sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Lula já tem substituto para Mercadante

Vera Rosa e Tânia Monteiro, Brasília
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O senador Aloizio Mercadante (SP) anunciou que deixará a liderança do PT no Senado, em razão da pressão do Planalto pelo arquivamento das denúncias contra José Sarney (PMDB-AP). Pouco depois, o presidente Lula já tinha um candidato à vaga: o ex-suplente João Pedro (AM). Amigo de Lula, João Pedro é tido como conciliador, capaz de atuar para contornar a crise petista. Os correligionários consideram que Mercadante cometeu erro político ao não indicar governistas para vagas de titular no Conselho de Ética, levando o PT para o centro do confronto. Mercadante ainda dependia de conversa com Lula para sacramentar sua decisão de sair.

Sem voto, João Pedro é cogitado para assumir posto

Lula disse a auxiliares que não pediria para Mercadante ficar e defendeu suplente como bom candidato à vaga

Irritado com o líder do PT no Senado, Aloízio Mercadante (SP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a ministros com quem conversou ontem que já tinha candidato para a sucessão do petista. O senador que conta com a simpatia de Lula para ocupar a cadeira de Mercadante é João Pedro (PT-AM), suplente do amazonense Alfredo Nascimento (PR), titular do Ministério dos Transportes.

Dono de estilo conciliador, João Pedro foi o senador que leu no Conselho de Ética, na quarta-feira, a nota do presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), orientando a bancada a salvar o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Lula e Mercadante conversaram ontem à noite, no Palácio da Alvorada. Antes do encontro, o presidente disse a auxiliares que não pediria ao petista que ficasse no cargo. O senador, por sua vez, insistiu em que a renúncia à liderança do PT seria apresentada hoje, em caráter irrevogável, da tribuna do Senado.

O presidente não foi pego de surpresa com a decisão. Avisado na quarta-feira que Mercadante estava mesmo disposto a entregar o cargo, Lula nada fez. Lavou as mãos por achar "lamentável" a atitude do senador, que se recusou a ler a carta de Berzoini, absolvendo Sarney, no Conselho de Ética.

"Se ele quiser renunciar, que renuncie", afirmou o presidente, segundo relato de assessores do Planalto. Na tentativa de desfazer o mal-estar, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, telefonou para Mercadante e pediu a ele que adiasse o seu pronunciamento, previsto para ontem.

A operação para evitar cicatrizes ainda maiores e prejuízos para o Planalto foi conduzida pela líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti (SC). Foi Ideli que telefonou para Lula e depois fez a ponte com Múcio, que, por sua vez, ligou para Mercadante.

"Eu acho que Mercadante é mais do que necessário na liderança do PT", afirmou Múcio, jogando água no novo foco de incêndio na base aliada. "Tenho absoluta certeza de que este episódio será superado."

Berzoini também telefonou para o senador. Os dois não se entendem há tempos. "Eu disse a ele que era um erro sua saída da liderança, mas isso é diferente de pedir para alguém ficar", argumentou.

Na prática, Mercadante já havia ameaçado várias vezes entregar o cargo. Chegou a admitir a possibilidade para o próprio Lula, em jantar da bancada do PT com ele, em junho. Na quarta-feira, porém, mostrou-se decidido. Antes da reunião do Conselho de Ética, teve um encontro a portas fechadas, no Centro Cultural Banco do Brasil, com o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, Berzoini e os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência) e Tarso Genro (Justiça). João Pedro (AM), Delcídio Amaral (MS) e Ideli Salvatti (SC) também participaram da reunião.

Ao ser confirmada a estratégia do governo para salvar Sarney, com a divulgação da carta de Berzoini, Mercadante disse que poderia não lhe restar outra saída a não ser a renúncia da liderança. O presidente soube da ameaça e reagiu com desdém, segundo assessores.

A tensão entre Lula e Mercadante não é de hoje. Em julho, quando o senador divulgou nota considerando "grave" a denúncia que ligava Sarney à edição de atos secretos , o presidente ficou furioso. Disse que a nota jogava mais combustível na crise em pleno recesso parlamentar.

Nos bastidores do governo, o comentário é que o líder do PT agiu para "ficar bem na foto" com os eleitores, já que é candidato a novo mandato. "Meu posicionamento nunca foi em função de interesses político-eleitorais", reagiu Mercadante. "Agi em nome da bancada, pois a maioria sempre quis o afastamento de Sarney e essa avaliação estava clara em várias notas do partido.
Não houve qualquer mudança."

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