan disse que, apesar de o governo ter tido queda forte da receita, a arrecadação vai aumentar nos próximos meses. Primeiro, por causa de programas como o Refis, apesar de seu efeito se esgotar no curto prazo. Segundo, pela própria retomada do crescimento.

- O gasto público continua sendo um desastre, mas haverá o aumento da receita determinado pelo ciclo da retomada. Se o governo fizer um ajuste fiscal forte em 2011, o país conseguirá consolidar esse cenário positivo. Se quiser estragar esse cenário, o governo pode ter um comportamento que leve os investidores a concluírem que o país não é tão estável como imaginavam, e isso os levará a investir menos no Brasil - diz Ilan Goldfajn.

Na projeção do banco, o mundo, neste pós-crise, crescerá a 4% em média na próximo década. Ilan explica que isso é a "falácia da composição". Ou seja, parece a volta ao período de crescimento anterior à crise, mas esse aumento do PIB global vai ser mais determinado pelos países emergentes, principalmente China, do que pelos países ricos.

Há economistas, como Nouriel Roubini, que estão temendo que esteja se formando uma nova bolha. Para se ter uma ideia, o preço do cobre aumentou mais de 120% este ano, apesar do aumento dos estoques mundiais do produto. As bolsas acumularam taxas fortes de crescimento, em muitos casos, como a brasileira, quase voltando ao nível em que estava.

- Eu não acredito em crise em W. Não acho que haverá uma nova crise. Em algum momento os Estados Unidos começarão a retirar os estímulos, mas terão um longo período de crescimento baixo. Acho que terão uma década meio perdida - diz.

O Brasil tem de fato várias vantagens neste momento, como a demografia, apontada por Ilan, ajustes já feitos e a queda da pobreza. Mas há ainda enormes obstáculos no caminho para um crescimento sustentado e o cenário externo é ainda muito cheio de incertezas. O curioso é que um dos pilares desse cenário tão benigno é um real forte. Justamente aquilo que o ministro Guido Mantega gostaria de eliminar, se pudesse.

Vinicius Torres Freire:: O naufrágio das palmeiras

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Emirado de Dubai ameaça calote, balança mercados, alguns bancos e revela mais inépcia na finança mundial

Onde fica Dubai? É um dos Emirados Árabes Unidos.

Mas onde mesmo? Na ponta oriental da península da Arábia. É aquele emirado que construía ilhas artificiais, em forma de palmeiras.
Algumas ilhas são vendidas para bilionários, algumas têm hotéis. Quem assiste a programas de celebridades e colunas sociais na TV brasileira deve ter visto reportagens promocionais em que figuras "pop" passeavam à tripa forra em Dubai. Pois é, esse emirado, Dubai, balança os mercados financeiros do mundo.

O governo do emirado sugeriu uma reestruturação da dívida da "holding" estatal que administra os negócios imobiliários, hoteleiros e de portos, a Dubai World, e uma moratória das dívidas de uma subsidiária. E daí? E daí que ninguém ainda entendeu direito o que Dubai pretende fazer. Para piorar, a sugestão de calote atingiu os mercados mundiais num dia de feriado no centro das finanças mundiais, os Estados Unidos. A reação previsível dos mercados é vender ativos de risco e encarecer o custo de fazer seguro contra calote de dívidas. Na dúvida, vende-se. As Bolsas caíram pelo mundo, as moedas de emergentes se desvalorizaram, o dólar também, os ativos brasileiros também. Enfim, a memória dos choques da crise de 2008 ainda está bem fresca.

Mas ainda pouco se sabe sobre o que Dubai fará de suas dívidas, o quanto dela entrará pelo cano e se a reestruturação será imposta aos credores. Alguns dos credores do emirado são os bancos de Abu Dhabi (outro emirado), o Credit Suisse e os britânicos HSBC, Barclays, Lloyds e RBS. Afora o HSBC, os britânicos na prática quebraram durante a crise de 2008.

Apenas não foram à breca e à lona de fato devido à estatização ou aos favores financeiros do governo britânico. Os entendidos em Dubai acham que a sugestão de moratória é apenas um balão de ensaio, para testar a reação de investidores.

Dubai vive de turismo, comércio (porto) e queria ser o centro financeiro do Oriente Médio. A Dubai World tem participações em vários negócios pelo mundo, como cassinos nos EUA e bancos no Reino Unido. Dubai investiu muito em infraestrutura e demais, aparentemente, em imóveis. O retorno não parece estar sendo bom. Na verdade, o colapso do mercado imobiliário do emirado foi um dos maiores do mundo. No dia 14 de dezembro, vencem US$ 4 bilhões de juros e o principal de títulos ("sukuks") da estatal de empreendimentos imobiliários, a Nakheel, braço da Dubai World -a Nakheel constrói casas e as ilhas em forma de palmeiras. O governo de Dubai quer pagá-los em maio de 2010. A Nakheel é da estatal Dubai World, que deve US$ 59 bilhões. O emirado e suas estatais devem ao todo US$ 80 bilhões. Se Dubai renegasse sua dívida total, tratar-se-ia de um calote menor apenas que o da Argentina, em 2001.

Como nem os entendidos em Dubai sabem se vai haver calote de fato, como não se conhece a reação dos mercados americanos, como não se sabe quanto os emirados devem a cada um de seus mais de 60 credores etc., fica difícil avaliar o tamanho do estrago causado pelo naufrágio das palmeiras. Mas está exposto mais um caso vergonhoso da grande competência dos mercados financeiros na alocação de capital.

Sinal vermelho para Zelaya

DEU EM O GLOBO

Corte Suprema de Honduras se mostra avessa à restituição do presidente deposto

Flávio Freire

Faltando três dias para as eleições presidenciais, o Congresso Nacional de Honduras recebeu ontem parecer da Corte Suprema daquele país com fortes indicações de que repudia o retorno ao cargo do presidente deposto, Manuel Zelaya, depois do pleito. Em documento encaminhado ao presidente do Congresso, Alfredo Saavedra, a Corte teria levantado suspeita de que a permanência de Zelaya na Presidência até 27 de janeiro, quando assume o novo mandatário, mergulharia o país numa instabilidade política ainda maior do que se vive hoje. O Congresso votará a possível restituição de Zelaya no próximo dia 2. A Corte já tinha se manifestado a favor do golpe, em 28 de junho, e contra a proposta de acordo, que visava formar um governo de unidade nacional.

Embora com discurso de que a Corte não tem autonomia para julgar o caso politicamente, o presidente do órgão, Jorge Riveras, não escondeu ontem que o governo interino hondurenho tem ali um aliado. Em entrevista ao GLOBO, ainda nos salões oficiais do Congresso, Riveras admitiu que o parecer é pontuado, entre outros argumentos, com os delitos que teriam sido cometidos pelo presidente deposto.

- Nós (no documento) fizemos referências aos delitos pelos quais ele (Zelaya) foi acusado pelo Ministério Público. Entre outros, estão traição à pátria, violação aos deveres de funcionários públicos, desobediência às ordens policiais e outros que me escapam neste momento - disse Riveras.

Uma fonte ligada à Corte disse ainda que o parecer tem um capítulo dedicado apenas à tentativa de se convocar uma Constituinte, o que levou o país ao golpe. Somado ao documento assinado por Riveras, o Congresso tem em mãos agora quatro pareceres que dariam apoio ao governo interino, comandado por Roberto Micheletti, que desde ontem se afastou do cargo para viabilizar as eleições.

Resistência à pressão internacional

Há dez dias, o Conselho de Direitos Humanos e a Procuradoria da República também analisaram a situação política do país, e teriam oferecido argumentos para que, no próximo dia 2 de dezembro, o Congresso Nacional vote contra à recondução de Zelaya ao cargo. Na terça-feira, o Ministério Público também se manifestou.

Para o presidente da Corte, Honduras não deve, neste momento, ceder à pressão internacional. O Brasil é um dos países que não pretende reconhecer o novo governo hondurenho.

- Há pressão internacional a todo instante. Mas aqui estamos aplicando a lei interna do nosso país - disse ele, garantindo ainda que o documento entregue ao Congresso também sugere novas medidas de segurança no país.

No entanto, ele preferiu não adiantá-las. Roberto Micheletti teria recebido ameaças de morte. Denúncias anônimas informam que ele sofreria um atentado no dia da eleição, segundo fontes do governo.

O posicionamento de diferentes instituições contra a restituição de Zelaya aumentou o clima de tensão entre seus apoiadores. Rafael Alegria, líder da Resistência, rebateu:

- Não entendo por que o Congresso Nacional pediu a opinião da Corte Suprema em um assunto político. A Corte deveria investigar e castigar os que tiraram o presidente Zelaya do país - disse Alegria, para quem os diferentes órgãos institucionais teriam unido forças para evitar um possível fiasco na eleição de domingo.

Enquanto, de um lado, apoiadores do governo interino estimam que uma grande maioria vai às urnas para escolher o novo presidente, Zelaya aposta na abstenção:

- Haverá abstenção, pois o povo não vai votar de forma maciça - disse à uma rádio argentina.

Segundo Alegria, "pelo menos 70% da população não quer saber das eleições".

A capital, Tegucigalpa, começa a receber observadores internacionais. Até domingo, mais de 300 deles devem se distribuir pelo país, de 8 milhões de habitantes. Entre eles, está o ex-presidente de El Salvador Armando Calderón:

- Confiamos que Honduras possa resolver seus problemas e consolidar sua democracia. Espero que o povo vote em massa - disse.

CHARGE

jornal do commercio (pe)

Juca Ferreira diz que jornalistas 'são pagos para mentir'

Ministro da Cultura reagiu a questionamentos sobre panfleto com lista de parlamentares que apoiam a pasta

Roberta Pennafort, de O Estado de S.Paulo

Folder tem deputados de vários partidos

RIO - A ocasião era festiva - o anúncio do novo Programa BNDES para o Desenvolvimento da Economia da Cultura (Procult), pelo qual será destinado R$ 1 bilhão para projetos culturais, até 2012. Mas os representantes do setor que foram ao banco na manhã de quarta-feira, 25, para prestigiar a iniciativa se depararam com outra discussão: a impressão, pelo Ministério da Cultura, de um panfleto, dirigido a eleitores, com uma lista de mais de 250 parlamentares que votam favoravelmente às iniciativas da pasta.

Logo depois do anúncio, feito pelo diretor de inclusão social e crédito do BNDES, Elvio Gaspar, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, foi questionado sobre o folheto, mas respondeu que preferia falar sobre o Procult. Quando os repórteres insistiram, Ferreira, que na terça-feira, 24, havia negado que o panfleto houvesse sido impresso pelo ministério, esclareceu que se trata de uma lista com nomes de vários partidos, e não só da base aliada. Ele atacou a imprensa, dizendo que os jornalistas "são pagos para mentir".

Ao ser questionado pelos repórteres porque, na terça-feira, havia dito que o material não fora financiado pelo ministério, Ferreira respondeu com irritação. "Só vou dizer isso: criaram um factoide e vocês são vítimas desses factoides. Eles criaram isso para atrasar a votação do vale", justificou, referindo-se ao Vale Cultura (cartão que dará R$ 50 mensais a trabalhadores para serem gastos com bem culturais).

Ferreira argumentou ainda que a publicação do material era legítima, por se tratar de material suprapartidário. "A frente (parlamentar) não teria tempo de publicar e pediu pra gente publicar. Tem ofício", disse. A lista, que teve tiragem de 4.500 exemplares a um custo de R$ 11 mil, tem deputados federais de todo o País, de partidos como PT, PSDB, PP, PV, PMDB, DEM e PDT.

Apoios

Ouvidos nesta quinta-feira, 26, dois representantes do setor cultural comentaram o assunto que tirou o ministro do sério. O presidente da Associação dos Produtores de Teatro do Rio, Eduardo Barata, assim como a presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livro, Sônia Machado Jardim, concordam que é importante para o eleitor interessado na área cultural saber o posicionamento dos parlamentares com relação a questões referentes a ela.

Como não viram o folheto - distribuído durante a votação do Vale Cultura, na terça-feira, na Câmara dos Deputados -, eles não quiseram falar especificamente sobre seu conteúdo. Barata, no entanto, ressalva que é preciso ter cuidado para que eleitores ingênuos não sejam manipulados. "Mas não acredito que tenha tido conotação eleitoral", disse.

"Como profissional, vivo de cultura, então eu gosto de ter a informação de quem está a favor do projeto de lei que aumenta o orçamento do ministério, do Vale Cultura, das mudanças na Lei Rouanet. É muito difícil acompanhar de perto, até porque os deputados mudam de opinião rapidamente", afirmou o produtor.

No meio editorial há quinze anos, Sônia, que é vice-presidente de operações da editora Record, também procura se manter informada. "Não sei se era propaganda política. Eu estou num setor que tem tão pouco recurso, que a gente deve buscar quem tenha uma plataforma que possa ajudar. Os deputados, senadores e vereadores em quem eu voto devem ter alguma coerência com meu pensamento", opinou. "Faz muito mais sentido eu dar o meu voto a um deputado que entenda de cultura do que para um da bancada ruralista."

Além do setor teatral e editorial, o do cinema também estava representado no BNDES. O Procult vai aceitar propostas também nas áreas de patrimônio histórico, música, jogos eletrônicos e dança. Até então, o banco só financiava o setor audiovisual (o BNDES é dos maiores patrocinadores do cinema brasileiro, junto com a BR Distribuidora).

Garcia diz que postura dos EUA incentiva golpe preventivo

Para assessor de Lula, posição norte-americana pode abrir precedentes e iniciar instabilidade em Honduras

Denise Chrispim e Marin Lisandra Paraguassú, de O Estado de S. Paulo

MANAUS - Em mais um sinal de desaprovação do Planalto à política dos Estados Unidos para Honduras, o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse nesta quinta-feira, 26, temer que a posição americana introduza na América Latina a tese do golpe preventivo. Marco Aurélio insistiu que essa conduta traz o objetivo de "branquear" (legitimar) o golpe e que seus articuladores - os EUA e alguns países alinhados da região - serão os responsáveis por um longo período de instabilidade em Honduras.

"Nossa preocupação é que introduzam a tese do golpe preventivo na América Latina", declarou o assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antes da fracassada tentativa do Brasil de reunir os líderes de países amazônicos para uma discussão sobre mudança climática. "Para os Estados Unidos, é bom ter uma boa relação com a América Latina", advertiu, laconicamente, ao ser questionado sobre a percepção do governo de facto de Honduras de que o reconhecimento americano das eleições seria suficiente para o país voltar à normalidade.

Segundo o assessor, essa questão é mais relevante que a decisão da Suprema Corte de Justiça de Honduras de que a destituição do presidente Manuel Zelaya é definitiva. A palavra final da corte, para ele, é apenas um "jogo de cartas marcadas" com o Congresso. "Não há novidade." Marco Aurélio enfatizou sua frustração com a conduta "ideológica de certo setor da diplomacia americana" ao lidar com a crise política hondurenha. Agregou que a política externa dos EUA pode ser acusada de qualquer coisa, "menos de ser amadora" e que o tempo para uma solução para a crise hondurenha está se esgotando. "Se (os americanos) estão pensando em empurrar (a solução da crise de Honduras) com a barriga, o tempo é curto."

CRISE

Alegou ainda que sua decepção vem sendo compartilhada publicamente pelo chanceler Celso Amorim e o secretário-geral das Relações Exteriores, Antonio Patriota. No entanto, insistiu que "não há crise" entre Brasil e EUA. Na quarta-feira, 25, diante de suas declarações à imprensa, Marco Aurélio recebeu um telefonema do general James Jones, conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca.

Nesta quinta-feira, 26, depois de uma hora de conversa com a secretária de Estado, Hillary Clinton, Amorim afirmou que "não há divergências maiores" nos princípios que balizam as posições dos dois países sobre o tema e que o Brasil não fará dessa questão um "ponto de confrontação" com Washington. Segundo o chanceler, a diferença estaria na visão brasileira de que o golpe de Estado não pode nunca legitimar uma mudança política.

Na avaliação do Palácio do Planalto, a indicação dos EUA de que podem vir a reconhecer como legítimo o presidente que será eleito em Honduras no próximo domingo abriria um enorme precedente para outros golpes de Estado na região. Marco Aurélio mencionou os riscos registrados ainda neste ano na Guatemala. Conforme afirmou, o Brasil somente reconhecerá o resultado das eleições de Honduras se o presidente Manuel Zelaya for restituído a seu cargo. O governo brasileiro registra ainda com apreensão o alinhamento de países latino-americanos - em princípio, Panamá, Colômbia e Peru - à posição americana sobre Honduras. Um das consequências seria a divisão entre os latino-americanos que, no mês passado, haviam firmado uma posição comum sobre a necessária volta de Zelaya à Presidência para que o pleito de domingo seja legitimado.

Outra consequência seria a fragilização da credibilidade da Organização dos Estados Americanas (OEA). Para o chanceler Amorim, o fato de o Brasil e outros países não se alinharem aos EUA na OEA não seria um problema, uma vez que divergências são notadas nas votações das Nações Unidas. "Não precisamos ficar com essa obsessão de que, se não vota com os EUA, algo de ruim vai acontecer, vai cair um raio na nossa cabeça. Não é assim", afirmou Amorim. Marco Aurélio, entretanto, acredita que os EUA terão de "refletir sobre a divisão da América Latina e a credibilidade da OEA", além de assumir a responsabilidade pela instabilidade política a que condenarão Honduras, antes um "Estado tranquilinho."

'Não é necessário concordar sempre', diz Amorim sobre carta do Brasil aos EUA

Ministro das Relações Exteriores disse que carta enviada é amistosa.

Correspondências tratam do Irã, Honduras e metas para o clima.

Da Reuters

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou a seu colega norte-americano Barack Obama resposta contendo os temas que Brasil e Estados Unidos poderiam tentar chegar a um maior entendimento, afirmou nesta quinta-feira (26) o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Amorim disse que a carta tem um tom amistoso e franco, assim como a correspondência enviada a Lula por Obama no fim de semana.

"Não é necessário concordar sempre. O importante é conversar", disse Amorim a jornalistas em Manaus, antes do início da Cúpula dos Países Amazônicos e da França sobre a questão climática. "O Brasil tem essa obsessão de que se ele não concorda com os EUA vai cair um raio na nossa cabeça. Não é assim", acrescentou o chanceler brasileiro.

As duas cartas, que não foram tornadas públicas, detalham o posicionamento de ambos os países sobre a suposta tentativa do Irã de obter armas nucleares, sobre as negociações para liberalização do comércio global, a situação política de Honduras e a reunião a ser realizada em Copenhague em dezembro sobre o combate ao aquecimento global.

A correspondência do presidente americano - enviada no dia anterior ao encontro de Lula com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad - levou a uma reação forte do assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, na terça (24), quando ele disse que o governo de Obama tinha um “sabor de decepção” para o Brasil.

Oriente Médio e Haiti

Amorim disse ainda que a carta do presidente Lula a Obama também relata a posição brasileira sobre o Oriente Médio e o Haiti.

"Abordou a questão da Palestina e do diálogo que ele manteve com os chefes de Estado e de governo que vieram ao Brasil recentemente", disse Amorim. Sobre o Haiti, Lula pediu ajuda dos EUA para reconstruir o país. "No Haiti, já há uma cooperação forte entre Brasil e EUA", afirmou.

Negando que haja uma crise nas relações bilaterais, Amorim disse que teve uma conversa de cerca de uma hora nesta quinta-feira com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, e que o assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, também conversou recentemente com o assessor de Segurança Nacional dos EUA, Jim Jones.

Brasil não reconhecerá novo governo hondurenho, reforça porta-voz de Lula

Eleitores vão às urnas no domingo escolher novo presidente de Honduras.

Brasil não fará novos contatos para tentar impedir eleição no país, diz.

Jeferson Ribeiro Do G1, em Brasília

O porta-voz da Presidência da República, Marcelo Baumbach, descartou nesta quinta-feira (26) a possibilidade de o Brasil mudar de posição e reconhecer o resultado da eleição presidencial de Honduras, marcada para o próximo domingo (29).

“O que posso dizer é que a posição brasileira não mudou, não há razões para que ela mude e o governo brasileiro não vai reconhecer governo eleito em Honduras”, salientou.

O Brasil sempre defendeu que o governo interino, comandado pelo presidente Roberto Michelleti, deixasse o poder e que o presidente deposto, Manuel Zelaya, retomasse a presidência e assumisse o compromisso de não concorrer à eleição deste domingo, mas as negociações comandadas pela Organização dos Estados Americanos (OEA) não resultaram em acordo nesse sentido. Zelaya continua abrigado na embaixada brasileira.

Segundo Baumbach, não há prazo para que o presidente deposto deixe a embaixada brasileira em Honduras, onde está abrigado desde 21 de setembro. “O problema, como já disseram outras autoridades brasileiras, não é a estadia do presidente Zelaya na embaixada, o problema é ele estar fora do palácio de governo”, afirmou.

Baumbach disse ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve manter diálogos com presidentes da Cúpula dos Países Ibero-Americanos, em Lisboa, em Portugal, nesse final de semana. Contudo, o porta-voz disse que o Brasil não trabalhará para que seja feito algum tipo de comunicado oficial dos chefes de estado sobre a questão.

Ele descartou também novas gestões do governo brasileiro junto à OEA ou outros países para que as eleições hondurenhas sejam adiadas. “O Brasil não pretende fazer novas propostas ou gestões sobre as eleições em Honduras. Não se prevê nenhuma nova ação nesse momento”, comentou.

Bom dia! - roda de Choro na Praça ® Esquerdinha na gafieira de Altamiro Carrilho / na flauta E. Gordilho