sábado, 14 de novembro de 2009

Tom agressivo de Dilma em entrevista sobre apagão preocupa PT e governo

DEU EM O GLOBO

Temor é que comportamento da ministra prejudique sua imagem na campanha

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. No momento de maior esforço para a reconstrução da imagem pública da pré-candidata petista à Presidência, causou preocupação no núcleo do governo e no partido a entrevista concedida pela chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, na quinta-feira, quando falou sobre o apagão que ocorreu esta semana. Segundo integrantes da cúpula do PT e do governo ouvidos pelo GLOBO, Dilma exagerou nas ironias e no tom professoral, o que explicitou para o público uma imagem de autoritária, arrogante e até agressiva.

A entrevista serviu, no comando da pré-campanha, como um alerta de tudo que ela não deve fazer nos próximos 11 meses. Um ministro chegou a lembrar que foi esse tipo de comportamento mais enfático, e até explosivo, que prejudicou o ex-ministro Ciro Gomes (PSB) na eleição presidencial de 2002. Nos últimos meses, os marqueteiros do governo e do PT iniciaram um trabalho para suavizar a imagem pública de Dilma, tornando-a mais simpática à opinião pública, e tentando tirar a forte característica, que eles dizem ver nela, de "gestora sisuda e implacável".

O líder do PT, deputado Cândido Vaccarezza (SP), minimiza a preocupação:

- A ministra vai continuar na linha "Dilminha paz e amor". Mas, de vez em quando, é preciso usar o chicote para expulsar os vendilhões do templo.

Perguntado sobre a sugestão de alguns de que Dilma só deve se expor em eventos positivos, o petista foi enfático:

- Não podemos deixar que a oposição ou a imprensa pautem a Dilma.

A avaliação no núcleo do governo é que no episódio do apagão houve dois erros seguidos em relação a Dilma. O primeiro, tentar blindar a candidata, evitando a aparição dela no primeiro dia. Passou uma imagem de fragilidade da ministra, principalmente porque Dilma foi titular da pasta de Minas e Energia no primeiro mandato do presidente Lula, e até hoje tem grande influência no setor elétrico.

O outro erro foi o de não tê-la preparado melhor para a entrevista, que seria sobre os dados do desmatamento, mas que, certamente, abordaria o apagão. No governo, assessores chegaram a classificar a entrevista como um desastre. A imagem dela na televisão chamando de "minha filha" uma jornalista, segundo um cacique petista, contrastou com o tom de outras entrevistas recentes, em que esteve mais suave e até sorridente.

Para o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), há um esforço da oposição de tentar colar a ministra a episódios negativos:

- Se tem problema de energia, querem colar na Dilma. Na agricultura ou na economia, também. Quem fala no governo sobre o tema é o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Só colocam a Dilma pela disputa presidencial. Mostra que eles estão muito preocupados.

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