domingo, 18 de outubro de 2009

Ao sabor dos ventos de campanha

Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Aperte o cinto porque o piloto sumiu! Aliás, o piloto, o copiloto, a tripulação inteira voa por aí em campanha aberta, deixando Brasília entregue... Entregue a quem mesmo?

O presidente Lula viaja tanto ou mais pelo mundo do que "Fernando Viajando Cardoso", lembra? E passa três dias "fiscalizando" as obras de transposição do rio São Francisco, enquanto tira fotos pescando com a candidata Dilma.

Aliás, Dilma também viaja por aí, enquanto a Casa Civil fica por aqui, em Brasília, com os atos e programas do governo em segundo plano.

Além deles, o ministro Tarso Genro assume a campanha no Rio Grande do Sul e até o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, é candidato a alguma coisa, não se sabe exatamente ao quê.

Já há ministros reclamando. Desses ministros chatos, de áreas técnicas, que têm de tomar decisões, assinar atos, tocar o bonde -e não os aviões- adiante. Cadê o Lula? Não está. Cadê a Dilma? Não está. E aí, o que fazer? Fácil: chama o bispo!

Tudo pela campanha, até um recuo atrás do outro. Num dia, o governo diz que pretende taxar a poupança. Dá uma confusão danada, aí recua. No outro, o repórter Leonardo Sousa descobre a mutreta de empurrar com a barriga a devolução do IR da classe média para compensar a queda de arrecadação. Dá uma confusão danada, aí recua.

Nessa campanha descarada, todo recuo vale. Até na Vale mesmo, uma empresa privada. Antes, Lula falava mal da Vale, Dilma cobrava a companhia, ambos deixavam claro que, se dependesse do Planalto, a permanência de Roger Agnelli na presidência estava por um fio.

Até que o megaempresário Eike Batista entregou o jogo: que tal botar no lugar do técnico Agnelli o político Sérgio Rosa, do PT?

Deu no que deu: uma confusão danada. Aí, todo mundo recuou, ficou o dito pelo não dito, e Agnelli ganhou sobrevida. Mas só "no momento", como bem disse Eike.

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