quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Vaias azedam relação entre Cabral e Lindberg

Luiz Ernesto Magalhães e Maiá Menezes
DEU EM O GLOBO

Em encontro com Lula, governador vira alvo de manifestação e culpa prefeito petista; presidente critica protesto

A julgar pelas reações ao encontro de ontem em torno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador Sérgio Cabral (PMDB) e o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), dividiram pela última vez o mesmo palanque. Numa cerimônia, no Maracanãzinho — administrado pelo governo do estado —, Cabral foi vaiado pelo menos cinco vezes e responsabilizou o desafeto, em clima de guerra pré-eleitoral. Os dois, da base de Lula, são pré-candidatos à sucessão estadual em 2010.

— Não vou mais a nenhum evento do Lula em que o Cabral esteja. Toda vez que ele é vaiado, coloca a culpa em mim. Foi assim em Cabo Frio, Nova Iguaçu e hoje. Não tenho nada a ver com essa vaia — disse o prefeito, recém-operado da garganta.

Incomodado com as vaias, Lula reclamou, na introdução do discurso, para cerca de 3 mil pessoas, sem citar Lindberg: — Não é justo, não é politicamente correto a gente vir para um ato público em que as pessoas mais pobres estão tendo uma pequena oportunidade de receberem o seu diploma e companheiros, com divergências políticas, virem vaiar alguém. E vaiar faz parte da manifestação democrática. Mas é uma coisa depreciativa num ato como esse — disse Lula, que entregou 1.954 diplomas do programa de qualificação profissional para beneficiados pelo Bolsa Família.

Lula, que disse preferir estar entre o povo do que entre “os mais famosos artistas do mundo”, afirmou que seu sucessor terá de ter “sentimento”.

— Vocês representam a cara de milhões de brasileiros, que estão vendo denúncia de corrupção todo dia. Ano que vem tem eleição, e é hora de o povo brasileiro levantar a cabeça e dizer: agora a gente tem que colocar gente lá que pelo menos tenha sentimento.

Gabriel de Paiva As vaias mais fortes no evento de ontem partiram de setores onde estavam integrantes com bandeiras da UNE, liderados pelo diretor Rodrigo Mondego, filiado ao PT: — Soubemos que tinha esse evento e viemos da Uerj, onde estávamos ouvindo as demandas dos estudantes, para prestigiar.

A situação do Rio está crítica em relação à educação.

O protesto ganhou eco entre os 931 formandos de Nova Iguaçu, que estavam na parte de baixo do ginásio. Cada diplomado levou dois convidados, levados por ônibus pagos por dez prefeituras da Região Metropolitana.

“Que papelão, hem?”, diz Cabral a Lindberg Irritado, Cabral, que já fora vaiado há duas semanas em evento com Lula e Lindberg em Nova Iguaçu, desistiu de discursar.

Se dirigiu a Lindberg, ainda no palanque, e disse: “Que papelão, hem?”. O prefeito, que saiu antes das outras autoridades, pela porta errada, revelou outra parte da conversa: — O governador apontou para mim na frente de todos no palco e disse: eles vão ficar roucos como você. Foi a maior saia justa. Parte vaiou e outra não aplaudiu. A culpa é do governo dele, que não devia ficar inventando culpados para esconder sua falta de popularidade.

Em desagravo a Cabral, a executiva estadual do PT tentou acalmá-lo, dizendo que essa não é uma prática do partido. PT e PMDB são aliados. O governador reagiu, dizem testemunhas:

— Eu nunca fui vaiado na vida.

Só em evento com Lindberg.

Não entendo isso. Eu não sou mal educado com ninguém.

O presidente municipal do PMDB, Jorge Picciani, usou o episódio como munição contra as pretensões do petista.

— Essa já é uma questão patológica.

Lindberg precisa de tratamento, porque tem muito ciúmes da relação do presidente com o governador

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