domingo, 22 de novembro de 2009

“Viemos do mesmo contexto”, diz FHC sobre Lula

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Declaração do ex-presidente integra o livro Retrato de grupo, parte da comemoração dos 40 anos do Cebrap

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso define-se como um homem de esquerda. Também se compara ao atual ocupante do Palácio do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva. Garante que a trajetória dos dois teve saltos políticos. “No fundo, se você olhar bem, eu e o Lula viemos do mesmo contexto. Acho que nós dois somos fruto daquele momento de renovação da vida política brasileira e, em comparação com o estilo de carreira política anterior, nós, bem ou mal, representamos algo diferente em termos de ligação com a sociedade”, afirma, completando: “quando vejo Delfim como consultor de Lula, penso que eu tinha razão”. Essas declarações fazem parte do livro Retrato de grupo, que será lançado na terça-feira e reúne lembranças, reflexões e análises de intelectuais brasileiros que fundaram o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).

A publicação faz parte da comemoração dos 40 anos do centro, que desenvolve pesquisas na área de ciências humanas. Nas entrevistas inéditas, além do ex-presidente, personagens como o sociólogo e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) Chico de Oliveira, o crítico literário e professor Roberto Scharwz, a demógrafa Elsa Berquó, o sociólogo Lúcio Kowarick e o filósofo José Arthur Giannotti. As memórias também foram registradas em vídeo. Um documentário, dirigido por Henri Gervaiseau, traz trechos das entrevistas combinadas com imagens de arquivo do período. A obra também contém textos em homenagem a Ruth Cardoso e ao sociólogo Vilmar Faria, amigo e assessor especial do ex-presidente para a área social.

O jogo da política

“Sempre achei que não se pode olhar a política aristotelicamente, contando os bons e os maus. A política é um jogo em que você deseja e às vezes pode transformar em bom o que é mau, fica com não me toques, mãos limpas, você se isola e não muda as pessoas”, disse na entrevista, quando questionado sobre o autoritarismo.

FHC liderou a criação do Cebrap em 1969. Também trabalhou no Centro de Estudos Latino-Americanos da Smithsonian Institution. Durante o exílio, após o golpe de 1964, foi para o Chile, onde viveu até 1967. De lá, seguiu para a França. Voltou ao Brasil em 1968 para disputar a cátedra de ciência política na Universidade de São Paulo (USP).

Em um dos trechos da entrevista, ele comenta a aproximação com centros de pesquisa “É importante lembrar que formávamos uma rede com vários centros de pesquisa de países latino-americanos, sobretudo da Argentina e do Chile, e o Cebrap foi modelo para alguns desses centros – um modelo de resistência intelectual aos regimes autoritários”, afirma, ressaltando que, em 1974, Ulysses Guimarães pediu que a entidade escrevesse os programas de campanha do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Para o ex-presidente, a maior contribuição do centro foi “eliminar a compartimentalização das ciências sociais e juntar demografia, filosofia, economia, às diversas áreas do pensamento e da análise social”.

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