domingo, 15 de novembro de 2009

Alberto Dines:: Tensões pré-eleitorais

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

O apagão da terça-feira pode tirar votos da quase-candidata do governo? A substituição do neologismo apagão pelo anglicismo blacaute muda alguma coisa na imagem da ministra-chefe da Casa Civil? Todas as eleições são essencialmente plebiscitárias, queiram ou não queiram os marqueteiros. Em alta voltagem podem produzir curtos-circuitos.

O ato de escolher, selecionar ou votar equivale à manifestação de uma preferência por pessoas, ideias, posturas. Na primitiva democracia romana, os senadores preparavam leis para serem submetidos ao povo (plebis, plebe + scitum, decreto). Na democracia moderna, representativa, escolhem-se partidos ou pessoas que teoricamente encarnam programas e produzirão os estatutos a serem votados pelos legislativos. Em determinadas circunstâncias, os regimes representativos admitem votações diretas, específicas (presidencialismo versus parlamentarismo, porte de armas, aborto, laicismo, etc.).

Na Era da comunicação de massa os plebiscitos são contínuos, velozes, extremamente intensos.


Tudo serve para alavancar comparações – aparência, gestos, palavras, entonação, humores, bocejo, esgares, a covinha no rosto, a olheira. Não há como fugir do escrutínio total. A dramatização torna-se inevitável e ela costuma ser péssima não apenas para os contendores mas para o processo político e as instituições: as irrelevâncias são magnificadas e as simplificações incontroláveis.

O governo apostou num clima eletrizante para compensar a relativa obscuridade da sua candidata. Tinha as cartas na mão para um plano de voo menos turbulento, mais seguro e eficaz, no entanto optou pela perigosa estratégia do estresse. Pegou uma oposição sem postulações, fragmentada por duas candidaturas, esmagada pela maioria situacionista, já afônica faltando um longo ano até o pleito, mas desobrigada de frequentar a ribalta com tanta assiduidade.

E esta pode ser uma enorme vantagem. Os operadores palacianos esqueceram que holofotes, refletores, câmeras e microfones permanentemente acesos e ligados são impiedosos. No sentido figurado, óbvio. A ministra Dilma Rousseff passa uma imagem confiável, quando quer faz o seu charme, (ficou uma gracinha ao colocar a esferográfica entre os dentes como uma estudante no vestibular), mas os riscos de um desgaste político são inegáveis.

Cada frase pode ser uma armadilha, cada evento – mesmo favorável – pode transformar-se em bumerangue. A exposição continua pode criar demandas insuportáveis sobretudo no decorrer do festival de inaugurações que ocorrerá no próximo ano. Cada projeto contém um apagão em potencial já que a estrutura em cima da qual serão pendurados tantas e tão diferentes empreitadas do PAC tem insondáveis fragilidades. Como aquela que produziu o black-out da terça-feira.

O xadrez eleitoral seria fascinante se não estivesse sendo jogado no tabuleiro latino-americano. Tal como na história do aprendiz de feiticeiro, Hugo Chávez elevou demasiadamente a temperatura política e agora não consegue ou não sabe como baixá-la para colher alguns dividendos da radicalização que promoveu.

A excitação externa, além disso, adiciona elementos imponderáveis ao clima plebiscitário doméstico. O esforço da nossa diplomacia em colocar o País como interlocutor confiável em diversos conflitos internacionais pode ser fulminado por alguma delirante aventura engendrada pelo caudilho vizinho.

O desenvolvimento econômico exige um fortíssimo contrapeso de caráter político e institucional. A sucessão presidencial não pode ser envolvida pelo frenesi de final de campeonato. O processo democrático é necessariamente movimentado e ágil. Conviria que o plebiscito fosse menos tenso.

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