segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Coluna do Milton Coelho da Graça

NÚMEROS DE DESEMPREGO NÃO
MOSTRAM TODO O DESESPERO

A população em idade ativa (10 anos ou mais) na região metropolitana de São Paulo é estimada em 16 milhões e 600 mil pessoas. Segundo números mais recentes do IBGE, esse total inclui pouco menos de um milhão de servidores públicos (civis e militares) e 685 mil empregadores.

Dos outros 15 milhões, pouco menos de 8 milhões trabalham com carteira assinada. Sobram uns 7 milhões que se viram – serviços sem carteira assinada (boa parte em serviços domésticos, bicos em geral, camelôs, jardineiros, traficantes e também o grupo em desemprego aberto - os que se declaram desempregados ou procuraram, sem sucesso, emprego nos últimos 30 dias).

Este último segmento, na pesquisa mensal de Emprego e Desemprego, realizada pelo Departamento Intersindical de Estudos Econômicos e pela SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados, de São Paulo) em setembro e divulgada ontem, é estimado em 1,492 milhões, registrando ligeira melhora, 19 mil menos do que na pesquisa anterior (agosto 2009). A comparação só não foi melhor porque o comércio eliminou 51 mil postos de trabalho.

Estou enchendo o saco de vocês com todos esses números para focar um ponto: ao falar em 14,1% de desempregados na região metropolitana de São Paulo, a pesquisa DIEESE-SEADE se refere apenas aos “assumidos”, ou seja, aqueles que se declaram desempregados e procuraram trabalho nos últimos 30 dias.

Esse número não inclui toda aquela rapaziada que se vira de todos os jeitos possíveis e há mais de 30 dias não procura emprego, incluindo, obviamente, todos os que dizem “trabalhar por conta própria”. Portanto, se incluirmos na conta todos os que não são empregadores, não têm emprego garantido no serviço público, nem carteira de trabalho assinada, o total de pessoas viradoras, sem nenhuma garantia sobre o amanhã, chegamos a uns 6 milhões, cerca de 40% da população na região metropolitana de São Paulo.

A pesquisa de Emprego e Desemprego também é feita mensalmente em outras cinco regiões metropolitanas – Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre As seis juntas têm o dobro do número paulistano de pessoas em desemprego aberto - 2,889 milhões de pessoas, com pequena redução em relação ao mês anterior (14,4% contra 14,6%).

As outras percentagens devem também ser próximas e, portanto, não devo errar muito ao estimar a turma da viração, nas seis regiões, em uns 12 milhões. E reparem que o Rio de Janeiro – onde a população é menor apenas do que em São Paulo - até hoje não se mexeu para ser incluído na pesquisa.

Os números de desemprego da pesquisa DIEESE-SEADE diferem da pesquisa semelhante também feita mensalmente pelo IBGE. Mas as duas têm apenas diferenças de metodologia; se forem comparadas com cuidado, mostram duas fotografias um pouco diferentes mas corretas. O desascordo principal é o conceito de desemprego aberto – o IBGE só inclui quem procurou emprego na última semana.

Cuidado mesmo é preciso ter com os números do CAGED, do Ministério do Trabalho, que mensalmente faz a conta (e chama toda a imprensa para ouvir) de quantos empregos de carteira assinada foram criados e quantos foram os demitidos. O time do ministro Carlos Lupi esquece ou finge esquecer os brasileirinhos que chegam à idade de trabalhar todos os anos. São mais de 2 milhões além dos que morrem e, portanto, todos os meses precisamos criar uns 150 mil novos empregos (já levando em conta os que conseguem entrar para o serviço público ou se tornam empresários).

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“Uns poucos homens honestos são melhores do que números.”

Oliver Cromwell (1599-1658), político e general, Lord Protetor em 1653.
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CONFIANÇA DA
INDÚSTRIA FOI
A BOA NOTÍCIA

Para não falar só em coisa ruim, tivemos também uma boa notícia: a de a confiança dos industriais está em alta – tanto pelos índices da Fundação Getúlio Vargas como da Confederação Nacional da Indústria.

Se essa confiança for confirmada no futuro próximo, voltaremos rapidamente ao mesmo nível pré-crise de produção industrial, com a redução da capacidade ociosa e contratações de operários.

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ARGENTINA FAZ
GOLS NA POLÍTICA
E NA ECONOMIA

Nossa imprensa nunca faz qualquer elogio ao governo argentino. Mas nossos vizinhos também estão saindo bem da crise, apesar do comportamento vergonhoso dos grandes proprietários de terras – que sempre exibem um comportamento político e social de lordes ingleses, nunca se identificando com as aspirações e projetos importantes para a nação e o povo argentinos.

A resistência a um imposto sobre exportações – inteiramente justo num momento em que as “commodities” subiam vertiginosamente de preço e o país ainda sofria dificuldades por conta da política econômica do safadissimo Meném. Nosso Itamaraty e o presidente Lula tem agido com muita prudência, não se deixando envolver nas muitas arapucas contra o governo de Cristina Kirschner, que poderá, até o fim do ano, marcar dois gols (sem mão do Maradona): um na política, enviando ao Congresso interessante projeto de reforma política, e outro na economia, pagando aos credores uma boa parcela da dívida assumida pelo país na moratória.

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