quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Favorito em pleito evita tomar partido em crise hondurenha

Ana Flor
Enviada aTegucigalpa
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Maioria dos candidatos defende que eleições aconteçam de qualquer maneira

Pesquisa encomendada por Partido Nacional mostra que sociedade está dividida entre Zelaya e golpistas, mas deseja ir às urnas


Em meio à polarização política do país, os principais candidatos às eleições presidenciais de Honduras são unânimes em defender que as eleições marcadas para 29 de novembro não sejam adiadas.

A posição é defendida nas reuniões que têm mantido nos últimos dias com mediadores internos e externos da crise. Apesar disso, com a exceção dos dois representantes da resistência ao golpe, os outros quatro candidatos tentam se manter longe das perdas políticas de se declararem pró-governo golpista ou pró-Zelaya.

"Não vou tomar partido por [Roberto] Micheletti nem por [Manuel] Zelaya, mesmo que me massacrem", diz Porfirio Lobo, do Partido Nacional, que perdeu para Zelaya em 2005 e hoje aparece como favorito. Pepe Lobo, como é conhecido, diz enfrentar diariamente pressões de evangélicos, católicos, empresários e políticos para que se posicione.

Seu principal adversário, Elvin Santos, do Partido Liberal (o mesmo de Zelaya e Micheletti), oficialmente se diz neutro, mas em conversas privadas tem posição pró-golpe. Santos foi vice-presidente até 2008, quando brigou com Zelaya. Ele defende que o presidente deposto seja julgado pelos supostos crimes cometidos durante seu mandato.

Também participam das negociações o ex-dirigente sindical Felícito Avila, candidato pelo Partido da Democracia Cristã, e Bernard Martínez, da sigla Pinu.

Os dois se manifestaram na segunda-feira publicamente contra um adiamento do processo eleitoral, proposto por Zelaya. "Não cabe ao governo definir a data das eleições", disse Avila.

"O processo eleitoral é responsabilidade de um tribunal independente, e isso não está na mesa de negociações", afirma Pepe Lobo.

Os dois candidatos da chamada resistência, que luta pela volta de Zelaya, Carlos Reyes, sem partido, e César Ham, deputado pela esquerdista Unificação Democrática, dizem não aceitar eleições enquanto o governo golpista estiver no poder. Reyes, candidato escolhido de Zelaya, reiterou ontem que poderá não participar do pleito, caso a democracia não seja restabelecida.

Pesquisa

Uma pesquisa do Partido Nacional realizada no dia 4 de outubro retrata a divisão do país. Segundo os dados, 80% da população se diz favorável às eleições, enquanto 12% dizem que elas não são necessárias.

O percentual da população que veria Zelaya negativamente é de apenas 3%, contra 34% de Micheletti. Mas 54% dos hondurenhos têm uma imagem negativa do presidente venezuelano, Hugo Chávez, aliado de Zelaya. O partido não divulgou a margem de erro.

Ainda segundo a pesquisa, 55% dos hondurenhos são contra uma mudança na lei que permita a Zelaya se reeleger. Outros 28% seriam a favor. A retirada do presidente deposto do país após o golpe, erro reconhecido ontem por Micheletti, é condenada por 53% dos entrevistados.

O item que mostra a maior divisão interna é o retorno de Zelaya à Presidência: 44% acham que ele não deve voltar ao cargo, enquanto 50% são favoráveis. O percentual restante se refere a indecisos ou àqueles que não quiseram opinar.

Sobre as intenções de voto, Pepe Lobo estaria hoje, conforme a pesquisa de seu partido, com 42%, contra 15% de Elvin Santos (PL). Reyes somaria 7,25% e os demais ficam em torno de 1%. Não há segundo turno em Honduras -o candidato mais votado vence.

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