quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Em busca de uma saída

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


A iminência de uma tragédia parece estar levando o bom senso aos principais atores dessa comédia bananeira que se desenrola em Honduras, na qual não há lado certo. Está claro que o governo brasileiro vem buscando desesperadamente uma saída, depois de ter entrado de gaiato na armação chavista de transformar o presidente deposto, Manuel Zelaya, em um herói da democracia hondurenha.

Quando o assessor especial para assuntos de América Latina, Marco Aurélio Garcia, pede que os Estados Unidos tenham uma posição menos ambígua na questão, demonstra que nossa posição de protagonismo começa a ser colocada em dúvida.

Diplomaticamente é classificada como “irresponsável”, adjetivo que serve diretamente para Chávez, que se vangloriou de ter organizado a reentrada de Zelaya em Tegucigalpa, mas que cai como uma carapuça no governo brasileiro.

O subchefe da missão americana na OEA, Lewis Amselem, é considerado um linhadura, que já serviu em vários países da região, e pode estar tendo uma visão pessoal da questão. Se for assim, deveria ter sido desautorizado por sua chefe, a secretária de Estado, Hillary Clinton.

Mas a comissária para as Relações Exteriores da União Europeia (UE), Benita Ferrero-Waldner, também considerou que o retorno ao país do presidente deposto, Manuel Zelaya, “complicou” a solução para a crise local.

No seu depoimento de ontem no Senado, o chanceler Celso Amorim disse que o governo brasileiro não se considera usado por Chávez, embora reafirme que de nada sabia até meia hora antes de Zelaya se materializar na embaixada brasileira.

Uma atitude no mínimo estranha, que implica adesão à manobra guerrilheira chavista de reintroduzir em território hondurenho um presidente que estava no exílio.

Tanto a manobra quanto a adesão brasileira, permitindo que Zelaya se pronuncie abertamente convocando o povo à revolta, significam uma clara intromissão na política interna de outro país.

Sempre que os Estados Unidos invadiram países das Américas, e mesmo no caso do Iraque, o fazem alegando defender a democracia, o que não torna suas ações dignas de respeito pelos verdadeiros democratas.

O fato de a “comunidade internacional”, como salienta sempre que pode o chanceler Celso Amorim, ter condenado o “golpe” que tirou do poder o presidente democraticamente eleito não significa que tenha havido um golpe, mas apenas que a percepção internacional sobre as regras do jogo democrático varia de acordo com a importância geopolítica de cada país.

A Constituição de Honduras tem a mesma validade, e deve ser tão respeitada, quanto a de outro país qualquer de PIB maior ou de tradições democráticas mais sólidas. Não querer distinguir as diversas etapas do processo que levou Zelaya ao exílio ajuda a não encontrar saída para a crise regional que o Brasil tenta a todo custo transformar em internacional, colocando o Conselho de Segurança da ONU para atuar num campo em que o interlocutor deveria ser a Organização dos Estados Americanos (OEA).

Se é verdade que o Brasil se transformou em defensor da democracia na América Latina, como exagerou o chanceler Amorim ontem no Senado, é também verdade que esse neobolivarista Zelaya estava colocando em perigo a democracia na mesma região, e ninguém se incomodava com isso.

Quando o protoditador Hugo Chávez manda fechar jornais, rádios e televisões na Venezuela, não aparece nenhuma autoridade brasileira para protestar, e a “comunidade internacional” não se mobiliza para evitar que a democracia seja ameaçada.

Quando o presidente Lula pede que a ditadura cubana seja recebida pela OEA e pela ONU sem condicionar seu retorno à convivência da tal “comunidade internacional” a compromissos democráticos, perde substância seu apelo a favor da democracia representada por Zelaya.

O governo interino de Honduras já se convenceu de que cometeu um erro político fundamental ao exilar o presidente deposto sem que fosse julgado dentro das normas legais, colocando-se também o governo substituto fora da legalidade.

Mas não ajuda para uma saída da crise abrigar em nossa embaixada o presidente deposto com direito a promover manifestações políticas e incitamentos a revoltas populares, assim como não ajuda a OEA recusar apoio à realização de eleições em novembro, que é a única maneira de salvar a democracia hondurenha.

Para se chegar a uma solução do impasse, é preciso reduzir o grau de radicalização dos dois lados, e esse é um trabalho da tal “comunidade internacional”.

A decretação do estado de sítio pelo governo provisório, e consequente invasão de órgãos de comunicação, foi mais um passo em falso que não favorece a que o governo de fato seja bem visto pela “comunidade internacional”, mas organismos como a OEA, que deveria ser o intermediário para uma solução, não podem adotar uma posição radicalizada, colocando condições para uma saída.

O grau de paranoia é tão acentuado que a delegação de representantes da OEA e alguns embaixadores estrangeiros foram barrados porque o governo interino temia que junto com eles chegariam ministros de Zelaya querendo instalar um governo provisório.

O governo já recuou das duas medidas insensatas, e o diálogo está para ser retomado.

Apesar da retórica oficial de que qualquer solução tem que levar em conta a volta de Manuel Zelaya ao poder, o governo brasileiro já parece disposto a aceitar qualquer saída que seja negociada, e essa parece ser a posição que a tal “comunidade internacional” está tendendo a aceitar, para que se chegue a um clima que permita a realização das eleições em novembro.

Tiro e queda

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


A natureza humana - assim como a do escorpião - quando muito tarda, mas falhar, não falha jamais. Prova é a emenda constitucional assinada por 1,3 milhão de brasileiros, pedindo que pessoas com contas em aberto na Justiça não possam se candidatar a mandatos eletivos.

A proposta nem bem cruzou a porta de entrada do Congresso e já se deparou com o arsenal de matar inconveniências. Suas excelências, que já haviam deixado o clamado veto de fora das recentes modificações feitas a toque de caixa na lei eleitoral a fim de restringir o espaço de atuação da Justiça Eleitoral, não gostaram.

Antes que a matéria comece a tramitar, já propõem mudanças que, se aprovadas, alteram inteiramente o espírito da proposta popular. A emenda prevê a negativa de registro para candidatos que tenham sido condenados em primeira instância por racismo, homicídio, estupro, tráfico de drogas e desvio de verbas públicas.

Sem prejuízo, claro, daqueles já condenados por uso da máquina pública e compra de votos, hoje devidamente enquadrados na Lei 9.849/99, que deu base legal à Justiça para a cassação de três governadores eleitos em 2006.

Goste-se ou não da forma de substituição dos cassados - eleição indireta pela Assembleia Legislativa em um caso e, nos outros dois, posse aos segundos colocados nas urnas -, imponham-se reparos à demora das decisões judiciais, imponha-se a necessidade de encontrar uma maneira mais rápida e democrática para troca de comando no Poder Executivo, fato é que a aplicação da lei deu um freio de arrumação no abuso do poder, notadamente econômico.

Hoje, um candidato a presidente da República, um governador ou um prefeito em campanha precisam pensar várias vezes antes de partir para a ignorância no que tange ao uso de recursos, sejam eles públicos ou privados.

Pois a emenda popular contra os chamados fichas-sujas tem o mesmo caráter profilático. A despeito da regra geral que assegura a presunção da inocência até a última instância de julgamento para os cidadãos em geral, é muito justo que a regra seja mais rigorosa para quem pretenda representá-los.

Afinal de contas, quando uma denúncia chega a um tribunal, ela já passou pela polícia, pelo Ministério Público e por um primeiro crivo da Justiça. Pode haver injustiças? Pode, só que não estamos tratando de situações definitivas, irreversíveis.

Se depois de todos os recursos ficar provado que o acusado era inocente, muito bem. Recebe seu atestado de idoneidade - aquele mesmo exigido de qualquer um para se credenciar a cargos públicos - e se inscreve na chapa deste ou daquele partido, que, por sua vez, a registrará no tribunal eleitoral da região pretendida para a disputa de votos.

É tudo muito simples, mas suas excelências já estão achando complicadíssimo. Consideram o projeto "muito duro". Realmente, perto da frouxidão das regras que eles mesmos criam quando estão em jogo seus interesses, a proposta é um obstáculo.

Principalmente à desfaçatez de se achar muito natural que dois terços, ou três quintos, uma parcela dessa ordem de absurdo, dos parlamentares estejam respondendo à Justiça.

Na maioria eles alegam que os processos são produtos de perseguição ou armadilhas políticas. É de se perguntar: e os outros que nada devem, não têm adversários?

Novo rumo

O chanceler Celso Amorim dramatiza, diz que o Brasil abrigou Manuel Zelaya na embaixada em Tegucigalpa para proteger a vida do presidente deposto. Não fosse isso, hoje ele "estaria morto".

Um tom muitos decibéis abaixo da ufanista e animada declaração inicial de que a busca pela representação brasileira era um sinal do "prestígio" internacional do País.

Lição do abismo

Mais inadequada e explícita impossível a escolha do tema do discurso do presidente Lula na cerimônia de posse do novo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha: a defesa da partilha partidária de cargos na administração pública como forma de construir maioria no Congresso.

É assim que funciona, mas a citação rebaixa o Parlamento, representa aval presidencial ao fisiologismo e demonstra zero disposição de tornar mais institucionais as relações.

Túnel do tempo

Melhor que o pragmático era o Lula doutrinário, ainda candidato, em 2002, pregando o voto facultativo: "A política ficará melhor e mais depurada quanto maior for o interesse e a convicção com as quais o eleitor comparecer para votar." Até o português era melhor.

Para o Luiz Inácio de sete anos atrás, o compromisso partidário e o trabalho de conquistar a atenção da sociedade, despertando nela a vontade de participar, eram as missões primordiais do político com vocação para o exercício da representação popular.

Banzé brasuca em Tegucigalpa

José Nêumanne
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um gênio da política e disso não dá para duvidar. Reconhecer essa verdade, contudo, não esclarecerá se ele foi sincero (e, portanto, de um desconhecimento sesquipedal dos fatos) ou se apenas destilou um gosto peculiar pela ironia quando, na Cúpula América do Sul-África, execrou "retrocessos" institucionais em nosso continente - caso da deposição de Manoel Zelaya. Pois o fez ao lado do tirano líbio Muamar Kadafi, no poder há 40 anos, e do ditador de Zimbábue há 29 anos, Robert Mugabe. Falar em ironia no episódio chega a ser um cruel acinte à memória das vítimas de tantas ditaduras que prosperaram na América Central à sombra das bananeiras em flor. E, justiça seja feita, se se trata de mera ignorância, ela teria de ser imputada também a vários colegas de Lula, entre os quais o americano Barack Obama. Sem falar nos coleguinhas jornalistas que, rejeitando os fatos, classificam de "golpista" o governo de facto de Honduras.

Mel, como é apelidado o latifundiário eleito pela direita que aderiu ao bolivarianismo de Hugo Chávez, foi deposto, é verdade, e não submetido a um processo regular de impeachment, como o foi o primeiro presidente brasileiro eleito pelo voto popular depois da ditadura militar de 1964, Fernando Collor. Isso ocorreu, porém, à luz do ignorado artigo 239 da Constituição de Honduras, que reza peremptoriamente: "O cidadão que desempenhou a titularidade do Poder Executivo não poderá ser presidente ou vice-presidente da República. Quem quebrar este dispositivo ou propuser sua reforma, assim como aqueles que o apoiem direta ou indiretamente, terá de imediato cessado o desempenho de seu respectivo cargo e ficará inabilitado por dez (10) anos para o exercício de qualquer função pública."

Collor nem sonhou tentar o que Zelaya tentou: mudar a Constituição e convocar um plebiscito para permitir sua permanência no cargo, ao arrepio do Congresso e da Justiça. O ex-presidente hondurenho pediu apoio aos militares e, não o tendo obtido, demitiu o comandante das Forças Armadas. A Justiça mandou depô-lo, empossou o presidente do Congresso e não permitiu que ele se vestisse, embarcando-o de pijama para o exterior. O mundo inteiro se revoltou com a desfaçatez dos "golpistas" de Honduras por crassa ignorância das regras constitucionais vigentes num país minúsculo e miserável. Teceu-se, aí, com rapidez, a cortina de fumaça do governo "golpista" e do "martírio" do presidente eleito pelo povo e deposto por militares num novo e típico pronunciamiento latino-americano.

No afã de não repetir Bush, Barack Obama, assessorado por madame Clinton, absolutamente jejuna em quaisquer assuntos ao sul do Rio Grande, condenou a deposição, mas depois foi tratar de problemas mais relevantes. Com o "não temos nada com isso" dos xerifes do mundo, tudo se encaminhava para uma solução simples e cômoda do episódio: as eleições presidenciais poderiam ser realizadas e a paz democrática voltaria a reinar naquele antigo pedaço do império da United Fruit Company.

Aí entrou em ação o coronel golpista Hugo Chávez, que despachou de volta para o centro dos acontecimentos o presidente deposto. Este cruzou a fronteira, mas voltou por cima dos pés para, em seguida, empreender uma entrada espetacular em Tegucigalpa, mercê do engenho estratégico do amigo venezuelano e do peculiar conceito sobre democracia da companheirada brasileira. Dirigente sindical no fim da ditadura militar, quando o general Geisel cunhou sua "democracia relativa", Lulinha Paz e Amor inventou a "democracia de conveniência", adaptação petista da sentença de Artur Bernardes: "Para os amigos, tudo; para os inimigos, o rigor da lei." Ahmadinejad roubou a eleição no Irã? Isso não interessa ao Brasil, que não pode intervir na soberania iraniana. Ahmadinejad nega o holocausto? O fato de sermos amigos não nos força a pensarmos da mesma forma.

Mas o mesmo não vale para Honduras, que não tem projeto bélico nuclear nem bate boca com o vilão ianque. E foi assim que, quando o mundo inteiro esperava um banho de votos para lavar a mauvaise conscience pelo completo desconhecimento internacional das regras constitucionais hondurenhas, o governo brasileiro, para apoiar Chávez, foi à caça do apoio de tiranos africanos para repor Mel Zelaya no poder. Para tanto mandou às favas todas as regras do civilizado convívio internacional. Como nunca antes na história deste planeta, abrigou na "embaixada" brasileira não um fugitivo de um regime ditatorial, mas alguém que decidiu impor a própria vontade de continuar mandando em casa, sem dar bola para as instituições e a opinião pública locais. Esses episódios sempre terminam com um salvo-conduto ao abrigado na embaixada e seu asilo pelo país que o hospedou. Mas este não pode ser o caso: Zelaya não quer fugir de Honduras, mas ficar lá, sob a proteção de Lula, porque Chávez mandou.


O absurdo não para por aí. Lula tem exigido respeito absoluto ao território brasileiro da "embaixada" depois de ter chamado o embaixador de volta e mantido em Tegucigalpa apenas um encarregado de negócios. O governo de facto ainda não ocupou o prédio só para evitar pretextos intervencionistas, pois, como não reconhece a autoridade "golpista", o Brasil não tem mais embaixada em Tegucigalpa.

O ex-chanceler mexicano Jorge Castañeda tem razão ao se dizer - em entrevista a Lúcia Guimarães no caderno Aliás deste jornal, no domingo - espantado com a intromissão brasileira em Honduras. Estamos é fazendo um banzé brasuca estúpido em terreiro alheio, que, aliás, não tem interesse nem importância nenhuma para nós. Ao mundo, que tenta se esconder do vexame de ignorar as regras da democracia de um país pobre, o Brasil parece bater no peito e proclamar com arrogância: "Sou ignorante, sim, mas quem aí não é?"

José Nêumanne, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde

O hino e os amigos

Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


SÃO PAULO - Duas frases ditas anteontem definem à perfeição por que o debate público no Brasil é em geral indigente e por que o serviço público é em geral tão pobre.

Frase 1, do novo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, ao aludir à sua fidelidade canina a Luiz Inácio Lula da Silva: "Parecia jogo de futebol em que as torcidas [os lulistas] ficam se digladiando, mas, quando toca o hino, todo mundo canta uma música só".

É o que acontece, com raras exceções, no debate público: os lulo-petistas e a oposição não se comportam, com raras exceções, como animais pensantes, mas como rebanho. Os hoje governistas, antes oposicionistas, põem a mão no peito e cantam o hino lulo-petista, sem discutir se a execução é boa, ruim ou péssima, se a letra é a mais adequada ou não.

Aplaudem sempre, incondicionalmente.

Já a oposição vaia sempre, como se estivesse tocando o hino da Argentina. Inteligência que é bom vira vaga-lume nesse comportamento de manada: pisca aqui e ali, mas logo se apaga.

Frase 2, do presidente Lula, ao rebater críticas à nomeação de apaniguados de partidos, "como se algum partido que ganhou a eleição empregasse todos os inimigos e deixasse os amigos de fora".

O segredo da boa governança, versão Lula, é não deixar os amigos de fora. Se os amigos são competentes ou não, se são corruptos ou não, se usam os cargos para proveito político ou pessoal, é indiferente.

Importante é não deixar os amigos ao sereno. Como todos os partidos procedem da mesma maneira, o serviço público deixa de ser público para se transformar em uma ação entre amigos. Como consequência inexorável, a prioridade é atender os amigos, não o público.

Se houve, em algum momento, a noção de coisa pública desapareceu do Brasil. Há apenas o hino e os amigos que cantam.

O Brasil de Lula é inimigo do golpismo

Elio Gaspari
DEU EM O GLOBO


Lula disse bem: “O Brasil não acata ultimato de governo golpista. E nem o reconheço como um governo interino (…). O Brasil não tem o que conversar com esses senhores que usurparam o poder.” Os golpistas hondurenhos depuseram um presidente remetendo-o, de pijama, para outro país, preservam-se à custa de choques de toque de recolher e invadiram emissoras. Eles encarnam a praga golpista que infelicitou a América Latina por quase um século. Foram mais de 300 as quarteladas, uma dúzia das quais no Brasil, que resultaram em 29 anos de ditaduras. Na essência, destinaramse a colocar no poder interesses políticos e econômicos que não tinham votos nem disposição para respeitar o jogo democrático.

Decide-se em Honduras se a praga ressurge ou se foi para o lixo da História.

Nesse sentido, o governo de Nosso Guia tem sido um fator de estabilidade para governos eleitos democraticamente.

Se o Brasil deixasse, os secessionistas de Santa Cruz de La Sierra já teriam defenestrado Evo Morales. Lula inibiu a ação do lobby golpista venezuelano em Washington. Se o Planalto soprasse ventos de contrariedade, o mandato do presidente paraguaio Fernando Lugo estaria a perigo.

Para quem acredita que a intervenção diplomática é uma heresia, no Paraguai persiste a gratidão a Fernando Henrique Cardoso por ter conjurado um golpe contra Juan Carlos Wasmosy em 1996. Em todos os casos, a ação do Brasil buscou a preservação de governos eleitos pela vontade popular.

No século do golpismo dava-se o contrário. Em 1964, o governo brasileiro impediu o retorno de Juan Perón a Buenos Aires, obrigando-o a voltar à Europa quando seu avião pousou para uma escala no Galeão.

A ditadura militar ajudou generais uruguaios, bolivianos e chilenos a sufocar as liberdades públicas em seus países. (Fazendo-se justiça, em 1982 o general João Figueiredo meteu-se nos assuntos do Suriname, evitando uma invasão americana. Ele convenceu o presidente Ronald Reagan a botar o revólver no coldre. Nas suas memórias, Reagan registrou a sabedoria da diplomacia brasileira.) O “abrigo” dado ao presidente Manuel Zelaya pelo governo brasileiro ofende as normas do direito de asilo.

Pior: a transformação da embaixada do Brasil em palanque é um ato de desrespeito explícito. Já o cerco militar de uma representação diplomática é um ato de hostilidade.

Fechar a fronteira para impedir a entrada no país de uma delegação da OEA é coisa de aloprados. A essência do problema continua a mesma: o presidente de Honduras, deportado no meio da noite, deve retornar ao cargo, como pedem a ONU e a OEA.

Lula não deve ter azia com os ataques que sofre por conta de sua ação. Juscelino Kubitschek comeu o pão que Asmodeu amassou porque deu asilo ao general português Humberto Delgado. Amaciou sua relação com a ditadura salazarista e, com isso, o Brasil tornou-se um baluarte do fascismo português. Ernesto Geisel foi acusado de ter um viés socialista porque restabeleceu as relações do Brasil com a China e reconheceu o governo do MPLA em Angola.

As cartas que estão na mesa são duas: o Brasil pode ser um elemento ativo para a dissuasão de golpismo, ou não. Nosso Guia escolheu a carta certa.

Elio Gaspari é jornalista.

A chance de Palocci

Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Certos de que foram os políticos paulistas do partido que mais perderam história e lastro eleitoral com os principais escândalos de corrupção do governo Lula, o PT repassa em análise nome por nome, perfil por perfil, biografia por biografia dos deputados, senadores, prefeitos e integrantes da sua caciquia partidária para definir, ainda este ano, um nome que possa ser lançado, sem riscos de vexame, à disputa do governo do Estado. Por incrível que possa parecer a analistas de perspectivas eleitorais, ainda é o deputado e ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci quem reúne maior densidade para enfrentar uma campanha, com chances, entre todos os do elenco petista.

Uma razão, a mais importante, para isto é que a ele podem ser atribuídos os resultados importantes colhidos agora na economia, mas plantados nos anos em que esteve à frente do Ministério da Fazenda.

É inegável a força negativa que ainda emana do episódio da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, e nada indica ainda que o eleitorado paulista vá desprezar esta suspeita na hora de decidir seu voto. Porém, os analistas do PT creem que há muito o que fazer ainda para neutralizar a enraizada impressão de envolvimento do deputado Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, no episódio.

Primeiro, serão feitas pesquisas bem formuladas para detectar regiões, faixas etárias e nível social e de escolaridade do eleitor suscetível a definir seu voto com base neste caso. Segundo, acredita o PT que o partido terá, na absolvição obtida pelo ex-ministro no Supremo Tribunal Federal, um trunfo importante a contrapor às acusações que surgirão nos palanques da campanha. Terceiro, e é aqui que está a esperança dos que apostam nesta solução, há o sucesso da política econômica.

O Brasil foi o primeiro a sair da crise mundial porque foi muito bem preparado para o momento difícil, e quem preparou o país, contra tudo e contra todos, inclusive contra o PT e seus economistas que pressionavam o presidente Lula a mudar a política desde o início, foi Antonio Palocci.

Segundo avaliações do PT, a campanha para o governo de São Paulo será dura para o partido, principalmente se o deputado Ciro Gomes não for mesmo candidato no Estado como gostaria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Estado de São Paulo é conservador, a candidatura do PSDB, se for mesmo Geraldo Alckmin, é uma candidatura forte, o eleitorado não muda sua opção assim, por nada, estando satisfeito com o desempenho do partido que está no poder. "Não tem sentido pensar que o povo vai trocar o governo se o PSDB está bem, não temos dados para imaginar isto", diz um dos mais atuantes petistas da bancada de São Paulo.

Por outro lado, o PT tem dificuldades significativas em São Paulo, o Estado em que os políticos do partido mais perderam com as sucessivas crises políticas que viveu desde que chegou ao poder: José Genoino, João Paulo Cunha, Luizinho, Antonio Palocci, José Dirceu, José Mentor, foram todos afetados por diferentes episódios escandalosos. Genoino, João Paulo, Palocci e Mentor se reelegeram deputados; Marta Suplicy, após duas derrotas consecutivas para cargo majoritário, realizou o extraordinário feito de eleger uma bancada dela, pessoal, com base de votos na periferia, levando ao plenário da Câmara, além do já citado Mentor, Candido Vaccarezza, Jilmar Tatto, Carlos Zarattini e Devanir Ribeiro.

Candidatar-se em 2010 ao governo do Estado seria, para Marta, enfrentar o risco de perder de novo. Por isso, no momento, o que se considera para ela é uma candidatura a deputada federal. "Ela viria arejada para voltar em 2012", diz um dos seus conselheiros.

O PT se convenceu de que só ganhou com Luiza Erundina porque ela venceu no turno único, e que Marta venceu para a prefeitura porque no segundo turno foi apoiada por Mário Covas. Portanto, o PT é forte no Estado mas não o é se estiver sozinho. E já foi muito ter obtido a recuperação, ainda que parcial, da imagem de um grande número de parlamentares. Saia quem sair candidato, Palocci ou Emídio de Souza, por exemplo, vai precisar de amplo apoio e alianças.

Análises em poder do PT mostram que o eleitor do Estado é conservador e tem receio de fazer mudanças bruscas. Não abandonará o PSDB facilmente. Por isso a maioria no PT está defendendo a ampliação das alianças, acenando para o centro.

"Nós, sozinhos, não conseguiremos ganhar nem a prefeitura nem o Estado. Além do PCdoB, do PSB e do PDT, temos que acenar para o centro", diz um dos envolvidos nas negociações para o lançamento do candidato próprio. Ele próprio pergunta e responde quem é o centro em São Paulo: o PMDB. "O problema não é o voto, é a imagem, a simbologia, o tempo de televisão".

Todo este quadro que se descortina do ponto de vista petista é um quadro de abertura, em que cabem até Ciro Gomes como candidato, Marta Suplicy apesar da preferência pelo lançamento a deputada federal, Emídio Gomes, uma aposta na renovação. Mas o que ainda cabe melhor no figurino é a silhueta de Palocci. Pelo discurso e pelo amplo espectro do apoio.

O discurso é o do homem que fez a estabilidade e que resistiu, bravamente, dando segurança ao presidente, às pressões petistas pela mudança do modelo. "Se não fosse ele a economia não estaria como está hoje", reconhece um dos que o criticavam no PT. "Ele botou o pé na porta nos momentos cruciais, aumentou juros quando foi necessário, apostou no mercado interno, reduziu a dependência externa. É seu o mérito da política econômica.

Palocci, mostram as pesquisas, tem apoio numa ampla faixa de opinião pública, da classe média empresarial. E tem também, com a sentença de absolvição do STF, como enfrentar o discurso de campanha que o acusará da quebra de sigilo. A classe mais elitizada gosta também de sua ponderação, equilíbrio e da maneira cautelosa com que vem se conduzindo até agora. Não vai ser fácil, mas impossível não é. O PT considera seriamente seu nome.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
Clique o link abaixo

TCU manda parar 41 obras federais e irrita Planalto

Leonencio Nossa, Brasília
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Além de indícios de irregularidades, tribunal aponta problemas ambientais

O Tribunal de Contas da União recomendou a paralisação de 41 obras federais, em atitude que causou irritação no Planalto. A recomendação atinge 13 obras do Programa de Aceleração do Crescimento - pilar da campanha da ministra Dilma Rousseff à Presidência. Embora representem só 0,5% do PAC, essas obras envolvem recursos de R$ 7,38 bilhões. O TCU indicou superfaturamento e pagamento por serviços não prestados. Além disso, o tribunal decidiu fiscalizar aspectos ambientais e constatou precariedade do acompanhamento do Ibama no processo de licenciamento. O relatório aponta outros 22 empreendimentos com indícios de irregularidades graves, com a sugestão de retenção parcial de valores, mas sem recomendar suspensão. Nesse caso, aparecem 16 projetos do PAC.

Ministro critica "anomalia"

O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) disse que o TCU incorre em“anomalia” no exercício de suas funções, ao "dizer ao Executivo o que deve ser feito". Já a ministra Dilma Rousseff pediu cautela na análise dos indícios de irregularidades.

TCU veta 41 obras e abre crise com Planalto
Marcelo de Moraes, BRASÍLIA

Em relatório de fiscalização de obras de 2009 apresentado ontem, o Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou a paralisação de 41 empreendimentos do governo federal, incluindo 13 que fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A recomendação provocou nova crise no relacionamento do órgão com o governo federal. Especialmente pelo impacto direto no PAC, principal programa de obras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e uma das molas da candidatura presidencial da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

As 13 obras do PAC que tiveram problemas graves apontados envolvem recursos de R$ 7,38 bilhões. Na prática, há cinco empreendimentos novos, pois os demais já apresentaram problemas em anos anteriores. Mas seu alcance é bilionário em pelo menos duas obras: a construção da Refinaria Abreu e Lima, no Recife (R$ 4,26 bilhões em recursos), e a modernização e adequação da produção da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná (R$ 2,56 bilhões).

Outras aparecem com frequência na lista de problemas detectados pelo TCU. A obra de reforma e ampliação do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, é uma delas. Incluída no PAC, receberia R$ 3,8 milhões este ano, mas ainda não sanou problemas, como supostos sobrepreço, superfaturamento e pagamento por serviços não previstos no contrato.

Fora do âmbito do PAC, projetos de grande interesse do governo também entraram na lista do TCU, como a construção da fábrica de hemoderivados e biotecnologia, em Pernambuco, que tinha mais de R$ 135 milhões previstos no Orçamento deste ano. Com o mesmo problema aparece a implantação da linha 3 do metrô do Rio de Janeiro, que receberia R$ 65 milhões.

O relatório, apresentado pelo ministro Aroldo Cedraz, foi aprovado por unanimidade pelo órgão e será encaminhado para apreciação do Congresso. O texto não precisa ser seguido à risca, mas, normalmente, parlamentares aprovam a maioria das recomendações do TCU.

Além do lote de 41 obras com pedidos de paralisação, o relatório aponta outras 22 com indícios de irregularidades graves, com a sugestão de retenção parcial de valores, sem precisar de interrupção. Nesse caso, aparecem mais 16 projetos do PAC.

IMPACTO AMBIENTAL

O TCU decidiu fiscalizar aspectos ambientais e constatou precariedade do acompanhamento feito pelo Ibama no processo de licenciamento. "Verificou-se que o Ibama, entidade federal responsável pelo licenciamento de grande parte das obras fiscalizadas, não avalia e não acompanha sistematicamente os impactos ambientais das obras licenciadas", informa o relatório.

Segundo o documento, isso "induz à carência de parâmetros, padrões e critérios de avaliação no processo de licenciamento". E concluiu que "essa ausência de padronização pode ocasionar a elaboração de estudos de impacto ambiental de má qualidade".

Os técnicos do TCU identificaram melhoras em órgãos onde indícios de irregularidades apareciam com frequência. Tanto o relator Cedraz quanto o presidente do tribunal, Ubiratan Aguiar, reconheceram que houve esforço da direção do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) para reduzir a incidência de problemas. "A direção e técnicos do DNIT vieram aqui no TCU para trocar ideias e ouvir sugestões", afirma Aguiar.

Mesmo assim, o órgão aparece como a unidade do governo com o maior número de obras sob recomendação de paralisação. Foram 14 nessa condição e mais 6 com indicação para bloqueio parcial de recursos no total de 62 obras fiscalizadas. Isso representou uma proporção de 32% - menor do que nos anos anteriores. Esse indicador fica bem abaixo do órgão campeão de irregularidades, que registrou a marca de 80%. O título coube ao Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). O TCU fiscalizou cinco obras do órgão e constatou problemas graves em quatro delas.

Órgão extrapola, ataca Paulo Bernardo

Segundo ministro, não cabe ao TCU dizer ao Executivo o que deve ser feito

Para não colocar a ministra da Casa Civil e gerente do PAC, Dilma Rousseff, em rota de colisão com o Tribunal de Contas da União (TCU), o Planalto escalou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, para rebater o relatório sobre irregularidades nas obras do programa que é carro-chefe do governo.

"Temos de combinar com a Fifa para fazer a Copa em 2020", provocou Bernardo, referindo-se ao campeonato mundial de futebol, marcado para 2014 no Brasil. Indagado se estava fazendo ironia, Paulo Bernardo se explicou. "Estou falando de forma exagerada, mas não decidimos nada sobre a Copa de 2014 e já tem uma comissão no TCU. Já estão gastando dinheiro."

O ministro disse que o TCU incorre em "anomalia" no exercício de suas funções. "Muitas vezes, o TCU quer dizer para o Executivo o que deve ser feito. Isso não é função dele", afirmou. "A função dele é fiscalizar." Bernardo e Dilma deram entrevistas no Palácio do Itamaraty, onde participaram de reunião extraordinária do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) sobre o pré-sal.

Em tom moderado, Dilma reagiu à recomendação do TCU para suspender 41 obras públicas. Numa entrevista pela manhã, pediu cautela na análise dos indícios de irregularidades. "Temos de ter cuidado com a suspensão de obras. O que o TCU fala é em indício de irregularidades. O Congresso tem sido cauteloso nisso porque as obras paralisadas ficam mais caras quando são retomadas."

Na entrevista, a ministra ressaltou que "ninguém" compactua com irregularidades e é preciso resolver os problemas apontados pelo TCU. Ela comentou especialmente sobre obras de refinarias da Petrobrás citadas no relatório do órgão. Disse esperar que o TCU converse com a diretoria da estatal sobre os problemas apontados nas obras da refinaria Abreu e Lima (PE) e Presidente Getúlio Vargas (PR). "Acho que é necessária uma discussão do TCU com a Petrobrás."

Dilma relatou que, em recente encontro com o presidente do TCU, Ubiratan Aguiar, tomou conhecimento de relatório segundo o qual as obras do PAC apresentam menos problemas que as de outros programas.

"O PAC tem quase 2 mil obras. Sempre que o TCU diverge sobre alguma delas, a gente esclarece. Algumas vezes concordamos, outras discordamos. O que é preciso é sempre termos o direito de resposta, o contraditório", disse. "E acho que desta vez não vai ser diferente."

Após encontro, Aécio diz que Zito ajuda PSDB a ter 'cheiro de povo'

Cláudia Lamego
DEU EM O GLOBO


Prefeito de Caxias afirma que, entre Serra e o mineiro, ele é "mais Aécio

RIO e BRASÍLIA. Após receber ontem o prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito dos Santos (PSDB), no Palácio das Mangabeiras, o governador de Minas, Aécio Neves, disse que o tucano “ajuda o partido a ter cheiro de povo”. Zito, presidente regional do PSDB no Rio, afirmou que, na disputa entre o mineiro e o paulista José Serra para saber quem será o candidato tucano à Presidência, ele “é mais Aécio”. No Rio, Zito se declarara contra a aliança do PSDB com o PV de Fernando Gabeira, dizendo que o deputado verde “não tem cheiro de povo”.

Ontem, após o encontro com Aécio, ele reafirmou que Gabeira não é a melhor solução para o partido no Rio, dizendo que o deputado é elitista. Ao falar sobre a preferência por Aécio, Zito disse que Serra é um bom governador, mas é “frio”. E disse que Serra prefere a aliança com Gabeira, mesmo que o PV lance Marina Silva à Presidência — o que daria um palanque duplo para a chapa no Rio.

— Estive com o Serra, e ele deixou claro seu interesse por Gabeira. Eu disse que via a campanha do Gabeira como elitista.

Pedi ao Serra que ele analisasse o melhor para o partido. Mas ele gosta do Gabeira. Serra não deve fechar questão sobre o Gabeira, que já escolheu o palanque dele. Ou se é Flamengo ou Vasco — disse Zito.

Aécio disse que o PSDB precisa ter palanque forte no Rio e que é natural que o partido reflita sobre a aliança após o fator Marina.

— Tive a oportunidade de estar com Zito e conheci uma forma, até um pouco diferente da nossa, mas extremamente próxima ao povo, de fazer uma campanha eleitoral. O Zito ajuda o PSDB a ter esse cheiro de povo que, em determinados momentos da nossa história, andamos perdendo — disse Aécio, segundo sua assessoria.

Zito afirmou que Aécio é mais maleável e lançou a possibilidade de o PSDB se aliar ao PMDB do governador Sérgio Cabral, que tentará a reeleição, se Aécio for o candidato.

Em Brasília, Aécio foi recebido ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na conversa, Lula fez uma sondagem sobre a disputa entre Aécio e Serra.

Embora Serra continue liderando as pesquisas, o mineiro deixou claro que ainda está no jogo. Lula reconheceu a mudança do cenário com a entrada de Marina Silva no páreo e o prejuízo sofrido pela pré-candidata do PT, Dilma Rousseff (PT).

Colaborou Adriana Vasconcelos

Serra faz homenagem a críticos do governo Lula

Flávio Freire
DEU EM O GLOBO

Governador nega, porém, caráter político no evento que reuniu Jarbas, Simon e Itamar

SÃO PAULO. O governador de São Paulo, José Serra, pré-candidato do PSDB à Presidência, concedeu ontem honrarias a um grupo formado, em sua maioria, por políticos de oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embora com a ressalva de que não se tratava de iniciativa partidária, o tucano reuniu no Palácio dos Bandeirantes, para a entrega da Ordem do Ipiranga, líderes do PMDB contrários ao apoio à pré-candidatura da ministra Dilma Rousseff (PT), críticos das políticas do governo federal e nomes do cenário nacional que o apoiam como candidato à sucessão em 2010.

Ao lado de Serra estavam os senadores peemedebistas Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcelos (PE), além do governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, do mesmo partido. O PMDB está dividido em relação à eleição presidencial de 2010.

Atualmente, enquanto a cúpula nacional do partido tenta antecipar uma aliança em torno da ministra Dilma, outra corrente do partido, que tem à frente o ex-governador paulista Orestes Quércia, faz campanha pelo governador paulista. A candidata a vice de Serra na eleição presidencial de 2002, a deputada Rita Camata (PMDB), participou do evento, assim como Quércia.

Serra negou que a concessão da comenda a políticos do PMDB fosse uma tentativa de ganhar a simpatia do partido para o ano que vem.

— São pessoas que merecem ser homenageadas por sua trajetória e também pela sua relação com São Paulo, porque é uma honraria paulista que vai ser dada a essas pessoas — disse Serra.

“Não é uma cerimônia partidária”, diz governador Perguntado sobre a coincidência de a maioria dos agraciados pertencer ao PMDB, o governador tucano disse: — Tem até do PSOL. Não é uma cerimônia partidária, que, aliás, não corresponde ao governo de São Paulo. Não é questão partidária, mas individual.

Não houve manifestação explícita de apoio a Serra para 2010. Para o senador Pedro Simon , o partido não deve apoiar a candidata petista.

— Sou a favor da candidatura própria.

Nomes do PPS, partido do bloco de oposição no Congresso, também foram homenageados ontem por Serra. O ex-presidente Itamar Franco e o ex-deputado Roberto Freire, que tem feito em propagandas de TV severas críticas ao governo federal, foram homenageados.

— Meu projeto é pelo Aécio, mas o mais importante é que os dois estados estejam juntos — disse Itamar.

No discurso, Serra deu um tom político à cerimônia: — Precisamos mais do que nunca de um projeto de país, de um projeto de nação — disse.

O PSOL, também de oposição ao governo Lula, foi representado pelo ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio. Também participaram Almino Afonso, Maurício José Corrêa, Fernando Lyra, José Carlos Dias, José Gregori, o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos e Miguel Reale Junior

Aécio conversa com Lula e afirma que está ''no páreo'' da disputa presidencial

Christiane Samarco, Brasília
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou sobre a sucessão de 2010 com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), por uma hora ontem à tarde. Lula quis saber do tucano se ele ainda estava "no páreo", ou se o candidato tucano a presidente seria mesmo o governador de São Paulo, José Serra. Aécio respondeu que está no jogo e que assumirá "de peito aberto" a pré-campanha pelo Brasil, assim que regressar da viagem oficial de duas semanas ao exterior. À noite, o governador embarcou para a Itália.

Na conversa, Lula mostrou confiança no desempenho de sua candidata, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Para que a candidatura petista seja bem sucedida, ele aposta no alinhamento entre PT e PMDB em vários Estados, inclusive Minas. Por isso, o presidente perguntou sobre a relação de Aécio com o ministro das Comunicações, o peemedebista, Hélio Costa.

Candidato ao governo mineiro, Costa articula aproximação com o tucano e não esconde sua disposição de retribuir-lhe o apoio na corrida presidencial. "Se Aécio for candidato a presidente, os mineiros têm que se unir em torno dele", disse Costa.

Aécio contou que sua articulação com o PMDB estadual está em aberto. Lula tem conhecimento de que o PMDB mineiro está rachado, sabe que seu ministro "tem lado" e não tem dúvidas de que este lado é o de proximidade com o governador.

Ao falar sobre o quadro de Minas, Aécio reiterou o "sentimento" predominante no PSDB de que ele é opção que pode agregar mais apoios. O governador está convencido de que o debate sucessório será focado no modelo de gestão e nas propostas para garantir que as conquistas dos últimos 16 anos de administração tucana e petista avancem.

Lula admitiu para Aécio que havia apostado na polarização da disputa entre um candidato do Planalto - Dilma, no caso - e o da oposição. Um dirigente do PSB revela que, antes de se encontrar com o tucano, o presidente fez questão de levar ao conhecimento do partido aliado sua preocupação com a pré-candidatura presidencial do deputado Ciro Gomes (PSB-CE).

Embora Ciro resista em mudar seu domicílio eleitoral para São Paulo, abrindo a possibilidade de disputar o governo paulista, em vez da Presidência, Lula insiste nesse cenário - tanto que telefonou ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pedindo-lhe que, na condição de comandante do PSB, tente convencer Ciro a fazer a mudança de domicílio.

Lula veta restrição à internet na eleição

Tânia Monteiro, Brasília
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Portais ficam livres das regras de rádios e TVs e poderão promover debates sem convidar todos candidatos

Contra a vontade do Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva derrubou ontem as restrições a debates na internet durante a campanha de 2010. Ao sancionar, com três vetos, a minirreforma eleitoral, Lula aboliu a exigência de que a web tivesse que seguir as mesmas regras estabelecidas para TVs e rádios.

Em votação final, a Câmara havia aprovado, no último dia 16, limitações para realizar debates eleitorais nas web TV, como a TV Estadão, determinando que fosse obrigatória a participação de todos os candidatos às eleições majoritárias com representante na Câmara. Agora, de acordo com a lei sancionada, apenas as emissoras de rádio e de TV, que são concessões públicas, ficam obrigadas a seguir essa regra.

Os artigos que criaram o voto impresso e o voto em trânsito nas capitais não foram vetados pelo Palácio do Planalto. Lula preferiu manter o texto aprovado pelo Congresso, sem levar em conta pedidos do ministro da Defesa, Nelson Jobim, e do ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Carlos Ayres Britto, que classificaram o voto impresso como retrocesso.

DOAÇÕES OCULTAS

A lei sancionada legaliza também as chamadas doações ocultas, ao deixar explícito que as empresas podem contribuir para os diretórios de partidos, que repassam os recursos aos comitês financeiros ou mesmo diretamente aos candidatos. Isso evita que o político fique carimbado pela doação de determinada empresa.

A minirreforma manteve a proibição de propaganda eleitoral em outdoors, em pintura de muros, paredes e em placas. É permitida apenas a publicidade em faixas e cartazes não colantes, que não excedam a quatro metros quadrados.

Pela nova lei, qualquer candidato ficará proibido de comparecer a inaugurações de obras públicas nos três meses que antecedem as eleições. Já os programas sociais, como o Bolsa Família, ficaram sem nenhum tipo restrição.

Foi vetado também o artigo que instituía tabela de dedução do Imposto de Renda para as empresas de rádio em relação à propaganda eleitoral. Com isso, permanece em vigor a regra que permite a dedução do valor da publicidade conforme a média dos últimos 30 dias.

DECISÃO TÉCNICA

O último veto foi meramente técnico. Trata-se do artigo referente ao parcelamento de multas eleitorais, que devem ser pagas à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, e não à Receita Federal, como foi redigido no texto aprovado pelo Congresso.

Sob o argumento de que era inconstitucional, a Câmara dos Deputados - última escala da minirreforma antes de ser sancionada ontem por Lula - já havia derrubado uma emenda do senador Pedro Simon (PMDB-RS), que vetava a concessão de registro aos políticos que não comprovassem idoneidade moral e reputação ilibada. O objetivo dessa proposta era impedir a candidatura dos "fichas sujas" ".

Honduras discute saída negociada

Ricardo Galhardo
Enviado especial • Tegucigalpa
DEU EM O GLOBO

O governo do presidente de Honduras, Roberto Micheletti, começou a dar sinais de enfraquecimento, após decretar a suspensão das liberdades individuais, com forte reação de setores que no primeiro momento apoiaram o golpe que depôs Manuel Zelaya. A truculência de Micheletti desagradou a empresários, Congresso, meios de comunicação e partidos. Desde o regresso de Zelaya, 2.200 pessoas foram detidas. Ontem, industriais pediram a restituição do presidente, sob condições, evidenciando uma divisão no setor. A Igreja, que defendeu o golpe, agora participa das tentativas de acordo. E o general Romeu Vásquez, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, eximiu militares de responsabilidade na deposição do presidente. O chanceler Celso Amorim disse que, sem abrigo na embaixada brasileira, Zelaya estaria morto ou promovendo a revolução.

Truculência enfraquece Micheletti

Medidas de exceção reduzem apoio ao governo e elevam pressão por negociação

O decreto que suspende liberdades individuais baixado domingo por Roberto Micheletti provocou forte reação contrária ao atual governo em setores da sociedade hondurenha que apoiaram na primeira hora o golpe de Estado que derrubou Manuel Zelaya no dia 28 de junho.

A truculência de Micheletti desagradou a setores do empresariado, Congresso, meios de comunicação e partidos políticos. Desde segundafeira passada, quando Zelaya se refugiou na embaixada brasileira, 2.200 pessoas foram detidas, segundo a Polícia Nacional, 134 delas desde que o decreto foi baixado. A maior parte já foi libertada.

Ontem, o presidente da Associação Nacional de Indústrias (Andi), Adolfo Facussé, divulgou uma proposta na qual pede abertamente a restituição de Zelaya, o que evidencia no mínimo uma divisão no segmento empresarial, que deu apoio irrestrito ao golpe.

Proposta inclui prisão domiciliar

Outros sinais vieram. O general Romeo Vásquez, chefe do Estado Maior das Forças Armadas, eximiu os militares de responsabilidade no golpe. Foi ele quem executou a prisão de Zelaya, que estava de pijama na madrugada do dia 28. Segundo ele, um acordo político está próximo.

Perguntado sobre a responsabilidade dos militares, ele respondeu: — Se isso fosse verdade eu seria o chefe de Estado.

O embaixador dos Estados Unidos em Honduras, Hugo Llorens, veio a público pela primeira vez para, em entrevista a uma rádio local, reiterar o apoio do governo Barack Obama ao Acordo de San José, articulado pelo presidente da Costa Rica, Óscar Arias, que também prevê a restituição de Zelaya.

Antes o Congresso, partidos de centro-direita, alguns veículos de comunicação e a Igreja Católica já haviam dado sinais de descontentamento com o governo interino.

Uma comissão do Congresso esteve anteontem com Micheletti pedindo a revogação do decreto e provocando um recuo do presidente golpista. O movimento foi encabeçado pelos partidos Nacional e Liberal, os que têm maior representação no Parlamento e deram sustentação à destituição de Zelaya. Líder nas pesquisas, o candidato do Partido Liberal, Porfírio “Pepe” Lobo, é um dos maiores críticos do decreto. Ele é o maior interessado em que o processo eleitoral aconteça em condições minimamente aceitáveis.

A Igreja, que defendeu o golpe sob a justificativa da paz, agora participa das tentativas de acordo por meio do bispo auxiliar, Juan Jose Pineda, que esteve duas vezes com Zelaya na última semana.

O presidente interino passou o dia de ontem em reuniões com os diversos setores que pressionam o governo para tentar contornar a situação.

Segundo um parlamentar próximo do presidente, Micheletti está enfraquecido: — Como vocês brasileiros dizem, foi um tiro no pé. O decreto espantou pessoas e setores que apoiaram o golpe, e Micheletti está hoje mais fragilizado do que na sexta-feira.

A proposta da Andi, mesmo que fadada ao fracasso por prever que Zelaya volte ao poder em prisão domiciliar, causou grande impacto nos meios político e empresarial. Membros do Conselho Hondurenho da Empresa Privada, um dos pilares do golpe, passaram a advogar pelo Acordo de San José.

— O que está sobre a mesa é o Acordo de San José e creio que falta mais iniciativa e agressividade para aplicá-lo. Não há mais nada na mesa — disse o presidente do conselho, Amílcar Búlnes.

O ministro da Indústria e Comércio do governo em exercício, Benjamin Bográn, negou que Micheletti esteja isolado.

— Cada setor pode fazer as propostas que achar convenientes. A proposta do governo continua sendo que o presidente Micheletti se retire em nome de uma terceira pessoa desde que Zelaya legitime as eleições — disse o ministro ao GLOBO.

A pressão sobre o empresariado teria partido do embaixador dos EUA, que reuniu um grupo em sua casa na segunda-feira e cobrou uma solução nos marcos da proposta de Arias.

Além disso, o decreto é alvo de uma avalanche de ações judiciais (mais de cem até o final da tarde de ontem) e não tem impedido as manifestações da resistência.

Ontem, mais de duas mil pessoas voltaram a protestar pacificamente na porta da Universidade Pedagógica pela restituição de Zelaya. Uma pequena manifestação ocorreu em frente à Rádio Globo que, juntamente com o Canal 36, foi invadida, depredada e tirada do ar por tropas.

Também foram registrados protestos nos bairros de El Bosque, Buenos Aires e Colonia. Em nenhum deles houve atritos com a polícia.

Ironicamente, a única manifestação cancelada ontem havia sido preparada pelos partidários de Micheletti, os chamados camisas brancas, em apoio às eleições marcadas para o dia 29 de novembro.

Brasil recusou avião para Zelaya voltar, diz Amorim

Letícia Sander
Da Sucursal De Brasília
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Em Honduras, chefe das Forças Armadas prevê "solução" da crise em breve

Em audiência no Senado, o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) afirmou que Manuel Zelaya, o presidente deposto de Honduras, pediu a ele há cerca de três meses o empréstimo de um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para levá-lo de volta à Tegucigalpa.

Amorim disse ter recusado o pedido: “A FAB não foi nem consultada". O chanceler negou, mais uma vez, que o governo tenha recebido alguma indicação do retorno de Zelaya a Honduras na semana passada, quando o presidente deposto se abrigou na embaixada brasileira.

Amorim diz que negou avião para levar Zelaya a Honduras

Pedido foi feito pouco após golpe que depôs presidente hondurenho, em junho

Chanceler brasileiro deu informação em audiência no Congresso como uma demonstração de que Brasil não contribuiu para retorno


O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) revelou ontem que Manuel Zelaya, o presidente deposto de Honduras, pediu a ele há aproximadamente três meses o empréstimo de uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) para levá-lo de volta a Tegucigalpa.O pedido foi negado pelo chanceler que, ontem, em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado, negou mais uma vez que o governo brasileiro tenha recebido qualquer indicação do retorno -desta vez bem-sucedido- de Zelaya a Honduras há dez dias.À comissão, Amorim contou que o pedido de empréstimo feito por Zelaya foi feito logo depois de o Brasil ter cedido um avião da FAB para levar a Honduras o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, José Miguel Insulza, o que ocorreu no início de julho.

"Ele talvez se entusiasmou. Ah, emprestaram para ele, então vão emprestar para mim", disse Amorim, acrescentando: "O pedido foi feito a mim e eu neguei. A FAB não foi nem consultada". Ele reiterou que "nunca mais" Zelaya solicitou nada do gênero ao Brasil.Antes de ser bem-sucedido no retorno, Zelaya tentou desembarcar em Honduras a bordo de uma aeronave venezuelana, tendo sido impedido. Ele também fez tentativas de chegar ao país por via terrestre.

Amorim citou o pedido de empréstimo da aeronave justamente para negar que o Brasil tenha buscado qualquer protagonismo no retorno de fato de Zelaya ao país, na semana passada. "Sou um diplomata com 50 anos de experiência. Se preferem acreditar na palavra de um golpista...", disse, numa referência a declarações do presidente interino Roberto Micheletti.

Também afirmou que o Brasil "não se sentiu ofendido por não ter sido avisado". "Quem planejou, como planejou, não me interessa."

Durante a audiência pública, Amorim sinalizou mais de uma vez que, apesar da surpresa, o Brasil vê na volta do presidente deposto um sinal positivo.

"A utilidade da presença de Zelaya em Honduras é reconhecida por toda a comunidade internacional. A presença dele é vista como um elemento propiciador do diálogo, que não estava tendo até então." Disse ainda que, se o Brasil não o tivesse aceito, Zelaya poderia estar "preso, talvez morto, ou numa serra, planejando uma revolução". Insistiu: "Fizemos a coisa certa, que a dignidade impunha que fizéssemos".

Amorim reiterou que o golpe foi condenado de forma unânime pela comunidade internacional e que Zelaya é até hoje reconhecido como o presidente legítimo por todas as organizações internacionais.

Cobrado por senadores, sobretudo da oposição, sobre o uso político que Zelaya tem feito da embaixada, Amorim reiterou por pelo menos três vezes que foram feitas advertências a ele neste sentido e que, até hoje, foi obtido um "êxito relativo". "Não houve nenhum ato de violência por parte dos seguidores de Zelaya", insistiu. Ele afirmou que foram feitos apelos para que o número de seguidores de Zelaya dentro da embaixada -hoje de cerca de 50- seja diminuído.

Francis Hime - "Vai Passar"

Bom dia!
Vale a pena ver o DVD
Clique o link abaixo

terça-feira, 29 de setembro de 2009

PENSAMENTO DO DIA

“Você só pode ter embaixada no país, com todas as garantias e imunidade, se você tem relações com o governo. O lógico é fechar a embaixada e retirar os diplomatas. Mantê-la aberta em um país, recebendo serviços de água, luz e telefone, cujo governo você não reconhece, é uma situação esdrúxula e só pode ser interpretada como medida de pressão. É como se o governo de fato estivesse diante de um grupo de estrangeiros sem visto”

Rubens Ricupero, ontem, em O GLOBO

Nas mãos de Lula

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


A conversa que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, pretende ter com o presidente Lula antes de decidir seu destino político tem como pano de fundo o futuro da economia brasileira e pode se realizar, por falta de agenda do presidente, até em Copenhague, onde os dois estarão na defesa do Rio para sediar a Olimpíada de 2016. Mesmo que o presidente Lula já tenha se pronunciado contra a saída de Meirelles do Banco Central para participar da política partidária, o presidente do BC está tendendo a “comprar uma opção” partidária e aguardar até março para tomar uma decisão definitiva com o passaporte que lhe permitirá continuar nesse jogo político. Mas não quer tomar nenhuma decisão sem falar com o dono da bola.

Ele não se interessa em continuar no mercado financeiro na iniciativa privada, onde fez sua carreira. Mas também não pretende entrar na política em oposição ao presidente Lula e, portanto, não está levando em conta a oferta do PTB para que saia candidato à Presidência da República.

O partido, embora ainda da base governamental, tem apresentado na televisão programas bastante agressivos contra o governo, aparentemente desembarcando do apoio. A não ser, o que parece improvável, que o próprio Lula o aconselhe a isso, situação em que terá mudado de opinião quanto às vantagens de ter apenas um candidato da base do governo.

Se se filiar a algum partido, p r o v a v e l m e n t e s e r á a o PMDB, mas a disputa do governo de Goiás está praticamente descartada, por uma questão de timing. Meirelles considera arriscado sair imediatamente do Banco Central, despertando as especulações e incertezas naturais para uma substituição desse nível num momento em que, na sua visão, a recuperação da economia ainda está frágil.

Ao contrário do otimismo exagerado do ministro da Fazenda, Guido Mantega, Meirelles vê risco de retomada de inflação com o desequilíbrio das contas públicas. A própria agência de avaliação de risco Moody’s, que acaba de dar o grau de investimento ao Brasil depois da crise, chamou a atenção para o desequilíbrio fiscal, embora não o considere grande o suficiente para ser controlado pelo governo.

O mercado financeiro, de maneira geral, aceita que o governo atual não controle o gasto público, certo de que um futuro governo vai fazer as “maldades” necessárias.

Embora os gastos tenham sido atribuídos na sua totalidade a políticas anticíclicas do governo para combater a crise, não há dúvidas de que parte do descontrole fiscal teve motivação eleitoral, a crise tendo sido um pretexto a posteriori para o descontrole que já havia sido contratado.

De olho nessa situação ainda incerta, Meirelles não pretende deixar o BC pelo menos antes de março, mas os peemedebistas de Goiás lhe dizem que, para disputar o governo, teria que sair agora, para começar as negociações políticas regionais.

Os políticos necessitam de uma sinalização segura para formar as alianças que organizarão o palanque estadual para apoiar a chapa de presidente, e o partido precisa montar sua chapa de senadores e deputados federais e estaduais desde já, não querem esperar por março, último prazo para a desincompatibilização de quem está em governos.

Nesse caso, Meirelles desistiria do projeto e resumiria suas opções a uma das duas vagas do Senado ou a vicepresidente na chapa oficial, desde que o PMDB oficialize sua adesão à candidatura de Dilma Rousseff. Como essa decisão só será sacramentada pela convenção partidária, a ser realizada em junho do próximo ano, e não há nenhuma garantia de que ela seja realmente tomada, o projeto político de Meirelles parece reduzido à disputa pelo Senado.

Além do mais, o presidente da Câmara, Michel Temer, é candidato declarado à vaga de vice pelo PMDB. Somente com uma intervenção, no devido tempo, do próprio presidente Lula, seria possível reverter essa situação que parece consolidada.

Na conversa com Lula, certamente entrará no jogo a possibilidade de Meirelles vir a ser convidado para a equipe da candidata Dilma Rousseff, mesmo que não seja para a Vice-Presidência.

Um acordo implícito, que sinalize a possibilidade de Meirelles ser o próximo ministro da Fazenda em caso de vitória, seria também um recado para o mercado de que o equilíbrio fiscal continuaria a ser uma prioridade.

Assim como a presença de Antonio Palocci na coordenação da campanha.

Em ambos os casos, porém, a ministra teria que mudar seu pensamento econômico, pois, em fins de 2005, pouco antes de ter que sair do governo devido à acusação de violação do sigilo do caseiro, Palocci entrou em rota de colisão com Dilma sobre uma proposta de ajuste fiscal de longo prazo apresentada pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, com o seu apoio.

A chefe da Casa Civil classificou publicamente a proposta de “rudimentar”, explicitando um racha dentro do governo com relação ao gasto público.

Ele continua defendendo sua “proposta rudimentar” de reduzir os gastos gradativamente para que, num período de dez anos, fiquem abaixo do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o que daria uma sinalização de equilíbrio de longo prazo para a economia.

Mas o descontrole pode ser tal que o futuro governo não conseguirá contê-lo tão facilmente. Quanto mais tempo durar o descontrole, e estamos ainda a 15 meses do novo governo, maior será a “maldade” a ser feita, e a oposição não aceitará. É possível ver o próprio PT fazendo oposição a Dilma Rousseff, e ainda mais se o presidente for do PSDB.

Na questão fiscal, o governador de São Paulo, José Serra, tem um histórico mais favorável que Dilma, é reconhecido como bom gestor e cortador de custos. Suas desavenças com o governo federal e com os próprios parceiros tucanos têm mais a ver com a autonomia do Banco Central e a política cambial, o que torna o presidente do Banco Central um alvo preferencial.

Taxação da poupança pode ser engavetada

Martha Beck e Cristiane JungblutBrasília
DEU EM O GLOBO

A oposição e os aliados - sobretudo o PMDB - já avisaram ao governo que dificilmente o projeto para taxar cadernetas em 22,5% passará no Congresso. A pressão é por engavetar o texto.

Queda de braço na caderneta

Oposição e base aliada pressionam para governo desistir de projeto que cria IR da poupança

A proposta de tributação da caderneta de poupança virou uma verdadeira batata quente entre governo e Congresso. Enquanto a equipe econômica quer enviar aos parlamentares o projeto que institui a cobrança de 22,5% de Imposto de Renda (IR) sobre os rendimentos dos depósitos acima de R$ 50 mil a partir de 2010, a própria base governista pressiona o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para que ele seja engavetado ou, pelo menos, alterado. O motivo seria o risco de a tributação da caderneta — assunto extremamente impopular — atrapalhar a tramitação dos projetos relativos ao marco regulatório do pré-sal e dar munição para ataques da oposição ao governo às vésperas do ano eleitoral. O PMDB (principal partido da base) já avisou não há clima para a votação e que, hoje, votaria contra a proposta.

Os técnicos do governo acham que é importante discutir o assunto no Congresso. Por ser polêmico, o tema precisa ser debatido entre os parlamentares de forma que se chegue a uma proposta palatável tanto para a base governista quanto para a oposição. O aviso dos aliados chegou na semana passada ao próprio Mantega, por meio do líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS). Ele explicou que havia resistências e que de nada adiantaria mandar a proposta à casa com Mantega no exterior (o ministro estava nos EUA para a reunião do G-20), sem poder defendê-la.

Os técnicos do governo sempre souberam das resistências à taxação da poupança. O problema é que a redução contínua da taxa básica, a Selic, tem impacto direto sobre o rendimento da caderneta, tornando-a mais atraente que outros investimentos, já que tem garantidos por lei a correção pela Taxa Referencial (TR) mais juros de 0,5% ao mês. O rendimento dos fundos, por sua vez, cai junto com a Selic, já que são compostos por títulos do governo, corrigidos pela taxa.
Atualmente, a caderneta é isenta de IR, enquanto os fundos pagam entre 22,5% e 15% de IR, dependendo do prazo da aplicação. A ideia do governo é evitar uma fuga de grandes investidores para a poupança, o que desequilibraria o mercado. O risco poderia, inclusive, ser um entrave a uma queda maior da taxa básica.

O líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), disse que hoje a bancada do partido é contra a taxação e que não há argumentos atuais que mostrem que houve fuga de ativos dos fundos para a poupança.

— O PMDB não está convencido da necessidade da medida. O sentimento é de o governo nem sequer enviar a proposta. Se não houver argumento, sem dados de convencimento, o PMDB vota contra — disse Alves.

Opção seria adotar percentual da taxa básica

Mexer na remuneração da caderneta também é sensível politicamente, mas pode acabar sendo uma alternativa porque empurra o problema para frente. Várias simulações já foram feitas pelos técnicos do governo e podem acabar voltando à pauta. Uma delas seria manter a correção da caderneta em TR mais 0,5% ao mês caso a Selic fique acima de 8,75% ao ano. Caso ela fique abaixo desse patamar, a remuneração acompanharia a taxa, ficando em torno de 80% da Selic. Se adotada, a medida não chegaria ter impacto em 2010 — pois o mercado financeiro projeta juros mais altos no ano que vem. Outra opção é simplesmente reduzir a tributação dos fundos para que eles se tornem mais atraentes que a poupança e, com isso, não haja migração.

Os próprios parlamentares já apresentam propostas alternativas. O senador Francisco Dornelles (PPB-RJ) defende que o governo mexa na tributação dos fundos de renda fixa, mas diz que, se optar por tributar a caderneta, deve fazer duas coisas: fazer com que ela valha apenas para novos depósitos e aumentar para R$ 100 mil, por exemplo, a faixa de isenção. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), também já disse que deverá apoiar a taxação da poupança, mas só daquelas com valores acima de R$ 100 mil.

Outros aliados, inclusive o vice-líder do governo no Congresso, Gilmar Machado (PT-MG), têm se manifestado contra a proposta. Lembram ainda que outras negociações de Mantega fracassaram e mostram irritação com fórmulas da equipe técnica, sem avaliação do impacto político. Já a oposição diz que taxar seria mexer no princípio de proteção da poupança e que nada garante que no futuro o governo não resolverá taxar valores abaixo de R$ 50 mil.

O líder do PT na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (SP), disse ontem que a questão da poupança tem que ser discutida com calma. Para ele, não há pressa para tratar do assunto, numa sinalização de resistência, inclusive, entre petistas.

Colaborou: Adriana Vasconcelos

Chávez em foco

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A interferência explícita do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na crise institucional que se abate sobre Honduras, pode influir na decisão da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado que, nesta quinta-feira, examina o convite feito pelo Brasil para a Venezuela entrar no Mercosul.

O relatório do senador Tasso Jereissati está previsto para ser entregue hoje à Comissão de Relações Exteriores.

Se a crise em Honduras já tinha tudo para se misturar com a questão do Mercosul - dada a posição de tutor do presidente deposto, Manuel Zelaya, assumida por Chávez -, essa hipótese torna-se agora mais provável porque o presidente da comissão, senador Eduardo Azeredo, resolveu fazer uma reunião extraordinária para discutir os acontecimentos em Tegucigalpa, em especial a situação do Brasil como hospedeiro de Zelaya.

"Tranquilo" até a semana passada, confiante na condução do Itamaraty, o senador Eduardo Azeredo mudou de posição.

Por causa do agravamento da situação em si - ameaças de invasão da embaixada brasileira, ultimato por parte do governo de facto, decretação de estado de sítio por 45 dias, posição dos EUA considerando a volta do deposto um ato de irresponsabilidade, transformação da representação do Brasil em "bunker" sob administração de Zelaya - e das conversas que vem tendo nos últimos dias com especialistas no tema e embaixadores veteranos.

"Inicialmente, a comunidade internacional condenou a deposição de Manuel Zelaya e se solidarizou com ele. Pouco a pouco, porém, a história foi ficando mais clara e agora já não permite alinhamentos automáticos, pois há erros graves dos dois lados: se a expulsão do país foi uma quartelada, a ação anterior do presidente quebrou a regra constitucional e desrespeitou decisões do Judiciário e do Legislativo. Agora, um problema que caberia à OEA resolver está nas mãos do Brasil", diz Azeredo.

Nesse quadro, reconhece, não há como o Congresso ficar omisso. Ele não aprova integralmente a decisão da Câmara de mandar uma comissão de deputados a Honduras. Acha que cabe ao Senado um papel preponderante, mas equidistante.

Hoje ele chega a Brasília já com a missão de convocar os líderes partidários e tentar construir um consenso sobre a forma de atuação do Parlamento. "Não podemos ficar só na base do ataque, na oposição, e da defesa, por parte da base de apoio governista, é preciso abordar o assunto com independência e competência."

Grosso modo, o quadro, a contar pelas posições da semana passada, seria o seguinte: o DEM absolutamente contrário à ação do governo, o PT completamente a favor e o PSDB nem lá nem cá.

Padrão

A condescendência do Brasil com países de regimes de força, cuja "soberania" para matar, torturar, cassar, fraudar e calar é plenamente aceita, anula a credibilidade dos ataques do presidente Luiz Inácio da Silva a "usurpadores do poder" e esvazia suas posições em defesa da democracia no mundo em geral, particularmente agora, em Honduras, onde Roberto Micheletti assume sua face mais autoritária.

Governo que reconhece a China como economia de mercado e pede o fim do embargo norte-americano a Cuba sem impor um reparo sequer ao fato de serem, ambos, ditaduras, abre mão das credenciais para cobrar respeito à democracia ou a opinar nos acontecimentos hondurenhos nos termos em que Lula vem fazendo.

Como chefe de governo e de Estado, o presidente dispõe de prerrogativas constitucionais para decidir. Inclusive decidir expor o Brasil ao constrangimento que achar mais conveniente aos seus projetos.

Só não pode é querer ter razão nem que os outros o vejam como ele se vê: dono da sorte e da verdade do universo. Quando Lula desafia as pessoas a cotejarem a palavra dele com a de um "golpista", se esquece de que, como presidente, jamais tomou o cuidado de firmar compromisso pétreo com a palavra dita a respeito de qualquer assunto interno.

Donde subtraiu a si autoridade para cobrar confiabilidade na palavra do presidente.

Coisa e outra

A ministra Dilma Rousseff acerta quando, ao se defender da fama de mal-humorada porque assume as posições sem tergiversar, aponta a falta de assertividade na maioria dos homens públicos.

Erra, porém, quando supõe que a firmeza justifique a falta de educação. Notadamente quando se dá "para baixo". Quem vê a ministra da Casa Civil com o presidente Lula vê outra mulher. Solícita e sorridente. Meiga, até.

Firme e forte

O senador Antonio Carlos Valadares, citado domingo como alvo do lobby em prol de José Antonio Toffoli, informa que não sofre pressão para mudar seu voto, até porque é favorável à indicação do advogado-geral da União para o Supremo Tribunal Federal.

Aliados estranhos

Miriam Leitão
DEU EM O GLOBO


O presidente Lula joga suas fichas numa proposta jamais testada, a da transferência de votos na área federal. Desde a redemocratização brasileira, os presidentes nem tentaram transferir votos. Mas essa não é a única coisa estranha dessa campanha. O governador José Serra que está há meses à frente nas pesquisas é do único partido que tem mais de um pré-candidato.

Quem transferiu votos numa campanha presidencial? Em 1989, o então presidente José Sarney nem tentou ter candidato. Era tão impopular que todos eram oposição. Em 1994, o então presidente Itamar Franco mal entrou na campanha.

O Plano Real foi o eleitor principal. Em 2002, o ex-presidente Fernando Henrique e o candidato José Serra mantiveram distância, até porque Serra achava que muita proximidade o prejudicaria. De qualquer maneira, com apoio ou sem, ele perdeu. Nem Juscelino fez o sucessor.


Pode-se dizer que ninguém chegou a doze meses das eleições com um índice de aprovação tão alto quanto o presidente Lula. Mesmo assim, a transferência de votos numa eleição é um dos fenômenos mais difíceis de entender, e no âmbito federal não houve desde a redemocratização.

Nossa democracia teve, na atual fase, apenas cinco eleições presidenciais. A que ocorrerá daqui a um ano será a sexta.

Nos governos estaduais e municipais tem havido casos de um governante eleger um sucessor com pouca ou nenhuma experiência nas urnas. Orestes Quércia elegeu Luiz Antônio Fleury, Cesar Maia elegeu Luiz Paulo Conde. Em geral, o escolhido frustra a expectativa do padrinho. Portanto, se Lula pensa em eleger o sucessor numa espécie de mandato tampão para voltar em 2014 entra em outra empreitada arriscada. O presidente Hugo Chávez interpreta que, com Dilma, Lula vai sair sem sair do governo, como fez o presidente Néstor Kirchner.

Dos presidentes desde a democratização, Lula é o único que decidiu se empenhar para fazer o sucessor, a tal ponto que escolheu a candidata Dilma Rousseff sozinho, armou palanque muito antes da hora e tem transformado qualquer evento governamental, do PAC ao pré-sal, numa oportunidade para promovê-la. Lula tem feito campanha extemporânea e usado de forma explícita a máquina pública para fins eleitorais, mas a Justiça Eleitoral não parece se incomodar com nada disso.

Ontem, na posse do novo ministro das Relações Institucionais, Lula defendeu a distribuição de cargos para “unir a base”.

A base do palanque, claro.

O novo ministro começou mal: esqueceu de citar Dilma.

Levou bronca.

A conhecida obsessão do presidente de transformar a eleição num plebiscito entre seu governo e o governo anterior é uma ideia também estranha. Primeiro porque o eleitor médio não tem essa memória e nem está preocupado com esse Fla-Flu; segundo porque ele manteve a política econômica do governo anterior e também várias ideias e projetos da área social; terceiro porque o Brasil tem mais o que fazer do que discutir o passado.

O PSDB criou outra esquisitice da campanha. É o primeiro em todas as pesquisas de opinião — quando o candidato é José Serra —, mas é o único partido que mantém a indefinição sobre quem será o candidato.

Até Marina Silva que foi a última a entrar na précorrida já se define como a “pré-candidata prioritária do Partido Verde”, onde ninguém apareceu para rivalizar com ela. Também não há segundo no PSB para brigar com o deputado Ciro Gomes e nem mesmo no PT, que aceitou a imposição do nome da candidata pelo presidente Lula.

Ideias fora de propósito circulam insufladas pelos assessores presidenciais, ou por livre associação de ideias sem base. Uma que ocupou bastante espaço foi a de que o deputado Ciro Gomes iria, com a ajuda de um GPS, disputar o governo de São Paulo. Por que o deputado faria isso se essa é sua melhor chance numa disputa presidencial? Com recall de outras campanhas, com mais experiência, diante de uma candidata governista inexperiente, com a informação dada pelo eleitor de que não quer fazer um plebiscito, por que ele não atenderia à sua conhecida e legítima ambição de tentar ser presidente? Outra ideia que circula é de que ele é o Plano B do presidente Lula.

Será que o PT aceitaria apoiar um candidato que não fosse do próprio PT? Quando foi que o partido fez isso? Ciro Gomes com declarações fortes contra a aliança entre PT e PMDB neste fim de semana já mostrou que está buscando espaço no meio. Longe de José Serra, que ele acusa de “feio por dentro e por fora”, e da aliança PT-PMDB que ele condena por ser “moral e intelectualmente frouxa”.

Marina Silva tem mais chances do que vários analistas consideraram num primeiro momento. Mas ainda não está claro como o PV pretende superar suas fragilidades: pouco tempo de TV, pouca capilaridade partidária, falta de estrutura para uma campanha presidencial. É bem verdade que o Brasil é tão estranho que o partido com mais tempo de TV e mais capilaridade em todo o território nacional é o PMDB, que não tem candidato à presidência e se divide sobre quem apoiar.

Dividido, o PMDB sempre esteve sobre qualquer assunto, em qualquer votação, em qualquer campanha.

O presidente Lula trabalha para tornar viável a aliança com o PT. Os dois partidos são adversários em vários estados e para ilustrar o clima de entendimento entre eles basta lembrar a natureza exótica da ameaça feita pelo governador do Mato Grosso do Sul, do PMDB, ao ministro Carlos Minc, do PT. Falta muito tempo para eleição, é a temporada das esquisitices.

Com Bruno Villas Bôas

A ponte ruiu

Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


O Brasil perdeu totalmente as condições de exercer uma de suas especialidades na solução da crise em Honduras: a capacidade de liderança e de mediação.

Ao meter os pés, as mãos e a embaixada em Tegucigalpa na defesa apaixonada de um dos lados, o do presidente deposto, Manuel Zelaya, o governo Lula se colocou num duelo com o presidente golpista, Roberto Micheletti -que, ao mesmo tempo, recusa sistematicamente a participação da OEA (Organização dos Estados Americanos).

Chegou-se assim ao pior dos mundos: Micheletti radicaliza de um lado, Zelaya radicaliza de outro.

Um decreta estado de sítio, põe as tropas na rua, determina a invasão a uma TV e a uma rádio, insiste numa eleição ilegítima desde a origem. O outro usa a embaixada brasileira como "bunker" para instigar a desobediência civil no país. O que cheira a sangue.

Não há, à vista, nenhum escudo ou ponte entre esses dois malucos perigosos. O Brasil se inviabilizou. A OEA é rechaçada por Micheletti.

A ONU limitou-se à de defesa da "extraterritorialidade" e, portanto, da embaixada do Brasil. Os EUA, dúbios estavam, dúbios continuam. Chávez gosta de botar fogo, não de apagar incêndios.

Enfim, a situação é dramática, com o risco real, nada fictício, de que Micheletti continue se deslumbrando no papel de típico golpista bananeiro e acabe por invadir a embaixada brasileira. E que leve o país a uma guerra civil. Isso tudo é improvável, mas não impossível.

Marco Aurélio Garcia, assessor internacional de Lula, tem razão ao dizer que: 1) o Brasil não se meteu, mas sim foi metido nessa enrascada; 2) não havia alternativa se não acolher Zelaya na embaixada.

Mas o Brasil cometeu um grande erro: entrar na linha de frente contra Micheletti. Antes, hospedava um presidente deposto por um golpe militar. Agora, hospeda uma bomba pronta a explodir.

Pede para sair, Zelaya

Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Se eu fosse do governo brasileiro, chamaria o capitão Nascimento, o personagem desse excelente ator que é Wagner Moura em "Tropa de Elite", para dizer "pede para sair, Zelaya".

É a única solução para acabar com o esculacho na missão em Tegucigalpa.Tudo bem condenar o golpe contra Manuel Zelaya em Honduras. Tudo bem também com a concessão pela embaixada brasileira de abrigo, hospedagem ou como se queira chamar, ao presidente vítima de um golpe mal disfarçado em ato constitucional.

Mas é demais deixar que o hóspede vire dono da casa, como está demonstrado nos textos desse brilhante repórter chamado Fabiano Maisonnave. Pior ainda é deixar que Zelaya faça, de território brasileiro, convocações para a resistência, o que não viola apenas as normas que caracterizam o asilo (pode não ser tecnicamente asilo o status de Zelaya, mas equivale a ele e o seu comportamento, por extensão, também tem que ser equivalente).

Viola acima de tudo a obrigação de qualquer líder político decente de proteger os seus. É covarde e indecente convocar manifestações refugiado na embaixada brasileira, sabendo que quem ouvir o chamado corre risco até de vida. Um líder político decente tampouco se cerca de ladrões -de celulares e até de toalhas-, como os que se "hospedaram" na embaixada.

Aliás, gente decente não constrange os anfitriões levando uma penca de "convidados" para a casa que lhe abriu as portas.

Zelaya continua sendo o presidente legítimo de Honduras, até porque não consta que a Constituição hondurenha -ou qualquer outra- inclua decência entre as qualidades para ser presidente.

Mas fica a cada dia mais claro que não há no drama hondurenho, agora transformado em ópera-bufa, um só personagem que pessoas decentes gostariam de convidar para o aniversário dos filhos.

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
Clique o link abaixo
http://www.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais&portal=

Oposição terá batalha dura em 2010, diz Serra

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), afirmou ontem à noite que a oposição ao governo Lula deve se preparar para uma "batalha dura" em 2010. "Não será uma batalha tranquila, vai ser uma batalha dura, difícil, mas nós vamos enfrentá-la", disse Serra, sem, no entanto, assumir que é pré-candidato à Presidência.

O tucano participou do evento de filiação ao PSDB do ex-prefeito de São Bernardo do Campo (SP), William Dib, que deixou o PSB -uma espécie de "troco" pela ida do vereador paulistano Gabriel Chalita para o partido de Ciro Gomes.

Mais cedo, ao discursar na entrega de uma escola técnica em Heliópolis, Serra disse que precisa melhorar ainda mais a divulgação de suas ações. Neste ano, a verba para publicidade oficial do Estado cresceu 43% em relação ao ano passado.

"Antigamente, tinha muito discurso e pouca ação. Hoje, talvez a gente tenha pouco discurso e muita ação", disse, após enumerar obras para a região.

No mês passado, conforme a Folha revelou, o governo Serra iniciou a distribuição de um "boletim mensal" para 52 municípios no Estado divulgando obras e projetos da administração estadual. São 2,3 milhões de exemplares, ao custo anual de R$ 8,2 milhões. A verba publicitária de Serra neste ano é de R$ 227 milhões.

"Acho que tem que intensificar a divulgação. Não se trata de inventar nada. É dizer aquilo que está sendo feito", disse.

Serra aproveitou para fazer críticas indiretas aos seus ex-adversários petistas, sem citar nomes. Primeiro, foi a ex-prefeita Marta Suplicy, sua adversária em 2004. "Quando fui eleito, achei que Heliópolis era um canteiro de obras, pelo que falava na propaganda. Quando cheguei aqui, não tinha nada".

Antes disso, brincou fazendo plágio dos discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Como diriam os políticos exagerados: "[vamos] fazer tantas quantas foram feitas desde a época do Descobrimento [risos]", disse, ao citar a ordem de dobrar de 26 para 52 o número de escolas técnicas do Estado.