quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O Brasil pós-crise e pré-sucessão

Maiá Menezes*
Enviada especial
DEU EM O GLOBO


Em Congresso, cientistas políticos apontam recuos e avanços

CAXAMBU, MG. Um país projetado para o futuro ou com os pés fincados no passado? Diante de uma transição política à vista — a substituição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010 —, o Brasil foi retratado ontem entre esses dois cenários por cientistas políticos e economistas, em discussão sobre a conjuntura nacional, uma das que inauguraram o 33oCongresso Anual da Associação Nacional de PósGraduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), em Caxambu. Em polos opostos da discussão, o presidente do Ipea, Marcos Pochmann, e o cientista político Luiz Werneck Vianna, do Iuperj, travaram um embate sobre o pós-crise: para Vianna, o país recuou ao adotar o discurso desenvolvimentista do regime militar. Já para Pochmann, hoje se consegue ver um projeto, com visão de longo prazo.

— Passada a crise, devolvese força à fórmula nacional desenvolvimentista. O projeto de modernização não está mais focado na política distributiva. Teremos, provavelmente, os caças franceses. E os helicópteros e o submarino nuclear. Recuperase a ideia que já foi mais forte aqui, em tempos idos e mal vividos, de um complexo industrial militar — criticou Werneck Vianna, que em outro momento da palestra completou: — Voltamos aos tempos da modernização, e não do moderno.

Moderno significa autonomia, cidadania ampla, deliberação, esfera pública rica, e não essa esfera pública deplorável que temos diante de nós.

Para Pochmann, o Brasil avançou. E o leque de escolhas para a sucessão de Lula deixará evidente dois modelos de capitalismo: — Há uma aliança para o desenvolvimento nacional e uma clara mudança da estrutura social brasileira, depois de quase duas décadas.

Estão em jogo dois caminhos: o do capitalismo organizado e o do não organizado.

O que expressaria o capitalismo organizado é a aliança produtivista, a roda necessária para fazer com que se sustente o avanço da mobilidade social. Outra perspectiva é a do capitalismo desorganizado, da financeirização da riqueza — avaliou Pochmann.

Em confronto sobre a avaliação do governo, Pochmann e Werneck Vianna concordaram em um ponto: as polarizações entre partidos não deverão ser determinantes nas próximas eleições.

Foi a mesma defesa feita pelo sociólogo tucano Antonio Lavareda, também convidado para a discussão, que concentrou sua palestra em uma análise do cenário eleitoral em 2010.

— Talvez haja disputa para ver quem se legitima na condução do atraso brasileiro. O conservadorismo será liderado pelo petismo ou pelo tucano? Em que caminho? O da financeirização? (José) Serra não se identifica muito com isso.

Acredito que Aécio (Neves) seja mais expressão da situação.

Por outro lado, Serra não terá muita opção, porque a possibilidade de se associar ao produtivismo, que ganhou espaço no governo Lula, será menor. Ele vai ter que se aliar com as forças da financeirização — disse Pochmann.

Para Werneck Vianna, “é falso e anacrônico conceber a próxima disputa como reedição entre UDN e o PTB”. Ele afirma que oposição e situação se assemelham, já que se relacionam da mesma forma com oligarquias políticas, empresariais e agrárias.

— Têm o mesmo quintal, o mesmo jardim, as mesmas cabras.

Entra (Paulo) Skaf, sai Skaf, entra (Blairo) Maggi, sai Maggi. O que vai mudar? Os Maggi do Serra são diferentes dos da Dilma (Rousseff), ou vai se reabrir a questão agrária brasileira?

— defendeu Werneck, que ironizou a governabilidade da gestão Lula.

Para Lavareda, diferentemente dos Estados Unidos, onde a sigla partidária expressa a identidade política do eleitor, no Brasil há uma distância entre partidos e sociedade: — Na sociedade, infelizmente, esse divórcio é enorme. Os partidos não estruturam correntes de opinião, significam muito pouco.

Há uma aliança para o desenvolvimento nacional e uma clara mudança da estrutura social brasileira, depois de quase duas décadas Marcos Pochmann

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