quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Lula pede pressa à ONU após onda de saques em Honduras

Tegucigalpa
DEU EM O GLOBO

Violência cresce e uma pessoa morre; Zelaya diz que mortos já são 10

O presidente Lula pediu ações rápidas do Conselho de Segurança da ONU, que se reúne amanhã, para solucionar a crise em Honduras, agravada com a disseminação de confrontos em outros pontos da capital, Tegucigalpa. Pelo menos uma pessoa morreu. “A comunidade internacional exige que Manuel Zelaya reassuma imediatamente a Presidência de seu país”, disse o presidente, na abertura da Assembleia Geral da ONU. Lula agendou uma conversa com o presidente dos EUA, Barack Obama, sobre Honduras.

Houve uma onda de saques a supermercados, lojas e bancos, depois que o governo de Honduras suspendeu o toque de recolher por sete horas para que as pessoas pudessem reabastecer suas casas. Os protestos em favor de Zelaya se intensificaram após sua volta ao país. Segundo Zelaya, houve mais de dez mortes desde a segunda-feira.

Ele continua abrigado na Embaixada do Brasil, onde seus correligionários recusaram-se a dividir com os funcionários brasileiros a comida que receberam de organismos internacionais de ajuda humanitária.

As tropas do governo golpista mantinham o cerco à embaixada.

Saques e violência na capital

Confrontos se alastram por Tegucigalpa, deixando pelo menos duas pessoas mortas

O caos registrado na véspera nos arredores da embaixada brasileira em Tegucigalpa se espalhou ontem por outros pontos da capital hondurenha, deixando dois mortos.

Além de confrontos entre simpatizantes do presidente deposto Manuel Zelaya e a polícia, supermercados, lojas e bancos foram alvos de saques. O levantamento do toque de recolher das 10h às 17h para que a população pudesse se reabastecer provocou uma corrida a supermercados e postos de gasolina, com longas filas se formando antes mesmo de as portas se abrirem e os hondurenhos reclamando da escassez de produtos.

— Temos combustíveis, alimentos. Peço que mantenham a calma — disse o ministro da Indústria e Comércio, Benjamín Bogran, na TV, num apelo.

Os protestos se intensificaram depois da volta de Zelaya ao país. Deposto em 28 de junho, ele retornou na segunda-feira e pediu abrigo na Embaixada do Brasil. Na manhã de terça, zelayistas foram expulsos das imediações. Os confrontos se repetiram à noite (madrugada no Brasil), e as manifestações foram reprimidas novamente. Num dos confrontos, o operário Francisco Alvarado, de 65 anos, acabou encurralado entre os manifestantes e a polícia. Alvarado foi o primeiro morto desde o retorno de Zelaya. A polícia informou ainda a morte de um manifestante no sul da capital, em condições não esclarecidas.

Mais cinco manifestantes foram baleados. Zelaya, porém, afirmou que o número de vítimas é maior: — Houve mais de dez mortos desde segunda-feira. Não estão informando os nomes, há desaparecidos — disse à rede de TV CNN. — Há mais de cem presos e dezenas de feridos.

Saques e atos de vandalismo foram registrados em 50 pontos da capital, em ações atribuídas pela polícia a simpatizantes de Zelaya. Pelo menos 113 pessoas foram presas e, segundo jornalistas, 83 ficaram feridas. O líder da Resistência contra o Golpe, Juan Barahona, afirmou que a situação “é causada pela repressão deflagrada pelo (governo de Roberto) Micheletti”.

O governo suspendeu por sete horas o toque de recolher, avisando que não permitiria a concentração de mais de 20 pessoas. Mas as filas davam voltas em quarteirões. O país está paralisado: com o toque de recolher, não funcionam escolas, lojas e o abastecimento ficou prejudicado. A crise política está provocando uma perda diária de US$ 40 milhões.

Pela manhã, cerca de 5 mil de simpatizantes atravessaram as ruas da capital gritando “Veio Mel, Mel amigo, o povo está contigo”, numa referência ao apelido de Zelaya, até terem a passagem impedida pela polícia antimotins.

Segundo a Rádio Globo, outras milhares foram impedidas de chegar à capital devido aos bloqueios nas estradas.

À noite, o toque de recolher foi retomado por tempo indeterminado.

A Embaixada do Brasil continua cercada por militares. Um ruído ensurdecedor era emitido à noite, no que Zelaya chamou de “guerra psicológica”.

A situação afeta também os vizinhos da embaixada. Um deles reclamou do cenário de guerra que tomou conta da região, com carros queimados e janelas quebradas. Janin Padilla pediu que Zelaya e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sejam responsabilizados. “Exijo justiça. Destruíram a minha casa com pedras”, disse à imprensa local.

ONU retira apoio à eleição hondurenha

Ontem, o governo golpista convidou uma missão da Organização de Estados Americanos (OEA) a visitar o país, informou o Departamento de Estado dos EUA. Micheletti, que assumiu o governo após o golpe, havia dito horas antes que estava disposto a conversar com Zelaya, desde que este reconheça as eleições presidenciais de novembro. A proposta, no entanto, parecia vazia: ela não admitia que Zelaya reassumisse o poder, nem retirava a ordem de prisão e as acusações apresentadas contra ele. Micheletti pediu ainda que Zelaya “pare de incentivar atos de vandalismo” a partir da embaixada.

Zelaya, por sua vez, denunciou uma tentativa para assassiná-lo: — Me informaram que havia um plano para fazer parecer suicídio no momento da invasão (da embaixada).

A Anistia Internacional anunciou que está alarmada com a situação em Honduras, destacando as prisões em massa. Na segunda-feira, 150 pessoas (300, segundo a oposição) foram presas diante da embaixada e levadas a um estádio de beisebol. Ontem ainda havia manifestantes detidos no local.

Apesar das críticas do governo, o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, disse à rede BBC que o Brasil “atuou com o respaldo da comunidade internacional”. A ONU decidiu suspender a cooperação com a comissão eleitoral para o pleito de novembro, por não ver condições para uma votação confiável. Segundo o chanceler Celso Amorim, a reunião do Conselho de Segurança da ONU pedida pelo Brasil será realizada na sexta-feira.

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