domingo, 22 de novembro de 2009

No PT, 'intervenção branca' pró-Dilma

DEU EM O GLOBO

Partido escolhe hoje seus novos dirigentes e tentará subordinar alianças regionais à da eleição presidencial

Maria Lima e Gerson Camarotti BRASÍLIA

Com a possibilidade concreta de fortalecimento de alguns diretórios regionais independentes a partir do processo de eleição direta no PT, o chamado PED, que ocorre hoje em todo o Brasil para a escolha dos novos dirigentes petistas, o comando nacional do partido já prepara uma espécie de intervenção branca para barrar iniciativas que prejudiquem a candidatura presidencial da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. A estratégia de subordinar as alianças regionais à aliança nacional será legitimada pelo Congresso Nacional do PT, que acontecerá em fevereiro, quando Dilma será lançada pré-candidata.

Para pôr em prática essa política, o comando do partido espera eleger hoje, já em primeiro turno, o ex-senador e ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra (SE), nome escolhido pelo presidente Lula e pela cúpula petista para presidir o partido nos próximos dois anos.

O Congresso Nacional do PT é que vai aprovar ou vetar candidaturas estaduais que concorram com aliados como o PMDB. Caso do Rio, onde já houve o lançamento da pré-candidatura ao governo fluminense do prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, contra o desejo do comando nacional e do próprio presidente Lula, que pregam a reeleição do governador Sérgio Cabral. Essa situação se repete em outros estados.

Na primeira eleição presidencial dos últimos 20 anos sem Lula como candidato, o PT utilizou o PED como uma grande prévia de mobilização da militância e de dirigentes país afora em favor de Dilma. Há um reconhecimento de que a ministra, apesar da superexposição dos últimos meses, ainda não empolgou a militância.

— O maior desafio do PED é preparar a estratégia para a campanha de Dilma. O sentimento é que vamos enfrentar um grande teste — afirma o atual presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP).

PT espera voto de cerca de 400 mil filiados

A expectativa é que hoje haja uma mobilização de cerca de 400 mil filiados petistas, contra 315 mil que votaram no último PED, em 2007. Como a taxa de anuidade é de R$ 15 — e é condição obrigatória para o filiado votar — o PED deve gerar uma arrecadação de R$ 6 milhões para os cofres do PT.

Integrantes de tendências minoritárias chegaram a levantar a suspeita de abuso de poder econômico da corrente majoritária, que estaria pagando a taxa de habilitação de filiados. O objetivo seria turbinar o número de eleitores e, com isso, consolidar a vitória em primeiro turno de José Eduardo Dutra, candidato da corrente “Construindo Novo Brasil”, o antigo Campo Majoritário, que reúne as grandes estrelas do PT, inclusive os que são réus no processo do caso do mensalão, no Supremo Tribunal Federal, como José Dirceu e João Paulo Cunha. A suspeita de “compra de votos” foi negada pela tendência, e não provada pelas demais correntes.

Mas, apesar das disputas entre as tendências — são seis chapas com candidatos a presidente do PT — e das diferenças programáticas — uma delas, chamada “Esquerda Marxista”, propõe a retomada do socialismo —, a campanha que durou quatro meses teve um consenso: o apoio incondicional à candidatura de Dilma.

Sobre candidaturas estaduais que ameaçam o projeto Dilma, José Eduardo Dutra é taxativo: — Quem vai definir a estratégia regional é o Congresso Nacional do PT, que é soberano. O Congresso vai dar uma orientação geral de como o partido deve se comportar nas convenções que vão de março a 30 de junho. Isso não é intervenção — disse ao GLOBO. — O Congresso Nacional é a instância máxima do partido, com delegados de todo o Brasil, e está acima dos diretórios estaduais, até do nacional. A lógica regional não pode se sobrepor à estratégia nacional do partido. Isso não é enfiar goela abaixo.

Berzoini atuou pessoalmente no Rio para tentar garantir votos para a chapa do deputado Luiz Sérgio, que defende a reeleição de Cabral.

Mas Lindberg continua otimista: — Nós devemos ganhar de lavada (no diretório estadual), e a tese da candidatura própria no Rio deve ter o apoio de mais de 60%. O que se diz é que haverá uma indicação em defesa do Cabral, mas intervenção não terá.

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