domingo, 16 de agosto de 2009

Fator Marina embaralha a sucessão de Lula

Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos
DEU EM O GLOBO


Dilma seria a mais atingida, e presidente tenta evitar que aliados lancem candidatos

A entrada praticamente certa da senadora Marina Silva (PT-AC) na sucessão presidencial de 2010 provocou reviravolta no quadro eleitoral e acendeu a luz amarela no Palácio do Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viu desmoronar a sua estratégia de transformar a eleição do próximo ano num plebiscito entre a candidata do PT, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o candidato tucano. A pulverização de candidaturas deve ser o cenário provável da disputa presidencial, que Lula tentará evitar.

Petistas já admitem que a campanha de Dilma será a mais afetada nesse primeiro momento, porque Marina deve levar votos do eleitorado do PT descontente com o governo e decepcionado com o partido. Aliados e petistas que desconfiam do potencial de Dilma defendem o lançamento de mais candidaturas governistas, caso do PSB, com o deputado Ciro Gomes (CE). Situação que poderia levar a disputa presidencial ao segundo turno.

Lula briga pela polarização entre Dilma e o candidato tucano, seja o governador José Serra (SP), mais provável hoje, ou o governador Aécio Neves (MG). Gostaria de, em 2010, ver o eleitor decidir entre antes de Lula e depois de Lula, ou seja, de comparar sua administração com a do tucano Fernando Henrique. Mas todos concordam que ainda é cedo para definições. Especialmente depois do fator Marina, que esta semana deve confirmar sua ida para o PV.

- Essa disputa não será uma corrida de cem metros, mas uma maratona. O jogo nem começou - constata o ex-governador do Acre Jorge Viana (PT), um dos políticos mais próximos de Marina.

2010 será eleição de fim de ciclo

Responsável pela pesquisa feita para o PV em julho que apontou o potencial de Marina, o cientista político Antonio Lavareda, do Ipespe, avalia que a eleição de 2010 terá característica semelhante às disputas presidenciais de 1989, primeira eleição direta depois do regime militar, e de 2002, com a conclusão da gestão tucana. Nos três casos, diz, as eleições representam o fim de um ciclo.

- A presença de Marina no cenário eleitoral promete despolarizar a disputa - observa Lavareda.

Ele lembra que a eleição de 1989 foi fragmentada, apresentando quatro candidatos com mais de 10% das intenções de voto no 1º turno: Fernando Collor (PRN), Lula (PT), Leonel Brizola (PDT) e Mário Covas (PSDB). O mesmo ocorreu em 2002, com quatro candidatos com mais de 10%: Lula (PT), José Serra (PSDB), Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS).

Para 2010, o cenário pode se repetir.

Na pesquisa telefônica para o PV, o cenário que hoje seria o mais provável é: Serra (PSDB) teria 30%; Ciro (PSB) ficaria com 22%; Dilma (PT), 14% ,e Marina (PV), também 14%. Foram feitas 2 mil entrevistas no país. Mas Lavareda adverte:

- Marina é parte da costela petista e tira votos da candidata do governo. Traz para o debate o desenvolvimento sustentável. Tem potencial para ser competitiva. Mas terá de fazer uma campanha maior do que o PV. Precisa ser impulsionada por um movimento. Vai necessitar de tempo de televisão e isso implica alianças, além de percorrer o país para ser conhecida.

Nesse primeiro momento, o Planalto tentará fortalecer Dilma, tentando associar a imagem dela a fatos positivos do governo. O esforço é manter as intenções de voto na faixa dos 20%. A avaliação do governo é que, se ela cair desse patamar, não será possível segurar o lançamento de candidaturas.

Isso ficou claro semana passada, no jantar no Palácio da Alvorada entre as cúpulas de PSB e PT. Ciro estava contrariado com a pressão para disputar o governo de São Paulo, como queria Lula, sacrificando a candidatura presidencial. Por isso, o PSB aproveitou o efeito Marina para defender a mudança de estratégia junto a Lula.

- O PSB deseja ter candidato à Presidência e tem nome para disputar, o deputado Ciro Gomes. Há 15 dias, não existia a candidatura de Marina pelo PV. Há um quadro em construção. Teremos mais chances de chegar ao segundo turno com mais candidaturas da base - diz o presidente do PSB, governador Eduardo Campos (PE).

Crescimento e meio ambiente na pauta

No PT há um clima de arrependimento por Lula não ter segurado Marina no governo. Ela deixou o Ministério do Meio Ambiente magoada, principalmente com Dilma. Embora amigos petistas de Marina digam que ela, confirmada a candidatura, não atacará o governo Lula, a senadora poderá retomar o debate que teve com Dilma e que a levou a sair do governo: restrições ambientais para obras de infraestrutura e um esforço por políticas de desenvolvimento sustentável.

No Planalto e na cúpula do PT já se considera que o cenário de crise financeira - ainda que mais ameno -, o descrédito da classe política e a decepção com o discurso ético do PT favorecem o lançamento de novos nomes. O desafio é impedir que cresçam.

- A curto prazo, o lançamento da candidatura da senadora Marina produz impacto significativo, porque representa uma perda para o PT, já que se trata de quadro histórico da legenda que tem uma bandeira mundial. No longo prazo, esse impacto tende a se diluir pela falta de estrutura de sua campanha - aposta o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ).

O fator Marina pode influenciar também o PSOL. A ex-senadora, ex-presidenciável e atual vereadora de Maceió Heloísa Helena tem conversado com a senadora do Acre. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que disputou a última eleição presidencial com a bandeira da educação, declarou voto em Marina:

- Não vou sair do partido nem serei candidato a vice. O PDT pode ter outra opção. Meu voto é de Marina.

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