terça-feira, 22 de setembro de 2009

Governo antecipa campanha e ministros somem de Brasília

Cristiane Jungblut
Brasília
DEU EM O GLOBO

Em campanha eleitoral antecipada, é cada vez maior a lista de ministros do governo Lula que aproveitam as viagens a seus estados de origem e esticam o fim de semana com eventos às sextas ou segundas-feiras. O ministro da Justiça, Tarso Genro, pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul pelo PT, passou, de abril a agosto deste ano, 38 dias fora de Brasília - 60% deles em solo gaúcho. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo (PT), aproveita as sextas e segundas-feiras para agendas no Paraná, onde sua mulher quer disputar o Senado. Em Minas, dois ministros pré-candidatos estão em campanha: Hélio Costa (Comunicações), do PMDB, e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), do PT. Na última sexta-feira, o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), que disputará pelo PMDB o Senado ou o governo da Bahia, vistoriou obras e recebeu homenagens no interior. No Amazonas, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR), tem feito o mesmo.

Palanque antecipado para ministros

Pré-candidatos esticam o fim de semana em seus estados com agendas políticas

Em campanha permanente, ministros políticos do governo Lula adotaram uma prática criticada pelos petistas no passado: a de “produzir” agendas oficiais em seus estados de origem, esticando o fim de semana. A prática, utilizada ao longo do mandato, ganha força em ano pré-eleitoral, com os ministros presentes em eventos marcados por anúncios de obras, ações ou programas do governo e relativos à sua área.

Os petistas Tarso Genro (Justiça) e Paulo Bernardo (Planejamento) são mais sistemáticos em reservar as sextas ou as segundas — ou os dois dias — para eventos em seus estados.

Só em setembro, Tarso, pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul pelo PT, esteve todas as sextas-feiras no estado. O ministro, que já anunciou que deve deixar o governo em dezembro para se dedicar às atividades no estado, esteve em Porto Alegre, na sexta-feira, na comitiva do presidente Lula, num evento que se transformou em campanha para as candidaturas do próprio Tarso e da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Em agosto, foram seis agendas dele no Rio Grande do Sul, sempre às sextas ou às segundas. No dia 24 de julho, Tarso esteve em Goiânia e depois viajou para o Rio Grande do Sul. De abril a agosto, foram 38 dias fora de Brasília — 60% do tempo em solo gaúcho.

A assessoria de Tarso justifica as agendas próximas do fim de semana, argumentando que, por lei (aprovada em 2002, no governo Fernando Henrique Cardoso), o ministro tem direito a voltar ao estado de origem no descanso semanal, com deslocamento custeado pelo governo ou em aviões da FAB. Segundo a assessoria, Tarso prefere marcar agendas para aproveitar melhor o deslocamento.

Paulo Bernardo não decidiu ainda se será candidato, mas sua mulher, Gleisi Hoffmann, disputará o Senado pelo Paraná. Ontem, ele ficou em Curitiba, num debate sobre o pré-sal. E nas duas primeiras sextas-feiras do mês, também teve agenda no estado.

Desde julho, a agenda de Bernardo registra vários compromissos no estado.

Em agosto foram pelo menos quatro dias no Paraná, sendo sempre antes ou depois do fim de semana.

“O ministério é muito presente”

Praticamente todos os ministros políticos têm a mesma rotina. Hélio Costa, das Comunicações, pré-candidato ao governo de Minas pelo PMDB, tem a agenda recheada de compromissos em Belo Horizonte e em outras cidades mineiras. Ontem, ele viajou para o Peru em compromisso oficial, mas, em setembro, esteve cinco vezes em Minas. No último dia 18, sexta-feira, foi a Diamantina (MG) e no dia 11, também uma sexta, a Passos e Capitólio.

O site do ministério mostra ainda um encontro no dia 17, uma quinta-feira, com o governador Aécio Neves.

Há vezes em que dois ministros estão no mesmo estado em atividades políticas. No mesmo dia 11 de setembro, o também pré-candidato ao governo de Minas Patrus Ananias (PT), ministro do Desenvolvimento Social, esteve em Juiz de Fora para palestra na universidade federal e depois participou de encontro com o diretório municipal do PT. Ontem, participou da abertura do 8° Festival Lixo e Cidadania, em Belo Horizonte. Questionado, Patrus disse ontem que suas sucessivas viagens a Minas se devem a atribuições no governo. Mas negou que tenha intensificado as visitas.

— Rigorosamente, (a agenda continua) a mesma coisa. O ministério é muito presente, temos muitas obras, um conjunto de ações enorme — afirmou, atribuindo as perguntas a um excesso de interesse da imprensa em ano pré-eleitoral: — De uns tempos para cá, vocês (jornalistas) estão mais atentos.

Ele admitiu que, paralelamente às ações da pasta, tem se ocupado de compromissos do PT em Minas, mas fora do horário de trabalho: — À noite, depois de cumpridas as atividades, eu posso eventualmente me reunir com pessoas para atividades mais partidárias. Isso é uma coisa absolutamente ética e legal.

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, é outro que sempre procura esticar o fim de semana. Segundo o site do ministério, Minc teve atividades no Rio da última sexta-feira ao domingo, com visita à Baixada Fluminense na sexta e encerrando com um passeio ciclístico no domingo.

Outro que está há tempos em plena campanha, seja para o governo da Bahia ou para o Senado, é o da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB). Só na sexta-feira, dia 18, almoçou com jornalistas, vistoriou obras e recebeu homenagem em Feira de Santana (BA). No sábado foi a Guanambi, e ontem teve agenda em Salvador.

Candidato ao governo do Amazonas, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, do PR, tem sua agenda no estado durante a semana prejudicada, em parte, pela agenda do presidente Lula, que inaugura e visita muitas obras de sua área. Mas sempre que está livre vai para o interior do Amazonas, como fez no dia 4, uma sexta-feira, quando visitou obras com recursos do PAC em três cidades: Manacapuru, Novo Airão e Iranduba.

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