segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Fernando Rodrigues:: Um vício ainda presente

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Os 20 anos passados de 1989 até hoje foram úteis para fortalecer a democracia representativa no Brasil. Mas persistem muitos vícios políticos e eleitorais da primeira eleição presidencial direta pós-ditadura militar.

O melhor aspecto da evolução institucional nas últimas duas décadas foi o afastamento do risco de retrocesso autoritário. Quando Fernando Collor foi eleito, as discussões políticas sempre incluíam obrigatoriamente uma análise do "clima entre os militares". Uma anomalia.

José Sarney, então presidente, visitou todos os comandos das Forças Armadas em 1989.

Precisava convencer os quartéis da necessidade de uma transição definitiva e pacífica para a democracia.

Ao recusar a proposta bolivariana de uma segunda reeleição, Lula sepultou de vez a hipótese de o Brasil sair do rumo da estabilidade democrática. Começar e terminar seus mandatos, no prazo estabelecido, é a maior contribuição do petista para o amadurecimento do país.

O problema é quase nada ter sido realizado, de 1989 até hoje, no plano da organização política e partidária.

Fernando Collor viabilizou-se escorado em legendas de aluguel. Em 1994, FHC agrupou ao seu lado parte da escória agora cooptada alegremente por Lula. Essa turba desprovida de ideologia vive atracada ao poder.

De tempos em tempos o Congresso regurgita a reforma política, com seu jargão cifrado para a maioria dos normais. Voto em lista, eleição no sistema distrital ou fim das coligações proporcionais.

Algumas ideias têm mérito, mas nenhuma trata da perigosa consolidação do império do baixo clero, com suas quase duas dezenas de legendas de aluguel e mais de 300 deputados e senadores. Em 1989, ajudaram Collor. Em 2010, serão protagonistas novamente. Sem aparecer. Gostam das sombras. Influem.

Ganham dinheiro e são sempre convenientes aos poderosos.

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