sábado, 22 de agosto de 2009

''PT desaparece como partido ideológico''

Daniel Bramatti
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Para especialista, crise do Senado demonstra que petistas moldam seu comportamento às necessidades de Lula

Para o cientista político Leôncio Martins Rodrigues, a atuação da bancada petista no salvamento político do presidente do Senado, José Sarney (PMDB), é uma mostra da desaparição do PT como partido ideológico, "que seria diferente de tudo que está aí".

Ex-professor titular do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Rodrigues afirma que os petistas moldaram seu comportamento às necessidades de Lula, já que também dependem politicamente do presidente.

Em seus primeiros anos, o PT se apresentava como defensor de uma nova ética na política. Que balanço é possível fazer após o envolvimento de seus líderes em escândalos e após o partido ter se comprometido com o salvamento político de Sarney?

O PT completou a trajetória que tendem a seguir os partidos que, da oposição, chegam ao poder e passam a carregar, ao mesmo tempo, as responsabilidades e as benesses do poder. O contraste entre os dois momentos tende a ser mais forte nos partidos de esquerda, que prometem muito e que, inicialmente, sinceramente achavam que conseguiriam resolver substancialmente a vida dos mais pobres.

Na sua opinião, o socorro a Sarney terá efeitos eleitorais?

Algum efeito negativo certamente haverá, especialmente entre os eleitores urbanos de maior escolaridade. Mas é difícil calcular a extensão das perdas. Lula e outros dirigentes petistas possivelmente calculem que as vantagens vindas da aliança com o PMDB e com o grupo de Sarney compensem perdas no eleitorado mais escolarizado.

O PMDB vale o desgaste?

A parte do PT mais fiel ao governo provavelmente acha que compensa permanecer obediente a Lula. Mas tenho a impressão de que o PMDB, com ou sem Sarney e seus aliados no Senado, não romperia com o presidente. Há muita coisa em jogo para que o PMDB se deixe conduzir por emoções ou por amor próprio, tanto mais que dificilmente Sarney sofreria de seus colegas alguma punição mais dura além da perda da presidência. Embora um pouco desgastado, ficando no Senado, logo estaria de volta, como Renan Calheiros mais recentemente.

Com a eventual conquista do eleitorado de baixa renda, beneficiado por políticas sociais do governo, o PT tenderia a se preocupar cada vez menos com o eleitorado mais informado e exigente do ponto de vista ético?

Tudo está muito confuso. O PT vive uma situação difícil, que tem alguma semelhança com a situação vivida na época do mensalão. No momento, o melhor para o PT é o silêncio, tentando manter as bases populares do partido, ou mais exatamente, o apoio a Lula. É esse apoio que é decisivo na estratégia dos petistas e que molda sua conduta no Congresso ou no Executivo. O prestígio de Lula foi o tapete mágico que permitiu a ascensão de um pessoal político que vinha de baixo. Mas, apesar de os senadores petistas curvarem-se às diretrizes do governo, é difícil acreditar que amem o senador que ajudaram a livrar de todas as acusações. De todo jeito, para a parcela da opinião pública que não deve favores ao governo, o PT desaparece como um partido ideológico, que seria diferente de tudo que está aí.

Marina Silva tem condições de atrair o eleitorado petista descontente com os rumos do partido? Essa parcela, na sua opinião, é significativa?

Em princípio, creio que sim. Sua imagem é boa e seria um contraponto feminino inesperado e desagradável para Dilma, que, ao contrário da senadora acreana, tinha militado muito pouco tempo no PT e não tem experiência de campanha. O eleitor comum e desinformado vai se fixar no desempenho e na imagem que as duas passarem, especialmente na TV. Mas, como quase todo mundo sabe, eleições não se ganham apenas por aquela parte da atuação dos candidatos que é visível e exposta aos eleitores. É preciso dinheiro - muito -, máquina partidária, diretórios, marketing adequado e, não nos esqueçamos, apoio de parcelas importantes da classe política. No momento, é impossível ter uma ideia mais precisa da atuação das duas.

Suplantando o Congresso

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


Uma das razões para a permanente crise em que vive o Congresso Nacional, afora as questões de decoro parlamentar e nepotismo, é a maneira como o governo encaminha os principais temas políticos, retirando os parlamentares da discussão da maioria deles. Ou o assunto é encaminhado através de medida provisória, ou discutido diretamente com as centrais sindicais e organizações da sociedade civil.

Lula já disse que é impossível governar sem medidas provisórias, e recentemente a pauta do Senado ficou travada por sete meses devido a medidas provisórias em excesso. A contabilização oficial mostra que o governo Lula tem editado uma média de mais de 4,5 medidas provisórias por mês, ultrapassando seu antecessor Fernando Henrique Cardoso, que editou em oito anos 365, enquanto Lula já editara 345 até janeiro deste ano.

Mas é a negociação direta, ultrapassando a prerrogativa do Congresso, que traz mais prejuízos às relações institucionais, subvertendoas e enfraquecendo a representação parlamentar. As negociações fisiológicas tomam o lugar, então, dos debates programáticos.

A primeira tentativa foi usar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social para dar ao Congresso um “prato feito”, com as reformas estruturais como a previdenciária e até mesmo a política.

A reação foi imediata, e o CDES acabou se transformando no que nunca deveria ter deixado de ser, um conselho consultivo do governo, formado por representantes do empresariado, das centrais sindicais e da sociedade civil.

Outros assuntos, no entanto, são tratados de maneira terminativa diretamente entre o governo, as centrais sindicais e as ONGs, cabendo ao Congresso apenas ratificar as decisões.

Lula gaba-se de que “nunca desde que o Brasil foi descoberto as centrais sindicais foram tratadas como eu trato”.

E é verdade, só que esse tratamento excepcional é dado em detrimento do Congresso, que fica sem agenda para negociar com a sociedade que representa, e um bom exemplo é o aumento do salário mínimo.

O acordo que fixou que o aumento será dado com base em um índice que engloba a inflação do último ano, mais o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do ano anterior, foi feito diretamente com as centrais sindicais.

Da mesma forma, o aumento dos aposentados que ganham mais de um salário mínimo, que ficou para o ano que vem, foi negociado com representantes dos aposentados e das centrais sindicais.

O pior é que essas negociações, na maioria das vezes, são uma farsa, com o governo combinando com os sindicatos o quanto pode dar, e os sindicatos fixando essas metas como reivindicações suas.

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, exacerbou essa maneira de governar ao assinar recentemente portaria conjunta de sua pasta e do Ibama que dá às entidades sindicais de trabalhadores parcela de decisão no processo de licenciamento ambiental de um empreendimento empresarial.

A portaria — assinada durante o 10 oCongresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em São Paulo —, obriga os empreendedores a incluir no Estudo de Impacto Ambiental e no Relatório de Impacto Ambiental (Rima) capítulo específico sobre “alternativa de tecnologias limpas para reduzir os impactos na saúde do trabalhador e no meio ambiente, incluindo poluição térmica, sonora e emissões nocivas ao sistema respiratório”.

O mais recente embate entre o governo e as empresas privadas tem em sua raiz justamente a participação de ONGs e da Central Única dos Trabalhadores (CUT) na rediscussão de toda a política nacional de comunicações.

A Conferência Nacional das Comunicações (Confecon) está sendo convocada pelo governo com a participação de organizações da sociedade civil, como Intervozes, FNDC, Pró-comunicação, a CUT e as representações de entidades empresariais.

Na impossibilidade de se chegar a um acordo sobre o escopo da conferência e, sobretudo, sobre o peso do voto de cada representação, seis das oito entidades empresariais saíram da Confecom: a Abert (de radiodifusores), Abranet (dos provedores), ABTA (das TVs por assinatura), Aner, Adjori e ANJ (da mídia impressa).

Curiosamente, um dos organizadores da Conferência é o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, que, na sua encarnação anterior como jornalista, teve um debate com o sociólogo Betinho, em junho de 1996, sobre o papel das ONGs.

Naquela ocasião, Franklin considerava “qualquer tentativa de contornar o Parlamento, ou de achar que se definem políticas públicas sem passar por ele, não é uma atitude democrática. Isso investiria contra a essência do Estado democrático, que é o voto”.

Para ele, havia o perigo de, “a pretexto de dar voz a esses interesses fragmentados, se criarem condições para que a vontade de pequenos grupos seja imposta, e o voto, base da democracia, acabe relativizado e deixado de lado.” A participação das ONGs nos conselhos, quando ultrapassa os limites de um simples grupo de pressão ou de assessoramento, é delicada, afirmava na ocasião Franklin Martins.

Ele dizia acreditar que “ao se apresentar como representante da sociedade civil e participar de reuniões com direito a voto, as ONGs negam o sistema representativo”.

E concluía seu pensamento: “Não vejo a menor autoridade para que falem em nome da sociedade. Quem fala em nome da sociedade é quem tem voto para isso”.

Hoje, essas afirmações soam como uma crítica à atuação do governo como um todo, e à sua especificamente.

O discurso helicoidal do PT

Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Lula foi explícito na quinta-feira: "Se a pessoa quer sair do partido, não está confortável, é direito da pessoa".

Um dia depois, metamorfoseou o pensamento numa carta de 235 palavras a Aloizio Mercadante. No texto, conclamou o petista a permanecer como líder no Senado: "Fique na liderança. Esse é um pedido sincero de um velho amigo".

O episódio mostra um presidente insincero ou numa crise de transtorno bipolar. Num dia, vale o ditado "a porta da rua é a serventia da casa". Depois, aparece o Lula bonzinho e contemporizador.

Com sua indignação seletiva, Mercadante acreditou no Lula epistolar. A carta presidencial fez o senador sepultar sua aflição pela absolvição de José Sarney.

Ontem, da tribuna do Senado, Mercadante usou um raciocínio helicoidal para revogar sua renúncia irrevogável anunciada por ele mesmo 24 horas antes.

Cinismo à parte, essa história é a superfície de um grande conchavo de bastidor. Cada um cumpre sua função. Lula simula desejar a manutenção de Mercadante como líder. É conveniente ter um vassalo nesse cargo, sempre pronto a ser humilhado quando necessário.

Mercadante surge como um Hamlet de província e suas dúvidas existenciais. Protagoniza cenas de teatrão stanislavskiano. Exala autocomiseração com seu andar macambúzio. O semblante triste faz o serviço para engambelar parte do eleitorado ingênuo ainda crente na ética defendida pelo senador no início de sua carreira.

Justiça seja feita, Mercadante não está só no papel de "petista ético traído" (sic). O senador Flávio Arns ganha o prêmio de melhor ator coadjuvante. Não há registro de repulsa de Arns quando o PT se lambuzava com o mensalão, dólares na cueca ou salvava Renan Calheiros.

Tudo somado, só com muita boa vontade para enxergar algo aproveitável na atual bancada petista.

Todos "se lixam"

Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


SÃO PAULO - Quer entender por que não acontece nada com congressistas envolvidos em escândalos, por mais que haja contundentes evidências de que violam o decoro dia sim e o outro também?

É só prestar atenção aos números da pesquisa Datafolha, em que 74% dizem querer o afastamento de Sarney. É ilusório.

Detalhemos o resultado: apenas 78% tomaram conhecimento das denúncias. Apenas?, perguntará você. Sim, apenas. Neste caso, não se trata de campanha da mídia impressa, ao contrário do que pretende o clã Sarney, que até buscou -e conseguiu- obter a censura de um jornal, o "Estadão", o que necessariamente se estendeu aos demais meios de comunicação.

As denúncias estão em toda a parte, inclusive nos meios realmente de massa (TV e rádios).
Que quase um quarto do eleitorado não tenha tomado conhecimento delas diz tudo a respeito da cidadania no Brasil. Mas há detalhes ainda mais deprimentes: dos 78% que, sim, tomaram conhecimento das denúncias, só 24% se dizem bem informados.

Tem-se, pois, que pouco menos de 19% do eleitorado (24% de 78%) está em condições de indignar-se, porque, para isso, é preciso estar antenado, certo?

Inverte-se aqui a frase daquele deputado que dizia "lixar-se para a opinião pública". A tal de opinião pública é que se lixa para as denúncias, possivelmente porque prevalece a ideia de que todo político é ladrão. Uma acusação a mais ou a menos contra um político a mais ou a menos não faz, portanto, a mais remota diferença.

Ah, os que se dizem petistas desmentem o argumento calhorda de que há uma perseguição a Sarney para atingir Lula. São eles, com 73%, os vice-campeões em cravar "sim, Sarney está envolvido", acima da média (66%) e atrás apenas dos tucanos. Aceitam, pois, que a "perseguição" é dos fatos.

O Congresso virou cemitério de multiuso

Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL


Não apenas o Senado mas o Congresso, com o governo em parceira suicida, estão tentando escapar da crise da roubalheira parlamentar pela porta dos fundos. Não basta sair de cena sem enterrar o defunto. E é o que desde esta semana passou a ser adotado, pelo governo e a oposição, com espaço para o presidente Lula sepultar o maior escândalo dos últimos tempos no cemitério de multiuso, escavado na Praça dos Três Poderes.

O cansaço derruba a teimosia em prolongar um bate-boca que já passou da conta, com a repugnância da distinta plateia, dos que pagam o ingresso e sustentam a bandalheira e o elenco de tão contraditórios desempenhos. Com o rosto suado na foto da visita a Natal, na viagem do dia para inaugurar uma escola técnica, empunhando um imenso quadro que é redondo, presente da gentileza potiguar, o presidente Lula em mangas de camisa para aliviar o calor nordestino falou aos repórteres para virar pelo avesso a avaliação dos diversos aborrecimentos de uma semana azarenta. E aos tropeços com a evidência, tingiu as afirmações mal equilibrado nas pernas de pau: “Não vejo crise no PT. O PT continua forte, com muitas possibilidades” – o que é uma conclusão óbvia que briga com a premissa.

Elogiou a senadora Marina Silva (AC), que acaba de se desligar do PT pelas mesmas razões que pedira demissão do Ministério do Meio Ambiente: segundo Lula porque quis; segundo a ex-petista e ex-ministra, porque “este é um governo insensível às causas sociais” E não havia mais sentido em ficar no partido para convencer o PT da importância da causa ambiental.

Ora, em todos os capítulos da novela que começa com o erro inicial de nomear uma militante da defesa ambiental para ministra de um governo que pende como árvore na tempestade para a derrubada para o desenvolvimento da pecuária, o plantio da soja, a construção de hidroelétricas. Lula desprezou a saída dos dois senadores petistas e os resmungos repetentes do líder da bancada, senador Aloizio Mercadante (SP), que já engatou a marcha a ré para aceitar o convite para um encontro com Lula.

O senador paranaense Flávio Arns deixou o partido, anunciando o desligamento na reunião do Conselho de Ética do Senado que livrou do processo todos os acusados. Transformar derrota em vitórias é um desafio para qualquer liderança. No caso de Lula e da sua candidata, a ministra Dilma Rousseff, os índices recordistas de aprovação popular do presidente Lula, acima dos 80%, é alavanca para a convicção da vitória. Pela primeira, com a sombra de ameaça com a entrada da ex-ministra Marina Silva, como candidata para sustentar a prioridade da preocupação ambiental, traz um novo tema para arejar a campanha, que prometia mais uma repetição das duas últimas, com a eleição e a reeleição de Lula. Ainda muito distante de uma solução é a crise ética que lambuzou o Legislativo, com a praga da desmoralização. Um caso com a sua singularidade: a saída está à vista, é a única, mas ainda inviável. Só quem não quer ver não enxerga: o Congresso só se reconciliará com a opinião pública se a folgada maioria dos eleitos nas urnas de 3 de outubro de 2010 assumir o compromisso durante a campanha, mostrando o rosto no horário de propaganda eleitoral – em rede de televisão e de emissoras de rádio, em declarações aos jornais, revistas, na internet – de, como primeira medida da reforma política, acabarem com todas as mordomias, sem exceção, incluindo as passagens mensais para o fim de semana nas bases eleitorais, com verba a imoral indenizatória, celulares pagos pela Viúva, verba para pagamento de hotéis, para a compra de jornais e revistas, enfim para a farra que acabou no desmoralizante escândalo da roubalheira que envergonha o país.

O velho Congresso de antes da mudança da capital para Brasília não pode ser comparado com o atual, sem os descontos de quase meio século em que o mundo mudou. Mas cada caso tem as suas peculiaridades. E a evocação no embalo da saudade do velho repórter com 60 anos e quebrados de militância ininterrupta na cobertura política são pode nem quer fugir do exame dos contrastes. O Senado no majestoso Palácio do Monroe, derrubado para a construção de uma garagem subterrânea, e a Câmara dos Deputados no Palácio Tiradentes, sede da Assembléia Legislativa, com seus 200 deputados, era de uma sobriedade de convento diante do que está aí. Os parlamentares ganhavam os seus subsídios mensais, os extras das sessões extraordinárias, e só. Muitos moravam em hotéis modestos no Catete, Flamengo, Botafogo, e nem todos tinham carro. Nas férias parlamentares, o pagamento em dobro garantia a compra de passagens aéreas ou em ônibus para o descanso com a família.

O tempo não anda para trás. Mas, ou este Congresso cria juízo e acaba com as mordomias, ou esta farra acaba mal.

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Aécio: Brasil precisa de nova construção política

José Araújo
DEU EM O GLOBO

Governador critica governo do PT; FH elogia possível candidatura de Marina Silva

ARACAJU e RIO. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, pré-candidato tucano à Presidência, criticou ontem o governo do PT e defendeu uma nova ética na política: —O Brasil precisa de uma nova construção política, ética, séria e com propostas absolutamente claras, porque o governo do Partido dos Trabalhadores não tem mais um projeto para o país; tem muito mais hoje um projeto de poder, o que tem levado o partido, na verdade, a contradizer de forma muito forte o seu passado.

Aécio também acusou o PT de aparelhar a máquina pública e torná-la ineficiente: — O que assistimos no Brasil, nos últimos anos, foi ao aparelhamento da máquina pelo PT, acompanhado por grande ineficiência dessa máquina — disse Aécio, que participou de seminário organizado pelo PSDB em Aracaju.

No Rio, o ex-presidente Fernando Henrique elogiou ontem a possível candidatura à Presidência da senadora Marina Silva, que deixou o PT e deverá se filiar ao PV: — É uma pessoa de valor, séria.

Não vou discutir se ela saiu do partido. Ela se apresentar como candidata e permitir que haja um debate sobre desenvolvimento sustentável é um avanço (...) Acho que agora todos os candidatos vão ter que discutir com mais seriedade a questão do desenvolvimento sustentável, do aquecimento global. E isso é positivo. Então, não quero julgá-la politicamente — disse o ex-presidente

FHC diz que candidatura de Marina é um "avanço"

DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Ex-presidente expressa dúvidas sobre o êxito da senadora na eleição de 2010

Tucano considera porém que sua presença obrigará os candidatos a "discutir com mais seriedade" os problemas ambientais

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que considera um "avanço" a possível candidatura da senadora Marina Silva (sem partido-AC) ao Planalto por abrir "debate sobre as questões do desenvolvimento sustentável".

Apesar de classificar a ex-petista como uma "mulher séria", o tucano manifestou dúvidas sobre os resultados eleitorais da provável candidata do PV.

Para ele, o sucesso dela não dependerá de "apoio ou dinheiro": "[Marina] vai ser capaz de falar com o país, com vocês, com essas máquinas [filmadoras e fotográficas] que assustam a gente? Transmitir uma mensagem que o povo capte? Se for capaz, ganha voto. Se não, [mesmo] com todo apoio do mundo, não ganha voto".

Mas afirmou que a presença dela impõe a discussão de temas como aquecimento global: "Não acho que seja fácil para ela em termos de resultados eleitorais, mas todos os candidatos vão ter que discutir com mais seriedade a questão do aquecimento global, do desenvolvimento sustentável".

Incógnita

Na última pesquisa Datafolha, Marina atingiu 3% das intenções de voto. O governador José Serra (PSDB) lidera com percentuais que variam entre 32% e 44%, de acordo com o cenário. A ministra Dilma Rousseff (PT) obtém entre 16% e 24%; o deputado federal Ciro Gomes (PSB), entre 14% e 23%; e a vereadora Heloísa Helena (PSOL), entre 12% e 24%.

Para FHC, ainda é cedo para mensurar o impacto da candidatura da ex-ministra do Meio Ambiente. Questionado se isso ajudaria o candidato do PSDB, afirmou: "Não sei. Tomara".
Já o comando do PSDB avalia o lançamento da candidatura de Marina como positivo.

Associada à de Ciro Gomes (PSB-CE), a candidatura do PV quebrará a polarização que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentava imprimir à campanha já no primeiro turno. A avaliação é que tanto Marina como Ciro vão expor críticas ao governo federal, impondo obstáculos à candidatura de Dilma.

O tucanato também avalia que a aproximação com o ex-presidente Fernando Collor de Mello e o esforço para consolidação da aliança com o PMDB produziram desgastes na imagem do PT. O PSDB está disposto a vincular a imagem de Dilma à de Sarney e explorar a saída de Marina como uma demonstração de insatisfação com os rumos do PT.

A candidatura de Marina, que saiu esta semana do PT criticando a política ambiental do governo Lula, foi o único assunto político que FHC aceitou tratar após participar de reunião da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia.

Ele afirmou que, durante seu governo (1995-2002), Marina, na oposição, fazia "crítica que podia compartilhar": "Conheço a Marina há muitos anos, foi oposição ao meu governo. Mas isso não a limitava a enviar cartas muito boas, que tenho guardadas até hoje", declarou.

FHC afirmou que manteve contato com a senadora mesmo quando ela esteve no Ministério do Meio Ambiente. "Quando ela tinha dificuldades, em momentos de votação, e precisava de apoio da oposição, ela me ligava. Quando podia eu ajudava, porque é uma mulher séria", afirmou o ex-presidente.

Ao PSOL Heloísa diz não saber se concorrerá ao Planalto em 2010

Catia Seabra
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Vereadora elogiou Marina, a quem chamou de "militante de esquerda exemplar"

Ainda indecisa sobre seu destino político e tecendo elogios à senadora Marina Silva, a quem chama de "militante de esquerda exemplar", a vereadora Heloísa Helena (AL) apresentou ontem, ao comando do PSOL, restrições à ideia de concorrer à Presidência no ano que vem.

A possível candidatura de Marina, admitiu, é um fator a ser considerado. Numa reunião com a Executiva, Heloísa condicionou a candidatura à unidade do PSOL, lembrou o laço com Marina e reconheceu que ambas têm perfil tão parecido que podem confundir o eleitor.

Mesmo se dizendo sensível "ao momento histórico da esquerda", Heloísa pediu que a decisão ficasse para o fim do ano. O PSOL deverá aprovar amanhã, em congresso, sua pré-candidatura. Mas, mantida a proposta dos aliados de Heloísa, deixará em aberto a hipótese de negociação com o PV.

"O partido não pode se considerar uma igrejinha fundamentalista, onde só seus quadros partidários podem disputar cargos importantes", disse Heloísa, após discursar em congresso do partido.

Pela manhã, ela se queixou dos ataques que sofreu do próprio partido ao longo do processo eleitoral. Contrária à descriminalização do aborto, ela foi alvo de críticas das mulheres do PSOL.
"Depois da eleição, quiseram me ver aniquilada", reclamou ela, sugerindo que o partido apresente um programa para, daí, escolher quem pode representá-lo.

"Talvez não seja eu a melhor representante do projeto de esquerda", afirmou ela, para quem "ninguém pode forçar um quadro partidário a defender uma bandeira".

Heloísa disse ainda que qualquer decisão dependerá do congresso do PSOL, neste fim de semana em São Paulo. Seu discurso incluiu até uma ameaça velada de saída do partido.

Líder da corrida pelo Senado em Alagoas, ela disse que não se ilude com os números e previu disputa dura no Estado. À tarde, reproduziu em discurso as críticas expostas à Executiva.

No congresso, após receber uma espada da deputada Luciana Genro (RS), perguntou se o partido não cometia "calúnias malditas ou infames, de guerras caluniosas pela internet que tentam aniquilar personagens políticos do partido".

"Não é possível que há poucos meses não tinha unidade e agora tem por causa do Datafolha.

A unidade não pode ser artificial." Na pesquisa Datafolha recente, Heloísa tem de 12% a 24% das intenções de voto.

No fim da noite, e numa demonstração de fissura partidária, uma corrente do PSOL lançou o nome de Plínio Arruda Sampaio para a Presidência.

Aécio: ataque direto ao PT

Juliana Cipriani
DEU NO ESTDO DE MINAS


Aécio diz que o partido de Lula se desfigurou e que a única preocupação da legenda é manter a "república sindicalista" que tomou parte da máquina pública

No último dia de viagem ao Nordeste, onde se encontrou com lideranças locais e apresentou suas propostas como pré-candidato à sucessão presidencial, o governador Aécio Neves (PSDB) subiu o tom das críticas ao governo e ao partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo Aécio, depois de adotar um discurso diferenciado sobre a ética no país, que levou os petistas ao Palácio do Planalto, o PT se desfigurou no governo e abriu mão de suas principais bandeiras para permanecer no poder.

Para o governador, o partido passa por um momento contraditório, pois não tem hoje um projeto de país. “Reconheço que o PT teve um papel importante na vida democrática do país, não nego. Mas, no governo, o PT se desfigurou desde a época do mensalão e, agora, pela sanha, pelo afã de se manter no poder. O PT abre mão de alguns preceitos que o levaram ao poder, sobretudo no campo ético”, afirmou. A única preocupação do partido hoje, na avaliação do tucano, é “manter a república sindicalista que tomou conta de parte da máquina pública federal”.

O afastamento ideológico, de acordo com Aécio, “deixou companheiros pelo caminho”, como a senadora e ex-ministra Marina Silva, cotada para ser candidata a presidente pelo PV. Apesar de também comandar um governo de coalizão, com 14 partidos, o tucano diz que, em Minas, e nas gestões do PSDB, a divisão de espaços é diferente, pois não baseia o preenchimento dos cargos somente na indicação. “É natural que aliados participem, mas não dessa forma, onde os aliados impõem nomes, chantageam para votar em determinado projeto. Acho que é possível melhorarmos o padrão ético nas relações político-partidárias hoje no Brasil”, disse.

Aécio esteve ontem em Fortaleza e Aracaju, continuando suas visitas para se fortalecer no Nordeste, onde é menos conhecido. O governador teve encontros com lideranças tucanas, do PPS, DEM e parte do PMDB. Aproveitou para repetir seu discurso de aproximação com Minas Gerais, reforçando a necessidade de um atendimento prioritário para a Região Nordeste. O tucano lembrou que seus programas para os vales do Jequitinhonha, Mucuri e Norte de Minas poderiam servir como exemplo de ação para o desenvolvimento de áreas pobres do país.

Propostas

O desafio do PSDB, segundo Aécio, é apresentar novas propostas para uma era “pós-Lula”.
Também não adianta, segundo ele, ficar brigando por paternidade de programas, como o Bolsa-Família. “Agora a grande questão é o que ficou por fazer. Então, mais do que ficar negando o que esse governo fez, nós temos que apontar o dedo na direção daquilo que ficou pelo caminho”, afirmou. Ainda sobre o Bolsa-Família, Aécio disse que a intenção do PSDB é manter a transferência de renda, mas com um enfoque diferente, trabalhando a capacitação dos usuários de acordo com potencialidades regionais. “O Bolsa-Família é muito importante, mas nós temos no Brasil que começar a comemorar quando nós tivermos 1 milhão, 2 milhões de famílias fora do programa, porque se reintegraram ao mercado produtivo, porque buscaram e se qualificaram para uma outra atividade. Então, o Bolsa-Família como instrumento transitório de transferência de renda é importante e será mantido pelo PSDB”, disse.

Anistia: 30 anos amplos e gerais

Edson Luiz
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Em 22 de agosto de 1979 era aprovada a lei que deu início à redemocratização brasileira, após 15 anos de ditatura

Nas rádios, a voz de Elis Regina traduzia a vontade de boa parte da sociedade brasileira em 1979, quando começaram a ser dados os primeiros passos para a redemocratização. O país estava havia 15 anos sob domínio dos militares. A música O bêbado e o equilibrista, cantada pela artista morta em janeiro de 1982, falava no sonho da volta do irmão do Henfil, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, um dos banidos pela ditadura. Como ele, dezenas de outros brasileiros estavam em cadeias ou refugiados em outros países. Em 22 de agosto de 1979, por 206 votos favoráveis e 201 contrários, o Congresso Nacional aprovou a lei que anistiava todos os presos ou cassados por motivação política.

Seis dias depois da aprovação, a Lei da Anistia foi sancionada pelo então presidente João Baptista Figueiredo, o último representante dos militares no poder. Com isso, estudantes, políticos, professores, profissionais liberais, entre outros, poderiam voltar ao país e às suas antigas ocupações. Até a sanção de Figueiredo, no entanto, milhões de brasileiros saíram às ruas sob as palavras de ordem “anistia ampla, geral e irrestrita”, como ficou conhecida a mobilização que envolveu dezenas de organizações sociais.

“Foi a partir da Lei de Anistia que começou nosso processo de redemocratização”, resume o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abraão. Segundo ele, desde então, políticos como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o deputado José Genoino (PT-SP), além do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), puderam ter os direitos políticos restabelecidos. Outros, como Leonel Brizola, Miguel Arraes e o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) tiveram a chance de retornar ao país. “A lei nos trouxe a tranquilidade de saber que poderíamos voltar. Foi uma lei conciliatória”, observa Gabeira.

Ao todo, quase 30 mil pessoas conseguiram anistia política, sendo que 10 mil tiveram reparações financeiras que somam R$ 2,4 bilhões desde 1994. “É um dever do estado”, define Abraão. “No caso, o Estado brasileiro usurpou ao usar o seu aparato para perseguir os cidadãos”, acrescenta o presidente da comissão, ligada ao Ministério da Justiça. Além dos políticos, personalidades famosas receberam anistia. O sindicalista Chico Mendes, morto em 1988, foi homenageado no fim do ano passado por ter sido enquadrado na Lei de Segurança Nacional com o presidente Lula.
Distorção

Segundo o deputado Emiliano José (PT-BA), jornalista e historiador do período da ditadura, a Lei da Anistia possibilitou o resgate da democracia em nosso país, mas deixou uma brecha para que torturadores não fossem punidos por seus atos. O texto final da legislação abrangeu os chamados crimes conexos, que são aqueles relacionados com delitos políticos ou praticados por motivação política. Emiliano José tem sete livros publicados sobre o tema, incluindo Lamarca, o capitão da guerrilha, sobre um militar que debandou para o lado dos militantes de esquerda e acabou assassinado.

A lei nos trouxe a tranquilidade de saber que poderíamos voltar. Foi uma lei conciliatória”
Fernando Gabeira, deputado (PV-RJ)

Três perguntas para Emiliano José foi perseguido político durante o regime militar e, depois da retomada, tornou-se especialista no tema. Publicou sete livros, entre eles Lamarca, o capitão da guerrilha, e As asas invisíveis do padre Renzo

O que representou a anistia para a sociedade brasileira?

Foi realmente uma grande conquista da sociedade, que já pedia a anistia há algum tempo. As manifestações começaram no início da década de 1970 e, em 1979, finalmente, ela foi sancionada. Tudo foi consequência das manifestações políticas da época.

Quais foram os avanços desde então?

Os avanços ainda estão ocorrendo, como o reconhecimento e a busca pelos desaparecidos políticos e a volta dos brasileiros ao país, por exemplo.

Apesar de a campanha ter sido por anistia irrestrita, houve restrições?

Existem pelo menos dois fatos que a anistia possibilitou neste sentido. O primeiro é que a lei abre a pretensão de perdão aos torturadores da época quando se fala em crimes conexos. Isso preserva os torturadores. Além disso, a lei não atingiu perseguidores políticos que estiveram envolvidos nos chamados crimes de sangue, como aconteceu com um militante da Bahia. Os dois fatos contribuíram para que a lei não esteja completa.

Punições restritas

A anistia não chegou a ser ampla, geral e irrestrita como pretendiam milhares de brasileiros. A punição a repressores continua sendo até hoje uma das maiores reivindicações de vários setores, com exceção dos militares. No governo, a situação se tornou assunto de debate entre ministros, o que levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a interferir para tentar evitar rupturas. De um lado, favoráveis à sanções contra supostos torturadores, como Tarso Genro, titular da Justiça, e Paulo Vannuchi, dos Direitos Humanos. Do outro lado, Nelson Jobim, da Defesa, atrás de um ponto final na questão.

“A anistia foi feita em um modelo que recebeu críticas, mas serviu para abrir o processo de transição no país”, afirma o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ). Entretanto, segundo ele, falta a abertura dos documentos secretos do período. Hoje, o tema punição para militares deve ser retomado no Rio de Janeiro. Vannuchi e Tarso estarão em uma solenidade pela criação da lei.

Jobim prefere manter silêncio sobre o assunto, para evitar novos atritos com seus colegas de governo. (EL)

Governo obriga Receita a tirar grupo de Lina da fiscalização

Leonardo Souza e Leandra Peres
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Cartaxo avisa subsecretário que não tem como segurá-lo

A pouco mais de um ano das eleições, o governo federal decidiu intervir na Receita e mudar o responsável por auditar o recolhimento de impostos das maiores empresas do país.

Numa reunião tensa com a cúpula do órgão, o novo secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, avisou o subsecretário de Fiscalização "que não teria como segurá-lo" no cargo devido a pressões do ministro Guido Mantega (Fazenda).

Henrique Jorge Freitas é peça central num projeto elaborado pela ex-secretária Lina Vieira, que mudou o foco de ação da Receita: mais preocupada com grandes contribuintes, e não com pessoas físicas e pequenas empresas. Procurados pela Folha, o Ministério da Fazenda e a Receita Federal informaram que não iriam se manifestar.

No primeiro semestre deste ano em São Paulo, por exemplo, a Receita Federal autuou as grandes pessoas jurídicas em R$ 7,7 bilhões -mais do que o dobro no mesmo período do ano passado (R$ 3,1 bilhões).

Outro exemplo foi a ofensiva lançada contra os bancos para retomar uma cobrança de tributos questionada na Justiça estimada em R$ 20 bilhões.

Essa nova postura provocou protestos na iniciativa privada e descontentamento no governo. A Folha apurou que Lina Vieira foi demitida no dia 9 de julho, entre outros motivos, por não ter atendido a uma série de pedidos políticos.

A reunião de cúpula da Receita foi realizada na casa de Cartaxo, em Brasília. Foi convocada com o propósito de comunicar a dispensa dos servidores mais próximos de Lina.

Levante

A discussão avançou a madrugada e resultou num levante, não por causa da substituição dos cargos de confiança, mas pela suspeita de que ela estava sendo usada como pretexto para acobertar mudanças na política de cerco aos grandes contribuintes. Os presentes bateram pé pela permanência de Henrique Freitas. Cartaxo encerrou o encontro com a promessa de que voltaria a falar com o ministro Mantega.

Participaram da reunião outros dois ocupantes de cargos de confiança nomeados por Lina: Alberto Amadei, assessor especial da ex-secretária, e Marcelo Lettieri, coordenador-geral de Estudos. Amadei já foi avisado da exoneração. Lettieri também foi avisado que terá de sair, mas sua demissão ainda não foi consumada.

Tanto Amadei quanto Lettieri foram terça-feira ao Senado para acompanhar o depoimento de Lina, no qual a ex-secretária reafirmou que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) lhe pediu para agilizar a investigação sobre os negócios da família do senador José Sarney.

Integrantes do Ministério da Fazenda consideraram inapropriada a atitude dos servidores e isso está sendo usado por Mantega como argumento para o afastamento dos dois.

Henrique Freitas não foi ao Congresso, porém. Até ontem ele se recusava a comentar à imprensa as declarações de Lina. A ex-secretária citou o funcionário como testemunha de parte de seu relato sobre o encontro com Dilma no Planalto.

A razão mais difundida pelo governo para a demissão de Lina foi uma divergência entre a Receita e a Petrobras sobre uma mudança de regime tributário adotada pela estatal.

Integrantes do governo culpam a ex-secretária, e sobretudo o departamento comandado por Freitas, pela queda na arrecadação verificada neste ano. Os números, contudo, mostram que a arrecadação deste ano se mantém dentro da média de crescimento histórico.

Mercadante atende a Lula e desiste de saída ‘irrevogável’

Letícia Sander e Valdo Cruz
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Um dia depois de afirmar que sua saída da liderança do PT era “irrevogável”, o senador Aloizio Mercadante (SP) anunciou da tribuna da Casa que mudara de ideia para atender a pedido irrecusável do presidente Lula. Em reunião de cinco horas no Alvorada, Mercadante combinou que Lula pediria em carta sua permanência.

A ameaça de saída ocorreu após o arquivamento de todos os processos contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), medida da qual Mercadante afirmava discordar. Lula pressionou pelo arquivamento.

A manutenção do senador no cargo dá alívio ao governo, evitando o desgaste da escolha de um sucessor.

Na avaliação de integrantes da bancada, o senador petista sai do episódio desgastado e sem autoridade.

Num discurso de 23 minutos lido para cinco colegas, só um petista, Mercadante reconheceu seu isolamento e disse ter “perdido as condições de interlocução política” no Senado, sobretudo com Sarney.

Pelo "amigo Lula", Mercadante revoga o "irrevogável" e não sai

Um dia depois de dizer que deixaria cargo de líder do PT, senador anuncia novo recuo

Berzoini e Dilma agiram para evitar saída de petista, que exigiu manifestação pública do presidente para ancorar mudança de atitude


Um dia depois de afirmar que sua saída da liderança do PT era "irrevogável", o senador Aloizio Mercadante (SP) anunciou ontem da tribuna da Casa um novo recuo. Para justificar a reviravolta, ele disse que atendeu a um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem esteve reunido na véspera por quase cinco horas.

"Mais uma vez, na minha vida, o presidente Lula me deixa numa situação em que eu não tenho como dizer não. Não tenho. Não tenho, como não tive muitas vezes", afirmou ele, num discurso de 23 minutos lido na presença de apenas cinco colegas, dos quais apenas um petista, e de um ex-senador.

O arquivamento de todas as denúncias contra José Sarney (PMDB-AP) no Conselho de Ética do Senado com os votos de três petistas provocou um racha na bancada do PT no Senado. Mercadante defendia que pelo menos um dos processos contra o presidente do Senado fosse aberto, mas foi "atropelado" pelo presidente Lula, que pressionou para que tudo fosse arquivado.
Ideli Salvatti (SC) e Delcídio Amaral (MT) reclamaram que o líder do PT os colocou em situação constrangedora. Flávio Arns (PR) deixará o partido. A bancada já havia ficado sem a senadora Marina Silva (AC), que tem pretensões de concorrer à Presidência pelo PV.

A permanência de Mercadante no cargo dá ao governo um certo alívio, evitando turbulências do processo de escolha de um sucessor. Mas, na avaliação de integrantes da bancada, Lula terá de se empenhar para restabelecer as pontes do senador petista na Casa, já que ele sai desgastado do episódio e sem autoridade até entre senadores do seu partido.

No discurso, o próprio Mercadante reconheceu seu isolamento, quando afirmou ter "perdido as condições de interlocução política" no Senado, sobretudo com Sarney. "É evidente, é muito mais difícil ser líder nessas condições, depois de uma crise como essa", disse.

A operação para que o petista permanecesse na liderança teve outros dois atores principais, além de Lula: o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), e a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Na longa conversa de quinta-feira à noite, em que Berzoini também estava presente, Mercadante ouviu de Lula que sua saída desestabilizaria ainda mais a Casa, tachada pelo presidente de "a única trincheira da oposição".

Para ficar, o senador deixou claro que precisava de uma manifestação pública do presidente para justificar seu recuo.

Ontem pela manhã, Mercadante recebeu um telefonema de um assessor do Planalto, avisando-o da carta que seria enviada por Lula, e que acabou servindo de âncora para o senador petista justificar sua mudança de atitude.

No texto, Lula diz considerar o petista "imprescindível" para a liderança e afirma que dificuldades e divergências fazem parte da caminhada, "mas são menores que ela". A carta termina com um pedido de Lula para que ele fique no cargo.

Mesmo assim, Mercadante subiu à tribuna visivelmente constrangido e não deu entrevista à imprensa. Falou em frustração e desânimo e repetiu o que vinha dizendo desde o início da crise: que o melhor caminho era a licença de Sarney.

No plenário, ouviu alfinetadas pelo fato de não ter conseguido dizer "não" a Lula, apesar das divergências com o governo ao longo da crise. "Ele vai ser um líder sonâmbulo nesta Casa, porque ele vai ser o líder da aliança com Renan, com Sarney", disse o senador Cristovam Buarque (PDT-DF).

Marina Silva (AC) disse "respeitar a decisão dele", mas ponderou que a decisão não apaga a crise do partido. "O PT tem uma grave confusão entre partido e governabilidade. E entre governabilidade legítima e a qualquer custo. E isso não é bom para a democracia."

"Irrevogável" vira piada no Twitter

Daniela Arrais
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A afirmação do senador Aloizio Mercadante, em sua página no Twitter, de que renunciaria à liderança do PT em "caráter irrevogável" acabou se transformando em motivo de críticas e chacotas no microblog.

Após o senador ter voltado atrás na decisão, usuários da rede, que permite envio de mensagens de até 140 caracteres, passaram a usar "irrevogável" em piadinhas.

"Aguardem meu pronunciamento em caráter #irrevogável: Não tomarei mais cerveja neste ano", disse @esdrasoliveira -no Twitter, o nome de usuário é acompanhado por arroba.

Para identificar todos os comentários, os usuários do serviço usam a hashtag (jogo da velha que indica um assunto) #irrevogável quando escrevem sobre Mercadante. O senador contava, até o fechamento desta edição, com cerca de 14.700 seguidores.

A usuária @anapaulals aproveitou o assunto para perguntar ao "Dicionário Houaiss", que mantém um perfil no microblog (@novo houaiss), se poderia explicar a Mercadante o significado de irrevogável. O dicionário deu a resposta: "Não revogável; que não se pode anular, apagar; de que não se pode voltar atrás".

O @microcontoscos se inspirou em Raul Seixas: "Eu prefiro ser essa Metamorfose Mercadante... do que ter aquela velha decisão irrevogável sobre tudo".

Colegas

Em sua página, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ; @gabeiracombr) ironizou a decisão:

"Pobre Mercadante: até para sair da liderança tem que pedir autorização ao Lula..." O senador Cristovam Buarque (PDT-DF; @Sen- Cristovam) também se manifestou: "O erro do PT foi tratar um grande líder como Lula um deus, a renúncia do Mercadante mostra este endeusamento".

Por e-mail, o senador Mercadante disse à Folha: "Anunciei minha renúncia em caráter irrevogável, mas também coloquei no Twitter que fui convidado para uma conversa com o presidente Lula antes do meu discurso. No encontro, Lula fez um apelo pela minha permanência na liderança, alegando que sou imprescindível ao governo e ao país e não tive como recusar".

Acesse o Twitter (www.twitter.com) e digite, na caixa de busca, #irrevogável.

Mercadante não consegue dizer ‘não’ para Lula e fica

Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos
DEU EM O GLOBO


Depois de anunciar na véspera que renunciaria “em caráter irrevogável” à liderança do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP) voltou atrás ontem e ficou no cargo, mesmo depois de ter sido desautorizado na votação sobre o presidente do Senado, José Sarney. Com ar abatido e envergonhado, ele subiu à tribuna e leu a carta que convenceu o presidente Lula a lhe enviar, afirmando que o considera “imprescindível” na liderança. “Mais uma vez, na minha vida, o presidente Lula me deixa numa situação em que não tenho como dizer não”, disse Mercadante a um plenário quase vazio. Imediatamente, o senador petista virou alvo de chacota no Twitter, ferramenta da internet que tinha usado para anunciar sua “renúncia irrevogável”. Colegas do senador puseram em dúvida suas condições de continuar liderando a bancada do PT.

Não tenho como dizer não

Mercadante usa carta de Lula para ficar no cargo e recuar da renúncia irrevogável

O anúncio feito na véspera pelo líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), de que renunciaria em “caráter irrevogável”, não convenceu muito. Mesmo assim, houve certa incredulidade quando ele, com ar abatido e envergonhado, subiu ontem à tribuna para recuar de sua decisão. Com um discurso de 23 minutos ensaiado na véspera num encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em vez da renúncia, avisou que continuará no cargo que já ameaçara deixar outras vezes desde que começou a crise no Senado.

Para justificar o recuo e tentar reduzir o desgaste perante seu eleitorado e o país, o petista convenceu Lula a lhe enviar uma carta com o apelo para que continuasse líder do PT.

— Mais uma vez, na minha vida, o presidente Lula me deixa numa situação que eu não tenho como dizer não.

Não tenho, como não tive muitas vezes — justificou Mercadante a um plenário quase vazio, onde leu também a carta negociada, na qual Lula afirma que o petista é “imprescindível”.

O líder chegou a pedir desculpas à família por ter voltado atrás: — Peço a muitos companheiros e companheiras que acho que pedem a minha saída hoje, especialmente à minha família, sinceras desculpas, mas, com a história que tenho com o Lula, com a minha história de militância, com o que nós fizemos juntos e podemos fazer juntos pelo Brasil, eu não posso dizer não ao presidente da República e ao meu velho companheiro Luiz Inácio Lula da Silva.

Discurso só após a carta de Lula

Com a carta, Mercadante acabou se valendo do mesmo expediente, por ele criticado, usado por João Pedro (PT-AM), Delcídio Amaral (PT-MS) e Ideli Salvatti (PT-AM), na quarta-feira, para justificar o voto favorável ao arquivamento das denúncias contra José Sarney (PMDB-AP) no Conselho de Ética. Na ocasião, Mercadante se recusou a ler a carta assinada pelo presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP).

Mercadante atrasou o discurso para esperar a carta, como combinado na véspera. Antes, em rápido encontro com João Pedro, apontado como seu sucessor, confirmou que leria em plenário para justificar seu recuo. Ao começar o discurso, repetiu que queria sair do cargo e criticou o governo: — Meu sentimento mais profundo, a minha vontade neste momento é de deixar a liderança, porque não tivemos força para construir um caminho alternativo.

Esbarramos na maior bancada do Senado, que é o PMDB, que teve um papel fundamental nesse processo.

Esbarramos, infelizmente, no apoio que o meu governo e a direção do meu partido deram a essa resposta que foi dada e que não era a posição da nossa bancada, não foi nunca a minha posição — disse Mercadante, que começou o discurso dizendo-se frustrado por não ter encontrado uma alternativa para a crise. — Nunca aceitei o caminho fácil do prejulgamento, porque esse não é o caminho da democracia, ainda que seja mais fácil do ponto de vista eleitoral.

Ao fim da fala, voltou às críticas: — Esta Casa errou, o meu governo errou, o meu partido errou, nós erramos, eu errei, porque essa não é a solução que o Brasil espera e precisa. Só espero que aprendamos, sinceramente, com esses erros e sejamos capazes de construir novas descobertas.

O líder disse que teve com Lula uma conversa “franca, dura, sincera e profunda”. Interlocutores do presidente e colegas do Senado revelaram, porém, que a conversa, de mais de cinco horas, foi longe de ser emocional e afetuosa. Lula explodiu e derramou sua ira ao listar as situações embaraçosas que, segundo ele, o líder criou para o PT e o Planalto com a crise.

Mercadante disse que sua posição não era apenas pela governabilidade, mas pelo papel histórico do PT. Foi, então, que Lula teria argumentado que o Senado é o espaço mais difícil de luta política e que não teria como ter outra alternativa para o cargo.

— Mas não adianta dizer tudo isso para mim. Você tem que dizer isso publicamente.

Tem que formalizar o que está dizendo — teria cobrado Mercadante, na senha para a carta.

Lula, segundo assessores, disse que o episódio do Senado estava encerrado, e que ele não deveria ter voltado ao tema ao anunciar o discurso. E que, se Mercadante fosse à tribuna para deixar o posto, só serviria à oposição.

Disse que não pediria que o senador ficasse, já que ele contrariara sua recomendação de defender a permanência Sarney. O PT também ameaçou: alertou o líder de que correria o risco de perder a legenda para disputar a reeleição em 2010. A irritação no Planalto era tanta que já se trabalhava pela indicação de João Pedro para líder.

Mas o Planalto recebeu o recado de que o amazonense não seria eleito na bancada, até por ser suplente. O governo, então, também recuou e aceitou a permanência de Mercadante..

Caetano e Teresa Cristina cantam Paulinho da Viola

Bom dia!
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