sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Decisão da ONU aponta para mundo sem armas nucleares

Marília Martins
Correspondente
DEU EM O GLOBO


Numa sessão histórica, o Conselho de Segurança da ONU aprovou por unanimidade uma resolução pedindo o fortalecimento do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. Primeiro presidente dos EUA a presidir uma reunião do conselho, Barack Obama disse que a decisão reafirma o compromisso dos países “com a meta de um mundo sem armas nucleares". O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, elogiou a decisão: "Vivemos hoje o começo de um novo futuro. Os cínicos diriam para sermos realistas, mas estão errados porque o desarmamento é o caminho mais seguro."

Resolução histórica contra as armas nucleares

Conselho de Segurança da ONU, presidido por Obama, aprova pedido pelo fim da corrida armamentista atômica

NOVA YORK. Numa sessão histórica, o Conselho de Segurança da ONU aprovou ontem por unanimidade uma resolução pedindo o fortalecimento do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares e a convocação de uma nova conferência sobre o tema para 2010. Foi a primeira vez que um presidente americano presidiu uma reunião do Conselho de Segurança. Barack Obama, que chegou à ONU acompanhado da secretária de Estado Hillary Clinton e da embaixadora americana na ONU Susan Rice, elogiou a resolução por “reafirmar o compromisso de todos com a meta de um mundo sem armas nucleares”.

Ao longo da reunião, que durou duas horas, Obama alertou que um único artefato nuclear em mãos de terroristas numa grande cidade poderia matar milhões de pessoas, deflagrando um conflito de proporções globais e lembrou que a ONU tem um papel central da prevenção de novas crises mundiais.

— Em meu país existe hoje um consenso entre democratas e republicanos na busca de ações pelas quais possamos reduzir o arsenal nuclear mundial e os riscos de um conflito.

Uma guerra nuclear não pode ser vencida e jamais deveria ser lutada — disse Obama.

Irã e Coreia do Norte não foram citados na resolução O texto da resolução foi feito pela diplomacia americana e aprovado por unanimidade, após serem retiradas menções nominais ao Irã e à Coreia do Norte, a pedido da China e da Rússia. Em seu discurso, porém, Obama citou os dois países e cobrou compromisso com resoluções já aprovadas contra eles, mas ainda sem resultados: — Não se trata de cobrar de nações individualmente, mas sim de trabalhar para uma união mundial de modo a provar que o direito internacional não é apenas uma promessa vazia.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também qualificou o momento atual como o de uma “decisão histórica”: — Vivemos hoje o começo de um novo futuro. Os cínicos diriam para sermos realistas, mas hoje eles estão errados porque o desarmamento é o caminho mais seguro para garantir um futuro para todos — avaliou o secretário, que previu uma nova rodada de negociações em busca de consenso para a conferência de 2010 e de novos signatários para o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, assinado por 188 nações, mas que exclui nove países-chave, entre eles Israel, Índia, Paquistão e Coreia do Norte. O Irã é signatário do tratado.

A presença de Obama na reunião do Conselho de Segurança pretendeu, disse a Casa Branca, chamar atenção para o novo papel reservado para a ONU na política externa americana.

A reunião teve presença de 14 dos 15 líderes que atualmente estão no Conselho e o único ausente foi Muamar Kadafi, presidente da Líbia. Fazem parte do conselho EUA, Costa Rica, Croácia, Rússia, México, Áustria, Vietnã, Uganda, China, França, Burkina Faso, Reino Unido, Japão, Turquia e Líbia (num assento temporário). Também esteve presente Mohamed El Baradei, o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

Chávez diz que ONU não cheira mais a enxofre O texto da resolução pede que esses quatro países assinem o tratado e que aqueles que têm armas nucleares façam esforços para reduzir o arsenal existente e trabalhem em prol de um “tratado de desarmamento geral e completo sob rígido controle internacional”.

E inclui medidas citadas por Obama em discurso em Praga, em abril, como um banco de combustível internacional para salvaguardar o material nuclear e negociações para um tratado que acabe com a produção dos materiais físseis usados nas armas atômicas.

Rússia e EUA devem assinar em dezembro um acordo para novas reduções em seus arsenais nucleares, e Obama promete o início de uma rodada de negociações com vistas a proibir a fabricação de artefatos nucleares de nova geração. E disse esperar que o Congresso americano ratifique um acordo para o banimento de testes nucleares: — Os próximos 12 meses serão decisivos para saber se nossos esforços para estancar a proliferação de armas nucleares poderão ser bem-sucedidos.

O presidente da China, Hu Jintao, disse que o país não planeja extinguir seu arsenal nuclear.

— Vamos manter nossas instalações nucleares no nível mínimo exigido para garantir a Segurança Nacional, e faremos esforços para avançar no processo de desarmamento internacional.

As críticas a Obama vieram de centros de delegações de países do movimento pelo não-alinhamento, que condenaram o texto da resolução pelo tom de ameaça para os que violarem obrigações nucleares.

— Obama está tentando promover a política externa americana como a busca de uma nova liderança mundial, mas o Conselho de Segurança vota apenas segundo os interesses de seus membros — diz Henry Sokolski, diretor-executivo do Centro de Educação e Políticas de Não-Proliferação de Armas.

Em discurso na ONU, o venezuelano Hugo Chávez acusou o Pentágono de estar por trás do golpe em Honduras e disse que há divergências entre os departamentos de Defesa e o de Estado.

Mas afirmou que o “cheiro de enxofre” da era Bush havia sido trocado pelo “cheiro de esperança” de Obama, e que temia muito pela vida do presidente americano. Ele convidou ainda Obama a se juntar ao socialismo e integrar “o eixo do mal”: — Não cheira mais a enxofre.

Cheira a outra coisa, a esperança.

E é preciso colocar a esperança no coração.

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