quarta-feira, 28 de outubro de 2009

“Herança maldita” resgatada

Tiago Pariz
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Expressão usada pelo presidente Lula para definir o estado do país quando assumiu o governo deixado por FHC será retomada para pautar o programa de governo de Dilma Rousseff. A ideia é ressaltar que a ministra terá um “céu de brigadeiro” para governar o país

Os petistas dedicados a elaborar o esboço do programa de governo para a eleição do ano que vem trabalham com um olho no retrovisor. O grupo começou a desenhar o documento debruçado sobre a expressão “herança maldita”, cunhada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos primeiros anos do seu governo, para enfatizar que a ministra Dilma Rousseff, pré-candidata petista ao Palácio do Planalto, terá mais capacidade de realização do que seus adversários.

Os responsáveis pela tarefa estão levando à risca a ordem dada por Lula: marcar as diferenças das realizações deste governo em relação às duas gestões de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). A ação reforça a tentativa do atual governo de resumir a sucessão a uma batalha entre duas propostas.

Na primeira reunião do grupo de trabalho, ficou decidido que o documento mostrará que Dilma poderá fazer um governo melhor até que o de Lula porque ela não terá a “herança maldita” de Fernando Henrique no colo. Essa mesma frase foi usada em 2003, quando Lula teve de explicar os motivos da série de medidas impopulares na economia.

“O sentido geral do documento é que Dilma vai dar continuidade a oito anos de um governo exitoso. E será qualitativamente superior porque terá uma herança melhor do que a recebida pelo presidente Lula do Fernando Henrique”, disse o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, que integra o grupo de trabalho.

Coordenado por Marco Aurélio Garcia, assessor para assuntos internacionais do presidente Lula, o trabalho de construção das diretrizes do programa de governo para a eleição de 2010 teve apenas a primeira reunião. Em até duas semanas, os petistas decidirão os eixos fundamentais do documento.

Estratégias

Enquanto os colegas se debruçam sobre a plataforma de Dilma, o presidente do partido, Ricardo Berzoini (SP), convida lideranças aliadas(1) a formar um conselho político da pré-campanha. O dirigente explicou que a ideia é debater desde o programa de governo até estratégias eleitorais.

O presidente do PT usa o interesse dos aliados em aprofundar a discussão para forçar os partidos políticos a declarar oficialmente o apoio a Dilma. Esse fórum seria uma maneira de colocar os aliados no centro da definição de estratégias. “Para quem quiser discutir temas de saúde e educação, por exemplo, a hora é agora. Não vai dar tempo de debater isso no meio da campanha, no ano que vem”, alegou Berzoini. “Nós queremos ver quais partidos querem manifestar a intenção de participar da campanha e constituir o fórum”, emendou.

Esse grupo de discussão foi inspirado no conselho político do presidente Lula. Formado por presidentes e líderes de todos os partidos que apoiam o governo no Congresso, esse corpo consultivo é chamado para opinar sobre projetos de lei e conhecer de antemão propostas a serem enviadas ao Legislativo. “Como fazem parte do governo, já há convivência entre eles no conselho político”, disse o dirigente petista. Nesse caso, os escolhidos pelos partidos seriam conselheiros de Dilma para opinar em questões do programa de governo, do andamento da campanha e até no tom de discursos. No termo da aliança com o PMDB, o PT já havia esboçado a intenção de incluir na coordenação de campanha representantes dos partidos aliados.

Arco de alianças

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, usa a proposta do conselho político para aumentar o arco de alianças para a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e para não deixar desandar o pré-acordo eleitoral com o PMDB. Está marcada uma reunião com representantes dos 27 diretórios estaduais para enquadrar quem tiver a intenção de trabalhar contra o acordo com os peemedebistas nos estados

Serra defende visitas a obras

Na contramão de seus partidários, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), defendeu a divulgação de obras da administração pública para “colher dividendos políticos”. “Saber o que nós mesmos fizemos é importante para poder explicar, defender e inclusive colher dividendos políticos, o que é legítimo dentro de uma ação governamental”, disse o tucano.

PSDB, DEM e PPS entraram na Justiça Eleitoral contra a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para inspecionar obras no Rio São Francisco. As legendas aliadas de Serra argumentam que as visitas de Lula com a ministra Dilma Rousseff ao lado não passam de campanha eleitoral antecipada.

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