sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Lula e Merkel divergem em público sobre o Irã

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O programa nuclear do Irã motivou divergência pública, em Berlim, entre o presidente Lula e a chanceler alemã, Angela Merkel. Em entrevista coletiva, Merkel disse que a tolerância com o Irã estava acabando e falou em novas sanções; a seu lado, em seguida, Lula pediu "muita paciência" com o país. No mesmo dia, o chanceler Celso Amorim se reuniu com o presidente Mahmoud Ahmadinejad em Teerã.

Lula e Merkel divergem sobre Irã

Questionados, líderes expõem posições opostas durante encontro em Berlim sobre programa nuclear iraniano

Andrei Netto, enviado especial, BERLIM

O programa nuclear do Irã foi motivo de uma divergência pública ontem, em Berlim, entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel. Enquanto a europeia afirmou que a paciência do chamado "sexteto" - Alemanha, França, Grã-Bretanha, EUA, China e Rússia - está acabando, e indicou que sanções contra o governo de Mahmoud Ahmadinejad podem vir a ser adotadas, o brasileiro pediu diálogo e mais confiança no país persa.

A discórdia veio à tona no final de uma entrevista coletiva. Na última pergunta, os dois líderes foram questionados sobre o encontro entre Lula e Ahmadinejad, realizado em Brasília, há dez dias.

Em sua resposta, Merkel admitiu que o tema havia sido tratado na conversa bilateral com Lula, minutos antes da coletiva. "Temos o mesmo objetivo: transparência e cooperação", disse, referindo-se ao Brasil e à Alemanha. Em seguida, Merkel subiu o tom. "Se o diálogo não acontecer, vamos perder a paciência e adotar novas sanções", ameaçou.

Mas, ao tomar a palavra, o brasileiro ressaltou as diferenças. Lula disse ter recebido na mesma semana os presidentes de Israel, Shimon Peres, e da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, além do iraniano. A seguir, contrapondo-se à ameaça de sanções de Merkel, disse: "O melhor e o mais barato para todos nós é acreditarmos no Irã e termos muita paciência."

"Eu penso que tratar o Irã como um país insignificante, aumentando a cada dia a pressão exercida, poderá não resultar em uma coisa boa", justificou. "Como o Irã é um país de uma cultura muito forte, nós precisamos aumentar o grau de paciência, para aumentar a profundidade das conversas."

Lula também lembrou ter conversado com o presidente dos EUA, Barack Obama, sobre o tema. O objetivo, reforçou, é encontrar "uma brecha, um jeito de as pessoas concordarem que a paz é muito mais barata e muito mais eficaz".

Lula também reiterou que a diplomacia brasileira apoia o programa nuclear iraniano, desde que limitado a fins civis. "Nós no Brasil temos enriquecimento de urânio para produzir energia elétrica. E o que queremos para o Irã? O mesmo que o Brasil tem. O mesmo que o Brasil aceita para si, nós aceitamos para o Irã."

O presidente também criticou a moral dos países que cobram Ahmadinejad, mas detêm armas nucleares. "A autoridade moral para pedirmos para outros não terem é a gente também não ter."

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