terça-feira, 29 de setembro de 2009

Serra faz crítica indireta a Lula

Silvia Amorim
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Governador referiu-se ao presidente como "político exagerado" durante evento na capital paulista

Ao entregar a 40ª escola técnica da sua gestão com evento em uma das maiores favelas de São Paulo, o governador José Serra (PSDB) referiu-se indiretamente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um "político exagerado". A crítica, velada, foi feita enquanto o tucano comentava o plano de expansão de faculdades de tecnologias no Estado. "Quando o (Geraldo) Alckmin foi governador tinham nove Fatecs, ele deixou 26. Eu propus dobrar para 52. Como diriam políticos exagerados, fazer tantas quantas foram feitas desde a época do descobrimento", disse o governador ontem, arrancando risos do público.

A expressão "nunca antes desde o descobrimento do Brasil" é usada com frequência por Lula para exaltar suas realizações. "Nunca, desde o descobrimento do Brasil, se fez tanto pelo Nordeste brasileiro como no meu governo", afirmou o presidente numa dessas ocasiões.

Em entrevista, Serra não negou nem confirmou que estivesse falando de Lula. "Não, especificamente. Mais de um político falou isso", desconversou.

Provável candidato do PSDB à Presidência, Serra mostrou preocupação com a divulgação das ações do governo. Ele cobrou de sua equipe - estendendo o recado à Prefeitura de São Paulo - mais publicidade das obras no Estado. "Na prefeitura e no Estado é muito difícil levantar aquilo que está sendo feito. Tem um fenômeno psicológico qualquer que o pessoal resiste teimosamente em contar o que está fazendo", ironizou.

"O córrego do Sacomã eu não sabia que havia sido canalizado. Tem que intensificar a divulgação. Não se trata de inventar. É dizer aquilo que está sendo feito para que as pessoas saibam", prosseguiu. Serra estava acompanhado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), e o secretário estadual de Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, na inauguração em Heliópolis - escolas técnicas são vitrines do governo tucano.

A avaliação do tucanato é de que o PSDB ficou muito atrás do PT na divulgação de ações. O próprio Serra já manifestou em público o reconhecimento de que os adversários são melhores na hora de capitalizar politicamente suas realizações.

"Quando fui eleito prefeito, achei que Heliópolis era um canteiro de obras pelo que se falava na propaganda. Cheguei aqui e não tinha nada. Agora, não vou exagerar dizendo que é um canteiro de obras, mas mudou bastante", cutucou Serra, referindo-se à gestão da petista Marta Suplicy na prefeitura paulistana. "Antigamente tinha muito discurso e pouca ação. Hoje talvez a gente tenha pouco discurso e muita ação", emendou.

Serra pediu a uma líder comunitária que leve famílias para conhecer a obra. "Cleide, vale a pena trazer o povo de Heliópolis para ver a escola. Não apenas os estudantes, mas as famílias, mesmo quem tenha filho pequeno. Seria muito interessante."

Ele reagiu a declarações do deputado e pré-candidato do PSB à Presidência, Ciro Gomes (CE). "Comigo não tem risco, porque não entro no baixo nível", disse Serra. "Isso toma tempo e tenho mais o que fazer, que é trabalhar para corresponder a expectativa da população."

Na sexta-feira, Ciro, em discurso a sindicalistas em São Paulo, disse que o governador era "feio para caramba, mais na alma que no rosto". E, depois, acusou Serra de ter "atitude destrutiva" com rivais. "A conduta dele é feia, de não enfrentar o adversário com linguagem civilizada. No meu caso é uma coisa terrível, até minha conta-salário ele conseguiu que um juiz de São Paulo bloqueasse." O deputado foi condenado a pagar indenização de cem salários mínimos por ter chamado Serra de "candidato dos grandes negócios e negociatas".

Ambos são inimigos declarados.

Serra adotou o mesmo tom de desprezo ao se referir ao vereador Gabriel Chalita, que se desligou do PSDB e oficializa hoje a filiação ao partido de Ciro. No sábado, em entrevista ao Estado, Chalita criticou a gestão Serra na educação, área que o vereador chefiou no governo Geraldo Alckmin, e apontou o tucano como responsável por sua saída do PSDB. "Não estou nem aí", disse Serra, a respeito das críticas.

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