sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Bradesco pode ceder 2 diretorias

Geralda Doca e Gerson Camarotti
DEU EM O GLOBO

Banco sacrificaria cargos "tucanos" na Vale para apaziguar ânimos

BRASÍLIA.
O Bradesco - acionista do bloco de controle responsável pela indicação de Roger Agnelli à presidência da Vale - estaria disposto a sacrificar duas das cinco diretorias-executivas da companhia a fim de dar uma resposta à insatisfação do governo com o executivo e apaziguar os ânimos. São áreas comandadas por indicações que o Executivo credita ao PSDB e que estão na empresa desde a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: Carla Grasso, (Serviços Corporativos e Recursos Humanos), mulher do ex-ministro da Educação Paulo Renato, e Fábio Barbosa (Finanças e Relações com Investidores), secretário do Tesouro na era tucana.

O Bradesco, porém, pretende manter Agnelli. E avisou ao presidente Lula que não quer vender suas ações da Vale, seja para Eike Batista ou qualquer investidor. Lula esteve com um representante do banco em Copenhague há 15 dias. O presidente tem dito a interlocutores que ficará satisfeito se Agnelli ceder à pressão e alterar pontualmente sua gestão.

Lula já foi informado também que a Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) não pretende se desfazer das ações da Vale para favorecer Eike - movimento com o qual Lula concorda, até porque este investimento na mineradora é considerado o melhor negócio para os segurados.

Conforme definiu ao GLOBO um executivo do Bradesco, a troca nas diretorias seria uma forma de "criar uma zona de conforto (na Vale)". A ala do governo que destila veneno contra Agnelli e os fundos dizem não ver razão especialmente para a permanência de Carla no cargo, pois ela não seria "o único gênio para administrar a área de recursos humanos da maior empresa do Brasil".

A contratação e a demissão dos diretores-executivos é prerrogativa de Agnelli, que submete as decisões ao Conselho Administrativo. Porém, ex-funcionário do Bradesco, ele pode ser aconselhado a fazer as trocas, que poderão ocorrer agora ou num segundo momento, assim que a poeira baixar, contou uma fonte.

Carla chegou à companhia em 1997 pelas mãos de Benjamin Steinbruch para trabalhar com recursos humanos e, em 2000, foi promovida à diretora-executiva de Serviços Corporativos. Pouco antes do encerramento do primeiro semestre, o antigo diretor de Recursos Humanos, Marco Dalpozzo (que comandou as criticadas demissões deste ano), deixou a Vale e Carla acumulou a área.

Já Barbosa chegou em 2002, quando deixou a secretaria do Tesouro Nacional. Antes, era o representante da União na Vale.

Entre os diretores-executivos da Vale, só Tito Botelho Martins Junior (área de Não-Ferrosos) é funcionário de carreira. Eduardo de Salles Bartolomeo (Logística, Gestão de projetos e Sustentabilidade) veio da AmBev, e José Carlos Martins (Ferrosos), da Latasa S.A.

Fundos de pensão criticam o "jogo duplo" da Vale, que manteria nomes ligados aos tucanos para fazer média com o partido, enquanto o espaço dos fundos, acionistas da mineradora, na diretoria não é ampliado.

Enquanto isso, Roger tenta recuperar a confiança de Lula. Anteontem, o presidente recebeu uma ligação do executivo. Foi uma conversa rápida, relatou um interlocutor, eles ficaram de voltar a conversar.

O Bradesco não quis se manifestar. A Vale afirmou que não há substituições de diretorias programadas.

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