quinta-feira, 20 de agosto de 2009

PT obedece a Lula e salva Sarney

Valdo Cruz e Andreza Matais
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Petistas votam para arquivar todos os processos contra o presidente do Senado no Conselho de Ética

Após determinação direta do presidente Lula, senadores petistas deram os votos necessários para que fossem arquivados no Conselho de Ética todos os processos contra o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP).

Com apoio dos três petistas - Ideli Salvatti (SC), Delcídio Amaral (MS) e João Pedro (AM)-, as 11 ações movidas contra Sarney foram enterradas pelo placar de 9 a 6 em duas votações. Visivelmente constrangidos, muitos senadores optaram por votar fora do microfone.

Em seguida, foi arquivado o processo contra o líder do PSDB, Arthur Virgilio (AM).

A votação petista expôs um racha da legenda no Senado. O senador Flávio Arns (PR) afirmou que a sigla "jogou a ética no lixo". "Tenho vergonha de estar no PT."

Em nota, Ricardo Berzoini, presidente do partido, disse que o Conselho de Ética não era isento para julgar Sarney e Virgílio e que as ações pretendiam minar a base governista.

PT obedece a Lula e enterra os processos contra Sarney

Planalto garantiu os votos que absolveram o presidente do Senado no Conselho de Ética

PMDB acena trégua e engaveta acusações contra líder tucano; "hoje é o dia em que o PT abraçou Sarney e Collor", diz Pedro Simon

Após intervenção direta do Palácio do Planalto na bancada do PT, os senadores petistas deram ontem os votos necessários para arquivar todos os processos contra o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), no Conselho de Ética.

Com apoio dos três petistas -Ideli Salvatti (SC), Delcídio Amaral (MS) e João Pedro (AM)-, os 11 processos contra Sarney foram mantidos arquivados pelo placar de 9 a 6 em duas votações. Entre as acusações contra ele estava a de usar o cargo para cometer irregularidades como a nomeação e exoneração de parentes por atos secretos.

Muitos senadores votaram fora do microfone, visivelmente constrangidos. "Por todos os acontecimentos, isso foi desconfortável", disse Delcídio.

Em seguida, não só com o apoio do PT mas também do PMDB, foi arquivado, em definitivo e por unanimidade, o processo contra o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).

O PMDB foi o autor da representação contra o tucano e, mesmo assim, deu seus três votos para arquivá-la. Entre as denúncias estava a de que ele manteve funcionário fantasma no seu gabinete.

O enquadramento petista foi decidido na manhã de ontem, antes da sessão do conselho, durante reunião na sede provisória do governo Lula com o chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho.

A posição dos petistas no Conselho de Ética transformou o PT em alvo das críticas e expôs publicamente o racha do partido no Senado por conta da interferência presidencial.

"Hoje é o dia em que o PT abraçou Sarney e Collor, e a Marina [Silva] saiu", resumiu o Pedro Simon (PMDB-RS). "O PT arrebentou hoje sua história", afirmou o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

As críticas não ficaram restritas à oposição. Vieram até dos próprios senadores do PT, como Flávio Arns (PT-PR), que anunciou que deixará o partido. Líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti ouviu a tudo calada diante da determinação do presidente Lula de salvar Sarney, transmitida mais cedo por Gilberto Carvalho.

Na reunião, o chefe de gabinete presidencial voltou a recorrer ao argumento de que, se o PT não votasse com Sarney, haveria o risco de um rompimento com o PMDB, criando dificuldades para a governabilidade e atrapalhando a aliança para eleger a ministra Dilma Rousseff sucessora de Lula.

Estavam presentes o presidente do PT, Ricardo Berzoini, Mercadante e os três representantes do partido no conselho. Ao final da reunião, ficou combinado que a senha para o voto dos petistas seria uma nota de Berzoini dizendo que o Conselho de Ética não tinha isenção para julgar Sarney e Virgílio.

"A forma como as denúncias concentram-se no presidente do Senado não deixa dúvidas de que, mais que apurar e reformar, a pretensão é incidir nas relações entre partidos, que apoiam o governo ou que podem constituir alianças para as eleições nacionais e estaduais do próximo ano", diz a nota.

Principal interessado, Sarney acompanhou a sessão de seu gabinete. Comentou com assessores que a nota refletia o seu pensamento sobre a crise.

Após a sessão, Sarney se reuniu com aliados. Do líder do PMDB, Renan Calheiros, ouviu que ele espera que a oposição entenda a votação unânime a favor de Arthur Virgílio como uma trégua. Caso contrário, a tropa de choque governista retomaria a guerra.

Questionado se a crise estava superada, Sarney disse que espera que a Casa volte à normalidade.
"Acho que todos estamos [satisfeitos] porque ultrapassamos uma fase", disse.

A oposição prometia ontem recorrer no plenário do Senado da decisão do Conselho de Ética de arquivar as 11 denúncias contra Sarney. A Consultoria da Casa, no entanto, já elaborou parecer no qual informa que não cabe recurso, pois a questão se esgota no Conselho.

Apesar do arquivamento das denúncias contra Sarney no Senado, outras investigações continuam. O Ministério Público Federal do Distrito Federal apura de quem eram as ordens para que os atos administrativos não fossem publicados.

Já o Ministério Público Federal no Maranhão investiga a Fundação José Sarney em razão da suspeita de que ao menos R$ 500 mil dos recursos repassados pela Petrobras à entidade tenham sido desviados para empresas fantasmas e empresas da família do senador -outro fato que o Senado optou por não investigar.

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