sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sobre a ponte de Ciro com o PSDB

Maria Cristina Fernandes
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Em visita ao Ceará no mês passado, o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), ouviu de Ciro Gomes que se sua candidatura vingasse no PSDB teria o apoio do deputado federal pelo PSB cearense. Na quarta-feira, quando pesquisas registravam sua ascensão, Aécio e Ciro voltaram a se falar. E o compromisso foi reiterado.

A candidatura Ciro atende aos mesmos apelos do mercado eleitoral que a de Marina Silva - a despolarização da disputa. E se o desmonte da lógica plebiscitária não interessa ao governador José Serra (PSDB) ou à ministra Dilma Rousseff (PT), anima, sim, o governador de Minas a permanecer na disputa.

Foi em dobradinha com Ciro que Aécio lançou e elegeu o ex-secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional Márcio Lacerda (PSB) à Prefeitura de Belo Horizonte.

O desmonte da lógica plebiscitária ressuscita o discurso que Aécio tentou emplacar naquela eleição ao lado do ex-prefeito de BH, Fernando Pimentel (PT): o de que o país tem mais a ganhar numa rota de aproximação entre PT e PSDB do que na colisão.

Pimentel embarcou na candidatura Dilma e virou a página, enquanto Aécio recolheu suas armas face à liderança de Serra nas pesquisas até que Ciro, paradoxalmente o mais bélico do panorama eleitoral, lhe permitiu entoar novamente o mantra da conciliação.

O momento levanta temores de que o embate plebiscitário chamusque o tucanato. Aécio é favorável, por exemplo, a que o PSDB não obstrua a tramitação dos projetos do pré-sal para que a votação não chegue à fase mais quente da campanha eleitoral.

Se o debate, amplificado, não expõe posições tão antagônicas entre os dois partidos, explicita, por exemplo, o discurso do principal aliado tucano, o DEM, que tem batido de frente com os governistas no tema.

Aécio não despreza a capacidade de transferência de voto de um presidente da República com 80% de aprovação. Luiz Inácio Lula da Silva + Partido dos Trabalhadores levariam Dilma a 30% das intenções de voto. Além disso, caberia à candidata ampliar.

Para isso, dependeria além de seu carisma e traquejo político, do trânsito junto aos partidos da base governista, os mesmos que se alvoroçam quando surge uma terceira via ao plebiscito.

Dado que a relação histórica de Ciro com o senador Tasso Jereissati não reverbera fora do Ceará, e tendo Serra se tornado um adversário figadal, o governador de Minas tornou-se o principal interlocutor de Ciro no PSDB.

Face às pretensões nacionais do governador de Pernambuco e presidente de seu partido, Eduardo Campos, Aécio também acabou se tornando o principal aliado de Ciro na política nacional.

Oriundos do mesmo partido e região, Eduardo e Ciro não cabem numa mesma chapa. O mesmo já não se poderia dizer de uma chapa Aécio-Ciro, sonho ainda acalentado no Palácio da Liberdade.

O governador de Minas tem até meados de dezembro para decidir que rumo tomar. Não tem demonstrado estar empenhado numa disputa a ferro e fogo. Se avaliar que sua candidatura tem condições políticas e eleitorais de evoluir, vai entabular a realização de prévias.

No Palácio da Liberdade, a avaliação é de que estas só não aconteceriam se Serra decidir permanecer no governo de São Paulo, perspectiva alimentada pela possibilidade de o cargo ser entregue de volta ao seu antecessor, Geraldo Alckmin.

As pesquisas que chegam ao Palácio da Liberdade dão conta de que o governador paulista está próximo do teto de conhecimento - em torno de 90% -, Dilma já seria conhecida de sete em cada dez brasileiros e Aécio, de 60%.

O governador de Minas, estacionado num patamar de votos aquém dos 15%, terá, de imediato, poucas possibilidades de aumentar sua exposição nacional, única condição para fazê-lo deslanchar. A ascensão de Ciro não muda esse cenário, mas lhe dá uma âncora política.

Uma aliança com o PSB ainda seria conveniente para personagens do PSDB nacional como o presidente nacional do partido, o senador Sérgio Guerra (PE) e Tasso Jereissati.

A ambos, possibilitaria aproximar sua candidatura à reeleição ao palanque dos governadores de seus Estados, ambos do PSB e favoritos na disputa. Além do mais, uma candidatura Aécio, em aliança com o PSB, teria uma conotação de menor confrontação com o lulismo acachapante do Nordeste.

Na negociação com o PMDB, aposta-se que o PSDB tem espaço para evitar que o partido firme aliança formal com o PT. Os pemedebistas contam porque têm grandes bancadas na Câmara e no Senado, egressas de fortes estruturas partidárias nos Estados. Ao partido interessaria, acima de tudo, mantê-las e ao PSDB, abrir espaço para tanto.

No Sul, além dos palanques gaúcho e catarinense, o PSDB estaria disposto até mesmo a negociar a candidatura ao governo do Estado do prefeito de Curitiba, Beto Richa, em favor do senador Osmar Dias (PDT), um candidato que comporia mais facilmente com o PMDB.

Em Minas, Aécio mostra-se mais disposto do que a dupla petista Pimentel/Patrus Ananias a negociar com o senador Hélio Costa (PMDB). Na Bahia, os tucanos confiam que o rompimento do ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) e o governador Jaques Wagner (PT) é para valer.

A perspectiva de Lula ausentar-se dos palanques estaduais pemedebistas não seria suficiente para ameaçar o partido, dado que haveria poucas candidaturas da base governista, a começar daquelas encabeçadas pelo PT, favoritas nos Estados.

O tom de Aécio em relação a Serra é conciliatório, mas está descartada, em definitivo, a chance de o eleitor mineiro aceitá-lo como vice. No Palácio da Liberdade ainda se avalia a conveniência de o governador licenciar-se por 15 dias para uma viagem pela Amazônia e pelo Nordeste no final do ano.

Ainda aguarda, sem afobamento, os desdobramentos políticos trazidos pela despolarização da campanha eleitoral. Das poucas certezas que exibe, está a de que o PSDB não terá outra chance como a de 2010 para chegar ao poder.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras

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