quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Meirelles e Amorim põem BC e Itamaraty na campanha

Luiza Damé e Maria Lima, BRASÍLIA
DEU EM O GLOBO

A três dias do fim do prazo de filiação partidária para quem pretende disputar eleições em 2010, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, entraram para o PMDB e o PT, respectivamente, e vão continuar nos cargos até março do ano que vem. Com isso, agora são 31 dos 37 ministros do governo Lula filiados a partidos, sendo que pelo menos 18 deles já decidiram concorrer em 2010. O PT, que controla 17 ministérios, tem nove prováveis candidatos, incluindo Dilma Rousseff (Casa Civil), que deverá disputar a Presidência da República, e até Tarso Genro (Justiça), que continua no cargo apesar de já ter se lançado ao governo gaúcho. A filiação do chanceler Amorim, um funcionário de carreira no Itamaraty, surpreendeu e foi duramente criticada pela oposição. E, no caso de Meirelles, seria a primeira vez que um presidente do BC se filia a um partido, no cargo, para disputar eleições. Para analistas políticos, a participação direta de ministros no processo eleitoral antecipado prejudica a gestão pública.

Ministério sobe no palanque

Dos 37 ministros de Lula, 31 estão filiados a partidos, incluindo presidente do BC e chanceler

Com as filiações do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao PMDB, e do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ao PT, somente seis dos 37 ministros do governo Lula, no exercício do cargo, não têm vínculo partidário formal. Os demais 31 são filiados a partidos políticos e, no próximo ano, estarão no palanque eleitoral como candidatos ou cabos eleitorais dos aliados.

Até agora, pelo menos 18 ministros deverão concorrer em 2010, desfalcando o governo a partir de abril. A tendência é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva preencha a maioria das vagas com secretários-executivos dos ministérios, como fez em 2006.

O PT, que controla 17 ministérios, também tem o maior número de prováveis candidatos — nove —, incluindo a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata a presidente. O PMDB tem cinco ministros-candidatos; PCdoB, PR, PDT e PSB têm um cada. São seis possíveis candidatos a governador. Na última segunda-feira, durante a posse do ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, o próprio Lula defendeu o loteamento de cargos públicos entre as siglas aliadas. E disse que ninguém leva para o governo os inimigos, deixando de fora os amigos. Os ministros que são candidatos têm usado os dias próximos dos fim de semana para ter agendas políticas e eventos de campanha em seus estados.

Amorim assinou a ficha de filiação ao PT anteontem.

O presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP), cuidou de mandá-la para registro no cartório eleitoral de Teresópolis, domicílio eleitoral do ministro. Amorim era filiado ao PMDB há muitos anos, mas não tinha militância partidária. O chanceler tem uma atuação política no governo, adotando as teses do PT ao lado de Lula, mas não disse ainda se é candidato.

— Temos orgulho e honra da filiação do ministro Amorim, mas não tem projeto eleitoral — disse Berzoini, sem descartar, no entanto, uma candidatura do ministro e enumerando fatores que o credenciariam a disputar a eleição: — Ele foi chanceler de dois governos, tem um grande compromisso com a causa pública, mas decidiu se filiar ao PT para manifestar identidade com o partido.


No caso de Meirelles, seria a primeira vez que um presidente do BC, no cargo, se filia a um partido para disputar eleições. Ele só deverá deixar o posto em março do ano que vem.

Oposição critica filiação de Amorim

Líderes da oposição criticaram a filiação de Amorim ao PT.

— O Amorim só cumpriu uma formalidade, já era petista disfarçado e agora, pelo menos, assumiu.

Ninguém pode esquecer que ele é o autor da expressão “nosso guia” para Lula. Foi só uma formalização do petismo — comentou o líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN).

— A convivência com o PT explica esse desastre que foi a atuação do ministro Amorim em Honduras. Toda a sua formação, a diplomacia, sua trajetória e toda a sua lucidez agora serão ofuscados pela opção partidária — completou o líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO).

Berzoini e o secretário-geral do PT, deputado José Eduardo Cardozo, minimizaram o fato de 31 dos 37 ministros de Lula serem filiados a partidos políticos.

— Desde o começo do governo, a maioria dos ministros tem filiação partidária. No caso do PT, a maioria é da cota do presidente. O partido indicou sete, o que não significa que os demais não tenham o nosso respaldo — disse Berzoini.

Para Cardozo, nem mesmo o número de ministroscandidatos trará prejuízo ao desempenho do governo.

— Quem for candidato terá de sair no prazo legal, e o presidente tem nomes suficientes para compor a equipe — afirmou.

Para o senador tucano Álvaro Dias (PR), o grande número de ministros candidatos ou filiados a partidos políticos pode significar um risco de abuso da máquina pública na campanha do ano que vem.

— Isso é um fato inédito na história política do Brasil republicano. Nunca houve tantas candidaturas no primeiro escalão. Coincidência ou não, dados do Siafi mostram um direcionamento na celebração de convênios e na liberação de recursos para os estados de origem dos ministros hoje pré-candidatos — afirmou Dias.

Os ministros que pretendem disputar as eleições do ano que vem terão que deixar seus cargos no início de abril, prazo de desincompatibilização fixado pela Justiça Eleitoral.

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